Roteiro 2
Zaqueu, o publicano
Objetivo: Esclarecer a respeito da importância da conversão de Zaqueu.
IDEIAS PRINCIPAIS
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Muitos viam em Zaqueu o avarento incorrigível, ele [Jesus], no entanto, nele identificou o homem rico de nobre coração, capaz de transfigurar a riqueza em trabalho e beneficência. Emmanuel: Caridade. Capítulo 10.
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Zaqueu foi um arrecadador de impostos que […] enriquecera ilicitamente e vivia defraudando o próximo com exações e lucros escandalosos, mas, a despeito disso, a doutrina do Mestre encontrara ressonância em seu coração e por isso ardia em desejo de conhecê-lo. Rodolfo Calligaris: Páginas de Espiritismo cristão. Capítulo 6.
SUBSÍDIOS
1. Texto evangélico
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E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que havia ali um homem, chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos e era rico. E procurava ver quem era Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver, porque havia de passar por ali. E, quando Jesus chegou àquele lugar olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque, hoje, me convém pousar em tua casa. E, apressando-se, desceu e recebeu-o com júbilo.
E, vendo todos isso, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor. Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.
E disse-lhe Jesus: Hoje, veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. Lucas, 19. 1-10.
O episódio de Zaqueu, relatado pelo evangelista Lucas, nos conduz a significativas reflexões.
Por ele compreendemos que há, como sempre houve e haverá, certas almas que se entregam ao mal apenas porque não foram despertadas para o bem; almas que preservam, contudo, alguns escaninhos indenes às misérias e torpezas mundanas, constituindo-se terreno fértil onde a semente dos ideais nobres e generosos pode, a qualquer momento, germinar, florescer e frutificar abundantemente. Zaqueu era uma dessas almas. Arrecadador de impostos, enriquecera ilicitamente e vivia defraudando o próximo com exações e lucros escandalosos, mas, a despeito disso, a doutrina do Mestre encontrara ressonância em seu coração e por isso ardia em desejos de conhecê-lo. (2)
2. Interpretação do texto evangélico
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E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que havia ali um homem, chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos e era rico. E procurava ver quem era Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver, porque havia de passar por ali. (Lc 19.1-4).
O encontro de Zaqueu com Jesus ocorreu em Jericó (Yareah, do hebraico), cidade localizada a 12 quilômetros do mar Morto, cujo nome significa, provavelmente, “lua” ou “cidade da lua”. (4) Essa localidade da Judeia era, à época de Jesus, a segunda cidade mais importante da Palestina, de comércio intenso, onde ocorria grande circulação de dinheiro.
Aparentemente, o encontro entre Jesus e Zaqueu foi casual. Sabemos, porém, que não foi assim, como se observa no último versículo do texto evangélico: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Por outro lado, sabemos que Jesus aproveitava todas as circunstâncias para ensinar e encaminhar as pessoas ao bem. Assim também aconteceu com Zaqueu que, a partir daquele instante, teve a existência transformada.
A ida a Jericó foi um momento especial para Jesus porque, logo depois, começaria seu suplício culminado com a crucificação.
Humberto de Campos (Irmão X) relata como foi o encontro de Zaqueu com Jesus:
Grandes […] multidões se apinhavam nas estradas. Um publicano abastado, de nome Zaqueu, conhecia o renome do Messias e desejava vê-lo. Chefe prestigioso na sua cidade, homem rico e enérgico, Zaqueu era, porém, de pequena estatura, tanto assim que, buscando satisfazer ao seu vivo desejo, procurou acomodar-se sobre um sicômoro, levado pela ansiosa expectativa com que esperava a passagem de Jesus. Coração inundado de curiosidade e de sensações alegres, o chefe publicano, ao aproximar-se o Messias, admirou-lhe o porte nobre e simples, sentindo-se magnetizado pela sua indefinível simpatia. (5)
Zaqueu era pessoa notoriamente desprezada pelos habitantes da cidade. Primeiro por ser publicano, segundo por ser chefe dos publicanos e, em terceiro lugar, por ser uma pessoa que enriqueceu possivelmente de forma ilícita. Sendo assim, a conversão de Zaqueu ao Cristianismo se reverte de maior importância, indicando que todo pecador pode regenerar-se. “Muitos viam em Zaqueu o avarento incorrigível; ele [Jesus], no entanto, nele identificou o homem rico de nobre coração, capaz de transfigurar a riqueza em trabalho e beneficência.” (9)
Refletindo, porém, sobre tais acontecimentos percebemos que também nós somos continuamente visitados por Jesus, acudidos pela misericórdia divina, por ele intermediada em nosso benefício. Vemos igualmente que a prova da riqueza não é fácil de ser suportada. Pode estimular a exacerbação das más tendências e o predomínio das paixões inferiores.
Se a riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos inculpar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser de maior utilidade. É a consequência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem. Se não é um elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual. (1)
Zaqueu não mais se comprazia com a vida que levava, daí a sua evidente necessidade de conhecer Jesus, correndo à frente da multidão e subindo numa árvore para que pudesse localizar o Mestre. É importante destacar, a propósito, algumas características da personalidade de Zaqueu. Mesmo sendo desprezado pelos seus conterrâneos, de viver insatisfeito, talvez preso pelo desânimo ou desespero, não perde tempo em lamentações. A sua percepção espiritual e a sua acuidade mental, desenvolvidas pelo exercício contínuo de calcular e raciocinar que a profissão oferecia, lhes fazem refletir que Jesus é o caminho da sua regeneração espiritual. Diante desse fato, ele enfrenta os obstáculos e “corre” ao encontro do Mestre de Nazaré, subindo numa árvore para, daí, poder enxergar o Senhor e ser visto por ele.
Pode parecer a alguns que, subindo a uma árvore para conseguir ver as feições de Jesus, Zaqueu tenha cedido apenas à curiosidade. É evidente, porém, que o móvel de sua ação era bem mais elevado: talvez uma ânsia incontida de receber alguma bênção, ou de ouvir-lhe uma palavra que demudasse o rumo de sua existência. Por simples curiosidade, não iria ele expor-se ao ridículo e enfrentar os ápodos e gracejos da multidão, mormente tendo-se em vista a alta posição que ocupava entre os publicanos. (2)
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E, quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque, hoje, me convém pousar em tua casa. E, apressando-se, desceu e recebeu-o com júbilo. E, vendo todos isso, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor. Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se em alguma coisa tendo defraudado alguém, o restituo quadruplicado.(E disse-lhe Jesus: Hoje, veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19.5-10).
Jesus, cujo olhar penetra o âmago das criaturas, percebeu o que ia pela alma de Zaqueu, notou o quanto era sincero aquele arroubo, e daí o ter-lhe solicitado hospedagem, para o escândalo do povo, que, como em outras ocasiões, entrou logo a murmurar, censurando-o por albergar-se em casa de pecadores. Notemos, no entanto, que cena maravilhosa ali ocorre. Ao acolher tal hóspede, Zaqueu cai-lhe aos pés, e exclama:
— Senhor, distribuo aos pobres a metade dos meus haveres; e se lesei a alguém, seja no que for, restituo-lhe quadruplicado. Não diz: distribuirei, hei de restituir, mas sim: distribuo, restituo, o que caracteriza bem a realidade de sua transformação moral. E isso ele o faz publicamente, penitenciando-se num gesto de humildade perfeita, como poucas vezes se descreve nos Evangelhos. (3)
Zaqueu representa a soma de dificuldades que os arrependidos trazem no coração. Sintonizados, entretanto, com o Evangelho de Jesus, reconhecem que é possível vencer os desvios de caráter e corrigir os erros cometidos.
O serviço de Jesus é infinito. Na sua órbita, há lugar para todas as criaturas e para todas as ideias sadias em sua expressão substancial. Se, na ordem divina, cada árvore produz segundo a sua espécie, no trabalho cristão, cada discípulo contribuirá conforme sua posição evolutiva. (7)
A transformação espiritual de Zaqueu apenas começara naquele encontro com Jesus. Recebendo a oportunidade de se reajustar perante a Lei de Deus, deveria, daí para a frente, desenvolver todos os esforços necessários para o progresso do seu Espírito. O amanhã lhe reservaria as provações, destinadas a combater as imperfeições que ainda lhe marcavam a personalidade. Mas, sob o amparo do Alto saberia, por certo, superá-las e se transformar, definitivamente, em pessoa de bem.
Em meio da grande noite, é necessário acendamos nossa luz. Sem isso é impossível encontrar o caminho da libertação. Sem a irradiação brilhante de nosso próprio ser, não poderemos ser vistos com facilidade pelos Mensageiros Divinos, que ajudam em nome do Altíssimo, e nem auxiliaremos efetivamente a quem quer que seja. É indispensável organizar o santuário interior e iluminá-lo, a fim de que as trevas não nos dominem. […] Nossa necessidade básica é de luz própria, de esclarecimento íntimo, de autoeducação, de conversão substancial do “eu” ao Reino de Deus. (8)
As provações da vida são desafios que permitem à criatura humana considerar a precariedade dos valores materiais que, em geral, absorvem a humanidade encarnada. Redimensionando a existência à luz do entendimento evangélico, agora revivido pelo Espiritismo, aprendemos fazer distinção entre o certo e o errado, entre o que é de duração passageira e o que é eterno.
Emmanuel esclarece:
Cada criatura recebeu determinado talento da Providência Divina para servir no mundo e para receber do mundo o salário da elevação. Velho ou moço, com saúde do corpo ou sem ela, recorda que é necessário movimentar o dom que recebeste do Senhor, para avançares na direção da Grande Luz. Ninguém é tão pobre que nada possa dar de si mesmo. […] Quem cumpre o dever que lhe é próprio, age naturalmente a benefício do equilíbrio geral. […] Todo o dia é ocasião de semear e colher. (10)
A conversão de Zaqueu nos traz preciosas lições. Mostram, sobretudo, que em razão das nossas más escolhas, podemos acumular tesouros que nada representam em termos de crescimento espiritual, mas que produzirão dores e privações em futuras reencarnações.
No mundo vivem os que entesouram na Terra e os que entesouram no Céu. Os primeiros escondem suas possibilidades no cofre da ambição e do egoísmo e, por vezes, atiram moedas douradas ao faminto que passa, procurando livrar-se de sua presença; os segundos ligam suas existências a vidas numerosas, fazendo de seus servos e dos auxiliares de esforços a continuação de sua própria família. Estes últimos sabem empregar o sagrado depósito de Deus e são mordomos fiéis, à face do mundo. (6)
ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Fazer uma análise do encontro de Jesus com Zaqueu, buscando enriquecer o estudo com textos de outras obras, tais como: O espírito do Cristianismo, de Cairbar Schutel e Boa nova, do Espírito Humberto de Campos (Irmão X), psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Referências:
1. KARDEC. Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 16, item 7, p. 258.
2. CALLIGARIS, Rodolfo. Páginas de Espiritismo cristão. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001. Capítulo 6 (A conversão de Zaqueu), p. 24.
3. Idem, ibidem - p. 24-25.
4. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Volume 1. As pessoas e os lugares. Organizado por Bruce M. Metzger e Michael D. Coogan. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2002, p. 130.
5. XAVIER. Francisco Cândido. Boa nova. Pelo Humberto de Campos. 35. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 23 (O servo bom), p. 154-155.
6. Idem, ibidem - p. 157.
7. Idem - Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 3 (Examina-te), p. 21.
8. Idem - Capítulo 180 (Façamos nossa luz), p. 375-377.
9. Idem - Caridade. Espíritos diversos. 3. ed. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1981. Capítulo 10 (Ante o próximo), p. 42.
10. Idem - Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 130 (Na esfera íntima), p. 323-324.