Nesta 3ª mensagem Walter mostra-se-nos um Espírito renovado, seguro de si, plenamente reintegrado no Mundo Maior, bem distanciado — graças aos seus esforços, sob as bênçãos do Senhor — daquele período de convalescença, quando oscilava entre melhoras e pioras do seu estado psíquico.
Lembremo-nos que, na Primeira Carta, explicando sua instabilidade emocional frente à nova situação de recém-liberto do invólucro carnal, suplicava fé e conformação aos seres queridos, pois recebia deles, claramente, os reflexos mentais de aflitiva e desesperadora saudade.
Gozando, agora, pleno domínio emocional e assenhoreando uma compreensão mais ampla da vida em todos os sentidos, já com experiências na abençoada tarefa de auxilio ao próximo, como um bom samaritano ciente de suas responsabilidades, afirma humildemente: Às vezes, depois da morte física, estamos na condição de uma chave humana, manejada pelo amor e pela abnegação de Jesus, para solucionar muitos problemas ou abrir as portas da compreensão e da paz.
Percebe-se que a influência benéfica do Autor Espiritual junto aos familiares não se circunscreve às orientações através das cartas. As “sensações” de seu pai confirmadas na 1ª mensagem e as intuições nítidas de sua mãe atestam a nossa observação.
Sabemos que o intercâmbio entre os dois Mundos, físico e espiritual, é intensíssimo.
Interessado em conhecer a fundo a intervenção dos Espíritos no Plano material, Kardec apresentou às Entidades, que supervisionaram a sua missão de codificador, dezenas de perguntas sobre tão relevante tema, iniciando pelas questões:
“— Os Espíritos veem tudo o que nós fazemos?
— Os Espíritos podem conhecer nossos mais secretos pensamentos?” n
Obtendo as respectivas respostas:
“— Eles podem vê-lo, visto que vos rodeiam incessantemente. Todavia, cada, um não vê senão as coisas sobre as quais dirige sua atenção, porque daquelas que lhe são indiferentes, eles não se preocupam.
— Frequentemente, eles conhecem aquilo que vós quereríeis ocultar a vós mesmos; nem atos, nem pensamentos podem lhes ser dissimulados.”
E, dentre tantas outras questões, ressaltaremos mais a seguinte:
“— Os Espíritos influem sobre nossos pensamentos e nossa ações?” n
Merecendo o seguinte esclarecimento lapidar:
“— A esse respeito sua influência é maior do que credes porque frequentemente são eles que vos dirigem.”
Walter apresenta-nos, em sua missiva, mais uma cristalina confirmação dessas verdades ditas há mais de um século. Conversa com seus familiares como alguém que residisse ao lado deles, no dia a dia, sob o mesmo teto.
Aliás, vai mais longe, abordando com segurança, questões íntimas de seus amados; é oportuno lembrar aqui, conforme expusemos na Introdução desta obra, que, com sinais convencionais, somente os problemas mais íntimos foram, compreensivelmente, suprimidos.
Ao usar a expressão “com segurança”, não só referimos ao conhecimento do Autor Espiritual do que se passava no âmago dos seus familiares, mas também à forma de encarar os problemas, com elevação e amor, dosando os conceitos emitidos com profunda compreensão cristã. Essa nossa observação não se baseia, evidentemente, apenas na leitura do texto psicografado, mas também nos diálogos fraternos mantidos por nós com os seus pais e irmãos.
Diante de tema tão importante: A influência dos Espíritos na vida terrena, suscitado por Walter, fomos levados a consultar várias obras doutrinárias, que versam sobre tal influência.
A mente é o ponto de partida para o estudo do intercâmbio entre os vivos e os “mortos”, exercendo um papel fundamental.
É a mente que, sob a ação da vontade, produz os fluidos ou as correntes do pensamento.
Pensamento é força criativa que projetamos constantemente e, a cada instante, também assimilamos, sem perceber, correntes mentais oriundas dos nossos semelhantes, encarnados ou desencarnados. Vivemos, assim, em regime de permuta incessante, com fundamento nos princípios da afinidade.
Emmanuel dá-nos uma visão ampla desse mundo de vibrações e ondas em que estamos mergulhados, elucidando:
“Encarnados e desencarnados povoam o planeta, na condição de habitantes dum imenso palácio de vários andares, em posições diversas, produzindo pensamentos múltiplos que se combinam, que se repelem ou que se neutralizam.
Correspondem-se as ideias, segundo o tipo em que se expressam, projetando raios de força que alimentam ou deprimem, sublimam ou arruínam, integram ou desintegram, arrojados sutilmente do campo das causas para a região dos efeitos.
A imaginação não é um país de névoa, de criações vagas e incertas. É a fonte de vitalidade, energia, movimento…
O idealismo operante, a fé construtiva, o sonho que age, são pilares de todas as realizações.
Quem mais pensa, dando corpo ao que idealiza, mais apto se faz à recepção das correntes mentais invisíveis, nas obras do bem ou do mal.
E, em razão dessa lei que preside à vida cósmica, quantos se adaptarem, ao reto pensamento e à ação enobrecedora, se fazem preciosos canais da energia divina, que, em efusão constante, banha a Humanidade em todos os ângulos do Globo, buscando as almas evoluídas e dedicadas ao serviço de santificação, convertendo-as em médiuns ou instrumentos vivos de sua exteriorização, para benefício das criaturas e erguimento da Terra ao concerto dos mundos de alegria celestial.” n
Sendo a mediunidade, como vemos, um atributo do Espírito, tendo na mente a base de sua manifestação, a pergunta: “todos somos médiuns?” é válida?
Sim. Cada ser possui uma determinada abertura além dos cincos sentidos fisiológicos, um certo grau de mediunidade.
Naturalmente, existem as criaturas com percepções psíquicas mais avançadas, constituindo o grupo dos médiuns com tarefas definidas e especializadas.
Mas, ainda nos afirma Emmanuel: “Antes de tudo, é preciso compreender que tanto quanto o tato é o alicerce inicial de todos os sentidos, a intuição é a base de todas as percepções espirituais e, por isso mesmo, toda inteligência é médium das forças invisíveis que operam no setor de atividade regular em que se coloca.
Dos círculos mais baixos aos mais elevados da vida, existem entidades angélicas, humanas e subumanas, agindo através da inteligência encarnada, estimulando o progresso e divinizando experiências, brunindo caracteres ou sustentando abençoadas reparações, protegendo a natureza e garantindo as leis que nos governam.” n
O nosso conhecido André Luiz, quando no Plano Espiritual, começou a estudar os múltiplos fenômenos da vida a se desdobrarem na Crosta terrestre e nas Esferas Mais Altas, deparou-se, frequentemente, com as mais diversas manifestações mediúnicas. Por isso, é tema presente em toda a série admirável de suas obras.
Decorreram pouco mais de 10 anos de trabalho e de observações as mais diversas. Estas, à medida que registradas, foram criando as páginas de livros documentários, alguns deles já citados aqui. Após esse período, André teve ensejo de aprofundar os seus conhecimentos nesse setor de intercâmbio mental, realizando, juntamente com seu colega Hilário, um curso de ciências mediúnicas.
A pedido de Clarêncio, Ministro da cidade de “Nosso Lar”, o Assistente Áulus, considerado um dos companheiros mais competentes no assunto, se dispôs a elucidá-los, afirmando, de início:
“Indubitavelmente, a mediunidade é problema dos mais sugestivos na atualidade do mundo. Aproxima-se o homem terreno da Era do Espírito, sob a luz da Religião Cósmica do Amor e da Sabedoria e, decerto, precisa de cooperação, a fim de que se lhe habilite o entendimento.” n
As anotações do curso referido deram origem ao livro Nos Domínios da Mediunidade, onde se encadeiam trinta capítulos refertos de preciosos ensinamentos, com expressivo conteúdo doutrinário.
Não fugindo do nosso objetivo de focalizar apenas as bases do intercâmbio mediúnico, reproduziremos alguns trechos da obra citada.
Ao final do estudo do caso de um jornalista, analisado quando escrevia em mesa de um restaurante, ladeado por infeliz Entidade sintonizada com os seus pensamentos, nutrindo os mesmos propósitos indignos, agindo como hábil médium psicógrafo sem se aperceber que estava sob forte influência espiritual, André Luiz, preocupado com o que observara, exclamou:
“— O quadro sob nossa análise induz à meditação nos fenômenos gerais de intercâmbio em que a Humanidade total se envolve sem perceber…”
O orientador, sempre solícito, ao lado dos dois aprendizes, concordou, dizendo:
“— Ah! sim! faculdades medianímicas e cooperação do mundo espiritual surgem por toda parte. Onde há pensamento, há correntes mentais e onde há correntes mentais existe associação. E toda associação é interdependência e influenciação recíproca. Daí concluímos quanto à necessidade de vida nobre, a fim de atrairmos pensamentos que nos enobreçam. Trabalho digno, bondade, compreensão fraterna, serviço aos semelhantes, respeito à Natureza e oração constituem os meios mais puros de assimilar os princípios superiores da vida, porque damos e recebemos, em espírito, no plano das ideias, segundo leis universais que não conseguiremos iludir.” n
A seguir, deixando o local onde colheram valiosos ensinamentos, retornaram à via pública. Pouco depois, passou por eles uma ambulância,
em marcha lenta, abrindo caminho com o ruído de sua sirene.
“A frente, ao lado do condutor, sentava-se um homem de grisalhos cabelos a lhe emoldurarem a fisionomia simpática e preocupada. Junto dele, porem, abraçando-o com naturalidade e doçura, uma entidade em roupagem lirial lhe envolvia a cabeça em suaves e calmantes irradiações de prateada luz.
— Oh! — inquiriu Hilário, curioso — quem será aquele homem tão bem acompanhado?
Áulus sorriu e esclareceu:
— Nem tudo é energia viciada no caminho comum. Deve ser um médico em alguma tarefa salvacionista.
— Mas, é espírita?
— Com todo o respeito que devemos ao Espiritismo, é imperioso lembrar que a Bênção do Senhor pode descer sobre qualquer expressão religiosa — afirmou o orientador com expressivo olhar de tolerância. — Deve ser, antes de tudo, um profissional humanitário e generoso que por seus hábitos de ajudar ao próximo se fez credor do auxílio que recebe. Não lhe bastariam os títulos de espírita e de médico para reter a influência benéfica de que se faz acompanhar. Para acomodar-se tão harmoniosamente com a entidade que o assiste, precisa possuir uma boa consciência e um coração que irradie paz e fraternidade.
— Contudo, podemos qualificá-lo como médium? — perguntou meu companheiro algo desapontado.
— Como não? — respondeu Áulus, convicto. — É médium de abençoados valores humanos, mormente no socorro aos enfermos, no qual incorpora as correntes mentais dos gênios do bem, consagrados ao amor pelos sofredores da Terra.
E, com significativa inflexão de voz, acrescentou:
— Como vemos, influências do bem ou do mal, na esfera evolutiva em que nos achamos, se estendem por todos os lados e por todos os lados registramos a presença de faculdades medianímicas, que as assimilam, segundo a direção feliz ou infeliz, correta ou indigna em que cada mente se localiza. Estudando, assim, a mediunidade, nos santuários do Espiritismo com Jesus, observamos uma força realmente peculiar a todos os seres, de utilidade geral, se sob uma orientação capaz de discipliná-la e conduzi-la para o máximo aproveitamento no bem. Recordemos a eletricidade que, pouco a pouco, vai transformando a face do mundo. Não basta ser dono de poderosa cachoeira, com o potencial de milhões de cavalos-vapor. É preciso instalar, junto dela, a inteligência da usina para controlar-lhe os recursos, dinamizá-los e distribuí-los, conforme as necessidades de cada um… Sem isso, a queda d’água será sempre um quadro vivo de beleza fenomênica, com irremediável desperdício.
O tempo, contudo, não nos permitia maior delonga na conversação e rumamos, desse modo, para um agrupamento em que os nossos estudos da véspera encontrariam o necessário prosseguimento.” n
Fé, amor e caridade são outros temas relevantes da Terceira Carta de Walter, colocados à feição de ingredientes sublimes, endereçados, a nosso ver, a todos nós.
É comparada a fé a uma luz que dissipa as nossas inquietações, mas… É preciso compreender a vida para que possamos vivê-la no proveito necessário. É um chamamento para a fé raciocinada, porque “não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade” ( † ) — segundo o pensamento de Allan Kardec. n
O amor, questão sempre nova, é visto sob prismas diferentes, que nos enriquecem o entendimento.
Ele diz que a presença da “morte”, ou melhor, o estado de distância nos ensina a amar como se deve e não como se deseja. Na Primeira Carta, após comentar sobre seu filhinho que deixou na Terra: agora querida mamãe, tenho igualmente um Waltinho para adorar e cuidar, afirma mais adiante: Quanta coisa a fazer!… E os outros pequeninos que esperam por nós? E, nessa Terceira Carta, enfatiza este apelo, recordando-o mais uma vez.
Em face destes tópicos, podemos compreender a expressão “amar como se deve” como uma referência ao amor sem apego excessivo, com o coração voltado para a grande família humana.
É a imensa luta da alma que almeja um degrau mais alto na grande escalada evolutiva. Luta entre o “amar como se deseja”, sentimento sempre motivado por impulsos egoístas — caracterizando o “homem velho” — e o “amar como se deve” condição que estrutura o “homem novo”, espiritualizado, mais avançado no caminho do aperfeiçoamento do campo íntimo.
Walter viu com profundidade tais questões, após o seu desenlace.
Não ignoramos que o fenômeno da morte provoca enorme impacto, atingindo os recessos da alma, a curto e a longo prazo, chamando-a à realidade maior, despertando-lhe a consciência profunda.
Mas, até onde? Tudo dependerá do grau de receptividade de cada ser aos apelos evolutivos.
Quando estamos presos à Crosta terrestre por atrações de caráter inferior, por exemplo, o amor possessivo, mórbido, não é fácil, a curto prazo, desligarmo-nos dessas algemas, ao deixarmos a vestimenta carnal. As paixões estabelecem tristes quadros de fixação mental na vida que palpita fora da matéria densa. São as cadeias sem grades, as prisões mentais.
O valor da caridade é realçado na parte final da missiva. As preocupações de Walter, não se circunscrevendo às questões da família consanguínea, indo bem mais à frente, alcançando as necessidades da família humana, revelam-se assim: Agora mãezinha, abracemos a nossa conversação sobre a caridade, o nosso mais belo ponto de encontro. Continuaremos fazendo o melhor ao nosso alcance, por aqueles corações que o Senhor nos encaminha na seara nova.
O Autor Espiritual mostra-se-nos portador de sentimentos sublimados — amparando sem alarde e compreendendo com fraternidade legítima — e emite conceitos que desfazem qualquer impressão errônea, que nos poderia dar à primeira vista, de apego excessivo aos seres amados que deixou na Terra, ao observá-lo acompanhar pari passu os problemas familiares. É um seguimento de questões espirituais, sentimentais, sem a mácula da paixão ou do melindre; e, às vezes, faz ligeiras referências aos assuntos materiais.
Portanto, vemo-nos diante de um exemplo de vinculação afetiva equilibrada, mantida por vibrações de profundo amor, que também se espraia além dos círculos mais íntimos e afins.
Na mensagem, Walter diz seara nova aludindo-se às obras assistenciais impulsionadas pelo generoso coração de sua progenitora.
Destaca a presença de duas Entidades espirituais à reunião: o vovô Perrone, que o assistiu nas primeiras horas de Espírito liberto da matéria, e César, um amigo da família.
O Sr. César Ottaviani faleceu na capital paulista em 9 de novembro de 1974. Deixou viúva, D. Verônica Ottaviani, residente em São Paulo, que estava presente à reunião pública de Uberaba. Júlio César e Fátima são os seus netos, filhos do casal Sr. César Waldemar Sérgio Ottaviani e D. Helena Maria de Mello Ottaviani.
As demais personagens citadas, os queridos familiares de Walter, são todas nossas conhecidas.
Hércio Marcos Cintra Arantes
[33] KARDEC, Allan — O Livro dos Espíritos. q. 456 e 459.
[34] Op. cit., q. 459.
[35] XAVIER, Francisco Cândido — Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. Cap. 25, p. 108-109.
[36] Op. Cit., cap. 27, p. 115-116.
[37] XAVIER, Francisco Cândido — Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espirito André Luiz. 8ª ed., Rio de Janeiro, FEB [1976] cap. 1, p. 13.
[38] Op. cit., cap. 15, p. 144.
[39] Op. cit., cap. 15, p. 144-146.
[40] O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XIX, p. 249.