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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO I — CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
Módulo II — O Cristianismo

Roteiro 14


As epístolas de Paulo de Tarso (1)


 

Objetivos:  Assinalar características da personalidade de Paulo. — Identificar os motivos que conduziram Paulo a escrever epístolas. — Analisar os principais ensinos existentes nas epístolas destinadas aos romanos e aos coríntios.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • As epístolas que Paulo […] não são tratados de teologia, mas respostas a situações concretas. Verdadeiras cartas que se inspiram no formulário então em uso […], não são nem “cartas” meramente particulares, nem “epístolas” puramente literárias, mas explanações que Paulo destina a leitores concretos e, para além deles, a todos os fiéis de Cristo. Bíblia de Jerusalém. Item: Introdução às epístolas de São Paulo, p.1956.

  • Paulo iniciou o movimento das […] cartas imortais, cuja essência espiritual provinha da esfera do Cristo, através da contribuição [espiritual] amorosa de Estêvão […]. Emmanuel: Paulo e Estevão. Segunda parte, Capítulo 7.

  • Na epístola aos Romanos Paulo analisa as divergências existentes entre os judeus e gentílicos convertidos ao Cristianismo. Representa, porém, […] uma das mais belas sínteses da doutrina paulina. Bíblia de Jerusalém. Item: Introdução às epístolas de São Paulo, p.1959-1960.

  • Nas duas epístolas aos coríntios Paulo faz uma reflexão do Cristo como sendo a sabedoria de Deus. Bíblia de Jerusalém. Item: Introdução às epístolas de São Paulo, p. 1959.

  • Na epístola aos gálatas, assim como na que foi dirigida aos romanos, Paulo revela o Cristo como a justiça de Deus. Bíblia de Jerusalém. Item: Introdução às epístolas de São Paulo, p.1959.



 

SUBSÍDIOS


1. As epístolas de Paulo


Através de suas epístolas, Paulo transmitiu aos seus discípulos uma fervorosa fé em Jesus Cristo e na sua ressurreição. As cartas ou epístolas de Paulo são denominadas pastorais porque estão dirigidas a um destinatário específico. Trata-se de instruções, conselhos, repreensões ou exortações do apóstolo aos seus discípulos. As demais epístolas existentes no Evangelho (Pedro, João, Judas Tadeu), ao contrário, são de caráter universal porque destinadas aos cristãos, em geral.

Quem pretenda conhecer Paulo deve estudar as suas epístolas e os Atos dos Apóstolos “[…] duas fontes independentes que se confirmam e se completam, não obstante algumas divergências em pormenores.” (1)


As epístolas e os Atos [dos Apóstolos] nos traçam também um retrato surpreendente da personalidade do Apóstolo. Paulo é apaixonado, alma de fogo que se consagra sem limites a um ideal. E esse ideal é essencialmente religioso. Para ele, Deus é tudo e ele o serve com uma lealdade absoluta, primeiro perseguindo aqueles que ele tem na conta de hereges (Gl 1.13; At 24.5,14), depois pregando o Cristo, após haver entendido por revelação que só nele está a salvação. Esse zelo incondicional traduz-se pela abnegação total ao serviço daquele que ama. Trabalhos, fadigas, sofrimentos, privações, perigos de morte (1 Cor 4.8-13; 2 Cor 4.8; 6.4-10; 11.23-27), nada lhe importa, contando que cumpra a missão pela qual sente responsável (1 Cor  9.16). […] O ardor do seu coração sensível se traduz bem nos sentimentos que demonstra por seus fiéis. (2)


Há historiadores que enxergam aspectos místicos no caráter de Paulo, outros o consideram, sob certas circunstâncias, exaltado e doentio.


Nada é menos fundamentado. […] Ele nada tem do imaginativo, se julgarmos pelas imagens pouco numerosas e corriqueiras que emprega […]. Paulo é, antes, cerebral. Nele se une a um coração ardente inteligência lúcida, lógica, exigente, preocupada em expor a fé segundo as necessidades dos ouvintes. […] Paulo argumenta muitas vezes como rabino, segundo métodos exegéticos que recebeu do seu meio e da sua educação (por exemplo, Gl 3.16; 4.21-31). […] Além disso, esse semita tem boa cultura grega, recebida talvez desde a infância em Tarso, enriquecida por repetidos contatos com o mundo Greco-romano, e esta influência se reflete na sua maneira de pensar, bem como em sua linguagem e no estilo. (3)


É possível que Paulo tenha escrito muitas outras cartas, mas somente catorze chegaram até nós. As epístolas paulinas são as seguintes, segundo a ordem existente no Novo Testamento:

  • 1. Romanos

  • 2. Coríntios (primeira e segunda)

  • 3. Gálatas

  • 4. Efésios

  • 5. Filipenses

  • 6. Colossenses

  • 7. Tessalonicenses (primeira e segunda)

  • 8. Timóteo (primeira e segunda)

  • 9. Tito

  • 10. Filemon

  • 11. Hebreus


As epístolas paulinas […] não são tratados de teologia, mas respostas a situações concretas. Verdadeiras cartas que se inspiram no formulário então em uso […], não são nem “cartas” meramente particulares, nem “epístolas” puramente literárias, mas explanações que Paulo destina a leitores concretos e, para além deles, a todos os fiéis de Cristo. Não se deve, pois, buscar aí exposição sistemática e completa do pensamento do Apóstolo; sempre se deve supor, por detrás delas, a palavra viva, de que são o comentário em pontos particulares. […] Embora dirigidas em ocasiões e a auditórios diferentes, descobre-se nelas uma mesma doutrina fundamental, centrada em torno de Cristo morto e ressuscitado, mas que se adapta, se desenvolve e se enriquece no decurso desta vida consagrada totalmente a todos. (1 Cor 9.19-22). (4)


Emmanuel esclarece como e por que Paulo teve a ideia de escrever as suas cartas. Onde quer que o apóstolo estivesse sempre chegavam emissários das igrejas por ele fundadas, portadores de assuntos urgentes, que solicitavam a presença de Paulo, na localidade, para resolver conflitos ali existentes. Evidentemente, ele não podia atender a todos, pois os deslocamentos, de uma cidade para outra, eram demorados e nem sempre os dedicados discípulos, Silas e Timóteo, estavam disponíveis para substituí-lo. Preocupado com a situação e sem saber como atender às rogativas dos fiéis, Paulo orou fervorosamente a Jesus, pedindo-lhe solução para o problema. (10) Após a prece, ouviu, sob inspiração, Jesus dizer-lhe:


Não te atormentes com as necessidades de serviço. É natural que não possas assistir pessoalmente a todos, ao mesmo tempo. Mas é possível a todos satisfazeres, simultaneamente, pelos poderes do espírito. […] Poderás resolver o problema escrevendo a todos os irmãos em meu nome; os de boa vontade saberão compreender, porque o valor da tarefa não está na presença pessoal do missionário, mas do conteúdo espiritual do seu verbo, da sua exemplificação e da sua vida. Doravante, Estevão permanecerá mais conchegado a ti, transmitindo-te meus pensamentos, e o trabalho de evangelização poderá ampliar-se em benefício dos sofrimentos e das necessidades do mundo. […] Assim começou o movimento dessas cartas imortais, cuja essência espiritual provinha da esfera do Cristo, através da contribuição amorosa de Estevão — companheiro abnegado e fiel daquele que se havia arvorado, na mocidade, em primeiro perseguidor do Cristianismo. (11)


Há escritores que contestam a genuinidade de algumas epístolas de Paulo, tendo como base razões teológicas, de estilo e literárias. É possível que algumas epístolas, por exemplo, aos dirigidas aos efésios, aos colossenses e aos tessalonicenses, tenham sido escritas por um discípulo que teria servido de secretário ao apóstolo dos gentios. Entretanto, nada disso diminui o trabalho missionário de Paulo nem ofusca a sua fenomenal missão. (7)


2. Epístola aos romanos


Nessa epístola, encontramos os seguintes assuntos: a) desejo de Paulo de viajar a Roma para encontrar com os membros desta a igreja cristã; b) o homem justificado pela fé está a caminho da salvação; c) combate a idolatria e vida dissoluta dos gentios e impenitência dos judeus.

Paulo se encontrava em Corinto, em vias de partir para Jerusalém, quando escreveu a sua epístola aos romanos (no inverno de 55-56 d.C.) (5) Por essa carta se percebe que Paulo não esteve presente, nem fundou a igreja cristã de Roma, como já se pensou no passado. Na verdade, parece que ele tinha escassas informações a respeito dessa comunidade.


As […] raras alusões de sua epistola deixam apenas vislumbrar uma comunidade em que os convertidos do judaísmo e do paganismo correm o perigo de se desentenderem. Assim, para preparar sua chegada acha útil enviar por sua patrona Febe (Rm 16.1) uma carta em que expõe sua solução do problema Judaísmo-Cristianismo, tal como acaba de amadurecer devido à crise gálata. (5)


Romanos “[…] oferece explanação continuada, em que algumas grandes seções se concatenam harmoniosamente com o auxílio de temas que primeiro anunciam e depois são retomados.” (5) Não existem dúvidas relacionadas à autenticidade da epístola aos romanos. Apenas se tem perguntado se os capítulos 15 e 16 não teriam sido acrescentados posteriormente. Supõe-se que o capítulo 16, repleto de saudações, teria sido, originalmente, um bilhete que o apóstolo enviou à igreja cristã de Éfeso. (5)

O desenvolvimento das ideias sobre a fé é, nessa carta, mais elaborado e mais completo do que em qualquer outra, escrita por Paulo. Neste sentido, começa por afirmar que não se envergonha do Evangelho, porque ele é força de Deus para a salvação de todos os que creem, independentemente se é judeu ou grego. “O justo viverá pela fé”, afirma. (Romanos, 1.16,17) Em seguida, apresenta uma tese e ardorosa defesa sobre a salvação do homem pela fé. (Romanos, capítulos 1 a 5)

Os membros da igreja cristã romana, formada de judeus e gentílicos convertidos ao Cristianismo, se desentendiam continuamente. O motivo básico, que produzia intranquilidade a Paulo, era o culto, idolatria e costumes que os romanos e demais gentios tinham dificuldades de abandonar: “E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém; estando cheios de toda iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pai e à mãe; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia. […] E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? (Rm 1.28-31; 2.2,3)


2.1 Síntese dos principais ensinamentos da epístola aos romanos

  • A JUSTIÇA DE DEUS

Para que ocorra a salvação, Paulo esclarece que todos os seres humanos devem estar cientes de que, sendo julgados por Deus, devem agir de acordo com os princípios da Sua justiça. (Rm 2.1-16) Os homens que se afastaram de Deus, ou que o desconhecem, que trazem o coração impenitente, que pecam contra a Lei, serão submetidos à justiça divina “a qual recompensará cada um segundo as suas obras.” (Rm 2.7). A justiça de Deus se fundamenta naquilo que o homem faz ou deixa de fazer: “Porque todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela lei serão julgados. Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.” (Rm 2.12,13) Os que têm conhecimento espiritual e não o colocam em prática, serão julgados com mais rigor.

Eis que tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e sabes a sua vontade, e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós. Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão. Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura, a incircuncisão não será reputada como circuncisão? E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te julgará, porventura, a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei? Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. (Romanos, 2.17-29)

  • A FÉ EM JESUS COMO MEDIDA DE SALVAÇÃO

Paulo reconhece que no atual estágio evolutivo da Humanidade, todos somos pecadores, “como está escrito:não há um justo, nenhum sequer” (Rm 3.10) Entretanto, analisa que podemos nos salvar pela fé em Jesus: “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas, isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença.” (Rm 3.21,22)


  • A FÉ EM JESUS E A PAZ COM DEUS

“Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança.” (Rm 5.1-4)

  • O HOMEM SEM O CRISTO VIVE EM PECADO

“Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. […] E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.” (Rm 8.1-6; 10)


3. Epístola aos coríntios


Paulo escreveu duas epístolas aos coríntios, destacando, em ambas, Jesus como a sabedoria de Deus.

Corinto, capital da província de romana de Acaia, foi importante cidade fundada pelos gregos. Situada no istmo que separa as duas cidades portuárias de Lecaion, no golfo de Corinto, de Cencreia, no golfo Sarônico, foi centro de grande trânsito de viajantes e imenso posto comercial da Antiguidade. As duas epístolas aos coríntios compõem-se, provavelmente, de várias pequenas cartas ou bilhetes escritos por Paulo à igreja cristã de Corinto, no início da quinta década d.C. Por causa do seu conteúdo, e extensão, essas epístolas se situam entre as mais importantes. (6)

Revela preocupação com as ideias e os costumes gregos, amplamente difundidos em Corintos. Um dos problemas, era a imoralidade sexual, como o incesto, mantida pelos convertidos ao Cristianismo. Outro problema era a prática, herdada dos costumes romanos, de cobrir a cabeça quando se orava ou profetizava, como sinal de culto e devoção. Uma terceira dificuldade era o hábito que existia em certos cristãos de fazer refeições, na forma de banquetes, no templo de algum deus. Por último, havia o uso e abuso dos poderes mediúnicos. (6)

Existia, pois, na igreja de Corinto, fortes disputas entre os cristãos: os de origem judaica abominavam as práticas politeístas gentílicas, consideradas bárbaras e imorais. Foi uma comunidade continuamente sacudida por escândalos, mas que recebeu muita atenção e cuidados por parte do apóstolo dos gentios.


O […] ex-doutor da Lei procurou enriquecer a igreja de Corinto de todas as experiências que trazia da instituição antioquense. Os cristãos da cidade viviam num oceano de júbilos indefiníveis. A igreja possuía seu departamento de assistência aos que necessitavam de pão, de vestuário, de remédios. Venerandas velhinhas revezavam-se na tarefa santa de atender os mais desfavorecidos. Diariamente, à noite, havia reuniões para comentar a passagem da vida do Cristo; em seguida à pregação central e ao movimento das manifestações de cada um, todos entravam em silêncio, a fim de ponderar o que recebiam do Céu através do profetismo. Os não habituados ao dom das profecias possuíam faculdades curadoras, que eram aproveitadas a favor dos enfermos, em uma sala próxima. O mediunismo evangelizado, dos tempos modernos, é o mesmo profetismo das igrejas apostólicas. (12)


A igreja cristã de Corinto, à época de Paulo, foi muito protegida pela presença de certos romanos ricos, como Tito Justo. “Os israelitas pobres encontravam na igreja um lar generoso, onde Deus se manifestava em demonstrações de bondade, ao contrário das sinagogas, em cujo recinto, […] encontravam apenas a rispidez de preceitos tirânicos, nos lábios de sacerdotes sem piedade.” (13)


3.1 Síntese dos principais ensinamentos da primeira epístola aos coríntios

  • NECESSIDADE DA CONCÓRDIA E UNIÃO NO CRISTO

Paulo suplica aos cristãos “Eu rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer. […] Porque Cristo enviou-me não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. […] Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.” (1 Cor 1.10,11;17,18; 22-24)

  • A MISSÃO DOS PREGADORES

 “Pois quem é Paulo e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” (1 Cor 3.5-11)

  • NECESSIDADE DE VIDA MORAL RETA

“Geralmente, se ouve que há entre vós fornicação e fornicação tal, qual nem ainda entre os gentios, como é haver quem abuse da mulher de seu pai. Estais inchados e nem ao menos vos entristecestes, por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação. […] Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Pelo que façamos festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade. Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem.” (1 Cor 5.1,2; 7-9)

“Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido. O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher, ao marido. […] Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se. (1 Cor 7.1-3; 8,9)

  • O CRISTÃO NÃO É IDÓLATRA, NEM FAZ SACRIFÍCIOS AOS ÍDOLOS

“Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica. E, se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele. Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo e que não há outro Deus, senão um só. Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele. […] Portanto, meus amados, fugi da idolatria”. (1 Cor 8.1-6; 10.14)

  • OS DONS DO ESPÍRITO OU CARISMAS

“Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema! E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.” (1 Cor 12.1-11)

  • A NECESSIDADE DA CARIDADE

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria. A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca falha; mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado.Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três; mas a maior destas é a caridade.” (1 Cor 13.1-13)


3.2 Síntese dos principais ensinamentos da segunda epístola aos coríntios

  • O CARÁTER DO MINISTÉRIO CRISTÃO

“E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente, cheiro de morte para morte; mas, para aqueles, cheiro de vida para vida. E, para essas coisas, quem é idôneo? Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus; antes, falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus. […] E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica.[…] Como não será de maior glória o ministério do Espírito? […] Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.” (2 Cor 2.14-17; 3.4-6, 8 e 17)

  • AS TRIBULAÇÕES DECORRENTES DA DIVULGAÇÃO DO CRISTIANISMO

“Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; antes, rejeitamos as coisas que, por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. […] Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos, por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos. E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal.” (2 Cor 4.1,2,5-11)

  • NECESSIDADE DO BOM ÂNIMO; DETER NAS COISAS ESPIRITUAIS

“Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas. […] Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados, não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isso mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito.Pelo que estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor. (2 Cor 4.16-18; 5.1-6)

  • CUIDADOS COM OS FALSOS PROFETAS

“Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo. Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis. Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos. E, se sou rude na palavra, não o sou, contudo, na ciência; mas já em tudo nos temos feito conhecer totalmente entre vós. Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus? […] Mas o que eu faço o farei para cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam, sejam achados assim como nós.Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras.” (2 Cor 11.3-7,12-15)

A epístola aos romanos é uma maravilhosa apologia à fé, defendida por Paulo, que afirma que o justo viverá pela fé.


Não poucos aprendizes interpretaram erradamente a assertiva. Supuseram que viver pela fé seria executar rigorosamente as cerimônias exteriores dos cultos religiosos. Frequentar os templos, harmonizar-se com os sacerdotes, respeitar a simbologia sectária, indicariam a presença do homem justo. Mas nem sempre vemos o bom ritualista aliado ao bom homem. E, antes de tudo, é necessário ser criatura de Deus, em todas as circunstâncias da existência. Paulo de Tarso queria dizer que o justo será sempre fiel, viverá de modo invariável, na verdadeira fidelidade ao Pai que está nos céus. Os dias são ridentes e tranquilos? tenhamos boa memória e não desdenhemos a moderação. São escuros e tristes? confiemos em Deus, sem cuja permissão a tempestade não desabaria. Veio o abandono do mundo? O Pai jamais nos abandona. Chegaram as enfermidades, os desenganos, a ingratidão e a morte? Eles são todos bons amigos, por trazerem até nós a oportunidade de sermos justos, de vivermos pela fé, segundo as disposições sagradas do Cristianismo. (8)


As epístolas aos coríntios reflete o compromisso de Paulo de sempre confiar e esperar no Cristo, como também nos aconselha Emmanuel.


É natural confiar no Cristo e aguardar n’Ele, mas que dizer da angústia da alma atormentada no círculo de cuidados terrestres, esperando egoisticamente que Jesus lhe venha satisfazer os caprichos imediatos? […] É imprescindível, portanto, esperar em Cristo com a noção real da eternidade. A filosofia do imediatismo, na Terra, transforma os homens em crianças. Não vos prendais à idade do corpo físico, às circunstâncias e condições transitórias. Indagai da própria consciência se permaneceis com Jesus. E aguardai o futuro, amando e realizando com o bem, convicto de que a esperança legitima não é repouso e, sim, confiança no trabalho incessante. (9)



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Realizar exposição introdutória do assunto, assinalando características da personalidade de Paulo e identificando os motivos que conduziram o apóstolo dos gentios a escrever epístolas. Em seguida, formar grupos para o estudo dos principais ensinos existentes nas epístolas aos romanos e aos coríntios, cujas conclusões devem ser analisadas em plenária.



Referências:

1. BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002. Item: Introdução às epístolas de são Paulo, p. 1954.

2. Idem, ibidem - p. 1954-1955.

3. Idem, ibidem - p. 1955-1956.

4. Idem, ibidem - p. 1956.

5. Idem, ibidem - p. 1959.

6. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Vol. 1. As pessoas e os lugares. Organizado por Bruce M. Metzger, Michael D. Coogan. Traduzido por Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, Item: Corinto, p. 44.

7. Idem - Item: Paulo. Epístolas, p. 248.

8. XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 23 (Viver pela fé), p. 61-62.

9. Idem - Capítulo 123 (Esperar em Cristo), p. 261-262.

10. Idem - Paulo e Estevão: episódios históricos do Cristianismo primitivo. Pelo Espírito Emmanuel. 43. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Segunda parte, Capítulo 7 (As epístolas), p. 525-528.

11. Idem, ibidem - p. 529-530.

12. Idem, ibidem - p. 531.

13. Idem, ibidem - p. 531.


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