1.
— No vasto salão do educandário que nos reunia, o Ministro Flácus, fixando
em nós o olhar saturado de doce magnetismo, convidava-nos a preciosas
meditações.
2 Congregamo-nos, ali, somente
algumas dezenas de companheiros, de modo a registar-lhe as instruções
edificantes. E, sem dúvida, a preleção revestia-se de profundo interesse.
3 Podíamos perguntar à vontade,
dentro do assunto, e guardar todas as informações compatíveis com o
novo trabalho que nos cumpria desempenhar.
4 Até então, ouvira comentários
alusivos a colônias purgatoriais, perfeitamente organizadas para o trabalho
expiatório a que se destinam, arrebanhando milhares de criaturas arraigadas
no mal; entretanto, agora, o Instrutor Gúbio, que se mantinha silencioso,
em nossa companhia, concedera-nos permissão de acompanhá-lo a enorme
centro dessa espécie.
5 Interessados na palavra
fluente e primorosa do orador, seguíamos o curso das elucidações com
justificável expectação de aluno que não deseja perder um til do ensinamento,
observando que a serenidade e a atenção transpareciam no rosto de todos
os aprendizes, considerando-se que todos, no recinto, éramos candidatos
ao serviço de socorro aos irmãos ignorantes, atormentados nas sombras…
6 Senhoreando-nos o espírito,
o Ministro prosseguia, satisfeito:
— Os superiores que se disponham a trabalhar em benefício dos inferiores, em ação persistente e substancial, não lhes podem utilizar as armas, sob pena de se precipitarem no baixo nível deles. A severidade pertencerá ao que instrui, mas o amor é o companheiro daquele que serve.
7 Sabemos que a educação,
na maioria das vezes, parte da periferia para o centro; contudo, a renovação,
traduzindo aperfeiçoamento real, movimenta-se em sentido inverso. Ambos
os impulsos, todavia, são alimentados e controlados pelos poderes quase
desconhecidos da mente.
8 O Espírito humano
lida com a força mental, tanto quanto maneja a eletricidade, com a diferença,
porém, de que se já aprende a gastar a segunda, no transformismo incessante
da Terra, mal conhece a existência da primeira, que nos preside a todos
os atos da vida.
9 A rigor, portanto,
não temos Círculos infernais, de acordo com os figurinos da antiga teologia,
onde se mostram indefinidamente gênios satânicos de todas as épocas
e, sim, Esferas obscuras em que se agregam consciências embotadas na
ignorância, cristalizadas no ócio reprovável ou confundidas no eclipse
temporário da razão. 10
Desesperadas e insubmissas, criam zonas de tormentos reparadores. Semelhantes
criaturas, no entanto, não se regeneram à força de palavras. Necessitam
de amparo eficiente que lhes modifique o tom vibratório, elevando-lhes
o modo de sentir e pensar.
11 Eminentes pensadores do
mundo traçam diretrizes à salvação das almas; mas somos de parecer que
possuímos suficiente número de roteiros nesse sentido, em todos os setores
do conhecimento terrestre. Reclamamos, na atualidade, quem ajude o pensamento
do homem na direção do Alto. Empreender o tentame, incentivando-se tão
somente os valores culturais, seria consagrar a tecnocracia, que procura
a simples mecanização da vida, destruindo-lhe as sementes gloriosas
de improvisação, infinito e eternidade.
12 Grandes políticos e veneráveis
condutores nunca se ausentaram do mundo.
Passam pela multidão, sacudindo-a ou arregimentando-a. É forçoso reconhecer, porém, que a organização humana, por si só, não atende às exigências do ser imperecível.
13 Péricles, o estadista que
legou seu nome a um século, realiza edificante trabalho educativo, junto
dos gregos; entretanto, não lhes atenua a belicosidade e os pruridos
de hegemonia, sucumbindo ao assédio de aflitivo desgosto.
14 Alexandre, o conquistador,
organiza vastíssimo império, estabelecendo uma civilização respeitável;
no entanto, não impede que os seus generais prossigam em conflitos sanguinolentos,
difundindo o saque e a morte.
15 Augusto, o Divino, unifica
o Império Romano em sólidos alicerces, concretizando avançado programa
político em benefício de todos os povos, mas não consegue banir de Roma
o desvario pela dominação a qualquer preço.
16 Constantino,
o Grande, advogado dos cristãos indefesos, oferece novo padrão de vida
ao Planeta; contudo, não modifica as disposições detestáveis de quantos
guerreavam em nome de Deus.
17 Napoleão, o ditador, impõe
novos métodos de progresso material, em toda a Terra; mas não se furta,
ele próprio, às garras da tirania, pela simples ganância da posse.
18 Pasteur, o cientista, defende
a saúde do corpo humano, devotando-se, abnegado, ao combate silencioso
contra a selva microbiana; todavia, não pode evitar que seus contemporâneos
se destruam reciprocamente em disputas incompreensíveis e cruéis.
19 Permanecemos diante de um
mundo civilizado na superfície, que reclama não só a presença daqueles
que ensinam o bem, mas principalmente daqueles que o praticam.
20 Sobre os mananciais da cultura,
nos vales da Terra, é imprescindível que desçam as torrentes da compaixão
do Céu, através dos montes do amor e da renúncia.
21 Cristo não brilha apenas
pelo ensino sublimado. Resplandece na demonstração. Em companhia d’Ele,
é indispensável mantenhamos a coragem de amparar e salvar, descendo
aos recessos do abismo.
22 Não longe de
nossa paz relativa, em Círculos escuros de desencanto e desesperação,
misturam-se milhões de seres, conclamando comiseração… Por que não acender
piedosa luz, dentro da noite em que se mergulham, desorientados? Por que
não semear esperança entre corações que abdicaram da fé em si mesmos?
23 À frente, pois, de imensas
coletividades em dolorosa petição de reajustamento, faz-se inadiável
o auxílio restaurador.
24 Somos entidades ainda infinitamente
humildes e imperfeitas para nos candidatarmos, de pronto, à condição
dos anjos.
25 Comparada à grandeza, inabordável
para nós, de milhões de sóis que obedecem a leis soberanas e divinas,
em pleno Universo, a nossa Terra, com todas as Esferas de substância
ultrafísica que a circundam, pode ser considerada qual laranja minúscula,
perante o Himalaia, e nós outros, confrontados com a excelsitude dos
Espíritos Superiores, que dominam na sabedoria e na santidade, não passamos,
por enquanto, de bactérias, controladas pelo impulso da fome e pelo
magnetismo do amor. Entretanto, guindados a singelas culminâncias da
inteligência, somos micróbios que sonham com o crescimento próprio para
a eternidade.
26 Enquanto o homem,
nosso irmão, desintegra assombrado as formações atômicas, nós outros,
distanciados do corpo denso, estudamos essa mesma energia através de
aspectos que a ciência terrestre, por agora, mal conseguiria imaginar.
27 Caminheiros, porém,
que somos do progresso infinito, principiamos apenas, ele e nós, a sondar
a força mental, que nos condiciona as manifestações nos mais variados
Planos da natureza.
28 Encarcerados ainda na lei
de retorno, temos efetuado multisseculares recapitulações, por milênios
consecutivos.
29
Expressando-nos coletivamente, sabemos hoje que o espírito humano lida
com a razão há, precisamente, quarenta mil anos… Todavia, com o mesmo
furioso ímpeto com que o homem de Neandertal aniquilava o companheiro,
a golpes de sílex, o homem da atualidade, classificada de gloriosa era
das grandes potências, extermina o próprio irmão a tiros de fuzil.
30 Os investigadores
do raciocínio, ligeiramente tisnados de princípios religiosos, identificam
tão somente, nessa anomalia sinistra, a renitência da imperfeição e
da fragilidade da carne, ( † )
como se a carne fosse permanente individuação diabólica, esquecidos
de que a matéria mais densa não é senão o conjunto das vidas inferiores
incontáveis, em processo de aprimoramento, crescimento e libertação.
31 Nos campos da
Crosta Planetária, queda-se a inteligência, qual se fora anestesiada
por perigosos narcóticos da ilusão; no entanto, auxiliá-la-emos a sentir
e reconhecer que o Espírito permanece vibrando em todos os ângulos da
existência.
32 Cada espécie de seres, do
cristal até o homem, e do homem até o anjo, abrange inumeráveis famílias
de criaturas, operando em determinada frequência do Universo. E o amor
divino alcança-nos a todos, à maneira do Sol que abraça os sábios e
os vermes.
33 Todavia, quem avança demora-se
em ligação com quem se localiza na esfera próxima.
O domínio vegetal vale-se do império mineral para sustentar-se e evolutir. Os animais aproveitam os vegetais na obra de aprimoramento. Os homens se socorrem de uns e outros para crescerem mentalmente e prosseguir adiante…
34 Atritam os reinos da vida,
conhecidos na Terra, entre si.
Torturam-se e entredevoram-se, através de rudes experiências, a fim de que os valores espirituais se desenvolvam e resplandeçam, refletindo a divina luz…
2.
— Nesse ponto, o esclarecido Ministro fez longa pausa, fitou-nos, bondoso,
e continuou:
2 — Mas… além do principado
humano, para lá das fronteiras sensoriais que guardam ciosamente a alma
encarnada, amparando-a com limitada visão e benéfico esquecimento, começa
vasto império espiritual, vizinho dos homens. 3
Aí se agitam milhões de Espíritos imperfeitos que partilham, com as
criaturas terrenas, as condições de habitabilidade da Crosta do Mundo.
4 Seres humanos, situados
noutra faixa vibratória, apoiam-se na mente encarnada, através de falanges
incontáveis, tão semiconscientes na responsabilidade e tão incompletas
na virtude, quanto os próprios homens.
5 A matéria, congregando milhões
de vidas embrionárias, é também a condensação da energia, atendendo
aos imperativos do “eu” que lhe preside à destinação.
6 Do hidrogênio às
mais complexas unidades atômicas, é o poder do Espírito eterno a alavanca
diretora de prótons, nêutrons e elétrons, na estrada infinita da vida.
7 Demora-se a inteligência
corporificada no Círculo humano em transitória região, adaptada às suas
exigências de progresso e aperfeiçoamento, dentro da qual o protoplasma
lhe faculta instrumentos de trabalho, crescimento e expansão. 8
Entretanto, nesse mesmo espaço, alonga-se a matéria noutros estados,
e, nesses outros estados, a mente desencarnada, em viagem para o conhecimento
e para a virtude, radica-se na Esfera física, buscando dominá-la e absorvê-la,
estabelecendo gigantesca luta de pensamento que ao homem comum não é
dado calcular.
9 Frustrados em suas
aspirações de vaidoso domínio no domicílio celestial, homens e mulheres
de todos os climas e de todas as civilizações, depois da morte, esbarram
nessa região em que se prolongam as atividades terrenas e elegem o instinto
de soberania sobre a Terra por única felicidade digna do impulso de
conquistar. 10 Rebelados
filhos da Providência, tentam desacreditar a grandeza divina, estimulando
o poder autocrático da inteligência insubmissa e orgulhosa e buscam
preservar os Círculos terrestres para a dilatação indefinida do ódio
e da revolta, da vaidade e da criminalidade, como se o Planeta, em sua
expressão inferior, lhes fosse paraíso único, ainda não integralmente
submetido a seus caprichos, em vista da permanente discórdia reinante
entre eles mesmos. 11
É que, confinados ao berço escabroso da ignorância em que o medo e a
maldade, com inquietudes e perseguições recíprocas, lhes consomem as
forças e lhes inutilizam o tempo, não se apercebem da situação dolorosa
em que se acham.
12 Fora do amor verdadeiro,
toda união é temporária e a guerra será sempre o estado natural daqueles
que perseveram na posição de indisciplina.
13 Um reino espiritual,
dividido ( † )
e atormentado, cerca a experiência humana, em todas as direções, intentando
dilatar o domínio permanente da tirania e da força.
14 Sabemos que o Sol opera
por meio de radiações, nutrindo, maternalmente, a vida a milhões de
quilômetros. Sem nos referirmos às condições da matéria em que nos movimentamos,
lembremo-nos de que, em nosso sistema, as existências mais rudimentares,
desde os cumes iluminados aos recôncavos das trevas, estão sujeitas
à sua influenciação.
15 Como acontece aos corpos
gigantescos do Cosmos, também nós outros, espiritualmente, caminhamos
para o zênite evolutivo, experimentando as radiações uns dos outros.
Nesse processo multiforme de intercâmbio, atração, imantação e repulsão,
aperfeiçoam-se mundos e almas, na comunidade universal.
16 Dentro de semelhante
realidade, toda a nossa atividade terrestre se desdobra num campo de
influências que nem mesmo nós, os aprendizes humanos em Círculos mais
altos, poderíamos, por enquanto, determinar.
17 Incapacitados
de prosseguir além do túmulo, a caminho do Céu que não souberam conquistar,
os filhos do desespero organizam-se em vastas colônias de ódio e miséria
moral, disputando, entre si, a dominação da Terra. 18
Conservam, igualmente, quanto ocorre a nós mesmos, largos e valiosos
patrimônios intelectuais e, anjos decaídos da Ciência, buscam, acima
de tudo, a perversão dos processos divinos que orientam a evolução planetária.
19 Mentes cristalizadas
na rebeldia, tentam solapar, em vão, a Sabedoria Eterna, criando quistos
de vida inferior, na organização terrestre, entrincheiradas nas paixões
escuras que lhes vergastam as consciências. Conhecem inumeráveis recursos
de perturbar e ferir, obscurecer e aniquilar. 20
Escravizam o serviço benéfico da reencarnação em grandes setores expiatórios
e dispõem de agentes da discórdia contra todas as manifestações dos
sublimes propósitos que o Senhor nos traçou às ações.
21 Os homens terrenos que,
semilibertos do corpo, lhes conseguiram identificar, de algum modo,
a existência, recuaram, tímidos e espavoridos, espalhando entre os contemporâneos
as noções de um inferno punitivo e infindável, encravado em tenebrosas
regiões além da morte.
22 A mente infantil da Terra,
embalada pela ternura paternal da Providência, através da teologia comum,
nunca pôde apreender, mais intensivamente, a realidade espiritual que
nos governa os destinos.
23 Raros compreendem
na morte simples modificação de envoltório, e escasso número de pessoas,
ainda mesmo em se tratando dos religiosos mais avançados, guardaram
a prudência de viver, no vaso físico, de conformidade com os princípios
superiores que esposaram. 24
Somos defrontados, agora, pela necessidade da proclamação de verdades
velhas para os velhos ouvidos e novas para os ouvidos novos da inteligência
juvenil situada no mundo.
25 O homem, herdeiro
presuntivo da Coroa Celeste, é o condutor do próprio homem, dentro de
enormes extensões do caminho evolutivo. Entre aquele que já se acerca
do anjo e o selvagem que ainda se limita com o irracional, existem milhares
de posições, ocupadas pelo raciocínio e pelo sentimento dos mais variados
matizes. 26 E, se
há uma corrente, brilhante e maravilhosa, de criaturas encarnadas e
desencarnadas que se dirigem para o monte da sublimação, desferindo
glorioso cântico de trabalho, imortalidade, beleza e esperança, exaltando
a vida, outra corrente existe, escura e infeliz, nas mesmas condições,
interessada em descer aos recôncavos das trevas, lançando perturbação,
desânimo, desordem e sombra, consagrando a morte. 27
Espíritos incompletos que somos ainda, aderimos aos movimentos que lhes
dizem respeito e colhemos os benefícios da ascensão e da vitória ou
os prejuízos da descida e da derrota, controlados pelas inteligências
mais vigorosas que a nossa e que seguem conosco, lado a lado, na zona
progressiva ou deprimente, em que nos colocamos.
28 O inferno, por isto mesmo,
é um problema de direção espiritual.
Satã é a inteligência perversa.
O mal é o desperdício do tempo ou o emprego da energia em sentido contrário aos propósitos do Senhor.
O sofrimento é reparação ou ensinamento renovador.
29 As almas decaídas,
contudo, quaisquer que sejam, não constituem uma raça espiritual sentenciada
irremediavelmente ao satanismo, integrando, tão somente, a coletividade
das criaturas humanas desencarnadas, em posição de absoluta insensatez.
30 Misturam-se à multidão
terrestre, exercem atuação singular sobre inúmeros lares e administrações
e o interesse fundamental das mais poderosas inteligências, dentre elas,
é a conservação do mundo ofuscado e distraído, à força da ignorância
defendida e do egoísmo recalcado, adiando-se o Reino de Deus, entre
os homens, indefinidamente…
31 De milênios a
milênios, a região em que respiram padece extremas alterações, qual
acontece ao campo provisoriamente ocupado pelos povos conhecidos. A
matéria que lhes estrutura a residência sofre tremendas modificações
e precioso trabalho seletivo se opera na transformação natural, n
dentro dos moldes do Infinito Bem. 32
Entretanto, embora [componham-se] de fileiras compactas incessantemente
substituídas, persistem por séculos sucessivos, acompanhando o curso
das civilizações e seguindo-lhes os esplendores e experiências, as aflições
e derrotas.
33 Fazendo-se nova pausa do
Ministro, que me pareceu oportuna e intencional, um companheiro interferiu,
indagando:
— Grande benfeitor, reconhecemos a veracidade de vossas afirmativas; todavia, porque não suprime o Senhor Compassivo e Sábio tão pavoroso quadro?
34 O esclarecido mentor fixou
um gesto de condescendência e respondeu:
— Não será o mesmo que interrogar pela tardança de nossa própria adesão ao
Reino Divino? Sente-se o meu amigo suficientemente iluminado para negar
o lado sombrio da própria individualidade? Libertou-se de todas as tentações
que fluem dos escaninhos misteriosos da luta interna? Não admite que
o orbe possua os seus Círculos de luz e trevas, qual acontece a nós
mesmos nos recessos do coração? 35
E assim como duelamos em formidáveis conflitos por dentro, a vida planetária
é compelida igualmente a combater nos recônditos ângulos de si mesma.
Quanto à intervenção do Senhor, recordemo-nos de que os estudos desta
hora não se prendem aos aspectos da compaixão e, sim, aos problemas
da justiça.
36 Nós outros e a humanidade
militante na carne não representamos senão diminuta parcela da família
universal, confinados à faixa vibratória que nos é peculiar.
37 Somos simplesmente alguns
bilhões de seres perante a Eternidade. E estejamos convencidos de que
se o diamante é lapidado pelo diamante, o mau só pode ser corrigido
pelo mau. Funciona a justiça, através da injustiça aparente, até que
o amor nasça e redima os que se condenaram a longas e dolorosas sentenças
diante da Boa Lei.
38 Homens perversos, calculistas,
delituosos e inconsequentes são vigiados por gênios da mesma natureza,
que se afinam com as tendências de que são portadores.
39 Realmente, nunca faltou
proteção do Céu aos tormentos que as almas endurecidas e ingratas
semearam na Terra e os numes guardiães não se despreocupam dos tutelados;
no entanto, seria ilógico e absurdo designar um anjo para custodiar
criminosos.
40 Os homens encarnados, de
maneira geral, permanecem cercados pelas escuras e degradantes irradiações
de entidades imperfeitas e indecisas, quanto eles próprios, criaturas
que lhes são invisíveis ao olhar, mas que lhes partilham a residência.
41 Em razão disso, o Planeta,
por enquanto, ainda não passa de vasto crivo de aprimoramento, ao qual
somente os indivíduos excepcionalmente aperfeiçoados pelo próprio esforço
conseguem escapar, na direção das Esferas sublimes.
42 Considerando
semelhante situação, o Mestre Divino exclamou perante o juiz, em Jerusalém:
“Por agora, o meu Reino não é daqui” ( † )
e, pela mesma razão, Paulo de Tarso, depois de lutas angustiosas, escreve
aos Efésios que “não temos de lutar contra a carne e o sangue, mas,
sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes
das trevas e contra as hostes espirituais da maldade, nas próprias regiões
celestes.” ( † )
43 Além, pois, do reino humano,
o império imenso das inteligências desencarnadas participa de contínuo
no julgamento da Humanidade.
44 E entendendo
a nossa condição de trabalhadores incompletos, detentores de velhas
dificuldades e terríveis inibições, na ordem do aprimoramento iluminativo,
cabe-nos preparar recursos de auxílio, reconhecendo que a obra redentora
é trabalho educativo por excelência.
45 O sacrifício do Mestre representou
o fermento divino, levedando toda a massa. É por isto que Jesus, acima
de tudo, é o Doador da Sublimação para a vida imperecível. Absteve-se
de manejar as paixões da turba, visto reconhecer que a verdadeira obra
salvacionista permanece radicada ao coração, e distanciou-se dos decretos
políticos, não obstante reverenciá-los com inequívoco respeito à autoridade
constituída, por não ignorar que o serviço do Reino Celeste não depende
de compromissos exteriores, mas do individualismo afeiçoado à boa vontade
e ao espírito de renúncia em benefício dos semelhantes.
46 Sem nosso esforço
pessoal no bem, a obra regenerativa será adiada indefinidamente, compreendendo-se
por precioso e indispensável nosso concurso fraterno para que irmãos
nossos, provisoriamente impermeáveis no mal, se convertam aos Desígnios
Divinos, aprendendo a utilizar os poderes da luz potencial de que são
detentores. 47 Somente
o amor sentido, crido e vivido por nós provocará a eclosão dos raios
de amor em nossos semelhantes.
Sem polarizar as energias da alma na direção divina, ajustando-lhes
o magnetismo ao Centro do Universo, todo programa de redenção é um conjunto
de palavras, pecando pela improbabilidade flagrante.
48 O Ministro sorriu para nós,
expressivamente, e concluiu:
— Terei sido bastante claro?
49 Transbordava de todos os
rostos o desejo de ouvi-lo por mais tempo; no entanto, Flácus, aureolado
de luz, desceu da tribuna e pôs-se a conversar familiarmente conosco.
50 A preleção fora encerrada.
As considerações ouvidas despertavam em mim o máximo interesse. No entanto, era preciso aguardar nova oportunidade para mais amplos esclarecimentos.
André Luiz
[1]
[Vide no capítulo 4 outra referência ao
mesmo assunto.]