Na eterna luz
1 Quando parti deste mundo
Em busca da Imensidade,
A alma ansiosa da Verdade,
Do azul imenso dos céus,
Fugi do pesar profundo,
Lamentando os sofrimentos,
As mágoas, os desalentos,
Confiado no amor de Deus.
2 Mal, porém, abrira os olhos
Em meio de luzes puras,
Nas radiantes alturas,
Em célico resplendor,
Compreendi que os abrolhos
Que a Terra me oferecera,
Eram mesmo a primavera
Do meu sonho todo em flor.
3 Disseram-me então: — «Ó crente
Que chegais a estas plagas,
Fugindo das grandes vagas
Do mar revolto das lutas,
Aportai serenamente
Nesta estância do Senhor,
Pois aqui existe o amor
Nestas almas impolutas!
4 Aqui existe a pureza
A meiga flor da Bondade,
O aroma da Caridade
Perfumando os corações;
Não se conhece a torpeza
Da lâmina — hipocrisia,
Que mata toda a alegria,
Provocando maldições.
5 Aqueles que já sofreram
No dever nobilitante,
Cujo peito sempre amante
Só conheceu dissabores;
Aqueles que conheceram
As feridas dolorosas,
Dessas mágoas escabrosas
De um triste mundo de dores,
6 Encontram nestas moradas
Tão formosas, resplendentes,
Os clarões resplandecentes
De afetos imorredouros!
As almas imaculadas
São flores das boas-vindas,
Luminosas, sempre lindas
Ofertando-lhes tesouros:
7 Os tesouros peregrinos
Formados de amor e luz
Do Mestre Amado — Jesus,
Arauto do Onipotente;
Os reflexos divinos
Quais lírios iluminados,
Alvos, belos, deificados,
Penetrarão sua mente.
8 Acordai, pois, ó vivente,
Contemplai-vos nesta vida,
Que vossa alma ensandecida
Procure a luz que avigora.
O Senhor sempre clemente,
Concede-vos neste instante
A bênção dulcificante
Do seu amor — doce aurora.
9 Sacudi o pó da estrada
Que trilhastes na amargura,
Pois agora na ventura
Fruireis consolações;
Nesta Esfera iluminada,
Que aportais neste momento,
Não vereis o sofrimento
Retalhando os corações.
10 Só vereis clarões de luz
A despontar nestas almas,
Tornadas em belas palmas
Das mansões do Criador!
Bendizei, pois, a Jesus,
O Mestre da Caridade,
O Luzeiro da Bondade,
O grande mestre do Amor!»
11 Então, eu vi que na Terra
Em meio da iniquidade,
Na tremenda tempestade
Das dores e expiações,
A nossa alma que erra,
Tão longe das grandes luzes,
Só aproveita das cruzes,
Das amargas provações.
12 Venturoso, abençoei
A dor que amaldiçoara,
Que renegar eu tentara
Como os míseros ateus,
E feliz então busquei
As bênçãos, flores brilhantes,
Alvoradas fulgurantes
Do amor imenso de Deus.
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