O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano III — Maio de 1860.

(Idioma francês)

Boletim

DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS.

Sexta-feira, 30 de março de 1860. – (Sessão particular.)

Assuntos administrativos: O Sr. Ledoyen, tesoureiro, apresenta o balanço da situação financeira da Sociedade no segundo semestre do ano social, encerrado a 30 de março de 1860. O balanço é aprovado.


Comunicações diversas: 1º O Sr. Chuard, de Lyon,  †  homenageia a Sociedade com duas brochuras, contendo uma a Ode sacra sobre a imortalidade da alma, e a outra, uma Sátira sobre as sociedades em comandita. A Sociedade agradece ao autor e, embora uma dessas duas brochuras seja estranha aos objetivos de seus trabalhos, ambas integrarão o acervo de sua Biblioteca.

2º Leitura de três cartas do Sr. Morhéry sobre as curas operadas pela Srta. Godu, médium curador, que foi morar na casa dele e colocou-se sob o seu patrocínio. Como homem de ciência, o Sr. Morhéry observa os efeitos do tratamento praticado por essa senhorita nos diversos doentes que ela cuida. Ele procede a anotações exatas, como o faria numa sala de clinica, e até chegou a constatar, em curto espaço de tempo, resultados deveras prodigiosos.

Acrescenta o Sr. Presidente que a Sociedade tem um duplo motivo para interessar-se pela Srta. Godu; além da simpatia que naturalmente excitam os exemplos de caridade e desinteresse, tão raros em nossos dias, do ponto de vista espírita essa jovem lhe oferece preciosa matéria de estudo, por desfrutar de uma faculdade de certo modo excepcional. Quem não se interessaria por um médium de efeitos físicos, capaz de produzir fenômenos extraordinários? Quem poderia ver com indiferença aquele cujas faculdades são proveitosas à Humanidade, revelando-nos, além disso, uma nova força da Natureza?

3º Carta do Sr. Conde de R…, membro titular, que partiu para o Brasil, e que agora se acha retido no porto de Cherbourg,  †  em razão do mau tempo. Ele pede à Sociedade que o evoque na presente sessão, se possível.

O Sr. T… observa que essa mesma pessoa já foi evocada duas vezes, parecendo-lhe supérflua uma terceira evocação.

O Sr. Allan Kardec responde que, sendo o estudo o objetivo da Sociedade, a mesma pessoa pode oferecer observações úteis numa terceira vez, tão bem quanto o fez na segunda ou na primeira. A experiência, aliás, prova que o Espírito é tanto mais lúcido e explícito quanto mais frequentemente se comunica e, de certo modo, se identifica com o médium que lhe serve de instrumento. Não se trata aqui da satisfação a um capricho ou da vã curiosidade. Em suas evocações, a Sociedade não procura consentimento nem divertimento: ela quer instruir-se. Ora, encontrando-se o Sr. de R… numa situação completamente diferente daquela em que foi evocado, pode ensejar novas observações.

Consultado sobre a oportunidade de tal evocação, São Luís responde que ela não poderia ocorrer naquele momento.


Estudos: 1º São obtidos dois ditados espontâneos, um de São Luís, pela Srta. Huet, e outro de Charlet, pelo Sr. Didier Filho.

2º Perguntas diversas dirigidas a São Luís sobre o Espírito que se comunicou espontaneamente na última sessão sob o nome de Being, através da Srta. Boyer e que revelou a intenção de semear a perturbação e a discórdia e de ter interferido em diversas comunicações. Das respostas obtidas resulta um ensinamento interessante sobre o modo de ação dos Espíritos uns sobre os outros.

3º O Sr. R… propõe a evocação de um de seus amigos, desaparecido desde 1848 e do qual não se teve mais notícias.

Considerando-se o avanço das horas, tal evocação foi adiada para a próxima sessão.

A Sociedade decide que não se reunirá sexta-feira santa, 6 de abril. A partir de 20 de abril as sessões ocorrerão na nova sede da Sociedade, à rua Sainte-Anne, nº 59, passagem Sainte-Anne.  † 


SEXTA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 1860.

(Sessão Particular.)

Assuntos administrativos: Nomeação de quatro novos membros, como associados livres.

A Sociedade confirma o título de membro honorário a cinco membros precedentemente escolhidos.


Comunicações diversas:  A Sra. Desl…, membro da Sociedade, tendo feito uma viagem a Dieppe,  †  dirigiu-se até Grandes-Ventes,  †  onde ouviu, do próprio padeiro Goubert, a confirmação de todos os fatos relatados no número do mês de março, e com detalhes ainda mais minuciosos. Pelo exame dos lugares pôde constatar, sobretudo para certos fatos, que a fraude era impossível. Parece resultar das informações obtidas que esses fenômenos tiveram como causa a presença de um rapaz, que desde algum tempo estava a serviço do padeiro, responsável, igualmente, por fatos semelhantes ocorridos em outras casas. Sendo os fenômenos independentes de sua vontade, pode-se classificá-lo na categoria dos médiuns naturais ou involuntários, de efeitos físicos. Desde que deixou a casa do Sr. Goubert, nada se repetiu.


Estudos: 1º Ditados espontâneos, obtidos por três médiuns.

2º Evocação do Dr. Vogel, viajante no interior da África, onde morreu assassinado. A evocação não deu os resultados esperados. O Espírito declara estar sofrendo e reclama preces para ajudá-lo a sair da perturbação em que ainda se encontra. Diz que mais tarde poderá ser mais explícito.

Propõe o Sr. Allan Kardec, como assunto de estudo, o exame aprofundado e detalhado de certos ditados espontâneos, ou outros, que poderiam ser analisados e comentados como se faz com as críticas literárias. Tal gênero de estudo teria a dupla vantagem de exercitar a apreciação do valor das comunicações espíritas e, em segundo lugar, como consequência dessa apreciação, desencorajar os Espíritos enganadores que, vendo suas palavras censuradas, controladas pela razão e, finalmente, repelidas, desde que tivessem um cunho suspeito, acabariam por compreender que perdem tempo. Quanto aos Espíritos sérios, poderiam ser chamados para darem explicações e desenvolvimentos sobre os pontos de suas comunicações que necessitassem de elucidação.

A Sociedade aprova a referida proposta.


SEXTA-FEIRA, 20 DE ABRIL DE 1860.

(Sessão Particular.)

Correspondência: 1º Carta do Sr. J…, de Saint-Étienne,  †  membro titular, contendo apreciações muito judiciosas sobre o Espiritismo. Prova esta carta que o autor o compreende sob seu verdadeiro ponto de vista.

2º Carta do Sr. L…, operário de Troyes,  †  contendo reflexões quanto à influência moralizadora da Doutrina Espírita sobre as classes trabalhadoras. Convida os adeptos sérios a se ocuparem da propaganda em suas fileiras, no interesse da ordem, nelas visando reanimar os sentimentos religiosos, que se extinguem, dando lugar ao cepticismo, que é a chaga de nosso século e a negação de toda a responsabilidade moral.

Esses dois senhores já declararam em outras cartas jamais terem visto algo em matéria de Espiritismo prático, mas nem por isso estarem menos convencidos, em razão do alcance filosófico da ciência. O Presidente chama a atenção a esse respeito lembrando que diariamente tem exemplos semelhantes, não da parte de pessoas que acreditam cegamente, mas, ao contrário, daquelas que refletem e se dão ao trabalho de compreender. Para estas a parte filosófica é o principal, porque explica o que nenhuma outra filosofia resolveu; o fato das manifestações é acessório.

3º Carta do Sr. Dumas, de Sétif,  †  Argélia, membro da Sociedade, transmitindo novos detalhes interessantes sobre fatos cujos resultados testemunhou. Cita principalmente um jovem médium, que apresenta um fenômeno singular, qual seja, o de entrar espontaneamente, e sem ser magnetizado, numa espécie de sonambulismo, toda vez que se deseja fazer uma evocação por seu intermédio, e nesse estado escrever ou ditar verbalmente as respostas às questões propostas.


Comunicações diversas: 1º A Sra. R…, do Jura,  †  membro correspondente da Sociedade, transmite um fato curioso que lhe é pessoal. Trata-se de um velho relógio, ao qual se ligam recordações da família, e que parece estar submetido a uma influência singular e inteligente em determinadas circunstâncias.

2º Leitura de uma comunicação obtida numa outra reunião espírita e assinada por Joana d’Arc. Contém excelentes conselhos aos médiuns sobre as causas que podem aniquilar ou perverter suas faculdades mediúnicas. (Publicada adiante).

3º O Sr. Col… inicia a leitura de uma evocação de São Lucas, evangelista, por ele dada em particular.

Percebendo que nessa evocação são abordadas diversas questões de dogmas religiosos, o Presidente interrompe a leitura em virtude do regulamento, que proíbe sejam tais assuntos tratados na Sociedade.

O Sr. Col… observa que, não tendo a comunicação nada que não seja ortodoxo, não tinha pensado que pudesse haver inconveniência em proceder à sua leitura.

Objeta o Presidente que as respostas sempre supõem perguntas. Ora, sejam as respostas ortodoxas ou não, não deixam de dar lugar à suposição de que a Sociedade se ocupa de coisas que lhe são interditas. Uma outra consideração vem corroborar esses motivos, a de que, entre os membros, há aqueles que pertencem a diferentes cultos; o que para uns seria ortodoxo, poderia não o ser para outros, razão a mais de nos abstermos. Aliás, o regulamento prescreve o exame prévio de toda comunicação obtida fora da Sociedade, medida que deverá ser observada rigorosamente.


Estudos. Evocação do Sr. B…, amigo do Sr. Royer, desaparecido de casa desde 25 de junho de 1848. Dá algumas informações sobre sua morte acidental durante as escaramuças ocorridas naquela época. Pela linguagem e por algumas particularidades íntimas, reconhece o Sr. Royer a identidade.


SEXTA-FEIRA, 27 DE ABRIL DE 1860.

(Sessão Geral.)

Comunicação diversas: 1º Carta do Dr. Morhéry, contendo novos estudos sobre as curas que ele obteve com o concurso da Srta. Godu, por meio daquilo que se pode chamar a Medicina intuitiva. (Publicada a seguir).

2º A propósito da medicina intuitiva, o Sr. C…, um dos ouvintes presentes à sessão, após convidado pelo Presidente, dá informações do mais alto interesse sobre o poder curador de que desfrutam certas castas negras. Natural do Hindustão,  †  de origem indiana, o Sr. C… foi testemunha ocular de numerosos fatos desse gênero, dos quais não se dava conta àquela época. Hoje ele encontra a chave no Espiritismo e no magnetismo. Os negros curadores fazem largo uso de certas plantas, mas muitas vezes se contentam em apalpar e friccionar o doente, agindo conforme as instruções de vozes ocultas que lhes falam.

3º Fato curioso de intuição circunstanciada de uma existência anterior. A pessoa em questão, que consigna o fato numa carta a um de seus amigos, o qual a leu, diz que desde sua infância tem uma lembrança precisa de haver perecido durante os massacres de São Bartolomeu, recordando-se até mesmo de detalhes de sua morte, lugares, etc. As circunstâncias não permitem ver nesse pensamento o resultado de uma imaginação exaltada, considerando-se que tal lembrança remonta a uma época na qual não se cogitava absolutamente nem de Espíritos nem de reencarnação.

4º O Sr. Georges G…, de Marselha,  †  transmite o seguinte fato: Um jovem rapaz morreu há oito meses, e sua família, na qual se encontram três irmãs médiuns, o evoca quase diariamente, servindo-se de uma cesta. Cada vez que o Espírito é chamado, um cãozinho, do qual muito gostava, pula sobre a mesa e vem cheirar a cesta, dando grunhidos. A primeira vez que isso aconteceu, a cesta escreveu espontaneamente: Meu bravo cachorrinho, tu me reconheces!

Diz o Sr. G… poder assegurar a realidade do fato. Não o viu, mas as pessoas que o contam, e que muitas vezes o testemunharam, são muito bons espíritas e bastantes sérias para que se possa duvidar de sua sinceridade. Depois disso, pergunta ele se o perispírito, mesmo não tangível, tem um aroma qualquer, ou se certos animais são dotados de uma espécie de mediunidade.

Um estudo especial será feito ulteriormente sobre esse interessante assunto, no qual outros fatos não menos curiosos parecem lançar alguma luz.

5º Constatação de um mau Espírito, trazido a uma reunião particular por um visitante, donde se pode deduzir a influência exercida pela presença de certas pessoas, em determinadas circunstâncias.

6º Leitura de uma evocação particular, feita pelo Sr. Allan Kardec, de uma das principais convulsionárias de Saint-Médard, falecida em 1830, e em presença de sua própria filha, que pôde constatar a identidade do Espírito evocado. Tal evocação apresenta, sob diversos pontos, um alto grau de ensino, emprestando um interesse particular às circunstâncias em que foi feita. (Publicada adiante).


Estudos: 1º Ditado espontâneo obtido por intermédio da Sra. P.

2º Evocação de Stevens, companheiro de Georges Brown.  † 


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