Primeira Epístola Geral de Pedro. O autor desta epístola anuncia
ele mesmo como sendo o apóstolo Pedro (1.1);
e o caráter interno inteiro da carta como também o testemunho excepcionalmente
copioso da história comprova a afirmação. É tratado “para os eleitos
advindos da Dispersão em Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”
(1.1), que é evidentemente
uma descrição um pouco metafórica do corpo inteiro de cristãos habitando
a região hoje incluída na Ásia Menor. Que os leitores na mente
do autor eram largamente de origem gentil fica claro em passagens como
1.14; 2.9,10;
3.6; 4.3.
Estas igrejas foram fundadas e eram nutridas em grande parte pelo apóstolo
Paulo, e para eles Paulo escreveu as cartas dirigidas aos Gálatas, Efésios
e Colossenses; Pedro escreve para eles como aqueles que deviam sua conversão
a outro que ele mesmo (1.12,
25), e a fim
de testemunhar que o evangelho que receberam era “a graça verdadeira
de Deus”, “e exortá-los a permanecer nele” (5.12).
Deste modo ele publica seu acordo cordial com o apóstolo Paulo e ao
mesmo tempo escreve o que é de modo preeminente na epístola da esperança.
A ordem que são enumerados os países a que era enviada (1.1),
nomeia-os do leste a oeste, e sugere que a carta foi escrita no leste
(oriente). Isto é visível pela saudação enviada da igreja babilônica
(5.13). Sua
data é fixada pelo uso copioso da bonita Epístola aos Efésios de um
lado, e a morte de Pedro de outro, como sendo entre 63 e 67 da era cristã;
é mais provável que foi escrita em 64 ou 65. Em 2
Pe 3.1 é feita a insinuação para a epístola como sendo de Pedro
(cp. 1.1); ele é
citado por Policarpo, um discípulo do apóstolo João; está definitivamente
citada também como a escrita do apóstolo Pedro por Ireneu e Tertuliano
nas décadas finais do segundo século; e desde o início sempre teve um
lugar seguro na Bíblia Cristã em toda parte do mundo, e sempre tem estado
no uso pleno por cristãos de toda a Terra.
O estilo em que a carta foi escrita é ao mesmo tempo simples, atingindo o enérgico, abundando em transições súbitas e refletindo admiravelmente o caráter do escritor. Todo o modo de apresentação de seu assunto é especial e característico, entretanto a doutrina apresentada é claramente a mesma que aquelas das epístolas de Paulo, prevalecendo as referências à graça de Deus e à esperança futura. A epístola é cheia em grau notável de reminiscências da escrita cristã antiga, particularmente das epístolas para os Romanos e Efésios e Tiago (cp. 1 Pe 2.6,8 com Rm 9.32,33; 1 Pe 2.5; 3.8,9; 4.7-11 com Rm 12.1, 16,17, e 3, 6; 1 Pe 2.18; 3.1-7; com Ef 6.5 e 5.22,23; 1 Pe 1.1, 6,7, 23 e 5.6, com Tg 1.1,2,3, 18, e 1 Pe 4.10), deste modo revelando uma característica do apóstolo Pedro. É notável pela profundidade e beleza combinada de seu ensino cristão. Depois da saudação (1.1,2) segue uma seção introdutória (1.3-12) em que Deus é louvado pelas bênçãos da salvação. O corpo da carta (1.13 até 5.11) consiste em (1) uma série de exortações para uma vida cristã diligente, correspondente ao ensino que seus leitores receberam (1.13 até cap. 2.10); (2) várias orientações particulares para as relações especiais de vida (2.11 até cap. 4.6); e (3) algumas instruções finais para as necessidades dos leitores (4.7), terminando com saudações e anúncios (5. 12-14).
Segunda Epístola Geral de Pedro. O autor desta epístola denomina-se
“Simão Pedro, apóstolo, servo de Jesus Cristo” (1.1),
e se apresenta como tendo estado presente na transfiguração do Cristo
(1.16), e como
tendo recebido dele uma predição sobre sua morte (1.14;
cp. Jo 21.19),
e também relembra sua amizade para com o apóstolo Paulo (3.15).
Uma falta de simplicidade no estilo e de facilidade de expressão contrasta
com a simplicidade de estilo exibido por Pedro na Primeira Epístola;
e esta diferença foi notada logo ao tempo de Jerônimo sendo um argumento
para a diversidade de autoria. Jerônimo pensou que tal diferença aparece
devido ao uso de intérpretes diferentes por Pedro. Talvez seja (cp.
Marcos), de qualquer modo, a distinção
reivindicada da autoria do apóstolo Pedro revela-se pelo caráter da
carta propriamente; porque não faltam sinais característicos,
modos ou pontos de semelhança para Pedro em suas falas registradas nos
Atos, e ela mostra as peculiaridades para o discurso de Pedro no emprego
de várias palavras incomuns que são comuns a ele na Primeira Epístola,
e no hábito, observável na primeira carta também, de dar em ambas o
aspecto negativo e positivo de um pensamento, por exemplo, (1 Pe 1.12,
14,15, 18,19;
2 Pe 1.16,
21; 2.4,5;
3.9, 17).
Rastros do uso desta epístola nos dias muito mais antigos da igreja
não são numerosos ou muito claros; mas Orígenes na abertura do terceiro
século fala dele, mostrando que até certo ponto foi usado na igreja
de seus dias; e embora houvessem dúvidas relativas a sua autoria, estas
foram superadas pela evidência histórica pesada.
A forma de endereçar é bastante geral: “aos que alcançaram igual fé conosco” (1.1); mas 3.1 mostra que os mesmos leitores, ou algum grupo entre eles, eram os a quem Pedro tinha enviado a primeira carta. O lugar onde foi escrita pode ser confiantemente averiguado; se a insinuação em 1.14 implica que Pedro estava à beira de seu martírio, nós podemos pensar que estivesse em Roma. Nesse caso a carta deve ser datada para o ano de 68; sendo que a natureza dos erros reprovados, e seu uso da Epístola de Judas (ou vice-versa) como também sua insinuação para a primeira epístola concordará com esta data.
Seu objetivo, como é declarado no cap. 3.1, 17,18, era provocar nas mentes de seus leitores a lembrança do que tinha sido ensinado a eles, para que pudessem evitar erros que ficaram então evidentes e pudessem crescer em graça e no conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo. Em outras palavras, era escrita para reprovar o Gnosticismo nascente rastejando nas igrejas, e construir cristãos em conhecimento e pureza verdadeira. O conteúdo da carta está em completo acordo com seu objeto. Depois da habitual saudação apostólica (1.1,2), passa insensivelmente a uma exortação séria ao crescimento na graça e no conhecimento (3-11), recordando assim os fundamentos em que este conhecimento, torna-se propriamente a base da devoção (12-21), finalizando com uma denúncia aos falsos doutores (2.1-22). Os leitores são então lembrados da natureza e segurança do ensino dado a eles sobre o segundo advento e o fim do mundo (3.1-13); a carta termina com uma exortação, chamando-os à certeza da eleição, e elogiando inclusive as cartas de Paulo, concluindo com uma doxologia (14-18). B. B. W. (suplemento). — (Dicionário da Bíblia de John D. Davis) ©
Vide mais sobre as epístolas de Pedro nos Estudos
Espíritas.