Uma impressionante narração da morte física de Emmanuel
PEDRO LEOPOLDO, † 4 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Pouco antes de Chico Xavier entrar no período de repouso a que se entrega presentemente, levamos a ele à noite em sua casa uma pergunta sugerida pela leitura da mensagem de Emmanuel intitulada “O corpo espiritual”, e por nós publicada.
Embora já se houvesse declarado a necessidade de seu descanso, o médium aquiesceu em tentar uma rápida comunicação com o seu Espírito protetor, a fim de apresentar-lhe a nossa consulta.
A tentativa, realizada em condições idênticas às da em que fizéramos as perguntas em inglês, foi bem sucedida.
Emmanuel atendeu-nos.
O fenômeno da reencarnação
Apresentamos então ao médium, escrita, esta pergunta:
“Para Emmanuel — O corpo espiritual preexistente, segundo a vossa mensagem a respeito, é que orienta, por assim dizer, todas as ações plásticas do desenvolvimento fetal. Ora, se o Espírito acompanha a vida embrionária, perguntamos: Desde quando está ele presente? Como acompanha ele esse desenvolvimento? Desde a fecundação está o Espírito presente e preso à matéria? Isto é, no mesmo estado em que ficará durante o período de sua encarnação?
Emmanuel fala-nos, pela primeira vez
A resposta, pronta como de costume, veio-nos, entretanto, esta vez, de forma diferente.
Se quando o médium, em outras ocasiões, psicografava as mensagens, nós poderíamos dizer “Emmanuel escreve”, agora, em face da resposta à pergunta acima, nos vemos forçados a afirmar: “Emmanuel falou-nos”.
Realmente, pouco depois de apresentarmos a pergunta, o médium, manifestando-se desta vez puramente auditivo, e depois de comunicar-nos que o “guia” acede em responder-nos, põe o lápis de lado e fala-nos assim:
— Desde o momento da concepção começa a ligação entre o Espírito e a matéria, que ele irá animar em seu novo período de existência terrena. A seguir, observa-nos Emmanuel que essa volta do Espírito ao “momentâneo esquecimento”, essa reencarnação não é acidental ou arbitrária: está dentro de leis eternas de evolução. E prossegue:
— Aliás, o Espírito, nos Planos onde nos encontramos, conhece quando se aproxima o momento desse “regresso”, por esta espécie de aviso: ele sente um atordoamento singular que se vai acentuando à proporção que, nos Planos terrenos, se efetiva a concepção. Efetivada esta, inicia-se então a ligação entre a matéria e o Espírito: este perde, afinal, a consciência de sua vida nos nossos Planos. É como um sono profundo.
A morte no Além…
Esse processo de ligação, segundo nos diz ainda Emmanuel, é um pouco demorado, durante o período de gestação.
A grande sensibilidade que caracteriza as mães nessa fase, as perturbações que então lhes ocorrem, os fenômenos da mancha, etc., tudo, segundo o “guia”, é devido à incidência, sobre a matéria, dos fluidos dirigidos por seres espirituais superiores e protetores do Espírito que volta à existência terrena e daquela que concebe o seu invólucro mortal. Dado o regime das afinidades que envolve todas as manifestações da vida espiritual, torna-se também de certo modo influente, nesse período de ligação, o estado d’alma da gestante.
Encontra, certamente, base nessa circunstância a ideia, para muitos considerada “lenda”, de que os filhos da ventura e da alegria do verdadeiro amor são mais belos, fortes e equilibrados do que os originados de contatos mais alheios à vida sentimental.
Concluído, por fim, o processo de ligação, o Espírito desprende-se de todo da existência nos Planos infinitos da espiritualidade pura.
Está consumado o fenômeno [da reencarnação] que, na linguagem terrena, pode ser assim exprimido: a morte no Além… [v. A morte espiritual]
Finda essa exposição, Emmanuel promete-nos “desenvolver oportunamente o tema, em mensagem mais detalhada, quando as circunstâncias forem mais favoráveis ao meu trabalho, levando-se em conta o estado de esgotamento do médium.”
A outra morte, para a volta ao Além
Como complemento interessante à exposição acima damos a seguir, os trechos de uma anterior mensagem recebida em 1934, e nos quais Emmanuel narra as sensações que experimentou na outra morte, a deste mundo, aquela que pôs termo à sua existência terrena ou no “momentâneo esquecimento” da linguagem dos Espíritos.
Nesses trechos, conforme se verá, o “guia” faz ligeira revelação sobre a identidade que teve na Terra.
“Sacerdote católico que fui” n
Eis o que nos diz Emmanuel sobre sua morte:
“Minha agonia não foi prolongada, apesar da moléstia física que me prostrou
o organismo combalido na luta, por muitos dias, sacerdote católico que
fui em minha derradeira existência, tive a felicidade de conservar integérrimos
os meus sentimentos de fé, até o supremo minuto.
“A princípio experimentei a paralisia parcial dos meus órgãos, que se sentiam avassalados por uma onda de frio, e os meus padecimentos corporais localizavam-se em diversos pontos orgânicos, recrudescendo assustadoramente. Afigurava-se-me que todas as glândulas, mormente, as sudoríferas trabalhavam com excesso para eliminar algo de intoxicante e destruidor que se apossava dos meus centros de força; minha vontade dominadora enviava as suas últimas mensagens ao sistema nervoso e a fé, nesses martirizantes segundos, constituiu para mim uma alavanca prodigiosa de amparo e controle. Sentia que todas as minhas vísceras, todos os meus nervos desenvolviam uma atividade exortante para que se não apagasse a derradeira centelha de vida que os mantinha coesos, evitando assim a fuga de minh’alma. Notei porém que uma nuvem esbranquiçada ia-se formando ao meu lado, justaposta ao meu corpo e quando orava fervorosamente via aumentar-se com fragmentos da mesma matéria fluídica que me era desconhecida e que se me afigurava composta de infinitésimos átomos luminosos, distendendo-se aqueles fragmentos fantásticos que os meus olhos divisavam estupefatos, sem poder articular mais um vocábulo sentindo a glote coberta de intumescências, experimentei-me na posse de uma visão e audição extraordinárias, como se me encontrasse dentro de outra vida, perdurando esse estado com intermitências; senti, porém, que se passava em mim algo de superordinário. Uma sensação intraduzível de sofrimento me subjugava, todavia, simultaneamente, afigurava-se-me que muitas mãos pousavam sobre a minha epiderme, como se me submetessem a operações mesméricas.”
Preparando o Espírito do “morto”
Mais adiante, dando-nos a entender que, no Além, a alma atravessa uma fase durante a qual Espíritos protetores, no sentido talvez de lhe evitar um choque, a preparam, habilmente, para a revelação da sua morte terrena, diz-nos Emmanuel:
“Adormeci numa noite sem visões e sem sonhos; passada, porém, uma fração de tempo que não me é possível precisar, acordei-me sobre um leito alvíssimo como se fora obrigado a repousar em uma cama higiênica de hospital; rajadas de ar puro sutilíssimo inundavam o meu aposento, onde eu experimentava um inexprimível bem-estar. Curado? Como se operara o milagre? Sentia-me restabelecido, com a minha saúde integral, com serenidade invejável aliada a uma ótima disposição para a vida e para a atividade. Onde estariam os meus familiares que não se abeiravam do meu leito para me felicitar pela obtenção de tão preciosa dádiva divina? Chamei-os nominalmente, empolgado pelo júbilo que fazia vibrar todas as fibras de minh’alma. Eis que se me apresentou alguém, trajado como se fosse um médico vulgar e aconselhou-me repouso absoluto e absoluta serenidade de ânimo. Inquiri-o sobre os seus miraculosos processos de tratamento; todavia o interpelado, alçando a destra para o Alto, respondeu com paciência e brandura: — “Tende calma. Não estais sendo tratado segundo a nosologia clássica”.
“Prescreveu-me conselhos morais e salutares advertências. Aí permaneci ainda por algum tempo e tive oportunidade de notar, com admiração justificável, a atuação da minha vontade sobre todos os elementos que me cercavam; recordo-me firmemente do meu crucifixo de prata pendido constantemente sobre a minha cabeceira e eis que no local de minha preferência, atendendo ao meu desejo veemente, apareceu-me esse objeto de estima. Tomei-o admirado em minhas mãos, apalpando-lhe os contornos e inquirindo se não era vítima de um fenômeno alucinatório e, como inúmeros fatos semelhantes ocorreram, eles me obrigavam a meditar sobre a influência do meu pensamento nos fluidos e matérias circunstantes.
“Pouco a pouco, entidades zelosas e protetoras encaminharam-me para o conhecimento do meu próprio “eu” no “post-mortem”, até que cheguei a compreender essa transformação da existência corporal como uma bênção divina.
“Pude então gozar de afetos ilibados que jamais deixara sob o pó do esquecimento, revendo seres bem amados e almas queridas”.
A mensagem de que tiramos esse trechos tem a data de 15 de maio de 1934.
Clementino de Alencar
[1] A mensagem completa, psicografada em 15/05/1934, foi publicada em 2007 pela editora VL e é a 1ª lição do livro: “Deus conosco”.