O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Notáveis reportagens com Chico Xavier reproduzidas do jornal O Globo — Autores diversos


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Berthelot, o frio pesquisador da matéria, fala-nos agora do filamento imponderável que une o visível, o finito ao infinito!…

“Dentro da psiquismo hodierno desenvolve-se o embrião promissor da química espiritual que há de trazer a renovação moral, social e política do orbe” — diz-nos, nas mensagens de Chico Xavier, o criador da Termoquímica


PEDRO LEOPOLDO,  †  29 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — A acentuada palpitação que, nas últimas semanas, vinha caracterizando as quartas-feiras de Pedro Leopoldo, juntando ao movimento normal da cidade-menina já de si viva e alegre, uma nota nova de ansiosa expectativa, sofreu hoje sua primeira solução de continuidade.

Não se realizou a sessão espírita na residência de José Cândido.

O caso não foi propriamente imprevisto e sua possibilidade se veio esboçando desde a sessão passada, quando o “guia” Emmanuel, referindo-se ao enorme dispêndio, por parte do médium, de forças neuropsíquicas, através de reuniões muito numerosas e repetidos testes durante a semana [v. A derradeira mensagem], apontava a necessidade de se entregar Chico Xavier a, pelo menos, um pequeno período de repouso.

Realmente, observamos que o médium, nos dois últimos dias, se apresentava um pouco abatido e não seríamos nós que iríamos desviá-lo da sua intenção de ligeiro repouso.

Muita gente, entretanto, não acreditava, que a sessão de hoje se deixasse de realizar. Por isso mesmo, fomos dos que, sem insistência embora, ficaram na expectativa. Mas, pela manhã, Chico Xavier, obedecendo afinal à necessidade de descanso e às recomendações do seu “guia”, comunicava-nos que se retiraria por alguns dias, para a chácara de um seu cunhado sita a cerca de 40 minutos daqui.

Convém observar que, além do esforço despendido nas sessões e testes Chico Xavier experimentava o cansaço físico resultante das vigílias e cuidados outros a que o obrigava o estado de saúde de seu patrão e padrinho, José Felizardo.


Algumas viagens perdidas


Em virtude da incerteza em que ficamos, até ao último dia, sobre se a reunião se realizaria ou não, também não nos foi possível divulgar, com a necessária antecedência o que se verificou: a não realização.

Por isso, várias foram as pessoas que vieram de fora, para assisti-la. Assim, aquela palpitação característica das quartas-feiras de Pedro Leopoldo, a que acima nos referimos, sempre se renovou um pouco, ao cair da noite, mas inutilmente.


Berthelot fala-nos sobre a sobrevivência do ser consciente


Passada essa hora de palestras mais animadas, e quando os visitantes já se haviam retirado, voltamos ao silêncio do nosso quarto e ali, mais uma vez, debruçamo-nos sobre o “arquivo” do médium, acrescido agora de pequena parte suplementar, um caderno no qual Chico Xavier começara a copiar uma coletânea de mensagens recebidas de um ano para cá. n

Entre estas, figura a comunicação de Berthelot a que já fizemos referência e que nos parecem ser algumas das páginas mais notáveis constantes do “arquivo”.

Nelas, o grande químico, o rigoroso e frio pesquisador da matéria, o estudioso profundo da formação dos “princípios imediatos”, criador quase que exclusivo da termoquímica, lança uma palavra nova e imprevista de crença espiritualista sobre o panorama da sua vida terrena e da sua obra de rigorosa e vasta análise racionalista.


“… e, como qualquer homem, também morri”


Damos, a seguir essa mensagem de Marcelin Berthelot,  †  à qual intercalamos alguns subtítulos para melhor destaque de seus trechos mais interessantes:

Mensagem de Marcelin Berthelot

Também vivi no cenário do mundo e sobre ele vulgarizei os meus pensamentos e os meus estudos como qualquer outra personalidade consciente de si mesma, desobrigando-se dos seus deveres de cooperação e solidariedade, e, como qualquer homem, também morri. n

Quando na Terra, esse introito das minhas palavras, partido de outrem, feriria de certo as minhas convicções, porquanto, implicaria uma afirmação dogmática e abusiva, excessivamente abstrata em relação aos métodos indutivos das minhas indagações científicas; mas, como todos os recursos da lógica humana se retraem, se nulificam diante dos fenômenos metafísicos em sua maravilhosa incognoscibilidade, pude reconhecer ali mesmo que as ciências positivas abrangem apenas a fração exteriorizável das ciências ideais, em cujo centro reside a energia causal da vitalidade do Universo.


Intoxicação de materialismo


Com efeito das minhas perquirições nos domínios do palpável o Materialismo intoxicou grande parte das minhas obras, porque baseando-se os meus métodos na exclusão de todas as hipóteses prováveis, para somente admitir as realidades físicas que o racionalismo positivista me oferecia, logicamente não me fora possível aceitar a sobrevivência do ser-consciência dentro da doutrina do paralelismo psicofisiológico e tampouco prever o estado de infinita radiação da matéria, fora dos fenômenos termoquímicos; contudo, a despeito de todos os preconceitos, havia no fundo do meu espírito a presciência desse novo gênero de vida que me atinge, uma crença vaga, informe, revelada nas proporções das minhas teorias de unidade que envolviam todo um sistema monístico no domínio dos problemas espirituais.


O filamento imponderável que une o finito ao infinito


Nunca descobri a conexão entre o Nada e o Pensamento, estudando as mais complicadas sínteses orgânicas, excogitando os enigmas das combinações e decomposições dos corpos, sondando as propriedades da energia e do calor, escrutando todos os fatos de laboratório, e no seio da química em sua generalidade; e desde a matemática elementar às matemáticas puras, no vestígio de todas as ciências que, ligando fatos, coordenam argumentos glorificadores da matéria, apresentando-a como base permanente de todas as expressões e sensações da vida, a lógica intuitiva demonstrava-me o filamento imponderável que une o finito ao infinito, o visível ao invisível.


“E foi por isso que a minha filosofia foi amarga”


É certo que a ciência me induziu a desprezar todas as investigações do impalpável, consubstanciado no monumento das causas profundas, evitando os recursos metafísicos, oriundos de pretensas arbitrariedades mateológicas, os quais, ela, na sua rigorosa análise racionalista, abandonava aos estudos afetos às religiões irmanadas no seu maravilhoso sincretismo; e foi por essa razão que o meu espírito inutilmente se torturou na Terra, entre dúvidas angustiosas, e a minha filosofia foi amarga, tornando-se, aí, incompreendida.


Hesitações que valem como princípios fundamentais da crença


Pode-se consagrar a existência aos estudos; porém, dedicando-me inteiramente às minhas lides científicas no labor sagrado da Humanidade, amei, sobretudo, a vida, e, de poderosas razões de sentimento, nasceram as minhas hesitações que bem equivalem por princípios fundamentais de crença.


Um materialista em busca da fé


Fui um materialista que se desvelou na procura da fé religiosa que lhe ofertasse um alicerce estritamente positivo. Não a alcancei aí e, martirizando a minha inteligência, dediquei às cogitações da matéria todos os meus esforços e energias.


Agi mal… Agi bem…


Agi mal? Agi bem?

Estudando o meu próprio trabalho, agi mal, porquanto poderia realizar muito mais pelo progresso humano; e agi bem porque só a verdade me interessou, constituindo o sopro da minha atividade laboriosa e o alvo de todos os meus desejos.


A defesa das consciências contra o absurdo dogmático


Indistintamente, os homens, de maneira coletiva, colaboram no edifício da evolução comum e cada um deles representa um papel, individualmente considerado, o qual repercute no todo; a teoria do Positivismo,  †  se é suscetível de envenenar alguns Espíritos que se caracterizam por lamentável amorfia, assegura um passo a mais da Humanidade na estrada de sua ascensão. Foi o único reduto defensivo das consciências, opondo uma negativa reiterada e extrema ao absurdo dogmático, inda mais nocivo ao Espírito humano, considerado em todos os seus aspectos e esferas de ação. Através da inductilidade dos seus métodos de aprendizado, escalpelando acontecimentos, partindo do particular para o geral, sem ilações que confundam o raciocínio, chegará ao ponto limítrofe entre o físico e o transcendente, o que já se esboça com os estudos metapsíquicos efetuados, e onde se estabelecerá definitivamente a existência de uma causa inteligente e ativa, reintegrando a matéria no lugar de elemento passível que lhe cabe.


E a ciência e a religião se reunirão em Deus


Estabelecida essa causa, a ciência e a religião, divorciadas pela fé cega e pelos realismos incontestes, se reunirão em Deus, origem suprema de toda a Vida.


A perspectiva imensa que se abre com a morte


Na existência terrena, vivemos o combate das ideias e das coisas, cujo objetivo é o aperfeiçoamento geral dos seres.

Todos os homens e sistemas possuem aí doses de ilusão e de certeza. A morte, todavia, transformação fundamental de todas as coisas, é o sopro ciclópico de realidades absolutas, descortinando ao espírito a perspectiva imensa da ciência universal. Transpostos os seus umbrais é que reconhecemos a positividade dos elementos subjetivos que formam a ciência ideal, tocando os sentimentos em suas substâncias vivas, estudando a Verdade em seus fundamentos intrínsecos, porque somente com a reivindicação de nossa liberdade podemos assimilar o Espiritualismo, isento de dogmatismos incoerentes e de absurdos afirmativos que entorpecem o Espírito no seu nobilíssimo propósito de estudar e compreender a Vida em suas facetas multiformes.


O embrião promissor da química espiritual e da renovação


São tais as matérias intangíveis que cercam o homem terreno, sem que ele as consiga apreender, que as suas capacidades perceptivas se reduzem a um aglomerado de imagens enganadoras; compete à ciência utilizar-se de todas as suas faculdades inventivas, perquirir todos os fatos observáveis, enumerá-los, concatená-los, esforçar-se abnegadamente pelo progresso geral, porquanto se encontra na antecâmara da fé positiva, para cuja concretização caminham todos os ideais humanos da atualidade; dentro do psiquismo hodierno desenvolve-se o embrião promissor da química espiritual que há de trazer a renovação moral, social e política do orbe, sintetizada no socialismo cristão que todos os sistemas religiosos aguardam como índice de uma nova era; e que todos os estudiosos concorram com o seu trabalho pelo monumento grandioso do porvir da Humanidade, mourejando, inda que com sacrifício, na tarefa bendita da reforma que se espera, cumprindo um dever de solidariedade fraterna.


Como sempre, no rumo das verdades eternas


A maneira abstrata, através da qual veiculo a minha palavra, oferece poucos elementos de base à credibilidade alheia; porém, não há necessidade de qualquer certificado personalista, já que, como outrora, só a verdade me guia e impulsiona, indene de todas as preocupações pessoais. As essências dessa mesma Verdade não as receberão talvez como emanantes da minha individualidade sobrevivente; todavia, elas constituem indefectível lição.


A ciência nos aproximará de Deus


O positivismo científico evolui para as realidades estáveis do Universo, penetrando as causas supremas da existência, decifrando todos os enigmas do destino e do ser, estabelecendo a unidade das almas nas aspirações evolutivas, e que todos os seus corifeus se convençam, como Bacon, de que a muita ciência nos aproxima de Deus e a pouca ciência afasta-nos dele.

M. Berthelot


Clementino de Alencar



[1] “Um caderno no qual Chico Xavier começara a copiar uma coletânea de mensagens” — Não se trata do livro Caderno de Mensagens inserido nesse eLivro onde estão sendo afixadas entrevistas e mensagens avulsas de (ou relacionadas a) Francisco Cândido Xavier que foram publicados em outros órgãos da imprensa que não nos livros desta compilação ou que sejam inéditas.


[2] Com essa última afirmativa e com a declaração mais adiante: “amei, sobretudo, a vida”, é provável que o célebre químico francês Marcelin Berthelot (1827-1907) teve a intenção de afastar a versão de suicídio, que foi defendida por alguém, quando de sua desencarnação, ocorrida apenas uma hora depois do falecimento de sua esposa. (Veja detalhes desta questão no artigo “Estudo da obsessão indutora de suicídio na obra de moderno poeta português”, do Dr. Elias Barbosa, Anuário Espírita 1988, p. 63.) (Nota do Org.)


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