O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Volta Bocage… — Manuel M. B. du Bocage


Esclarecimento

Os sonetos, que constituem motivo e tema deste opúsculo, foram comunicados, conforme dissemos na “Apreciação”, pelo Espírito Bocage através do incomparável lápis do conhecido médium Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo, Estado de Minas Gerais.

Começaram estas luminosas mensagens em a noite de 25 de novembro de 1946, com o seguinte aviso do Guia dos trabalhos: “Agora façam concentração, porque vamos receber uma lembrança dum Espírito que há mais de cem anos não se comunica com a Terra.” Isto foi em sessão pública, no Grupo Espírita “Luiz Gonzaga”. Aquele pedido de concentração justifica-se pelo fato de que o médium trabalhava enquanto nosso prezado confrade Ismael Gomes Braga, a quem o Guia Emmanuel incumbira de presidir a sessão, explanava trechos de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Kardec.

Foi então recebido o primeiro soneto desta série de doze; em noites consecutivas Bocage, em Espírito, ditou as outras produções, sendo quatro em sessão pública e as demais em círculo reduzido.

Iniciada a 25 de novembro, a série terminou a 6 de dezembro, não durando a escrita de cada soneto mais de três minutos, isto depois de trabalhos estafantes. Observemos, por especial, que todos os sonetos trazem a assinatura do poeta, senão perfeita, pelo menos tão próxima quanto possível, mas sem sombra de dúvida sobre o seu verdadeiro autor. n

Após o primeiro soneto comunicou o Guia que o poeta voltaria ainda nove vezes para o mesmo fim. Ao nosso irmão Ismael Braga o médium entregou essa primeira composição com as palavras: “Bocage manda entregar-lhe como lembrança.” Aquele nosso confrade pede, porém, que o número de tais mensagens seja elevado para doze, por ser este o número místico do Cristianismo. Responde o poeta que tem permissão somente para dez descidas à Terra; que, no entanto, poderia solicitar a alteração desse plano, informando oportunamente sobre esse pedido. Dois dias mais tarde informou que aquele confrade fora atendido e que pretendia escrever o último soneto a respeito de DEUS: esta promessa foi cumprida, conforme se lê no Soneto XII.

Não sei por que Ismael Braga, com um nome consagrado e querido por todos os títulos, não quis apresentar a público estas joias do magnífico Elmano; faço-o eu, também não sei bem por quê. O fato é que não podiam tais preciosidades permanecer na sombra dum escrínio, como não se mantém a luz debaixo do alqueire.

Não são estes sonetos do Além meras palavras soltas ao vento, puros devaneios de poeta que sonha, ou de cantor, cuja alma flamejante extravaga em arroubos de encantamento. Constituem, ao contrário, matéria substanciosa, desenvolvida segundo um plano sábio: essa matéria é a própria Doutrina Espírita, e esse plano é o quadro vivo da Natureza, no que tange à criatura humana.

O que ora nos deixou o ilustre príncipe da métrica não foram simples rimas, para férias dos nossos Espíritos; deleita-nos, mas faz-nos meditar; conduz-nos a refletir, mas sem a fadiga de severa filosofia.

Tudo o que é belo nos enleva; e se a poesia tem a precípua faculdade de nos transportar acima do terra-a-terra, os presentes versos do magistral vate nos impelem à região do Incognoscível. Acompanhemo-lo, pois, em atitude de prece, como convém a quem se exalce do reino mísero da Sombra ao país da eterna Luz.




Para melhor apreensão do conceito emitido em cada soneto, desenvolvê-lo-emos em prosa, logo a seguir. Termos menos vulgares, quais os de entidades mitológicas e outros, tão do gosto do poeta, quando entre nós, terão seu significado num “Glossário”, no fim da obra; esses termos representam mais um testemunho da autoria dos versos ora publicados, se não bastara o estilo inconfundível do patrício de Camões.

O conjunto forma verdadeiro “curso de Espiritismo”, que, pela forma aqui oferecida, aprendemos muito mais facilmente, pois é sabido que o verso se guarda na memória muito melhor do que a prosa.

Verá, efetivamente, o leitor tratados os “pontos altos” da Doutrina Espírita, — que digo eu? — dos ensinamentos do Mestre entre os mestres, a saber: a submissão à dor, contra a qual o homem terrestre se revoltou e ainda se rebela; o combate aos vícios de toda a sorte: concupiscência, vaidade, orgulho, que nos afastam da espiritualidade; a sobrevivência do Espírito e sua possibilidade de comunicar-se conosco; o destino da alma e o do corpo; a aplicação da inteligência somente para o bem; o triunfo sobre a morte e sobre o próprio horror que esta em geral infunde ao homem, pela prática das virtudes; o prêmio aos vencedores, que seguiram os sagrados mandamentos do Eleito Missionário.

Não lhe esquece fazer sublime rogativa à Imácula Filha do Eterno, louvando-a por ter-lhe estendido os braços em doloroso transe. Deste modo o poeta nos conduz a um dos pontos máximos do Cristianismo: o reconhecimento de benefícios, o qual, quando dirigido aos nossos Maiores, nada mais é do que uma das modalidades da prece; ensina-nos, pois, a necessidade da prece para cumprimento das instruções cristãs.

E termina com admirável hino ao Criador, em um gesto de grandíloqua humildade: na impossibilidade de louvar tão majestoso Ser, por deficiência de expressão, brada, contrito e empolgado: “Glorifique-Te o amor com que nos amas!”

Tal grito dalma — não há duvidar — é dum Espírito quintessenciado, desse mesmo, agora mais evolvido, que da Terra dirigiu ao Onipotente a seguinte súplica:


Ó Deus, ó rei do céu, do amor, da terra,
(Pois só me restam lágrimas, clamores)
Suspende os teus horríssonos furores,
O corisco, o trovão, que tudo aterra!


Nos subterrâneos cárceres encerra
Os procelosos monstros berradores,
Que, enchendo os ares de infernais vapores,
Parece que entre si travaram guerra.


Para nós compassivo os olhos lança,
Perdoa ao fraco lenho, atende ao pranto
Dos tristes, que em ti põem sua esperança!


Às densas trevas despedaça o manto,
Faze, em sinal de próxima bonança,
Brilhar no etéreo tope o lume santo!


E o Eterno o atendeu.



[1] Assinou-os todos: Mel. Mª de Barbosa du Bocage.


L. C. Porto Carreiro Neto


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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