1
Vive o homem no mundo sorte dura,
Por estranho caminho arremessado;
Fero titã cativo a negro fado,
Do berço morno à fria sepultura.
2
Triste filho dos céus, de alma perjura,
Desprezível Adão acorrentado
Ao desterro de sombras do passado,
Respira o lodo e chora a desventura!
3
Ao vão orgulho — a esse deus imigo,
Altares vãos erige, por vaidade,
Que, na treva, o mantém revel mendigo!
4
Por mais altos pregões a fé lhe brade,
Traz, desditoso, o cárcere consigo,
Atado à Morte em plena Eternidade.
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Mel. Mª de Barbosa du Bocage
Ensina que o homem é um anjo decaído, em consequência do mau uso que fez de seu livre-arbítrio: tem-se, deste modo, a figura do “pecado original”. Seu passado de culpas arremessou a criatura num mundo infeliz, onde deve expiar suas faltas em duras provas. Infelizmente, em vez de se submeter à dor, que redime, o homem se rebela por orgulho, que lhe agrava a situação, e assim prolonga seu cativeiro no cárcere da matéria.
Nota: Alguns versos, como os tercetos acima, além de outros, foram depois modificados pelo Espírito comunicante.
A ortografia do original, redigido a lápis pelo médium, em toda esta série de sonetos, é a antiga, o que mais testemunha a veracidade da autoria destas produções. Este acréscimo de testemunho se entende com os incrédulos, não, evidentemente, com os confrades. Diremos, a propósito, com o excelso Camões:
“Aos infiéis, Senhor, aos infiéis,
E não a mi, que creio o que podeis.”
L. C. Porto Carreiro Neto