O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VI — Junho de 1863.

(Idioma francês)

Considerações sobre o Espírito batedor de Carcassonne.

(Sumário)


1. — Se se teimasse em acreditar na influência dos conhecimentos pessoais do médium na produção dos versos premiados pela Academia de Toulouse, não se poderia dizer o mesmo com as coisas impossíveis materialmente de conhecer. Entre mil, o fato seguinte é uma resposta peremptória a essa objeção. Nós a colhemos de uma segunda carta do Sr. Sabò.

Diz ele: “No dia 4 de maio, tendo partido a delegação de Bordeaux,  †  fiquei mais um dia em Toulouse  †  e, numa visita que fiz ao Sr. Jaubert, este me propôs uma experiência que aceitei com imenso prazer, porquanto jamais o tinha visto operar. Uma pesada mesa de quatro pés se achava em seu quarto; colocamo-nos um em frente ao outro e, após algumas evoluções da mesa, que obedecia ao seu comando, esta voltou à posição normal; então ele me pediu que evocasse mentalmente um Espírito. Eis as perguntas feitas por ele e as respostas dadas pelo Espírito.


P. – Poderíeis informar o vosso sexo?

Resposta. – Feminino. (Era verdade).


P. – Com que idade deixastes a Terra?

Resposta. – Aos 22 anos. (Também era verdade).


P. – Qual o vosso prenome?

Quando o Espírito indicou seis letras formando Félici, o Sr. Jaubert julgou adivinhar e disse: “Deve ser Félicie ou Felicité.” Sem responder à sua observação, pedi que continuasse. O Espírito indicou um a. Eu estava muito emocionado e o médium temeu uma mistificação. Tranquilizado a respeito, tendo dito que o nome era mesmo Felícia, ele continuou.


P. – Que grau de parentesco vos ligava ao Sr. Sabò?

Resposta. – Eu era sua esposa.


Desta vez o Sr. Jaubert se julgou bem mistificado, pois sabia que minha esposa ainda pertencia a este mundo. Não dissimulo e estava muito contente: eu acabava de apalpar, se assim posso dizer, a alma de minha cara Félícia . Então expliquei ao Sr. Jaubert, o que ele ignorava, que eu era viúvo e casado novamente com a irmã do Espírito que acabava de nos dar uma prova irrecusável da manifestação da alma. Ele estava tão feliz quanto eu com esse resultado, embora me tenha dito que obteve fatos desta natureza, ante os quais a incredulidade mais absoluta deverá render-se, quer queira, quer não. A quem me disser: “Isto é impossível”, responderei com o Sr. Jaubert: “Incrédulos! Procurai de boa-fé e encontrareis.


2. — Por nossa vez diremos a esses senhores que eles têm em boa reputação os incrédulos absolutos, crendo que se renderão à evidência. Há os que nasceram incrédulos e morrerão incrédulos, não que não possam crer, mas porque não querem crer. Ora, não há pior cego que aquele que não quer ver. Ultimamente dizia um sábio oficial a um dos nossos amigos que lhe falava desses fenômenos: “Jamais acreditarei que uma mesa possa mover-se e levantar-se, a não ser impulsionada pelos músculos do operador. — Mas se vísseis uma mesa manter-se no espaço sem contato e sem ponto de apoio, que diríeis? — Igualmente não acreditaria, porque sei que é impossível.”

Acreditais, então, que os Espíritos batedores de Carcassonne  †  e do mundo inteiro, sem exceção, jamais conseguirão vencer essas incredulidades absolutas e preconcebidas. O que há de melhor a fazer é deixá-los tranquilos. Quando em mil pessoas, novecentas e noventa acreditarem – o que não tardará muito – que farão os dez outros? Como hoje, dirão ainda que só eles têm bom-senso e que é preciso internar como loucos os noventa e nove por cento da população. Deixemos-lhes, pois, esta inocente satisfação e prossigamos nosso caminho sem nos inquietarmos com os retardatários.

A expressão “sei que é impossível” lembra a seguinte anedota: Um embaixador holandês, conversando com o rei de Sião  †  sobre particularidades da Holanda, dos quais o príncipe se informava, entre outras coisas lhe disse que, em seu país, a água de tal forma congelava na estação mais fria do ano, que os homens caminhavam sobre ela e que assim congelada, suportaria elefantes, se os houvesse. Ao que respondeu o rei: “Senhor embaixador, até aqui acreditei nas coisas extraordinárias que me contastes, porque vos tomava por um homem honrado e probo; mas agora estou certo de que mentis.” Não é o equivalente do “sei que é impossível”?

Dirão certos negadores que o fato relatado acima nada prova, porque se o médium ignorava a coisa, o Sr. Sabò a conhecia perfeitamente. É, pois, o seu pensamento que se reproduzia. Assim, seria o pensamento do que não era médium que se refletia na mesa, tê-la-ia agitado de modo inteligente para fazê-la bater as pancadas indicadoras das letras que expressavam o seu pensamento e isto sem a sua vontade, sem a participação de suas mãos? Singular propriedade do pensamento! Só este fenômeno, admitida a vossa teoria, não seria prodigioso e digno da mais séria atenção? Por que, então, desdenhá-lo? Absorvei-vos na composição de um grão de poeira, calculais cuidadosamente as proporções de seus elementos e só tendes desdém para uma manifestação tão estranha do pensamento! Se um novo raio do espectro solar se separar, logo estudais as suas propriedades, sua ação química, calculais seu ângulo de reflexão, seu poder refrativo; porém, se um raio do pensamento se isola, agita a matéria, reflete-se como a luz, isto não desperta a vossa atenção! Dizeis: “De que adianta nos ocuparmos com isto? É apenas o pensamento!”

Mas como explicareis, com essa teoria, os fatos tão numerosos das revelações, quer pela tiptologia, quer pela escrita, de coisas completamente ignoradas por todos os assistentes, e cuja exatidão foi constatada, entre outros o de Simon Louvet, relatado na Revista de março de 1863? Do pensamento de quem tal comunicação poderia ser reflexo, levando-se em conta que foi necessário recorrer a um jornal de seis anos antes para o verificar? Será mais simples admitir tivesse sido o pensamento do jornalista que o do Espírito Simon Louvet? Então tendes muito medo de serdes forçado a confessar que a alma sobrevive ao corpo! E a ideia de ser aniquilado depois da morte vos sorri muito mais que a de reviver em condições mais felizes e de encontrar no mundo dos Espíritos as afeições que tereis deixado na Terra! Se vos comprazeis na doce quietude de acabar para sempre no fundo da cova e de adormecer no seio da podridão do vosso corpo, que mal vos fazem os que pensam o contrário e por que os perseguir como inimigos do gênero humano? Na razão de vossa crença buscai fazer-lhes o mal; na razão da sua eles não vo-lo fazem, mesmo que sem isso talvez se sentissem vingados de vossas injúrias. Eis a condenação das consequências sociais de vossas doutrinas.


3. — Não nos recusamos a crer, dizem alguns dentre vós, mas nada podemos ver; impedem-nos até o acesso às reuniões onde poderíamos convencer-nos, só admitindo a entrada de pessoas convictas. A entrada às reuniões vos é recusada por uma razão bem simples: é que não quereis fazer o necessário para vos esclarecerdes, nem seguir o caminho que vos é indicado; é' que vindes às reuniões não para estudar fria e seriamente, mas com um sentimento hostil, com o pensamento de fazer prevalecer vossas ideias preconceituosas e que na maior parte do tempo aí trazeis a perturbação; que sem o respeito ao caráter privado, conquanto não secreto, das reuniões, procurais aí penetrar pela astúcia, para satisfazer a uma curiosidade inútil e buscar temas aos vossos sarcasmos e muitas vezes logo desnaturar o que tiverdes visto. Tais os motivos de vossa exclusão, que nunca seria por demais rigorosa, já que seríeis nocivos a uns e sem utilidade para vós. Os que quiserem instruir-se honestamente devem prová-lo por uma boa vontade paciente e perseverante, e os meios não lhes faltarão. Mas não se poderia ver essa boa vontade no desejo de submeter a coisa às suas exigências, em vez de se submeterem eles próprios às exigências da coisa. Dito isto, deixemos os negadores em paz, esperando chegue a hora em que possam ver a luz.


4. — A primeira resposta dada pelo Espírito Felícia poderia, para certas pessoas, parecer uma contradição. Diz ela que é do sexo feminino e sabe-se que os Espíritos não têm sexo. É verdade que não têm sexo, mas sabe-se que para se fazerem reconhecer se apresentam sob a forma que os conhecemos em vida. Para seu antigo marido, Félícia é sempre uma mulher. Não podia, pois, se lhe apresentar sob outro aspecto, que lhe teria perturbado a lembrança. Há mais: quando este entrar no mundo dos Espíritos, encontrá-la-á como era na Terra, sem o que não a reconhecerá. Mas pouco a pouco se apagam os caracteres puramente físicos, para não deixar que subsistam senão os caracteres essencialmente morais. É assim que uma mãe encontra o filho em tenra idade, embora, na verdade, já não seja uma criança. Acrescentemos ainda que os caracteres materiais são tanto mais persistentes quanto menos desmaterializados os Espíritos, isto é, menos elevados na hierarquia dos seres. Depurando-se, os traços da materialidade desaparecem à medida que o pensamento se desprende da matéria. Eis por que os Espíritos inferiores, ainda presos à Terra, são, no mundo invisível, mais ou menos o que eram em vida, com os mesmos gostos e as mesmas inclinações.


5. — Sobre este capítulo faremos uma última observação; é quanto à qualificação de batedor, dada erroneamente, em nossa opinião, ao Espírito que se comunica com o Sr. Jaubert. Tal qualificação não convém, como dissemos alhures [v. O médium e o Dr. Imbroglio], senão aos Espíritos que podemos dizer batedores de profissão e que pertenciam sempre, pela pouca elevação de suas ideias e de seus conhecimentos, às categorias inferiores. Não se daria assim com este, que prova, ao mesmo tempo, a superioridade de suas qualidades morais e intelectuais. Para ele a tiptologia não é um divertimento; é um meio de transmissão do pensamento, do qual se serve por não ter encontrado em seu médium a faculdade necessária ao emprego de outro. Seu objetivo é sério, ao passo que o dos Espíritos batedores propriamente ditos é quase sempre fútil, quando não maléfico. Podendo a qualificação de Espírito batedor ser tomada em mau sentido, preferimos qualificá-los como Espírito tiptor, termo que se refere à linguagem da tiptologia.


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