1. DIVINA MEDIUNIDADE. — Em nos reportando a qualquer estudo da mediunidade, não podemos olvidar que, em Jesus, ela assume todas as características de exaltação divina. n
2 Desde a chegada do Excelso
Benfeitor ao Planeta, observa-se-lhe o pensamento sublime penetrando
o pensamento da Humanidade.
3 Dir-se-ia que no estábulo
se reúnem pedras e arbustos, animais e criaturas humanas, representando
os diversos reinos da evolução terrestre, para receber-lhe o primeiro
toque mental de aprimoramento e beleza.
4 Casam-se os hinos singelos
dos pastores aos cânticos de amor nas vozes dos mensageiros espirituais,
saudando Aquele que vinha libertar as nações, não na forma social que
sempre lhes seria vestimenta às necessidades de ordem coletiva, mas
no ádito das almas, em função da vida eterna.
5 Antes dele, grandes comandantes
da ideia haviam pisado o chão do mundo, influenciando multidões.
6 Guerreiros e políticos,
filósofos e profetas alinhavam-se na memória popular, recordados como
disciplinadores e heróis, mas todos desfilaram com exércitos e fórmulas,
enunciados e avisos em que se misturam retidão e parcialidade, sombra
e luz.
7 Ele chega sem qualquer
prestígio de autoridade humana, mas, com a sua magnitude moral, imprime
novos rumos à vida, por dirigir-se, acima de tudo, ao Espírito, em todos
os climas da Terra.
8 Transmitindo as ondas mentais
das Esferas Superiores de que procede, transita entre as criaturas,
despertando-lhes as energias para a Vida Maior, como que a tanger-lhes
as fibras recônditas, de maneira a harmonizá-las com a sinfonia universal
do Bem Eterno.
2. MÉDIUNS PREPARADORES. — Para recepcionar o influxo mental de Jesus, o Evangelho nos dá notícias de uma pequena congregação de médiuns, à feição de transformadores elétricos conjugados, para acolher-lhe a força e armazená-la, de princípio, antes que se lhe pudessem canalizar os recursos.
2 E longe de anotarmos aí
a presença de qualquer instrumento psíquico menos seguro do ponto de
vista moral, encontramos importante núcleo de medianeiros, desassombrados
na confiança e corretos na diretriz.
3 Informamo-nos, assim,
nos apontamentos da Boa Nova, de que Zacarias e Isabel, os pais de João
Batista, precursor do Médium Divino, “eram ambos justos perante Deus,
andando sem repreensão, em todos os mandamentos e preceitos do Senhor”, ( † )
4 que Maria, a jovem
simples de Nazaré, que acolheria o Embaixador Celeste nos braços maternais,
se achava “em posição de louvor diante do Eterno Pai”, ( † )
5 que José da Galileia,
o varão que o tomaria sob paternal tutela, “era justo”, ( † )
6 que Simeão, o amigo
abnegado que o aguardou em prece, durante longo tempo, “era justo e
obediente a Deus”, ( † )
7 e que Ana, a viúva
que o esperou em oração, no templo de Jerusalém, por vários lustros,
vivia “servindo a Deus”. ( † )
8 Nesse grupo de médiuns admiráveis,
não apenas pelas percepções avançadas que os situavam em contato com
os Emissários Celestes, mas também pela conduta irrepreensível de que
forneciam testemunho, surpreendemos o circuito de forças a que se ajustou
a onda mental do Cristo, para daí expandir-se na renovação do mundo.
3. EFEITOS FÍSICOS. — Cedo começa para o Mestre Divino, erguido à posição de Médium de Deus, o apostolado excelso em que lhe caberia carrear as noções da vida imperecível para a existência na Terra.
2 Aos doze anos, assenta-se
entre os doutores de Israel, “ouvindo-os e interrogando-os”, ( † )
a provocar admiração pelos conceitos que expendia e a entremostrar a
sua condição de intermediário entre culturas diferentes.
3 Iniciando a tarefa
pública, na exteriorização de energias sublimes, encontramo-lo em Caná
da Galileia, oferecendo notável demonstração de efeitos físicos, com
ação a distância sobre a matéria, em transformando a água em vinho. ( † )
4 Mas, o acontecimento
não permanece circunscrito ao âmbito doméstico, porquanto, evidenciando
a extensão dos seus poderes, 5
associados ao concurso dos mensageiros espirituais que, de ordinário,
lhe obedeciam às ordens e sugestões, 6
nós o encontramos, de outra feita, a multiplicar pães e peixes, ( † )
no tope do monte, para saciar a fome da turba inquieta que lhe ouvia
os ensinamentos, 7
e a tranquilizar a Natureza em desvario, ( † )
quando os discípulos assustados lhe pedem socorro, diante da tormenta.
8 Ainda no campo da
fenomenologia física ou metapsíquica objetiva, identificamo-lo em plena
levitação, caminhando sobre as águas, ( † )
9 e em prodigiosa ocorrência
de materialização ou ectoplasmia, quando se põe a conversar, diante
dos aprendizes, com dois varões desencarnados que, positivamente, apareceram
glorificados, a lhe falarem de acontecimentos próximos. ( † )
10 Em Jerusalém,
no templo, desaparece de chofre, desmaterializando-se, ante a espectação
geral, ( † )
11 e, na mesma cidade,
perante a multidão, produz-se a voz direta, em que bênçãos divinas lhe
assinalam a rota. ( † )
12 Em cada acontecimento, sentimo-lo
a governar a matéria, dissociando-lhe os agentes e reintegrando-os à
vontade, com a colaboração dos servidores espirituais que lhe assessoram
o ministério de luz.
4. EFEITOS INTELECTUAIS. — No capítulo dos efeitos intelectuais ou, se quisermos, nas provas da metapsíquica subjetiva, que reconhece a inteligência humana como possuidora de outras vias de conhecimento, além daquelas que se constituem dos sentidos normais, reconhecemos Jesus nos mais altos testemunhos.
2 A distância da sociedade
hierosolimita, ( † )
vaticina os sucessos amargos que culminariam com a sua morte na cruz. ( † )
3 Utilizando a clarividência
que lhe era peculiar, antevê Simão Pedro cercado de personalidades inferiores
da Esfera extrafísica, e avisa-o quanto ao perigo que isso representa
para a fraqueza do apóstolo. ( † )
4 Nas últimas instruções,
ao pé dos amigos, confirmando a profunda lucidez que lhe caracterizava
as apreciações percucientes, demonstra conhecer a perturbação consciencial
de Judas, ( † )
a despeito das dúvidas que a ponderação suscita entre os ouvintes. 5
Nas preces de Getsêmani, aliando clarividência e clariaudiência, conversa
com um mensageiro espiritual que o reconforta. ( † )
5. MEDIUNIDADE
CURATIVA. — No que se refere aos poderes curativos, temo-los
em Jesus nas mais altas afirmações de grandeza. 2
Cercam-no doentes de variada expressão. Paralíticos estendem-lhe membros
mirrados, obtendo socorro. Cegos recuperam a visão. Ulcerados mostram-se
limpos. Alienados mentais, notadamente obsidiados diversos, recobram
equilíbrio.
3 É importante considerar,
porém, que o Grande Benfeitor a todos convida para a valorização das
próprias energias.
4 Reajustando as células
enfermas da mulher hemorroíssa, diz-lhe, convincente: — “Filha, tem
bom ânimo! A tua fé te curou.” ( † )
5 Logo após, tocando
os olhos de dois cegos que lhe recorrem à caridade, exclama: — “Seja
feito, segundo a vossa fé.” ( † )
6 Não salienta a confiança
por simples ingrediente de natureza mística, mas sim por recurso de
ajustamento dos princípios mentais, na direção da cura.
7 E encarecendo o
imperativo do pensamento reto para a harmonia do binômio mente-corpo,
por várias vezes o vemos impelir os sofredores aliviados à vida nobre,
8 como no caso do paralítico
de Betesda, que, devidamente refeito, ao reencontrá-lo no templo, dele
ouviu a advertência inesquecível: — “Eis que já estás são. Não peques
mais, para que te não suceda coisa pior.” ( † )
6. EVANGELHO
E MEDIUNIDADE. — A prática da mediunidade não está somente na
passagem do Mestre entre os homens, junto dos quais, a cada hora, revela
o seu intercâmbio constante com o Plano Superior, seja em colóquios
com os emissários de alta estirpe, seja em se dirigindo aos aflitos
desencarnados, no socorro aos obsessos do caminho, 2
mas também na equipe dos companheiros, aos quais se apresenta em pessoa,
depois da morte, ministrando instruções para o edifício do Evangelho
nascente.
3 No dia de Pentecostes,
vários fenômenos mediúnicos marcam a tarefa dos apóstolos, mesclando-se
efeitos físicos e intelectuais na praça pública, a constituir-se a mediunidade,
desde então, em viga mestra de todas as construções do Cristianismo,
nos séculos subsequentes.
4 Em Jesus e em seus
primitivos continuadores, porém, encontramo-la pura e espontânea, como
deve ser, distante de particularismos inferiores, tanto quanto isenta
de simonismo. 5 Neles,
mostram-se os valores mediúnicos a serviço da Religião Cósmica do Amor
e da Sabedoria, na qual os regulamentos divinos, em todos os mundos,
instituem a responsabilidade moral segundo o grau de conhecimento, 6
situando-se, desse modo, a Justiça Perfeita, no íntimo de cada um, para
que se outorgue isso ou aquilo, a cada Espírito, de conformidade com
as próprias obras. ( † )
7 O Evangelho, assim,
não é o livro de um povo apenas, mas o Código de Princípios Morais do
Universo, adaptável a todas as pátrias, a todas as comunidades, a todas
as raças e a todas as criaturas, 8
porque representa, acima de tudo, a carta de conduta para a ascensão
da consciência à imortalidade, 9
na revelação da qual Nosso Senhor Jesus-Cristo empregou a mediunidade
sublime como agente de luz eterna, exaltando a vida e aniquilando a
morte, abolindo o mal e glorificando o bem, 10
a fim de que as leis humanas se purifiquem e se engrandeçam, se santifiquem
e se elevem para a integração com as Leis de Deus.
André Luiz
FIM
[1] Em “A Gênese” (págs. 293 e 294, FEB, 12ª edição), anota Allan Kardec, com referência aos fenômenos da mediunidade em Jesus: “Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados e o Cristo não precisava de assistência, pois que era ele quem assistia os outros. Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o podem fazer, em certos casos, os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, ao demais, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir. Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus.” — (Nota indicada pelo Autor espiritual.)