O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Presença de Chico Xavier — Depoimentos diversos / Mensagens familiares


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Depoimento de Clóvis Tavares n

Dia 26 de julho — Foi uma sexta-feira que despontou linda, cheia de luz.

Virgílio Paula ofereceu um almoço ao bondoso Chico. Sol no zênite e chegávamos nós ao 56, onde nos esperava, na mesa da fraternidade, a refeição que D. Zizinha preparara carinhosamente.

Está em moda agora o “álbum”, novamente, supomos. E acrescentamos, entre colegiais. As meninas, sobretudo, andam a colecionar poesias e pensamentos e pedem a seus familiares, a seus colegas, a seus íntimos que deixem no “álbum” algum soneto célebre ou algumas palavras… para mais tarde servirem de suave recordação. E assim, o “álbum” corre de mão em mão, e dentro de algum tempo é uma delicada antologia, onde as flores da amizade fraterna também se encontram. Ermelinda de Paula Peixoto é neta de Virgílio Paula e aderiu também às alegrias do “álbum”, sempre mais agradáveis que as do “ioiô”, ou do “bilboquê”. Anda enchendo o seu caderno de sonetos e poesias.

E após o almoço, no velho “solar” de vovô Virgílio, a Ermelinda pede ao médium Xavier que deixe ali também o testemunho de sua passagem por Campos, transcrevendo alguns versos do “Parnaso de Além-Túmulo”.

Chico senta-se à mesa, na sala próxima, e recebe o seguinte, que ficou escrito no álbum da jovem liceísta:


APELO À ERMELINDA

   Ermelinda, a nossa Escola
É um templo de amor e luz!…
Eleva-te, vence o mundo!
Vai trabalhar com Jesus!


Casimiro Cunha


E o nosso Chico, delicadamente, entrega a Ermelinda o “álbum”. Ela vai lendo… mas antes de terminar a leitura cai em pranto convulsivo. Chora. Chora muito. Compreendera o apelo! Ela havia abandonado a Escola Jesus Cristo, há cerca de um ano… E o poeta-evangelista, pela mediunidade de Francisco Xavier, trouxera-lhe um pedido profundamente emocionante. Foram no entanto, lágrimas de compreensão que lhe trouxeram, logo após, uma alegria nova: a de voltar ao redil do Divino Pastor.

E voltou de fato. Matriculou-se novamente na Escola Jesus-Cristo e o seu exemplo valeu porque algumas outras ovelhinhas voltaram também ao aprisco. Deus as conserve em Sua luz!




A CAMINHO DE GUARULHOS

À tarde fomos ao “caldo-verde”, oferecido pela família Bonifácio Carvalho e esplendidamente preparado por D. Mariquinhas e D. Cândida. Após o ágape fraterno, onde a alegria também foi um prato, vão todos à Escola Jesus Cristo e daí o exército sem armas se dirige a Guarulhos, para a reunião no Grupo Allan Kardec, secção da Escola no 7º distrito. Após a pregação evangélica da noite, sobre a parábola das dez virgens, feita pela irmã Isolina Rocha, o médium Xavier recebeu duas mensagens: uma de Casimiro Cunha e outra de Quininha, que é como se chamava na intimidade familiar a mãe do irmão Virgílio Paula, a Sra. Joaquina A. da Silva.
Leiamo-las

NO ESTUDO DA PARÁBOLA

(Para a irmã Isolina Rocha)


1 Minha irmã, Deus te abençoe
O esforço amigo e fraterno
No Evangelho de Jesus,
Que é o nosso tesouro eterno.


2 Cada palavra amorosa,
Nas sendas da pregação,
É mais luz na tua estrada
De Vida e de Redenção.


3 Trabalha. Luta. Esclarece.
Prossegue no teu labor.
Jesus estará contigo
No esforço consolador.


4 Guarda a lâmpada do Cristo n
Entre as sombras e escarcéus
E hás de ter em teu caminho
As luzes da Luz dos Céus!…


Casimiro Cunha


E em seguida, ao correr impetuoso do lápis, esta:




[AO MEU FILHO]

MENSAGEM DE JOAQUINA A. DA SILVA A VIRGÍLIO DE PAULA E SILVA

1 Meu querido filho.
Deus te abençoe o coração.

2 Na verdadeira estrada de Deus, eu venho felicitar-te, agradecendo as tuas preces e as tuas amorosas vibrações.

3 Reconhecida, elevo ao Todo-Poderoso a expressão do meu reconhecimento. É que na sua infinita piedade, Jesus permitiu que eu te viesse trazer, de novo, a minha afetuosa ternura. Desejava fazer o mesmo com todos aqueles que se constituíram em filhos de minh’alma, nas estradas do mundo, entretanto, elevo ao Senhor o meu pensamento feliz pela possibilidade de te manifestar os meus pensamentos mais ternos e profundos.

4 Meu coração está cheio de nossas queridas lembranças do Imbé e as minhas são filhas do mesmo amor devotado e sincero de todos os tempos. 5 A vida de Além-Túmulo não nos priva desse conforto sagrado de aproximação e de convívio com os entes mais queridos do coração. E aproveitando o ensejo bendito da bondade de Deus, aqui estou para implorar, de novo, as suas bênçãos para o teu espírito dedicado e trabalhador.

6 Meu filho, regozija-te nos sofrimentos que purificam e salvam. Grande é a luta transformadora, porém o amor de Jesus excede sempre as nossas expectativas.

7 Aqui, desfizeram-se as minhas ilusões religiosas, com respeito ao culto externo que meu coração havia herdado de quantos nos haviam precedido. O que hoje realizas, pela bondade do Todo Poderoso, tive de edificar com um trabalho maior. 8 A vida da alma não se constitui de uma falsa adoração aos símbolos da Terra e, como hoje o fazem as netas bem-amadas, fui obrigada a examinar o espírito dos ensinos do Evangelho do Cristo, cooperar com a sua bondade nas lições purificadoras de seu amor em seu próprio benefício e, graças ao amparo de tuas orações e à assistência espiritual de amigos abnegados deste novo Plano da vida, vou aprendendo a encontrar a luz do Céu em meu esforço próprio, colaborando contigo em sua tarefa de abnegação e de amor.

9 Sei que muito grandes são os teus trabalhos, mas todo esforço pelo bem é justo e santo. A cada um dos que te cercam o coração bondoso e amigo no lar oferece o patrimônio de tuas abençoadas conquistas. 10 Aqui me ensinam que os trabalhadores vitoriosos não são aqueles que descem para a morte do corpo de uma galeria dourada, mas justamente aqueles que alvejam os cabelos no sacrifício e no esforço santificados pelo bem geral.

11 Sinto-me agora altamente feliz pois recebi a incumbência, sagrada para mim, de cooperar com Inaiá em sua missão de amar e amparar os pequeninos. Alta noite, quando todos se entregam ao repouso, eu procuro fortalecer-lhe o coração para a tarefa sagrada. 12 Nós, meu filho, somos daquelas árvores que se enriquecem de pássaros e de ninhos. Inaiá é também tua herdeira. Teu lar é como a nossa antiga casa, onde a alegria das crianças sempre se misturou à experiência dos que envelheciam e eu me sinto feliz por colaborar na obra santificada que se procura realizar aqui, sob os auspícios divinos do Evangelho de Jesus.

13 Nunca te deixes enfraquecer em face das lutas. Cada trabalho, meu bom Virgílio, é uma bênção de Deus. 14 E já que a bondade infinita dos Céus me permitiu o favor da palavra materna, nesta noite, quero estender meus votos de paz a todos, inclusive à Zizinha, companheira abnegada, e uma irmã de todos nós pelo coração e pelo sacrifício.

15 E agora, meu filho, deixa que aquela que foi a tua velhinha na Terra se despeça temporariamente de ti, implorando as bênçãos de Jesus para o teu coração. Que Ele, o Divino Jardineiro, continue cultivando em teu espírito as flores do esforço e do trabalho, da paz e da esperança, é a prece daquela que te foi a mãe carinhosa do mundo e devotada irmã do Plano espiritual,


Quininha




DECLARAÇÃO DE VIRGÍLIO PAULA SOBRE A MENSAGEM DE SUA SAUDOSA MÃE

“A mensagem é uma fotografia fiel de sua alma. A delicadeza, o modo conselheiral, a maneira humilde e afetuosa de dizer são bem suas, não pode haver dúvidas, e identifica-se ainda pelas referências que faz. Refere-se aos benefícios de minhas preces e amorosas vibrações e, realmente, desde a sua desencarnação, nunca deixei, um só dia de orar pela sua felicidade espiritual, pois ainda que tivesse confiança em que a sua situação no Espaço não seria má, pela sua bondade, amor a Deus e espírito de justiça, eu, sendo espírita, não havia recebido ainda nenhuma notícia sua. As minhas orações foram, pois, sempre constantes, pedindo a sua felicidade dentre os entes bem-amados e desencarnados primeiro que ela. E ela agradece-mas como, na sua doce humildade, em vida sempre me agradeceu as mínimas dádivas que eu lhe fazia e que, por fazê-las, já constituíam uma farta recompensa e gozo para mim. Não se esqueceu do Imbé, o nosso querido torrão natal e refere-se às alegrias da nossa antiga casa sempre cheia de crianças — seus filhos e outros nossos amiguinhos da vizinhança — alegrias em folguedos comedidos e honestos, com a liberdade que se deve dar às crianças e jovens, mas temperada com a educação fina e cuidadosa que recebíamos dela, de meu pai e dos nossos maiores com a noção do cumprimento do dever, alegrias de que todos eram participantes; por isso, diz ela: — “Onde a alegria das crianças sempre se misturou à experiência dos que envelheciam.”

“Perfeita, bela e comovente para mim, é também esta sua imagem de expressão tão doce e simples: — “Nós, meu filho, somos daquelas árvores que se enriquecem de pássaros e de ninhos.” Sim! E este singelíssimo trecho de sua mensagem evoca-me todo o nosso passado no Imbé, naquela terra abençoada e encantadora.

“Lá existem mesmo árvores frondosas e belas, onde os pássaros em alvoroço e alacridade esvoaçam, saltitam, cantam e constroem os seus ninhos. E também assim lá sempre fomos, a partir de meus avós. Ela mesma teve muitos filhos e cada um filho ou filha que se casava, não muito longe formava o seu lar — o seu ninho, que por sua vez se ia enriquecendo de criancinhas. Inaiá, a quem ela cita, é minha filha e que, ainda muito jovem e solteira, tem contudo um entranhado amor às criancinhas, tomando os recolhidos da Casa da Criança como seus filhinhos espirituais.

“Zizinha, a quem igualmente faz alusão, é minha esposa e minha boa companheira nas lutas desta vida e, em 47 anos que somos casados, a sua vida tem sido só de abnegação e sacrifício a prol da família e daqueles que o Bom Deus permitiu que abrigássemos com amor em nosso lar; e minha mãe, na sua bondade e justiça, reconhece esse espírito de nobre sacrifício e não quis deixar de premiá-lo com a lembrança amiga e os seus bondosos votos de paz.

“Tudo, enfim, — o carinho, o amor, a bondade e delicadeza que perfumam suavemente a sua mensagem, é característico do seu coração generoso, humilde e justo.

“Minha mãe era católica e profundamente religiosa. Tinha um bom oratório repleto de imagens de santos e livrinhos de rezas. Daí, sem dúvida, aquele trecho de sua mensagem: — “A vida da alma não se constitui de uma falsa adoração aos símbolos da Terra e, como hoje o fazem as netas bem-amadas, fui obrigada a examinar o espírito dos ensinos do Evangelho do Cristo, etc.”.

“Mas há ainda um fato que não devo deixar oculto: — naquela noite em que foi recebida a mensagem no G. E. Allan Kardec, estando eu sentado junto ao médium Francisco Cândido Xavier e muito atento à pregação de nossa irmã Isolina Rocha, diretora daquele grupo, quase já no fim da prédica, o nosso irmão Francisco Xavier aproximando-se mais de mim, perguntou-me ao ouvido: — “Sua mãe chamava-se Quininha?” Eu, muito admirado, pois que ninguém, por certo, lhe dissera o nome de minha mãe, já falecida há alguns anos, respondi que sim; que o seu nome próprio era Joaquina, mas que todos só a conheciam por esse apelido, e que até mesmo as pessoas pouco íntimas e mais cerimoniosas a chamavam — Dona Quininha. Era pois o seu nome. Deu-me ele a entender que ela estava presente à nossa reunião, e com isso fiquei contentíssimo, mas confesso que não esperava a sua — para mim — tão bela e emocionante mensagem. Devo dizer também que só conheci pessoalmente o médium Francisco Xavier nesta sua visita a Campos, e que, antes da sessão no G. E. Allan Kardec, o pouco tempo em que estive com ele foi sempre no meio de muitas outras pessoas que o distraíam por todos os modos, não havendo oportunidade para uma intimidade entre nós em que lhe desse conhecimentos sobre a vida de minha mãe. De modo que ele não devia ou não podia saber como ela se chamava. Eis aí ainda mais uma boa prova de sua identidade, além das que já assinalei. De todo o meu coração agradeço, aqui, ao distinto médium tão grande consolação e alegria de que foi portador pela sua extraordinária mediunidade, com a íntima e querida mensagem de minha boa mãe.


Virgílio Paula” n


Elias Barbosa



[1] [Chico senta-se à mesa, na sala próxima, e recebe o seguinte, que ficou escrito no álbum da jovem liceísta:] “Francisco Cândido Xavier em Campos, em visita à Escola Jesus-Cristo”, lembrança do 5º aniversário da Escola Jesus-Cristo, 27-10-1935 — 27-10-1940, Tipografia Soares, Campos, Estado do Rio, págs. 14-23.


[2] No original: “de Cristo” — Vide explicação de Allan Kardec sobre a anteposição do artigo à palavra Cristo.


[3] Distinto Professor e Pioneiro da Doutrina Espírita, em Campos, Estado do Rio.


Esta mensagem foi também publicada pela editora VL e são os seguintes capítulos do livro “Luz na Escola”: Introdução II; No estudo da parábola; Ao meu filho.


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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