O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Horas de luz — Familiares diversos


11

Ruilon Quirino Ribeiro

“Ser pai é algo de emocionante”

1 Querida mãezinha Adm, abençoe-me com a bênção de meu pai.

2 Ainda estou perplexo. Ao escrever-lhes, com o auxílio do nosso estimado Harley, n me sinto num estranho regresso à perturbação, em que me vi na noite em que tomava o volante, pensando mais em nossa Eliana e em nossa criança a nascer, do que no velocímetro.

3 Ser pai é algo de emocionante. O coração parece desfazer-se em alegria.

4 O cérebro esfogueado de ansiedade imaginava planos mil… Não observei que a noite avançava e que a escuridão descia do trono da meia-noite para que o retorno do dia não fosse conturbado.

5 Via somente a família, incluindo a sua presença de avó que eu desejava viesse a ser a mais feliz das avós do mundo, quando o carro esbarrou num corpo resistente e escuro…

6 Sei que não cochilava, guardava a consciência de que respeitara os sinais… (ou não respeitara?)

7 O meu campo emotivo estava diferente e excessivamente feliz para pensar em verificações. Vi no entanto, o veículo retorcer-se e moer-se, como se tivesse sido transformado, de repente, num brinquedo de monstros.

8 Não sei descrever o que senti. Um misto de espanto e temor se me apoderou de todas as forças, e procurava por mim próprio sem me encontrar, porque tive a impressão de que me haviam arrancado ao corpo físico, assim como se toma a capa de alguém.

9 Eu estava ali e não estava. Sentia-me dentro de uma duplicidade que me apavorava.

10 O mundo de angústia no qual penetrara, não me permitia reconhecer a mim mesmo naquele corpo que as circunstâncias me furtavam.

11 Pensei em Deus. Recordei as preces do tempo de criança, quando uma senhora me apareceu, ali mesmo, dirigindo-me palavras de bênção.

12 Atônito, fiquei a imaginar se ela seria passageira do lado, sem que eu percebesse, quando tomou-me pela mão e me conduziu para o verde que marginava a estrada, apontando-me para o céu estrelado… Que eu me acalmasse e contasse com a Proteção Divina…

13 Não tive tempo para saber se o meu coração estava resignado ou pleno de revolta, diante do imprevisto que me distanciava da existência física, e dormi sem o menor desejo de alhear-me do que se passava.

14 Queria permanecer de pensamento aceso, de modo a compreender o que se passava, no entanto, a força que me governava por dentro de mim, ordenando-me repousar, era mais forte do que o meu propósito de conhecer o acidente de que fora vítima. Isso estava claramente certo em meu íntimo.

15 Um desastre com a presença da morte, quando eu esperava uma criança que nascia…

16 Antes que me rebelasse contra as Leis da Vida, o sono me imobilizou, e de nada mais vim a saber; senão quando acordei sob os cuidados da protetora, que me afirmou ser minha avó Maria Menezes, n a resguardar-me.

17 O que lastimei e o que reclamei, ainda estou para recordar, porque me sentia lesado por todas as forças da Criação.

18 Minha avó, acompanhada do nosso amigo Harley, me doutrinara como se instruísse um menino qualquer num Jardim de Infância, e comecei a compreender.

19 Escutava as suas perguntas e as indagações do papai Mozart, minhas lágrimas pareciam sem fim…

20 Entretanto, escutei orações de Eliana e de corações amigos sob a bondade da vovó Maroca n e, com os dias de renovação e de esperança, voltei à casa em que Eliana e a mãezinha Maria Helena n sustentavam nos braços o meu filhinho…

21 Eu estava na condição do homem que era o dono de uma festa, sem a possibilidade sequer de carregar, de leve, a criança que eu esperava tanto!…

22 Mãe, o seu coração me compreenderá sem que eu procure tingir com letras a minha dor de pai morto-vivo…

23 Encontrei amigos que me confortaram. Aquela a quem aprendi a chamar por vovó Mercedes n colaborou com a minha avó, e acabei transformando as lágrimas em preces de gratidão a Deus.

24 Foi assim que tudo começou ou recomeçou para mim (não sei bem), e agora procuro adaptar-me à realidade para ser útil à família.

25 Mamãe Adm, desculpe-me com meu pai se falei tanto. Desejava, no entanto, fazer uma revisão de meu novo caminho espiritual, e acabei grafando esta carta longa.

26 Para Eliana e para o nosso Leonardo, n que é tão de nossa querida Eliana e tão nosso, o meu carinho de esposo e pai, e receba, com meu pai e com todos os nossos familiares, as saudades e as novas esperanças de seu filho


Ruilon


Dados esclarecedores sobre a mensagem de Ruilon Quirino Ribeiro


Entrevistamos Dra. Eliana Scalon Ribeiro, na tarde de 20 de maio de 1984, em Uberaba, na residência de seus pais, à Rua Henrique Dias, 16, fone: 3332-6155, graças à gentileza de D. Maria Helena Scalon, sua genitora, e do jovem Roberto Mendes Juliano, sob o olhar atento do pequeno Leonardo, então com quatro meses, a confirmar a tese do renomado psiquiatra inglês, n segundo a qual podemos conversar, com toda a clareza, com as crianças da mais tenra idade, uma vez que todas elas nos compreendem perfeitamente.

Eis as notas que tomamos, naquela memorável tarde:

Ruilon Quirino Ribeiro nasceu em Gurinhatã, Minas Gerais, a 22 de outubro de 1952, e desencarnou por volta das 3:15 horas de 6 de janeiro de 1984, na BR-50, quilômetro 166, a 5 quilômetros de Uberaba, próximo ao Ribeirão Caçu, quando bateu seu Fiat branco, placa MI-7823, de Ituiutaba, MG., na traseira de uma carreta Chevrolet D-70, placa EA-2043, da Companhia Ibiraquera de Avicultura, dirigida pelo responsável motorista Sr. Edgar Tadeu da Silva, no sentido Uberlândia/Uberaba.

Filho do Sr. Mozart de Almeida Ribeiro e de D. Adm Morais Ribeiro, residentes em Ituiutaba, à Rua 16, n.º 1557.

1.º Tenente Dentista do Exército, endodontista, vinha Ruillon de Brasília, para assistir à cesárea a que iria se submeter sua esposa, também cirurgiã-dentista — Clínica Geral —, Dra. Eliana Scalon Ribeiro, como de fato o foi, naquela manhã, sem que tivesse, por recomendação médica, tomado conhecimento de qualquer notícia do ocorrido.

Ruilon era pessoa muito querida e estimada, não somente em Uberaba, onde se formou na FIUBE e se casou, um ano antes, como também em Ituiutaba, onde seu corpo foi sepultado, e em Brasília.

Frequentava a Comunhão Espírita de Brasília, estudioso do Espiritismo, tendo se empolgado com as obras “Nosso Lar” e “Cidade no Além”.

Datada de 28 de dezembro de 1983, deixou Ruilon escrito, na Agenda do Hospital da Guarnição de Brasília, DF., um belo depoimento, com as seguintes citações do Espírito de André Luiz:

“Na fase evolutiva do planeta, existem na esfera carnal raríssimas uniões de almas gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs ou afins, e esmagadora percentagem de ligações de resgate. O maior número de casais humanos é constituído de verdadeiros forçados sob algemas.”

“A mulher não pode ir ao duelo com os homens através de escritores e gabinetes, onde se reserva atividade justa ao espírito masculino.”(Nosso Lar, págs. 113, 229 — Edição FEB). ( † )

“É tão importante saber falar como saber ouvir.” (Nosso Lar, pág. 130). ( † )


Estudemos, em seguida a expressiva mensagem de Ruilon, recebida a 30 de março de 1984, que foi publicada em “A Flama Espírita” , e num bem cuidado volante, para ser distribuído nos Centros Espíritas.


1 — “Nosso estimado Harley”: Harley Scalon, sogro do comunicante, nascido em Sacramento, Minas Gerais, a 23 de janeiro de 1932, e desencarnado em Uberaba, a 27 de março de 1968.

2 — “Minha avó Maria Menezes”: Bisavó materna de Ruilon, desencarnada em 16 de dezembro de 1913, no município de Ituiutaba.

3 — “Vovó Maroca”: D. Maria Chaves Santos, avó materna de Dra. Eliana, residente em Uberaba, à Rua Segismundo Mendes, 14.

4 — “Mãezinha Maria Helena”: Trata-se da senhora sogra de Ruilon, residente em Uberaba, à Rua Henrique Dias, 16.

5 — “Vovó Mercedes”: D. Mercedes Chaves, bisavó materna de Dra. Eliana Scalon Ribeiro, nascida em Monte Alegre de Minas, a 16 de abril de 1879, e desencarnada em Uberaba, a 3 de agosto de 1957.

6 — “Nosso Leonardo”: Filho de Ruilon, nascido exatamente no dia da desencarnação de seu genitor, a 6 de janeiro de 1984.


Antes de apor o ponto final no presente capítulo, solicitamos a atenção do leitor para dois pontos:

1) a semelhança entre a assinatura psicografada pelo médium Xavier e a de Ruilon quando entre os encarnados, inclusive com o seu nome, escrito no verso de um envelope, como observou D. Maria Helena, e poderemos confirmar, analisando os fac-símiles. [Favor consultar os originais em papel]

2) Julgamos bastante consolador o fato de Ruilon ter conseguido permissão dos Benfeitores da Vida Maior para visitar, na condição de pai morto-vivo, a Esposa e o filho, comunicando-se, através dos canais medianímicos, tão somente dois meses e vinte e quatro dias após o seu retorno à Pátria Verdadeira.


Elias Barbosa



Denys Kelsey e Joan Grant, “Nossas Vidas Anteriores”. Trad. de Pinheiro Lemos, Distribuidora Record, Rio de Janeiro, s/d, pp. 156-167.


A Flama Espírita”, Uberaba, 19 de maio de 1984, ANO XXXVIII, Segunda fase, n.º 2.520, “A Manifestação de Ruilon”.


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