Cada um receberá segundo as suas obras
PEDRO LEOPOLDO, † 25 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Muitas das perguntas que chegaram ao médium, referiam-se a pontos da doutrina espírita. As respostas a elas dadas foram, pois, colhidas pelo repórter, juntamente com as relativas a outras questões. E dentro da própria isenção com que temos exposto tudo o que diga respeito ao caso Chico Xavier parece-nos muito natural que apresentemos também esse material colhido pela reportagem, embora reconheçamos a sua feição doutrinária.
Os primeiros tempos no Além — Céu e inferno
Passemos, pois, a essas perguntas e suas respectivas respostas. Primeira indagação:
“Como decorrem para o Espírito desencarnado os primeiros tempos no Além-Túmulo? Haverá um céu e um inferno?”
Assim respondeu Emmanuel:
— “A vida do Espírito desencarnado, nos primeiros tempos do pós morte, reflete em geral as ações de sua existência terrena. Os que viveram mergulhados nos estudos dignificadores encontrarão meios de desenvolvê-los dentro de sociedades esclarecidas que os acolhem, segundo os imperativos das afinidades espirituais.
Os que viveram no mundo divorciados da prática do bem, submersos nas satisfações viciosas, sofrem naturalmente a consequência dos seus desvios. As concepções de céu e inferno estão, pois, simbolizadas no estado da consciência redimida no trabalho e na virtude ou escrava do vício e do pecado.
A sagrada esperança
A seguir surge esta pergunta em que se sente todo o anseio da alma humana que a desdita fez ficar enlutada, na Tetra:
— Em desencarnando, encontra a alma os seres que amou e que partiram para o Além antes dele?”
A resposta de Emmanuel, confortadora:
— Nem sempre encontramos, ao despertarmos na existência do Além, todos aqueles que participavam das nossas dores e júbilos da Terra. Alguns entes caros parecem apartados ainda de nós para sempre. Todavia todos nós encontramos dentro da misericórdia divina quem nos elucide e guie, caridosamente, no dédalo das incertezas e das dúvidas.
Dia virá, porém, em que teremos a consoladora certeza de encontrar todos os seres com os quais estamos unidos pelos laços do Amor; e essa certeza constitui grande felicidade para todos os Espíritos.
Não há tempo determinado para o intervalo das reencarnações
Outra pergunta:
— A reencarnação só se verifica depois de um determinado tempo de vida espiritual no Além?
Resposta:
— Não há tempo determinado no intervalo das reencarnações da alma. No espaço compreendido entre elas, o Espírito estuda, nos Planos em que se encontra, as possibilidades do futuro, ampliando seus conhecimentos e adquirindo experiências, a fim de triunfar nas provas necessárias.
De um modo geral, são as próprias almas que se reconhecem necessitadas de luz e progresso e pedem o seu regresso ao Plano carnal. Contudo, em alguns casos como os de entidades cruéis, rebeldes e endurecidas, são os guias esclarecidos que se incumbem de lhes preparar a reencarnação amarga e penosa, mas necessária.
O sagrado patrimônio da Vida
— Os que desencarnam no período infantil são Espíritos mais evoluídos, isentos de luta e provação na Terra?
A essa pergunta assim respondeu o guia:
— Alguns abandonam muito cedo o invólucro material, às vezes pelo motivo de serem obrigados somente a um pequeno resgate diante das leis que os regem… Em sua generalidade, porém, esses acontecimentos estão enfeixados no quadro das provações precisas.
Os suicidas, por exemplo, depois de se evadirem da oportunidade que lhes foi oferecida para o resgate do seu passado, estão muitas vezes sujeitos a essas penas. Querem viver na Terra novamente, tragar corajosamente o conteúdo amargo do cálice das expiações dos seus erros; porém, as experiências costumam fracassar, a fim de compreenderem eles o quanto é sagrado o patrimônio da vida que nos foi concedido por Deus.
A reencarnação e as divergências espiritualistas
A seguir, o consulente fere este ponto de divergência das correntes espiritualistas:
— “Por que existem, dentro do próprio Espiritualismo, os que aceitam e os que negam a reencarnação?”
Resposta:
—Semelhantes anomalias são devidas aos poderes de preconceitos prejudiciais e obcecantes.
Muitos cérebros e muitas coletividades são, pelos Espíritos, encontrados já trabalhados por dogmas incompreensíveis, bastante cristalizados nas mentes.
Nossa tarefa, então, para orientá-los e esclarecê-los no terreno das verdades transcendentes, é muito lenta, para que não percamos os benefícios já feitos.
Não duvideis, contudo, de que, em futuro próximo, alcançaremos a unidade das teorias reencarnacionistas em todos os núcleos do espiritualismo hodierno.”
Outra pergunta sobre a reencarnação:
— Sempre existiu no mundo a ideia da reencarnação?
Resposta: — “A ideia da reencarnação vem das mais remotas civilizações e só ela pode dar ao homem a solução dos problemas do destino e da dor. Todos os grandes filósofos dos tempos antigos a aceitavam, e só nos últimos séculos a verdade da preexistência das almas foi obscurecida pelos argumentos sub-reptícios de quantos desejam conciliar inutilmente os interesses de ordem divina com as coisas passageiras do egoísmo do mundo.”
O Espiritismo e as outras religiões
A última pergunta do gênero respondida por Emmanuel foi a seguinte:
— “Qual o papel do Espiritismo diante das outras religiões?”
Eis o que disse o guia:
O Espiritismo é o consolador prometido por Jesus aos homens o qual deveria aparecer quando a humanidade estivesse apta a compreender o seu ensinamento velado nas parábolas.
Ele não vem destruir as religiões, mas uni-las e fortificá-las, desviando-as das concepções dogmáticas que lhes foram impostas pelo interesse e a ambição propriamente humanos.
Infelizmente, apesar de sua pureza, a consoladora doutrina dos Espíritos tem sido muitas vezes objeto da exploração criminosa daqueles que não respeitam os seus princípios austeros e moralizadores. Cada um, porém, receberá segundo as suas obras: e nenhuma influência humana poderá impedir a sua evolução no seio da humanidade.
Emmanuel
Clementino de Alencar
[1] Essa reportagem foi publicada originalmente em 1935 pela LAKE e são os itens 2 a 8 do 8º cap. da 3º parte do
livro “Palavras do Infinito”