O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Os mensageiros — André Luiz


19

O sopro

(Sumário)

1. Depois de interessantes considerações relativamente à situação dos Círculos carnais, Aniceto voltou a examinar nossas necessidades de serviço.

2 Muito amável, Alfredo ponderou:

— Em virtude da tormenta iminente, poderiam demorar conosco algumas horas, seguindo amanhã, ao alvorecer.

3 E, com profunda surpresa, ouvi-o afirmar:

— Poderão utilizar meu carro, até à zona em que se torne possível. Fornecerei condutor adestrado e ganharão muito tempo com a medida.

Não podia caber em meu espanto. Embora conhecendo as operações dos Samaritanos em “Nosso Lar”, que empregavam grandes veículos de tração animal, em trabalhos de salvamento nas regiões inferiores e considerando as dificuldades de vulto que defrontáramos na caminhada longa, rumo ao Posto de Socorro, não supunha possível semelhante condução naquele instituto de auxílio.

4 Soube, mais tarde, que os sistemas de transporte, nas zonas mais próximas da Crosta, são muito mais numerosos do que se poderia imaginar, em bases transcendentes do eletromagnetismo.


2. Nosso orientador, que parecia meditar gravemente a situação, observou preocupado:

— Entretanto, temos serviços urgentes nos Círculos carnais. Vicente e André precisam iniciar aprendizado ativo.

2 Alfredo sorriu, bondoso, asseverando:

— Quanto a isso, não necessitaremos de maiores cuidados. Há sempre quefazeres em toda a parte. Onde houver espírito de cooperação da criatura, existe igualmente o serviço de Deus. 3 Nossos amigos poderiam colaborar conosco, ainda hoje, nas atividades de assistência. Acompanhar-nos-iam, por exemplo, nos trabalhos da prece, nos quais há sempre muita coisa a fazer e muita lição a aprender.

4 — Excelente sugestão! — Exclamou nosso instrutor. — A oração individual, ou coletiva, é sempre vasto reservatório de ensinos edificantes.

— Aliás, — falou Ismália, afetuosa, — não devemos demorar. Estamos quase na hora.

5 Nesse momento, como se fora chamado, de súbito, à lembrança de grave compromisso de trabalho, falou o administrador, dirigindo-se à companheira:

— É preciso prevenir Olívia e Madalena das providências que se fazem imperiosas para a noite. Necessitaremos a colaboração de mais alguns técnicos do sopro. Temos alguns irmãos em estado grave, tomados de impressões físicas mais fortes.

6 — Técnicos do sopro? — Indaguei, assombrado, antes que Ismália pudesse fazer qualquer observação referente aos serviços.

— Sim, meu amigo, — respondeu Alfredo, atenciosamente, — o sopro curador, mesmo na Terra, é sublime privilégio do homem. 7 No entanto, quando encarnados, demoramo-nos muitíssimo a tomar posse dos grandes tesouros que nos pertencem. Comumente, vivemos por lá, perdendo tempo com a fantasia, acreditando em futilidades ou alimentando desconfianças. Quem pudesse compreender, entre as formas terrestres, toda a extensão deste assunto, poderia criar no mundo os mais eficientes processos soproterápicos.

8 — Mas, semelhante patrimônio está à disposição de qualquer Espírito encarnado? — Perguntou Vicente, compartilhando minha surpresa.

Nosso interlocutor pensou alguns instantes e respondeu, atencioso:

— Como o passe, que pode ser movimentado pelo maior número de pessoas, com benefícios apreciáveis, também o sopro curativo poderia ser utilizado pela maioria das criaturas, com vantagens prodigiosas. 9 Entretanto, precisamos acrescentar que, em qualquer tempo e situação, o esforço individual é imprescindível. Toda realização nobre requer apoio sério. O bem divino, para manifestar-se em ação, exige a boa vontade humana. 10 Nossos técnicos do assunto não se formaram de pronto. Exercitaram-se longamente, adquiriram experiências a preço alto. Em tudo há uma ciência de começar. São servidores respeitáveis pelas realizações que atingiram, ganham remunerações de vulto e gozam enorme acatamento, mas, para isso, precisam conservar a pureza da boca e a santidade das intenções.

11 Compreendendo o interesse que suas palavras despertavam, continuou o administrador, depois de pequena pausa:

— Nos Círculos carnais, para que o sopro se afirme suficientemente, é imprescindível que o homem tenha o estômago sadio, a boca habituada a falar o bem, com abstenção do mal, e a mente reta, interessada em auxiliar. 12 Obedecendo a esses requisitos, teremos o sopro calmante e revigorador, estimulante e curativo. Através dele, poder-se-á transmitir, também na Crosta, a saúde, o conforto e a vida.

13 E, como Vicente e eu não pudéssemos ocultar a perplexidade, Alfredo considerou:

— Isto não é novo. Jesus, além de tocar naqueles a quem curava, concedia-lhes, por vezes, o sopro divino. ( † )  14 O sopro da vida percorre a Criação inteira. Toda página sagrada, comentando o princípio da existência, refere-se a isso. Nunca pensaram no vento, como sopro criador da Natureza? 15 Quanto a mim, desde o ingresso em Campo da Paz, quando fui ali recolhido em péssimas condições espirituais, tenho aprendido maravilhosas lições nesse particular. 16 Tanto assim que, chefiando este Posto, tenho incentivado, com as possibilidades ao meu alcance, a formação de novos cooperadores nesse sentido, oferecendo compensações aos que se decidam iniciar a tarefa de especialização, nem sempre fácil para todos.

17 A esse tempo, Ismália recebia algumas colaboradoras de importância, que se preparavam para a tarefa.

Impressionado com o que ouvira, acompanhei de perto as providências que se organizavam. Encontrando-me, porém, mais a sós com Aniceto, transmiti-lhe minha enorme surpresa, respondendo-me ele em tom confidencial:

18 — Esquecem-se vocês de que a própria Bíblia, aludindo aos primórdios do homem, narra que o Criador assoprou na forma criada, comunicando-lhe o fôlego da vida. ( † )  19 Referindo-nos aos nossos irmãos encarnados, faz-se preciso reconhecer, André, que, mesmo partindo de homens imperfeitos, mas de boa vontade, todo sopro com intenção de aliviar ou curar tem relevante significação entre as criaturas, porque todos nós somos herdeiros diretos do Divino Poder.  20 Aliás, é necessário observar também que não estamos diante de uma exclusividade. Você, por certo, passou muito ligeiramente pelo nosso Ministério do Auxílio. Temos, ali, grande instituto especializado nesse sentido, onde nobres colegas se votam a essa modalidade de cooperação. 21 No Plano carnal, toda boca, santamente intencionada, pode prestar apreciáveis auxílios, notando-se, porém, que as bocas generosas e puras poderão distribuir auxílios divinos, transmitindo fluidos vitais de saúde e reconforto.

22 Esperava que Aniceto prosseguisse, mostrando-me as qualidades magnéticas do sopro, mas Alfredo acercara-se de nós, operoso e solícito, exclamando:

— Estamos no momento destinado aos trabalhos de assistência e oração.

— Segui-lo-emos com prazer, — respondeu nosso instrutor, sorrindo.

Era necessário interromper a lição, atendendo a deveres diferentes.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir