O Sr. G. G…, de Marselha, † nos transmite o seguinte fato: “Um rapaz faleceu há oito meses e sua família, na qual há três irmãs médiuns, o evoca quase diariamente, por meio de uma cesta. Cada vez que o Espírito é chamado, um cãozinho, do qual muito gostava, salta sobre a mesa e vem cheirar a cesta, soltando pequenos ganidos. A primeira vez que isto aconteceu, a cesta escreveu: “Meu bravo cachorrinho, que me reconhece.”
“Não presenciei o fato, mas as pessoas, das quais o ouvi várias vezes, o testemunharam e são excelentes espíritas e muito sérias para que eu possa pôr em dúvida a sua veracidade. Perguntei a mim mesmo se o perispírito conservava partículas materiais suficientes para afetar o olfato do cão, ou se este seria dotado da faculdade de ver os Espíritos. É um problema que me parece útil aprofundar, caso ainda não esteja resolvido.”
1. Evocação do Sr. M***, morto há oito meses, do qual acabamos de falar.
Resp. – Eis-me aqui.
2. Confirmais o fato relativo ao vosso cão, que vem cheirar a cesta que serve às vossas evocações, e que parece reconhecer-vos?
Resp. – Sim.
3. Poderíeis dizer-nos a causa que atrai o cão para a cesta?
Resp. – A extrema finura dos sentidos pode levar a adivinhar a presença do Espírito e até vê-lo.
4. O cão vos vê ou vos sente?
Resp. – O olfato, sobretudo, e o fluido magnético. Charlet.
Observação. – Charlet,
o pintor, deu à Sociedade uma
série de comunicações muito notáveis sobre os animais, e que publicaremos
brevemente. Por certo foi a esse título que interferiu espontaneamente
na presente evocação [as respostas de 1 a 3 são do rapaz evocado, a
4ª é de Charlet].
5. Considerando que Charlet quer mesmo intervir na questão de que nos ocupamos, nós lhe pedimos que dê algumas explicações a respeito.
Resp. – Com prazer. O fato é perfeitamente verossímil e, em consequência, natural. Falo em geral, pois não conheço aquele de que se trata. O cão é dotado de uma organização muito particular; compreende o homem, eis tudo. Sente-o, segue-o em todas as suas ações com a curiosidade de uma criança; ama-o e chega mesmo a ponto — e temos muitos exemplos para confirmar o que adiantamos — de a ele se devotar. O cão deve ser — não tenho certeza, entendei bem — um desses animais vindos de um mundo já avançado, para sustentar o homem em seu sofrimento, servi-lo, guardá-lo. Acabo de falar das qualidades morais que, positivamente, o cão possui. Quanto às suas faculdades sensitivas, são extremamente apuradas. Todos os caçadores conhecem a sutileza do faro do cão; além dessa faculdade, o cão compreende quase todas as ações do homem; compreende a importância de sua morte. Por que não adivinharia a sua alma e por que, mesmo, não a veria?
Charlet. n
No dia seguinte a Sra. Lesc…, médium, membro da Sociedade, obteve em particular a explicação seguinte, sobre o mesmo assunto:
“O fato citado na Sociedade é verídico, embora o perispírito desprendido do
corpo não tenha nenhuma de suas emanações. O cão farejava a presença
do dono; quando digo farejava, entendo que seus órgãos percebiam sem
que os olhos vissem, sem que o nariz sentisse; mas todo o seu ser estava
advertido da presença do dono, e essa advertência lhe era dada, sobretudo,
pela vontade que se desprendia do Espírito dos que evocavam o morto.
A vontade humana alcança e adverte o instinto dos animais, principalmente
dos cães, antes que algum sinal exterior o tenha revelado. O cão é posto,
por suas fibras nervosas, em contato direto conosco, Espírito, quase
tanto quanto com os homens; percebe as aparições; dá-se conta da diferença
existente entre elas e as coisas reais ou terrestres e lhes tem um grande
pavor. O cão uiva à Lua, conforme a expressão vulgar; uiva também quando
sente a morte chegar. Em ambos os casos, e em muitos outros ainda, o
cão é intuitivo. Acrescentarei que seu órgão visual é menos desenvolvido
que seu órgão perceptivo; ele vê menos do que sente. O fluido elétrico
o penetra quase que habitualmente. O fato que me serviu de ponto de
partida nada tem de surpreendente, porque, no momento do desprendimento
da vontade que chamava seu dono, o cão sentia sua presença quase tão
depressa que o próprio Espírito ouvia e respondia à chamada que lhe
era feita.” [Informações sobre o Espírito Georges vide: Observações
preliminares.]
GEORGES. (Espírito familiar.)
[1]
[v.
Nicolas-Toussaint Charlet.]