O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano V — Fevereiro de 1862.

(Idioma francês)

O Espiritismo é provado por milagres?

(Sumário)


1. – Um eclesiástico nos enviou a seguinte pergunta:

“Todos os que receberam de Deus a missão de ensinar a verdade aos homens provaram-na por meio de milagres. Por quais milagres provais a verdade de vosso ensinamento?”


Não é a primeira vez que dirigem essa pergunta, seja a nós, seja a outros espíritas. Parece que lhe emprestam grande importância e que de sua solução depende a sentença que deve condenar ou absolver o Espiritismo. Nesse caso forçoso é convir que é crítica nossa posição, pois nos assemelhamos a um pobre diabo que não dispõe de um centavo na algibeira e a quem é exigida a bolsa ou a vida. Assim, confessamos humildemente que não temos milagre, por menor que seja, a oferecer. Dizemos mais: o Espiritismo não se apoia em nenhum fato miraculoso; seus adeptos não fizeram, nem têm a pretensão de fazer, qualquer milagre; não se julgam suficientemente dignos para que, à sua voz, Deus mude a ordem eterna das coisas. O Espiritismo constata um fato material, o da manifestação das almas ou Espíritos. Tal fato é real? Sim ou não? Eis a questão. Ora, admitindo esse fato como verdadeiro nada há de miraculoso. Como as manifestações desse gênero, isto é, as visões, aparições e outras, ocorreram em todos os tempos – assim o atestam os historiadores sacros e profanos – aquelas de outrora passaram por sobrenaturais. Hoje, porém, que lhe conhecemos a causa e sabemos que são produzidas em virtude de certas leis, sabemos também que lhes falta o caráter essencial dos fatos miraculosos: o da exceção à lei comum.

Essas manifestações, atualmente observadas com mais cuidado do que na Antiguidade, sobretudo quando examinadas sem prevenções e com o auxílio de investigações tão minuciosas quanto as que são feitas nos estudos científicos, têm como consequência provar, de maneira irrecusável, a existência de um princípio inteligente fora da matéria, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade depois da morte, sua imortalidade e seu futuro feliz ou desgraçado; por conseguinte, provar a base de todas as religiões.

Se a verdade só fosse provada por milagres, poderíamos perguntar por que os sacerdotes do Egito, que estavam em erro, reproduziam diante do Faraó os prodígios de Moisés? Por que Apolônio de Tiana, que era pagão, curava pelo toque, restituía a vista aos cegos, a palavra aos mudos, predizia os acontecimentos futuros e via o que se passava a distância? O próprio Cristo não disse: “Haverá falsos profetas que farão prodígios?”. n Um dos nossos amigos, depois de uma prece fervorosa a seu Espírito protetor, foi curado quase instantaneamente de uma moléstia muito grave e muito antiga, que havia resistido a todos os remédios. Para ele o fato foi realmente miraculoso, mas, como crê nos Espíritos, um padre a quem narrou o fato lhe disse que o diabo também pode fazer milagres. “Neste caso – objetou o amigo – se foi o diabo quem me curou, é a ele que devo agradecer.”

Assim, os prodígios e os milagres não são privilégio exclusivo da verdade, desde que o próprio diabo pode fazê-los. Como, então, distinguir os bons dos maus? Todas as religiões idólatras, sem excetuar a de Maomé, apoiam-se em fatos sobrenaturais. Isto prova que os fundadores dessas religiões conheciam segredos naturais, ignorados pelo vulgo. Aos olhos dos selvagens da América, Cristóvão Colombo não passava por um ser sobre-humano por haver predito um eclipse? Não poderia ter-se feito passar por um enviado de Deus? Para provar o seu poder, necessitaria Deus desfazer o que havia feito? Fazer mover para a direita o que deve girar para a esquerda? Provando o movimento da Terra pelas leis da Natureza, Galileu não estava mais certo do que os que pretendiam que, por uma derrogação dessas mesmas leis, ele precisara deter o Sol? ( † ) Já sabemos o quanto lhe custou, a ele e a tantos outros, por haver demonstrado um erro. Dizemos que Deus é maior pela imutabilidade de suas leis que pela sua abrogação; e se lhe aprouve fazê-lo em determinadas circunstâncias, não é isto o único sinal da verdade. Pedimos ao leitor que se reporte ao que dissemos a respeito em nosso artigo do mês de janeiro, quando tratamos do sobrenatural.


2. – Voltemos às provas da verdade do Espiritismo.

Há duas coisas no Espiritismo: o fato da existência dos Espíritos e de suas manifestações, e a doutrina daí resultante. O primeiro ponto não pode ser posto em dúvida senão pelos que não viram ou não quiseram ver. Quanto ao segundo, a questão é de saber se essa doutrina é justa ou falsa. É uma questão de apreciação.

Se os Espíritos só manifestassem a sua presença por meio de ruídos, movimentos, ou seja, por movimentos físicos, isto não provaria grande coisa, pois não saberíamos se são bons ou maus. O que, sobretudo, é característico nesse fenômeno, o que é capaz de convencer os incrédulos, é poder reconhecer parentes e amigos entre os Espíritos. Mas como podem os Espíritos atestar a sua presença, a sua individualidade e permitir o julgamento de suas qualidades, senão falando? Sabe-se que a escrita pelos médiuns é um dos meios que eles empregam. Desde que têm um meio de exprimir suas ideias, podem dizer tudo o que querem; conforme o seu adiantamento, dirão coisas mais ou menos boas, justas e profundas. Deixando a Terra, não abdicaram do livre-arbítrio; como todos os seres pensantes têm suas opiniões; como entre os homens, os mais adiantados dão ensinamentos de alta moralidade, conselhos marcados pela mais profunda sabedoria. São esses ensinamentos e conselhos que, recolhidos e ordenados, constituem a Doutrina Espírita, ou dos Espíritos. Se quiserdes, considerai essa doutrina não como uma revelação divina, mas como a expressão de uma opinião pessoal de tal ou qual Espírito; a questão é saber se é boa ou má, justa ou falsa, racional ou ilógica. A quem recorrer para isto? Ao julgamento de um indivíduo? mesmo de alguns indivíduos?

Não; porque, dominados pelos preconceitos, pelos juízos antecipados ou pelos interesses pessoais, eles podem enganar-se. O único, o verdadeiro juiz é o público, porque aí não há interesse de camarilha, e porque nas massas há um bom-senso inato que não se engana. Diz a lógica sadia que a adoção de uma ideia, ou de um princípio, pela opinião geral é uma prova de que repousa sobre um fundo de verdade.

Os espíritas nunca dizem: “Eis uma Doutrina saída da boca do próprio Deus, revelada a um só homem por meios prodigiosos e que deve ser imposta ao gênero humano.” Ao contrário, dizem: “Eis uma doutrina que não é nossa e cujo mérito não reivindicamos. Adotamo-la porque a achamos racional. Atribuí-lhe a origem que quiserdes: de Deus, dos Espíritos, ou dos homens; examinai-a; se ela vos convier, adotai-a; caso contrário, ponde-a de lado.” Impossível ser menos absoluto. O Espiritismo, pois, não vem usurpar a religião; ele não se impõe; não vem forçar as consciências, quer dos católicos, quer dos protestantes ou dos judeus. Apresenta-se e diz: “Aceitai-me, se me achais bom.” É culpa dos espíritas se o acham bom? se nele encontram a solução do que em vão procuravam alhures? se dele extraímos consolações que nos tornam felizes, que dissipam os terrores do futuro, acalmam as angústias da dúvida e dão coragem para o presente? Ele não se dirige àqueles a quem bastam as crenças católicas, ou outras, mas àqueles aos quais elas não satisfazem completamente, ou que delas desertaram. Em vez de não crer mais em nada, ele os leva a crer em alguma coisa, e a crer com fervor. O Espiritismo não quer ser posto de lado: reconduz, pelos meios que lhe são próprios, os que se afastam. Se os repelirdes, eles serão forçados a ficar de fora. No íntimo da vossa alma e da vossa consciência, dizei se para eles seria preferível serem ateus.


3. – Perguntam em que milagre nos apoiamos para julgarmos boa a Doutrina Espírita. Julgamo-la boa, não só porque é nossa opinião, mas também a de milhões de outros, que pensam como nós; porque leva a crença àqueles que não acreditavam; porque torna boas as pessoas que eram más; porque dá coragem nas misérias da vida. O milagre? é a rapidez de sua propagação, inaudita nos fastos das doutrinas filosóficas; é ter feito em poucos anos a volta ao mundo e se haver implantado em todos os países e em todas as classes da sociedade; é ter progredido, a despeito de tudo quanto foi feito para detê-la; é ter derrubado as barreiras que lhe opõem e encontrar um acréscimo de força nessas mesmas barreiras. É isto o caráter de uma utopia? Uma ideia falsa pode encontrar alguns partidários, mas não terá senão uma existência efêmera e circunscrita; perde terreno em vez de o conquistar, ao passo que o Espiritismo ganha, em vez de perder. Quando o vemos germinar em toda parte, acolhido como um benefício da Providência, é porque lá está o dedo da Providência. Eis o verdadeiro milagre, e o julgamos suficiente para garantir o seu futuro. Direis que aos vossos olhos ele não tem um caráter providencial, mas um caráter diabólico. Sois livres de ter essa opinião; o essencial é que ele marche. Apenas diremos que se uma coisa se estabelecesse universalmente pelo poder do demônio, e malgrado os esforços dos que dizem agir em nome de Deus, isto poderia levar certas pessoas a crer que o demônio é mais poderoso que a Providência.


4. – Pedis milagres! Eis um que nos envia um dos nossos correspondentes da Argélia:  † 

“O Sr. P.., antigo oficial, era um dos mais rudes incrédulos; tinha o fanatismo da falta de religião e, antes de Proudhon, já dizia: Deus é o mal; em outras palavras, não admitia nenhum Deus e só reconhecia o nada. Quando o vi em busca do vosso O Livro dos Espíritos, imaginei que ele fosse coroar a sua leitura com alguma elucubração satírica, como era costume seu fazer contra os padres e, até, contra o Cristo. Não me parecia possível que um ateísmo tão inveterado pudesse ser curado algum dia e, no entanto, O Livro dos Espíritos fez esse milagre. Se conhecêsseis aquele homem como eu conheço, ficaríeis orgulhoso de vossa obra e encararíeis o fato como o vosso maior sucesso.

Aqui todos se admiram. Entretanto, quando se é iniciado na palavra da verdade, não há de que se surpreender; naturalmente após a reflexão.”

Não faz mal acrescentar que o nosso correspondente é um jornalista que, ele também, professava opiniões muito pouco espiritualistas e, menos ainda, espíritas. Teriam ido pegá-lo à força para lhe impor a crença em Deus e na alma? Não; não é provável que ele se prestasse a isso. Fascinaram-no à vista de alguns fenômenos prodigiosos? Também não, porquanto ele nada viu como manifestações; apenas leu, compreendeu, encontrou raciocínios lógicos e acreditou. Direis que esta e tantas outras obras sejam obra do diabo? Se assim é, o diabo tem uma estranha política de dar armas contra si mesmo e é muito inábil deixando escapar os que ele mantinha em suas garras. Por que não fizestes esse milagre? Sereis, então, menos fortes que o diabo para fazer crer em Deus? Outra questão, por favor. Enquanto era ateu e blasfemador, aquele senhor estava danado para a eternidade? – Sem nenhuma dúvida. – Agora que, em vossa opinião, ele foi convertido a Deus por intermédio do demônio, ainda é danado? Suponhamos que, crendo em Deus, em sua alma e na vida futura feliz ou infeliz ele se torne, em virtude dessa crença, melhor do que era e não adote inteiramente ao pé da letra a interpretação de todos os dogmas; que, até mesmo, repila alguns deles: ainda é danado? Se disserdes: “sim”, a crença em Deus para nada lhe serve; se disserdes “não”, em que se torna a máxima “Fora da Igreja não há salvação?” Diz o Espiritismo: “Fora da caridade não há salvação”. ( † ) Credes que aquele senhor vacilará entre as duas? Uma o queima, a outra o salva; a escolha não parece duvidosa.


5. – Tais ideias, como toda ideia nova, contrariam certas pessoas, certos hábitos e, mesmo, certos interesses, como as estradas de ferro contrariaram os alugadores de cavalos de posta e os que tinham medo; como uma revolução contraria certas opiniões; como a imprensa contrariou os copistas; como o Cristianismo contrariou os sacerdotes pagãos. Mas, que fazer quando uma coisa se estabelece, queiramos ou não, por sua própria força e é aceita pela generalidade? Forçoso é tomar seu partido e, como Maomé, dizer que o que é deve ser. Que faríeis se o Espiritismo se tornasse uma crença universal? Repeliríeis todos os que o admitem? Direis que isto não acontecerá, que tal fato é impossível. Mas… o que faríeis se isto acontecesse?

Pode-se deter esse impulso? Para isso seria preciso deter não um homem, mas os Espíritos, e impedi-los de falar; queimar não um livro, mas as ideias; impedir que os médiuns escrevam e se multipliquem.

Um dos nossos correspondentes nos escreveu, de uma cidade do Departamento do Tarn:  †  “Nosso cura faz a propaganda por nós; do púlpito lança impropérios contra o Espiritismo que, diz ele, não passa de obra do demônio. Quase que me apontou como o sumo-sacerdote da doutrina em nossa cidade, o que agradeço do fundo do coração, pois assim ele me fornece ocasião para falar do assunto com aqueles que ainda não o conhecem e que me abordam para saber o que é. Hoje os médiuns abundam entre nós.” O resultado é idêntico em toda parte onde quiseram gritar contra. Atualmente a ideia espírita está lançada; é acolhida porque agrada; vai do palácio à choupana e se pode julgar do efeito das tentativas futuras pelas que têm sido feitas para o sufocar.

Em resumo, para se estabelecer, o Espiritismo não reivindica a ação de nenhum milagre; não quer mudar em nada a ordem das coisas; procurou e encontrou a causa de certos fenômenos, indevidamente reputados de sobrenaturais; em vez de apoiar-se no sobrenatural, o repudia por conta própria; dirige-se ao coração e à razão. A lógica lhe abriu o caminho; a lógica o conduzirá a porto seguro.

Isto é uma antecipação da resposta que devemos à brochura do cura Marouzeau. [v. Primeira carta ao Padre Marouzeau.]

Deixemos agora que falem os Espíritos.


6. – Apresentada a questão acima, eis algumas das respostas obtidas, por meio de diferentes médiuns:


“Venho falar-vos da realidade da Doutrina Espírita e contrapô-la aos milagres, cuja ausência parece servir de arma aos seus detratores. Necessários nos primeiros tempos da Humanidade, com vistas a chocar os Espíritos que importava submeter, quase todos os milagres são hoje explicados pelas descobertas das ciências físicas e de outras ciências, tornando-se inúteis agora e até perigosos, pois suas manifestações só despertarão a incredulidade ou a zombaria. Enfim chegou o reino da inteligência, não ainda na sua expressão triunfante, mas nas suas tendências. Que quereis? Ver novamente as varinhas transformadas em serpentes, os enfermos se erguerem e os pães se multiplicarem? Não; não vereis isto. Mas vereis os incrédulos se enternecerem e dobrarem os joelhos enrijecidos diante do altar. Este milagre vale bem o da água a brotar do rochedo. Vereis o homem desolado, vergando ao peso da desgraça, deixar de lado a pistola carregada, exclamar: “Meu Deus, sede bendito, porque a vossa vontade eleva minhas provas ao nível do amor que vos devo.” Enfim, por toda parte, vós que bateis os fatos com os textos e o espírito com a letra, vereis a luminosa verdade estabelecer-se sobre as ruínas dos vossos mistérios apodrecidos.”


Lázaro.

(Médium: Sra. Cortel.)


7. – “Numa de minhas últimas meditações, se não me engano lida aqui, demonstrei que a Humanidade está progredindo atualmente. Até o Cristo ela tinha um corpo; era por certo esplêndida; tinha tido esforços heroicos e virtudes sublimes; Mas, onde estava a sua ternura, a sua mansuetude? Haveria a respeito muitos exemplos na Antiguidade. Abri um poema antigo: onde a mansidão? Onde a ternura? Encontrareis a sua expansão no poema, já quase inteiramente cristão, da Dido de Vergílio, espécie de heroína melancólica que Tasso ou Ariosto  †  teriam tornado interessante nos seus cantos cheios de alegria cristã.

“Cristo veio, pois, falar ao coração da Humanidade. Mas, como sabeis, o próprio Cristo disse que tinha vindo em carne no meio do paganismo e prometeu vir no meio do Cristianismo. Há no indivíduo a educação do coração, como há a da inteligência. O mesmo se dá com a Humanidade. Assim, o Cristo é o grande educador. Sua ressurreição é o símbolo de sua fusão espiritual em todos; e esta fusão, esta expansão dele mesmo, apenas começais a sentir. O Cristo não vem mais fazer milagres; vem falar ao coração diretamente, em vez de falar aos sentidos. Passava adiante dos que pediam um milagre no céu e alguns passos à frente improvisava o seu magnífico sermão da montanha. Aos que ainda pedem milagres, o Cristo responde por todos os Espíritos sábios e esclarecidos: Credes mais nos vossos olhos, nos vossos ouvidos, nas vossas mãos que no vosso coração? Minhas chagas atualmente estão fechadas; o Cordeiro foi sacrificado; a carne arruinada; o materialismo viu; agora é a vez do Espírito. Deixo os falsos profetas; não me apresento ante os poderosos da Terra, como Simão, o mágico, (At. 8, 9-24) mas vou aos que realmente têm sede, fome e sofrem no coração, e não aos que são espiritualistas apenas como verdadeiros e puros materialistas.”


Lamennais. n

(Médium: Sr. A. Didier.)


8. – “Perguntam-nos quais os milagres que fazemos. Parece-me que de alguns anos a esta parte as provas são bem evidentes. O progresso do espírito humano mudou a face do mundo civilizado; tudo progrediu, e os que quiseram ficar na retaguarda desse movimento são como os párias das sociedades novas.

“Tal como hoje se acha preparada para os acontecimentos, que falta à sociedade, senão tudo quanto choca a razão e a esclarece? É possível que em certas épocas tenha Deus querido comunicar-se por inteligências superiores, como Moisés e outros. Desses grandes homens datam as grandes épocas, mas o espírito dos povos progrediu depois. As grandes figuras dos predestinados enviados por Deus lembravam uma lenda miraculosa; depois um fato, muitas vezes simples em si mesmo, torna-se maravilhoso ante a multidão impressionável e preparada para emoções que só a Natureza sabe oferecer a seus filhos ignorantes.

“Mas hoje necessitais de milagres? – Tudo se transformou à vossa volta; a Ciência, a filosofia, a indústria desenvolveram tudo quanto vos cerca, e pensais que nós, os Espíritos, não tenhamos participado de nenhum modo dessas modificações profundas? – Estudando, comentando, aprendeis e meditais melhor; os milagres não são mais do vosso tempo e deveis elevar-vos acima dos preconceitos que vos ficaram na memória, como tradições. Nós vos daremos a verdade e sempre o nosso concurso. Nos vós esclareceremos, a fim de vos tornardes melhores e fortes; crede e amai e o milagre procurado haverá de produzir-se em vós. Conhecendo e compreendendo melhor o objetivo desta vida, sereis transformados sem fenomenologia física.

“Procurais apalpar, tocar a verdade, e ela vos cerca e vos penetra. Sede, pois, confiantes em vossas próprias forças e o Deus de bondade que vos dava o espírito tornará tremenda a vossa força. Por ele afastareis as nuvens que obscurecem a vossa inteligência e compreendereis que o Espírito é todo imortalidade, todo poder. Postos em relação com esta lei de Deus chamada progresso, não mais procurareis, no prestígio dos grandes nomes, que são como mitos da Antiguidade, uma resposta e um escolho contra o Espiritismo, que é a revelação verdadeira, a fé, a ciência nova que consola e fortifica.”

Baluze. n

(Médium: Sr. Leymarie.)


9. – “Para provar a verdade da Doutrina Espírita, pedem milagres. E quem reclama esta prova da verdade? Aquele que deveria ser o primeiro a crer e a ensinar…

“O maior dos milagres vai operar-se em breve. Padres do catolicismo, escutai; quereis milagres e ei-los que se operam… A cruz do Cristo desabava sob os golpes do materialismo, da indiferença e do egoísmo; ei-la que se levanta, bela e resplandecente, sustentada pelo Espiritismo! Dizei-me se não é o maior dos milagres uma cruz que se reergue, tendo em cada braço a Esperança e a Caridade? – Em verdade, padres da Igreja, crede e vede: os milagres vos rodeiam!… Como chamais essa volta comum à crença casta e pura do Evangelho, já que todas as filosofias haverão de ligar-se ao Espiritismo? o Espiritismo será a glória e o facho que iluminará o Universo inteiro. Oh! então o milagre será manifesto e retumbante, pois na Terra não haverá senão uma só e mesma família. Quereis milagres! Vede essa pobre mulher sofredora e sem pão. Como tirita na sua mansarda; o hálito com que pretende aquecer dois filhinhos que morrem de fome é mais frio e mais glacial que o vento a se precipitar em seu tugúrio miserável. Por que, então, tanta calma e serenidade no semblante, diante de tanta miséria? Ah! é que ela viu brilhar uma estrela ardente acima de sua cabeça; a luz celeste espalha-se no seu refúgio; não chora mais: espera! Não amaldiçoa mais: apenas pede a Deus que lhe dê coragem para suportar a prova!… E eis que as portas da mansarda se abrem e a Caridade vem aí depositar aquilo que a sua mão benfeitora pode espalhar!…

“Que doutrina dará mais sentimento e entusiasmo ao coração? O Cristianismo plantou o estandarte da igualdade na Terra e o Espiritismo empunha o da fraternidade!… Eis o mais celeste e o mais divino dos milagres que se pode produzir!… Padres, cujas mãos por vezes são manchadas pelo sacrilégio, não peçais milagres físicos, pois as vossas frontes poderão esfacelar-se contra a pedra que pisais para subir ao altar!…

“Não, o Espiritismo não se prende a fenômenos físicos, nem se apoia em milagres que falam aos olhos, mas dá .fé ao coração. Dizei-me: não consistirá nisto o seu maior milagre?…”


Santo Agostinho. n

(Médium: Sr. Véry.)       


Nota. – Evidentemente isto não se aplica senão aos padres que conspurcaram o santuário, como Verger e outros.



[1] N. do T.: Mateus, 24:24; Marcos, 13:22.


[2] [v. Lamennais.]


[3] [v. Baluze.]


[4] [v. Santo Agostinho.]


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