Escrevei isto: O homem! Que é ele? De onde veio? Para onde vai? – Deus? A Natureza? A criação? O mundo? Sua eternidade no passado, no futuro! Limite da Natureza, relações do ser infinito com o ser particular? Passagem do infinito ao finito? — Perguntas que devia fazer o homem, criança ainda, quando viu pela primeira vez, com sua razão, acima da cabeça, a marcha misteriosa dos astros; sob seus pés a terra, alternativamente revestida com roupas de festa, sob o hálito tépido da primavera, ou coberta de um manto de luto, debaixo do sopro gelado do inverno; quando ele próprio se viu, pensando e sentindo, ser lançado por um instante nesse imenso turbilhão vital entre o ontem, dia de seu nascimento, e o amanhã, dia de sua morte. Perguntas que foram propostas a todos os povos, em todas as idades e em todas as suas escolas e que, no entanto, não permaneceram menos enigmáticas para as gerações seguintes. Contudo, questões dignas de cativar o espírito investigador do vosso século e o gênio do vosso país. – Se, pois, houvesse entre vós um homem, dez homens, tendo consciência da alta gravidade de uma missão apostólica e vontade de deixar um traço de sua passagem aqui, para servir de ponto de referência à posteridade, eu lhe diria: Durante muito tempo transigistes com os erros e preconceitos de vossa época; para vós, o período das manifestações materiais e físicas passou; aquilo a que chamais de evocações experimentais já não vos pode ensinar grandes coisas, porque, no mais das vezes, apenas a curiosidade está em jogo. Mas a era filosófica da doutrina se aproxima. Não permaneceis mais por muito tempo fixados nas fasquias do pórtico, em breve carcomidas, e penetrai sem hesitação no santuário celeste, conduzindo altivamente a bandeira da filosofia moderna, na qual escrevei sem medo: misticismo, racionalismo. Fazei ecletismo no ecletismo moderno; fazei-o como os antigos, apoiando-vos na tradição histórica, mística e legendária, mas sempre cuidando de não sair da revelação, facho que a todos nos faltou, recorrendo às luzes dos Espíritos superiores, votados missionariamente à marcha do espírito humano. Por mais elevados que sejam, esses Espíritos não sabem tudo; só Deus o sabe. Além disso, de tudo quanto sabem, nem tudo podem revelar. Com efeito, em que se tornaria o livre-arbítrio do homem, sua responsabilidade, o mérito e o demérito? E, como sanção, o castigo e a recompensa?
Entretanto, posso balizar o caminho que vos mostramos, com alguns princípios fundamentais. Escutai, pois, isto: 1º A alma tem o poder de subtrair-se à matéria; 2º De elevar-se muito acima da inteligência; 3º Esse estado é superior à razão; 4º Ele pode colocar « homem em relação com aquilo que escapa às suas faculdades; 5º O homem pode provocá-lo pela prece a Deus, por um esforço constante da vontade, reduzindo a alma, por assim dizer, ao estado de pura essência, privada da atividade sensível e exterior; numa palavra, pela abstração de tudo que há de diverso, de múltiplo, de indeciso, de turbilhonamento, de exterioridade na alma; 6º Existe no eu concreto e complexo do homem uma força completamente ignorada até hoje. Procurai-a, portanto.
Moisés, Platão, depois Juliano. n
[1]
[v. Moisés.
— Platão.
—
Flávio Cláudio Juliano.]