Emmanuel
1 O semeador saiu a semear. ( † )
A palavra do Cristo é demasiado clara.
2 O semeador não aguardou requisições. Saiu da própria comodidade ao encontro da terra. Ainda assim, não estabeleceu condições para doar-lhe as sementes que trazia, entregando-as sem cogitar-lhe das possibilidades e recursos. E amparou não somente o solo fértil e as aves famintas, mas também socorreu terrenos outros que espinheiros e pedras desfiguravam.
3 A notícia evangélica não diz que as sementes caídas entre calhaus e sarças fossem destruídas. Explica que foram simplesmente abafadas, o que não lhes invalida a potencialidade para a germinação em momento oportuno.
4 Assim igualmente é o amparo espiritual a quantos dele necessitem no mundo.
5 Os corações humanos assemelham-se a glebas de plantio.
6 Muitos estão habilitados à recepção da verdade, à maneira do solo tratorizado pelas experiências da vida; outros, porém, se nos revelam por vales aprazíveis, mas incultos, inçados de escalracho e pedregulho contundente.
7 Todos, no entanto, carecem de auxílio, apoio, entendimento, atenção.
8 O ensinamento do Cristo não mostra qualquer traço de impaciência ou de irritação na imagem do semeador que saiu a semear. Ele auxiliou a terra, prestigiando-a com semente válida, sem se deter para censurar-lhe as deficiências. E naturalmente entregou o próprio trabalho à força do tempo, ou melhor, às leis de Deus que nos governam a vida.
9 Reflitamos na lição e distribuamos, em benefício do próximo, a esperança e a fé, o conhecimento e a compreensão de que já sejamos detentores e instrumentos. Sem pretensão e sem exigência. Sem desalento e sem pressa. Sem anotar os defeitos alheios e sem reclamar resultados imediatos.
10 Imaginemos o tempo que todos gastamos para acolher os escassos raios da verdade que atualmente nos clareiam a estrada, na direção do progresso, para a aquisição de mais luz. E aprendamos que não apenas nós, mas igualmente os outros — todos os outros filhos da Terra — se encontram abençoados e sustentados pelo amor onipresente de Deus.
A sementeira e as leis
Irmão Saulo
Do Além nos chega a notícia de que Emmanuel, o guia espiritual do médium Chico Xavier, é o antigo e orgulhoso senador romano Publius Lentulus. Mas que ligação teria ele com o Brasil? A informação acrescenta que o senador, numa de suas encarnações posteriores, esteve em nosso País e desenvolveu importante missão, que toca particularmente o coração dos paulistas : foi o Padre Manuel da Nóbrega. Explica-se, assim, a sua ligação com o movimento atual de espiritualização do nosso povo, o seu interesse missionário pela evangelização do Brasil, agora em termos de esclarecimento racional dos problemas do homem, do espírito e dos objetivos da vida.
Quem desejar informar-se melhor a respeito deverá ler os livros “Há dois mil anos…” e “Cinquenta anos depois”, ambos do próprio Emmanuel, psicografados por Chico Xavier. Isso no tocante ao senador romano. No que se refere a Nóbrega, a leitura aconselhada é a das obras “Trinta Anos com Chico Xavier” e “Amor e Sabedoria de Emmanuel”, do Prof. Clóvis Tavares, lançadas em São Paulo pela Editora Calvário. Vemos na sucessão dessas obras o encadeamento das reencarnações de um Espírito intelectualmente elevado, mas cujo aprimoramento moral se processa à maneira da lapidação de uma pedra preciosa.
Para as pessoas que consideram o princípio da reencarnação como simples crença ou superstição, lembraremos a presença em São Paulo, do parapsicólogo indiano Prof. Dr. Hamendras Nat Barnejee, professor da Universidade de Jaipur (Rajastan — Índia), conhecido como “o cientista da reencarnação”. Lembraremos ainda a edição brasileira do livro do Prof. Dr. Ian Stevenson, diretor do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade de Virgínia, Estados Unidos, intitulado “20 Casos Sugestivos de Reencarnação”. Esses dois cientistas se conjugam cem o Prof. Dr. Wladimir Raikov, da Universidade de Moscou, também empenhado nas mesmas pesquisas. Isso mostra que o problema da reencarnação pertence hoje à área científica. É um dos últimos problemas religiosos absorvidos pelas Ciências.
Compreendemos assim o interesse predominante de Emmanuel pelas questões morais e espirituais. Suas mensagens insistem nesse campo, não por uma preferência pessoal, mas em virtude das próprias experiências vividas pelo espírito que sentiu, na sucessão de suas encarnações, “a força do tempo, ou melhor, das leis de Deus que nos governam a vida”. Estamos acostumados a pensar nas leis de Deus em termos de religião, lembrando-nos do Decálogo ou dos ensinos do Evangelho, mas o Espiritismo sustenta que as leis de Deus são as próprias leis naturais, que tanto governam a sementeira na terra, quanto dirigem a sementeira do espírito no “campo da vida”.
Filósofos médiuns
Vários leitores perguntam-nos se a resposta de Chico Xavier, no “Pinga Fogo” do Canal 4, sobre a possibilidade de terem sido médiuns os filósofos citados pelo Prof. João de Scantimburgo, é válida.
Basta lembrar, no caso, a mediunidade conhecida de Sócrates que se confessava amparado pelo seu “daemon” ou Espírito, ao qual sempre consultava. Seu discípulo Platão era médium vidente e oferece-nos, na “República”, o mito espírita da Caverna. Na “Revista Espírita”, de Kardec, há importantes mensagens psicográficas de Platão. n
Modernamente temos o caso de René Descartes e dos seus famosos sonhos, através dos quais recebeu do Espírito da Verdade a orientação filosófica que o tornou o pai do pensamento moderno. Chico Xavier não recebeu mensagens de grandes filósofos porque a sua missão é no plano evangélico, mas basta ler o seu livro “Emmanuel” para se encontrarem respostas filosóficas e científicas a problemas que foram propostos ao médium. Na Itália, através da tiptologia, foi recebido, há alguns anos, todo um livro de Schopenhauer.
[1] Nota: Onde? O que encontramos foi: Platão e a doutrina da escolha das provas (artigo) — Filosofia, por Moisés, Platão, depois Juliano — Comunicação coletiva (uma frase) — E referências a comunicações de Platão nos seguintes Boletins: Sessão de 20 de janeiro de 1860; Sessão de 18 de novembro de 1859; mas não sabemos qual o motivo que levou o Codificador a não publicar mensagem alguma assinada exclusivamente por esse importante filósofo da antiguidade, que juntamente com Sócrates, ensinou um dos princípios básicos da Doutrina Espírita: a reencarnação.— (Nota do Compilador.)