1.
Certo, acreditando haver transmitido a nós outros os ensinamentos que
podíamos receber, a nobre mensageira recomendou a Elói trouxesse Margarida
àquele plenário amoroso, deixando perceber que pretendia consolidar-lhe
o equilíbrio e fortalecer-lhe a resistência.
2 Transcorridos alguns minutos,
a esposa de Gabriel, que se convertera em objeto de nossas melhores
atenções naqueles dias, desligada do envoltório denso, compareceu no
cenáculo.
3 Mostrava passo vacilante
e estranho alheamento no olhar, revelando a semi-inconsciência em que
se demorava.
Ao que me pareceu, a luz reinante não lhe afetou o olhar.
Caracterizava-se, naquela hora, pelos movimentos impulsivos, caminhando, em nosso meio, qual se fora sonâmbula vulgar.
4 Maquinalmente se asilou
nos braços maternos que Matilde lhe oferecia e, tão depressa se acolheu
no regaço da benfeitora que a envolvia em doce ternura, reagiu, favoravelmente,
contemplando-nos, então, assustadiça. Parecia acordar, pouco a pouco…
5 A protetora, interessada
em despertar-lhe alguns centros importantes da vida mental começou a
aplicar-lhe passes ao longo do cérebro, operações que não pude compreender
tão bem quanto desejava. Reparei, contudo, que Matilde lhe aplicava
recursos magnéticos sobre os condutores nervosos do órgão de manifestação
do pensamento, tanto quanto ao longo de toda a região do simpático,
6 esclarecendo-me o
Instrutor, mais tarde, que o estado natural da alma encarnada pode ser
comparado, em maior ou menor grau, à hipnose profunda ou à anestesia
temporária, a que desce a mente da criatura através de vibrações mais
lentas, peculiares aos Planos inferiores, para fins de evolução, aprimoramento
e redenção, no espaço e no tempo.
7 Fenômenos de metabolismo,
na organização perispirítica, fizeram-se patentes à nossa observação,
porque Margarida expelia, através do tórax e das mãos, fluidos cinzento-escuros,
em forma de vapor tenuíssimo, a desfazer-se no vasto oceano de oxigênio
comum. Logo após semelhante “operação de limpeza”, as zonas do sistema
endocrínico emitiam radiações diamantinas, figurando-se uma constelação
de caprichosos contornos a brilhar nas sombras do perispírito, até ali
opaco e vulgar.
8 Do peito de Matilde ondas
luminosas partiam ininterruptas e tudo nos fazia crer que a tutelada
de Gúbio se achava, naquela hora, num banho autêntico de essências divinas.
9 A certa altura do singular
processo de despertamento, a jovem senhora abriu desmedidamente os olhos,
qual criança espantada, e fixou-nos com expressão de assombro, ensaiando
movimentos de recuo e pavor. Mas, em se voltando para o semblante doce
e iluminado da benfeitora, aquietou-se, brandamente, como que magnetizada
por indefinível amor.
10 Matilde osculou-a, enternecida,
e, ao contato daqueles lábios sublimes, Margarida, mostrando-se tocada
nos recessos do ser, abraçou-lhe o busto, evidenciando ânsia suprema
de integração espiritual.
2.
Parecendo desvairada de repentino júbilo, bradou, em lágrimas comoventes:
— Mãe! Querida mãezinha!
2 — Sim, minha filha,
sou eu, — disse a interlocutora, afagando-a com extremado afeto; — o
amor jamais desaparece! A união das almas vence o tempo e a morte.
3 — Porque me abandonaste?
— Inquiriu a esposa de Gabriel, colando-se-lhe ao coração, num transporte
de inexprimível ventura.
— Nunca te esqueci, — elucidou a benfeitora, acolhendo-a com mais intensa ternura.
— 4 O país da “neblina
carnal” muitas vezes parece distanciar-nos uns dos outros; entretanto,
sombra alguma conseguirá separar-nos. Nossas aspirações e esperanças
se confundem, quais pontos de luz, nas trevas da separação, assim como
as estrelas se assemelham a balizas brilhantes no nevoeiro noturno,
recordando-nos o infinito e a eternidade.
5 Ao som caricioso daquelas
palavras, a ex-obsidiada parecia acordar cada vez mais largamente em
nosso Plano.
De olhos ansiosos, fixos na protetora, como que magnetizada por incomensurável afeto, ponderou, entre lágrimas:
— Mãezinha querida, estou cansada e infeliz!
— Quando a boa luta apenas começa? — Perguntou Matilde, sorrindo.
6 — Sinto-me cercada de inimigos
sem entranhas. Devo ser atormentada dia e noite. Noto invencível antagonismo
entre meus sentimentos e a realidade humana. O próprio matrimônio, em
que eu depositava os mais caros sonhos, não me foi senão escuro livro
de desenganos cruéis. Trago meu coração extenuado e oprimido. Frustração
e ruína espiritual seguem-me de perto… Por isto, sou um fardo pesado
ao esposo dedicado e digno de melhor sorte…
Soluços violentos impediram-na de continuar.
7 A veneranda emissária enxugou-lhe
o pranto e falou, bondosa:
— Margarida, viver no corpo terrestre, entendendo os deveres divinos
que nos cabem, não é tão fácil, ante a glória infinita que em companhia
dele podemos recolher. Todos possuímos culposo pretérito a redimir.
8 É imperioso reconhecer,
todavia, que, se a experiência humana pode ser doloroso curso de renunciação
pessoal, é também abençoada escola em que o Espírito de boa vontade
pode alcançar culminâncias. Para isto, no entanto, é indispensável se
abra o coração ao clima interior da bondade e do entendimento. 9
Somos diamantes brutos, revestidos pelo duro cascalho de nossas milenárias
imperfeições, localizados pela magnanimidade do Senhor na ourivesaria
da Terra. A dor, o obstáculo e o conflito são bem-aventuradas ferramentas
de melhoria, funcionando em nosso favor. Que dizer da pedra preciosa
que fugisse às mãos do lapidário, do barro que repelisse a influência
do oleiro? 10 Modifica
as mais íntimas disposições, com referência aos adversários. O inimigo
nem sempre é uma consciência agindo deliberadamente no mal. Na maioria
das vezes, atende à incompreensão quanto qualquer de nós; procede em
determinada linha de pensamento, porque se acredita em roteiro infalível
aos próprios olhos, nos lances do trabalho a que se empenhou nos círculos
da vida; enfrenta, qual ocorre a nós mesmos, problemas de visão que
só o tempo, aliado ao esforço pessoal na execução do bem, conseguirá
decidir. O batráquio e a ave caracterizam-se por impulsos diferentes,
não obstante filhos do mesmo mundo. É necessário, Margarida, sabermos
utilizar o inimigo, nele situando nossa lição benfeitora. 11
A rigor, em vista da nossa posição de inferioridade, seremos adversários
naturais da obra dos Anjos, na Esfera menos elevada que atravessamos
presentemente; todavia, as Potências Angélicas não nos punem a incapacidade
temporária de compreensão ante os serviços divinos que lhes cabem na
economia do Universo. Ao invés de condenar-nos, identificam-nos as deficiências
compadecidamente e estendem-nos braços fraternos, através de mil recursos
invisíveis e indiretos, a fim de que aprendamos a escalar o monte da
sublimação, em marcha para os cumes celestes.
12 Verificando-se pequena pausa
nas observações maternais, a jovem senhora obtemperou, enlevada:
— Amada mãezinha! Pudessem meus ouvidos guardar sempre a doce música de tuas palavras! Tristemente, antevejo o torvelinho das dificuldades terrenas a que devo retornar. Tudo agora é consolação e esperança; todavia, amanhã serei novamente prisioneira no cárcere físico e caminharei de memória anestesiada, em conflito incessante com os monstros que me assediam!
13 — Este, filha,
— acrescentou Matilde, afetuosa, — é o imperativo da tarefa que te compete
realizar. Entretanto, não percas os tesouros do tempo em considerações
inúteis. Enche as tuas horas de trabalho salutar com a possível harmonia,
fonte de toda a beleza. 14
A inteligência que, de algum modo, já se evadiu das limitações da animalidade,
encontra-se no corpo de carne, à maneira do lidador num estádio de provas
benfeitoras. Lá dentro, na arena das possibilidades sublimes que a região
do nevoeiro oferece, há quem se encaminhe para cima e há quem se dirija
para baixo. 15 Não
fujas ao óbice valioso na corrida de aperfeiçoamento, nem sorvas o mentiroso
elixir da ilusão, apaixonadamente usado por todos os que se deixaram
vencer pelas tentações do desânimo, incapazes de aceitar o desafio que
o mundo lhes endereça. 16
A vida, para toda alma que triunfa no carreiro áspero, é serviço, movimento,
ascensão; e, à rajada de luta que te conduzirá ao píncaro luminoso,
não te suponhas sozinha na jornada áspera, outras, aos milhares, suam
e sangram, em silêncio. 17
Passam na cena do mundo, sem o afeto de um esposo e sem a bênção de
um lar. Não conhecem, como tu, a dádiva de um corpo normal, nem podem
guardar os mínimos sonhos que arregimentas no coração feminil. 18
São homens esquecidos e mulheres desamparadas que passam despercebidos
e humilhados, do berço ao túmulo. Respiram em regime de tortura moral
e seguem, estrada afora, desprotegidos e dilacerados, aos olhos do mundo,
abafando os próprios soluços que, se ouvidos, lhes acarretariam implacável
punição. 19 Entretanto,
apesar do espesso véu de lágrimas que lhes dificulta a marcha, continuam
caminhando impávidos, contando com um amanhã, cada vez mais impreciso
e distante, que parece ocultar-se, indefinido, nos horizontes sem fim.
3.
Margarida, que assinalava enternecidamente a argumentação, rogou, súplice:
— Mãezinha querida, ensina-me a continuar. Desejo honrar a bendita oportunidade que recebi!
2 — Não procures ser
atendida em todos os teus desejos, — falou a benfeitora, suavemente,
— mas procura servir, fraternalmente, a quantos te reclamem arrimo e
braço forte.
3 Ajuda, antes de procurares
auxílio.
4 Compreende, sem exigir compreensão
imediata.
5 Desculpa os outros, sem
desculpar a ti mesma.
6 Ampara, sem a intenção de
ser amparada.
7 Dá, sem o propósito de receber.
8 Não persigas o respeito
humano que te faça aparecer melhor que és, mas busca, em todo tempo
e lugar, a bênção divina na aprovação da própria consciência.
9 Não procures destacada posição,
diante dos outros; antes de tudo, aperfeiçoa os teus sentimentos, cada
vez mais, sem propaganda de tuas virtudes vacilantes e problemáticas.
10 Age corretamente e esquece
as frases vazias ou venenosas da maledicência contumaz.
11 Em te socorrendo das diretrizes
alheias, desconfia das palavras que te lisonjeiem a fantasiosa superioridade
pessoal ou que te inclinem à dureza de coração.
12 Diante da fartura ou da
escassez, recorda o serviço que o Senhor te convocou a realizar e produze
o bem em seu nome, onde estiveres.
13 Lembra-te de que a experiência
na carne é demasiadamente breve e que a tua cabeça deve permanecer tão
cheia de ideais santificantes, quanto as mãos repletas de trabalho salutar.
14 Para que atendas, porém,
a semelhante programa, é imprescindível abras o coração ao sol renovador
do Sumo Bem.
15 De alma cerrada ao interesse
pela felicidade do próximo, jamais encontrarás a própria felicidade.
16 A alegria que improvisares,
em torno dos pés alheios, te fará mais rica de júbilo.
17 Na paz que semeares, encontrarás
a colheita da paz que desejas.
18 Estes, são princípios da
vida radiante.
19 No insulamento, ninguém
recolherá a suprema alegria.
20 Para a sabedoria
divina, tão infortunado é o pastor que perdeu o rebanho, quanto a ovelha
que perdeu o pastor.
21 A desistência
de ajudar é tão escura quanto o relaxamento de extraviar-se.
22 O egoísmo conseguirá criar
um oásis, mas nunca edificará um continente.
23 É indispensável, Margarida,
aprenderes a sair de ti mesma, auscultando a necessidade e a dor daqueles
que te cercam.
4.
Nesse ínterim, calou-se a voz da protetora e, sentindo-se banhada na
infinita luz daqueles momentos inesquecíveis, a esposa de Gabriel indagou,
embriagada de ventura:
— Ó Deus! Pai Misericordioso, a que devo atribuir a graça inolvidável desta hora?
2 Matilde, pretendendo talvez
imprimir ampla familiaridade à cena a que assistíamos, levantou-se,
abraçada à filha espiritual, e, caminhando ao nosso encontro, apresentou-nos
a ela, por particulares amigos.
3 Confraternizadora palestra
estabeleceu-se, extinguindo-se a onda de lágrimas que nos visitava,
indistintamente, ante a conversação comovedora e inesquecível.
4 Chegou, entretanto,
o momento em que a benfeitora se revelou interessada em despedir-se. Antes, porém, cravou o olhar muito lúcido na ex-obsidiada e falou-lhe, resoluta:
5 — Margarida, agora
que reténs, tanto quanto possível, regular consciência de ti mesma em
nossa Esfera de ação, ouve o apelo que te endereçamos. Não suponhas
que te visito pelo simples prazer de consolar-te, o que seria talvez
induzir-te ao caminho da despreocupação irresponsável que nunca nos
dirige à verdadeira paz. 6
A finalidade divina há de ser, em tudo, a alma de nossa ação. O lavrador
que amanha o solo e o socorre com irrigação confortadora, algo espera
da sementeira que lhe reclama o esforço diário. O amparo do Alto, direto
ou indireto, reservado ou ostensivo, não é apenas mera exibição de poder
celestial. 7 Os moradores
dos Círculos mais elevados não se arriscariam a descer, sem objetivos
de ordem superior, ao domicílio da mente encarnada, assim como os artistas
da inteligência não se animariam a movimentar espetáculos de cultura
intelectual, sem fins educativos, junto aos irmãos de raciocínios e
sentimentos ainda rudimentares ou inferiores. 8
O tempo é valioso, minha filha, e não podemos menoscabá-lo, sem grave
prejuízo para nós mesmos.
9 Ante a expressão de surpresa
que a tutelada de Gúbio estampava no semblante inquieto, Matilde continuou:
— Em breves anos, voltarei também ao círculo de lutas em que te debates.
10 — Tu? — Gritou
Margarida, apalermada, ante a perspectiva de renascimento carnal para
o ser iluminado que se mantinha à nossa vista, — porque te seria imposta
semelhante pena?
11 — Não te guardes
em tamanha incompreensão da lei do trabalho, — ajuntou a mensageira,
sorrindo; — a reencarnação nem sempre é simples processo regenerativo,
embora, na maioria das vezes, constitua recurso corretivo de Espíritos
renitentes na desordem e no crime. 12
A Crosta da Terra é comparável a imenso mar onde a alma operosa encontra
valores eternos aceitando os imperativos de serviço que a Bondade Divina
nos oferece. 13 Além
disso, todos temos doces laços do coração, que se demoram, por muitos
séculos, retidos ao fundo do abismo. É indispensável buscar as pérolas
perdidas para que o paraíso não permaneça vazio de beleza ao nosso olhar.
14 Depois de Deus, o
amor é a força gloriosa que alimenta a vida e move os mundos.
5.
A benfeitora fitou a jovem senhora, enlevada, fez pequena pausa e aduziu:
2 — Em razão disto,
espero não desconheças a santidade do ministério maternal, na orientação
dos Espíritos renascentes. 3
Nossas melhores possibilidades se perdem na “esfera do recomeço”, por
falta de braços decididos e conscientes que nos guiem através dos labirintos
do mundo. 4 Carinho,
quase sempre, não falta no santuário familiar, onde a alma se habilita
à recapitulação de valiosa aventura; entretanto, a ternura absoluta
é tão nociva quanto a absoluta aspereza. 5
Não ignoras, filha amada, que a entidade mais enobrecida, em retomando
o veículo de carne, é compelida a sofrer-lhe os regulamentos. As leis
fisiológicas, que dominam na Crosta, não fazem exceção. Impõem-se sobre
os justos com o mesmo rigor dentro do qual funcionam para os pecadores.
6 O anjo que desça
ao fundo da mina de carvão continuará naturalmente a ser um anjo na
vida íntima; entretanto, não escapará ao clima deprimente do subsolo.
O esquecimento temporário me acompanhará, nos abafadores das células
físicas, mas o êxito desejável somente me felicitará se eu puder contar
com a tua orientação robusta e vigilante.
6.
Bem sei que, depois, regressando por tua vez ao envoltório que te liga
ao Círculo comum da luta terrestre, olvidarás, igualmente, a nossa conversação
desta hora. 2 No entanto,
a saúde e a harmonia que te inundarão a estrada doravante, n aliadas ao
otimismo e à esperança, que persistirão em teu espírito por recordações
indeléveis e vagas destes instantes divinos, não te deixarão esquecer
de todo.
3 Defende o teu corpo, como
quem preserva um recipiente sagrado para o serviço do Senhor e espera-me
em tempo breve.
Viveremos mais juntas, na peregrinação meritória.
4 Nos abençoados elos do sangue
seremos mãe e filha, de maneira a aprendermos, mais intensamente, a
ciência da fraternidade universal.
5 Realmente, Margarida, o
meu retorno ser-te-á sacrifício doloroso ao corpo frágil e delicado;
todavia, ajuda-me na sementeira renovada para que eu te seja útil na
colheita infalível.
6 Não me recebas,
nos braços, por boneca mimosa e impassível. Adornos externos nunca trazem
felicidade legítima ao coração, e, sim, o caráter edificado e cristalino,
base segura de que se expande a boa consciência. 7
A estufa pode alimentar as flores mais lindas da Terra, mas não produz
os melhores frutos. A árvore benfeitora não prescindirá do carinho e
da assistência constante do pomicultor. É imperioso reconhecer, porém,
que somente se fortalecerá sob a temperatura atormentadora da canícula,
debaixo de aguaceiros salutares ou aos golpes da ventania forte. 8
A luta e o atrito são bênçãos sublimes, através das quais realizamos
a superação de nossos velhos obstáculos. É necessário não menosprezá-los,
identificando neles o ensejo bendito de elevação.
9 Compreende-me as
necessidades para que eu te possa entender no momento justo. As conveniências
humanas são respeitáveis, mas as conveniências espirituais são divinas.
Auxilia-me a conquistar equilíbrio nas primeiras, a fim de atender aos
imperativos celestiais do Espírito eterno. 10
Logo que me sintas nos braços, não me relegues à garridice e à inutilidade,
a pretexto de guardar-me em maternal proteção. Não é com enfeites exteriores
que ajudaremos o vegetal precioso a crescer e frutificar, mas, sim,
com o esforço perseverante da enxada, com a vigilância na defesa, com
o adubo estimulante e com a poda benfeitora. 11
Não me percas de vista, para que o amor e a gratidão a Deus perdurem
para sempre em minha memória frágil. Socorre-me em tempo para que eu
seja útil, no momento oportuno.
12 Edificados com a lição indireta
que se nos administrava, reparamos que Margarida, em copioso pranto,
prometia tudo quanto lhe era solicitado.
7.
A doce palestra interessava-nos a todos e, por nossa vontade, seria
indefinidamente alongada no tempo; porém, Matilde agora revelava no
olhar a preocupação de ausentar-se.
2 Dirigiu, ainda, brandas
frases de reconforto à filha querida, envolveu-a em operações magnéticas,
reajustando-lhe os centros perispiríticos, carinhosamente, e rogou o
auxílio de Elói para que a esposa de Gabriel regressasse ao envoltório
carnal.
3 Despedindo-se em definitivo,
a grande mentora acrescentou algumas recomendações de adeus.
— Margarida, — disse, bondosa, — não te esqueças do reino de beleza que podes
improvisar no santuário doméstico.
4 Foge, resoluta,
dos perigosos fantasmas do ciúme e da discórdia. Aprende a renunciar,
nas questões pequeninas, para recolheres com facilidade a luz que emana
do sacrifício. Não comprometas, por bagatelas, o êxito espiritual que
a experiência te pode oferecer. 5
Estás livre dos males exteriores, mas ainda te não libertaste dos males
próprios. Confia no Divino Poder e não desfaleças, ainda mesmo quando
a tempestade te açoite as fibras mais íntimas do coração.
6 Mãe e filha permutaram um
abraço cheio de indefinível ternura e, encaminhando-se para Gúbio, a
este explicou Matilde, discreta, o trabalho que planejara para as horas
seguintes, asseverando que nos esperaria em paisagem próxima.
7 Logo após, agradeceu-nos
com extrema gentileza, não nos oferecendo oportunidade de exprimir-lhe
o reconhecimento e o júbilo que nos possuíam a alma.
8 Em seguida, ausentou-se,
restituindo, naturalmente, ao nosso orientador as forças que lhe subtraíra,
em caráter temporário.
9 Gúbio, então, retomou
as rédeas do trabalho, notificando que, exceção feita a quatro companheiros
que montariam guarda fraterna junto ao lar de Gabriel, deveríamos partir
todos, na direção dos Círculos mais altos com escala em um dos “campos
de saída” da Esfera carnal. n
André Luiz
[1] No original: “de ora avante”.