O nacionalismo diante da Lei — Céu e inferno — Reencontro dos entes queridos no Além — Reencarnação — O Espiritismo e outras religiões
UNIVERSO — OBJETIVAÇÃO DO PENSAMENTO DIVINO
Pedro Leopoldo, 21 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Numa das cartas enviadas a Chico Xavier, o missivista, considerando o conceito do nacionalismo em face das leis fraternas de que repetidamente fala Emmanuel, indaga:
1 — Se o nacionalismo multiplica as energias de um povo parece entretanto que vai de encontro à lei da fraternidade. Como deveremos entendê-lo?
DESEJOS E ENTUSIASMOS COMPREENSÍVEIS
Emmanuel assim responde a esse consulente:
“Compreendemos que se deva amar o pedaço de terra que nos viu nascer e compreendemos também o desejo de engrandecê-lo pelo trabalho, pela inteligência, pelo progresso, tornando-o digno da admiração dos outros. Aliás todas as concepções do verdadeiro patriotismo se enquadram no esforço de cada indivíduo em favor da evolução geral.
“Fazer porém a apologia desses movimentos nacionalistas que, a pretexto de unificação e energia administrativa, operam a revivescência das autocracias de outrora, incentivando as guerras, provocando revoltas, coibindo o pensamento, é desconhecer as leis da solidariedade humana. Aplaudir essas iniciativas que consideramos como atentatórias à lei fraterna que rege os mundos e as almas, seria cooperar para o desvirtuamento de todos os princípios da justiça e da ordem.
A MÍSTICA NACIONALISTA E O BEM COLETIVO
“Ninguém pode prever as consequências dessa mística nacionalista que, na atualidade, percorre o mundo de bandeirolas ao vento. Em todas as organizações políticas encontram-se concepções elevadas que interessam, de perto, a vida do Estado; mas todo e qualquer extremismo, dentro delas, é prejudicial ao bem coletivo.
O ISOLAMENTO DOS ESTADOS E O DESEQUILÍBRIO ECONÔMICO
“Cria-se a política dos governos fortes a fim de se incentivar as energias nacionais. Isola-se o Estado e, nesse isolamento, os grandes erros começam, porquanto os desequilíbrios econômicos são inevitáveis.
“Os homens não podem fugir aos dispositivos do código da fraternidade universal. Cada individualidade dá o que possui, no problema das possibilidades e das vocações, no edifício do progresso coletivo. Uma traz a ciência, outra a arte, outra uma nova modalidade evolutiva.
QUANDO OS PAÍSES LAVRAM A PRÓPRIA CONDENAÇÃO
“Dentro do mundo, são assim as nacionalidades, no tocante à produção. O que se faz necessário é regulamentar-se a troca dos produtos de cada uma. Ainda aí encontramos as lições de fraternidade da Natureza.
“Um país, pretendendo isolar-se no mundo, lavra a sua própria condenação.
O UNIVERSO É O PENSAMENTO DIVINO EM SUA EXPRESSÃO OBJETIVA
“Não vemos portanto nenhuma legitimidade nesse exclusivismo antifraterno. Fisicamente as nações representam somente o patrimônio da Humanidade. O universo é o Pensamento Divino em sua expressão objetiva. O plano de perfeição una absorve todas as coisas, impondo a lei de Fraternidade a todas as criaturas.
“O amor de Deus envolve a criação infinita. Para a sua misericórdia, portanto, um país não vale mais do que outro; e os homens, sejam europeus, africanos, hotentotes, todos são irmãos.
OBRAS PURAMENTE HUMANAS
“As rajadas de guerras, de nacionalismos incompreensíveis, são obras humanas envolvendo grandes e temíveis responsabilidades individuais e coletivas. Todavia, todos os feitos do homem na esfera da existência transitória são assinalados pelo seu caráter temporal. O que existe é a lei divina, é a alma imortal.
EVOLUÇÃO
“A evolução pode ser lenta, mas é segura; pode ser combatida, mas será aceita em tempo oportuno.
“A História é o vosso roteiro. Onde se encontram a Esparta e a Atenas de outrora? Que sopro destruidor pulverizou as esplendorosa civilizações que floresceram junto do Ganges, do Nilo, do Tigre, enchendo de vida as suas margens? Que força extra-humana soterrou a Roma poderosa da antiguidade, num aluvião de cinzas?… Onde se acham as suas galerias soberbas, cheias de patrícios e de escravos, as suas conquistas, os seus impérios faiscantes?…
“A mão do processo evolutivo, invisível e misteriosa, que estancou as lágrimas da plebe sofredora, subjugou os tiranos assinalando as suas frontes com o estigma da maldição dos séculos.
OS VENTOS DA NOITE SOBRE AS RUÍNAS…
“O progresso vem trabalhando com sacrifícios e sobre as ruínas do Coliseu † e de Spalato, † choram amargamente os ventos da noite.
“O poder de homens e de nações passa como a sua própria ação. Daí a necessidade da difusão do conceito imortalista da vida para que a humanidade concentre as suas possibilidades na aquisição dos tesouros espirituais, os únicos que se não dissipam no vórtice das mutações da matéria.
AS PROMESSAS DO ESPIRITUALISMO
“O moderno espiritualismo, explicando aos homens, em espírito e verdade, as lições trazidas ao mundo por Jesus, há de reparar os excessos do nacionalismo, integrando as criaturas no conhecimento das verdadeiras leis fraternas e extinguindo os ódios raciais que infelicitam a humanidade.”
Emmanuel
2 OS PRIMEIROS TEMPOS NO ALÉM, CÉU E INFERNO n
— Como decorrem para o Espírito desencarnado os primeiros tempos no Além-Túmulo? Haverá um Céu e um inferno?
Assim respondeu Emmanuel:
“A vida do Espírito desencarnado nos primeiros tempos do “post mortem” reflete em geral as ações de sua existência terrena. Os que viveram mergulhados nos estudos dignificadores, encontrarão meios de desenvolvê-los dentro de sociedades esclarecidas que os acolhem, segundo os imperativos das afinidades espirituais.
“Os que viveram no mundo, divorciados da prática do bem, submersos nas satisfações viciosas, sofrem naturalmente a consequência dos seus desvios. As concepções de Céu e inferno estão pois simbolizadas no estado da consciência redimida no trabalho e na virtude ou escrava do vício e do pecado.”
Emmanuel
3 A SAGRADA ESPERANÇA
A seguir surge esta pergunta em que se sente todo o anseio da alma humana que a desdita fez ficar enlutada, na Terra:
— Em desencarnando, encontra a alma os seres que amou e que partiram para o Além antes dela?
A resposta de Emmanuel, confortadora:
“Nem sempre encontramos, ao despertarmos na existência do Além, todos aqueles que participavam das nossas dores e júbilos da Terra. Alguns entes caros parecem apartados ainda de nós para sempre. Todavia todos nós encontramos dentro da misericórdia divina quem nos elucide e guie, caridosamente, no dédalo das incertezas e das dúvidas.
“Dia virá porém em que teremos a consoladora certeza de encontrar todos pelos laços do Amor; e essa certeza constitui grande felicidade para todos os Espíritos.”
Emmanuel
4 NÃO HÁ TEMPO DETERMINADO PARA O INTERVALO DAS REENCARNAÇÕES
Outra pergunta:
— A reencarnação só se verifica depois de um determinado tempo de vida espiritual no Além?
Resposta:
“Não há tempo determinado no intervalo das reencarnações da alma. No espaço compreendido entre elas, o Espírito estuda, nos planos em que se encontra, as possibilidades do futuro, ampliando seus conhecimentos e adquirindo experiências a fim de triunfar nas provas necessárias.
“De um modo geral, são as próprias almas que se reconhecem necessitadas de luz e progresso e pedem o seu regresso ao Plano carnal. Contudo, em alguns casos como os de entidades cruéis, rebeldes e endurecidas, são os guias esclarecidos que se incumbem de lhes preparar a reencarnação amarga e penosa, mas necessária.”
Emmanuel
5 O SAGRADO PATRIMÔNIO DA VIDA
— Os que se desencarnam no período infantil são Espíritos mais evoluídos, isentos de luta e provação na Terra?
A essa pergunta assim respondeu o guia:
“Alguns abandonam muito cedo o invólucro material, às vezes pelo motivo de serem obrigados somente a um pequeno resgate diante das leis que nos regem… Em sua generalidade, porém, esses acontecimentos estão enfeixados no quadro das provações precisas.
“Os suicidas, por exemplo, depois de se evadirem da oportunidade que lhes foi oferecida para o resgate do seu passado, estão muitas vezes sujeitos a essas penas. Querem viver na Terra novamente, tragar corajosamente o conteúdo amargo do cálice das expiações dos seus erros, porém as experiências costumam fracassar, a fim de compreenderem eles o quanto é sagrado o patrimônio da vida que nos foi concedido por Deus.”
Emmanuel
6 A REENCARNAÇÃO E AS DIVERGÊNCIAS ESPIRITUALISTAS
A seguir, o consulente fere este ponto de divergência das correntes espiritualistas:
— Por que existem, dentro do próprio Espiritualismo, os que aceitam e os que negam a reencarnação?
Resposta:
“Semelhantes anomalias são devidas aos poderes de preconceitos prejudiciais e obcecantes.
“Muitos cérebros e muitas coletividades são, pelos Espíritos, encontrados já trabalhados por dogmas incompreensíveis, bastante cristalizados nas mentes.
“Nossa tarefa, então, para orientá-los e esclarecê-los no terreno das verdades transcendentais, é muito lenta, para que não percamos os benefícios já feitos.
“Não duvideis contudo de que em futuro próximo alcançaremos a unidade das teorias do espiritualismo hodierno.”
Emmanuel
7 Outra pergunta sobre a reencarnação:
— Sempre existiu no mundo a ideia da reencarnação?
Resposta:
“A ideia da reencarnação vem das mais remotas civilizações e só ela pode dar ao homem a solução dos problemas do destino e da dor. Todos os grandes filósofos dos tempos antigos a aceitavam e só nos últimos séculos a verdade da preexistência das almas foi obscurecida pelos argumentos sub-reptícios de quantos desejam conciliar inutilmente os interesses de ordem divina com as coisas passageiras do egoísmo do mundo.”
Emmanuel
8 O ESPIRITISMO E AS OUTRAS RELIGIÕES
A última pergunta do gênero respondida por Emmanuel foi a seguinte:
— Qual o papel do Espiritismo diante das outras religiões?
Eis o que disse o guia:
“O Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus aos homens, o qual deveria aparecer quando a humanidade estivesse apta a compreender o seu ensinamento velado nas parábolas.
“Ele não vem destruir as religiões, mas uni-las e fortificá-las, desviando-as das concepções dogmáticas que foram impostas pelo interesse e a ambição propriamente humanos.
“Infelizmente, apesar de sua pureza, a consoladora Doutrina dos Espíritos tem sido muitas vezes objeto de exploração criminosa daqueles que não respeitam os seus princípios austeros e moralizadores. Cada um, porém, receberá segundo as suas obras; e nenhuma influência humana poderá impedir a sua evolução no seio da humanidade.”
Emmanuel
(Recebida em Pedro Leopoldo a 27 de junho de 1935)
[1] [O 1º item dessa mensagem corresponde ao 43º capítulo do
livro “Notáveis reportagens com Chico Xavier”]
[2] [Os itens 2 a 8 dessa mensagem correspondem ao 45º capítulo do
livro “Notáveis reportagens com Chico Xavier”]