O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano II — Dezembro de 1859.

(Idioma francês)

Comunicações espontâneas obtidas em sessões da Sociedade.

(30 de setembro de 1859. — Médium, Sr. R…)

(Sumário)


I.


Amai-vos uns aos outros; toda a lei se resume neste preceito, lei divina pela qual Deus cria incessantemente e governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados; a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.

Jamais vos esqueçais de que o Espírito, seja qual for o seu grau de adiantamento e a sua situação, como reencarnado ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, perante o qual tem os mesmos deveres a cumprir.

Sede, pois, caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar do bolso o óbolo que dais friamente àquele que ousa pedir, mas ide ao encontro das misérias ocultas.

Sede indulgentes para com os defeitos de vossos semelhantes. Em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instrui-os e moralizai-os. Sede mansos e benevolentes para com tudo que vos seja inferior. Sede-o mesmo perante os seres mais ínfimos da criação, e tereis obedecido à lei de Deus.


Vicente de Paulo. n


Observação. – Geralmente os Espíritos considerados pelos homens como santos não se prevalecem dessa qualidade; assim, São Vicente de Paulo assina simplesmente Vicente de Paulo; São Luís assina Luís. Aqueles que, ao contrário, usurpam nomes e qualidades que lhes não pertencem, de ordinário exibem falsos títulos, sem dúvida pensando impor-se mais facilmente. Entretanto, essa máscara não pode enganar a quem quer que se dê ao trabalho de lhes estudar a linguagem; a dos Espíritos verdadeiramente superiores tem uma marca que não nos permite enganar.


II.

(18 de novembro de 1859. — Médium, Sr. R…)

A união faz a força; sede unidos e sereis fortes. O Espiritismo germinou, lançou raízes profundas; vai estender sobre a Terra seus ramos benfazejos. É preciso que vos torneis invulneráveis aos dardos envenenados da calúnia e da triste falange dos ignorantes, dos egoístas e dos hipócritas. Para chegar a isso, que uma indulgência e uma benevolência recíprocas presidam às vossas relações; que vossos defeitos passem despercebidos e que somente vossas qualidades sejam notadas; que o facho da santa amizade reúna, esclareça e aqueça os vossos corações, de tal maneira que possais resistir aos ataques impotentes do mal, como o rochedo inabalável ante a vaga furiosa.


Vicente de Paulo. 


III.


(23 de setembro de 1859. — Médium, Sr. R…)

Até o presente não encarastes a guerra senão do ponto de vista material; guerras intestinas, guerras de povos contra povos; nela não vistes mais que conquistas, escravidão, sangue, morte e ruínas. É tempo de considerá-la do ponto de vista moralizador e progressivo. A guerra semeia em sua passagem a morte e as ideias. As ideias germinam e crescem. O Espírito vem fazê-las frutificar depois de se haver retemperado na vida espírita. Não sobrecarregueis, pois, com vossas maldições, o diplomata que preparou a luta, nem o capitão que conduziu seus soldados à vitória. Grandes lutas se preparam: lutas do bem contra o mal, das trevas contra a luz; lutas do Espírito de progresso contra a ignorância estacionária. Esperai com paciência, porquanto nem as vossas maldições, nem os vossos louvores poderão modificar a vontade de Deus. Ele saberá sempre manter ou afastar seus instrumentos do teatro dos acontecimentos, conforme tenham cumprido a sua missão ou dela abusado, para servir a seus pontos de vista pessoais, do poder que tiverem adquirido por seu sucesso. Tendes o exemplo do César moderno e o meu. Por várias existências miseráveis e obscuras, tive de expiar minhas faltas, tendo vivido pela última vez na Terra sob o nome de Luís IX.


Júlio César. n


IV.


O MENINO E O RIACHO.

(PARÁBOLA.)

(11 de novembro de 1859. — Médium, Sr. Did…)

Certo dia um menino chegou junto a um riacho tão veloz que tinha quase a impetuosidade de uma torrente. A água lançava-se de uma colina vizinha e engrossava à medida que avançava pela planície. O menino pôs-se a examinar a torrente, depois juntou toda sorte de pedras que podia carregar em seus braços pequeninos. Resolveu construir um dique; cega presunção! Malgrado todos os seus esforços e a sua cólera infantil, não o conseguiu. Refletindo então mais seriamente — se é que podemos empregar essa expressão a uma criança — subiu mais alto, abandonou a primeira tentativa e quis fazer seu dique perto da própria fonte do riacho. Infelizmente seus esforços mostraram-se ainda impotentes. Desanimou e foi-se embora chorando.

Estava-se ainda na bela estação e o riacho não era muito rápido, em comparação com a sua correnteza no inverno. Engrossou, e o menino viu o seu progresso; a água lançava-se com estrondo e furor, derrubando tudo em sua passagem; ele próprio teria sido tragado pelas águas se tivesse ousado aproximar-se, como da primeira vez.

Ó homem fraco! Criança! Tu, que queres levantar uma muralha, um obstáculo intransponível à marcha da verdade, não és mais forte que aquela criança; tua vontade vacilante não é mais vigorosa que os seus pequenos braços. Ainda mesmo que a queiras atingir em sua fonte, ficai certo de que a verdade te arrastará inevitavelmente.


Basilio. n


V.


OS TRÊS CEGOS.

(PARÁBOLA.)

(7 de outubro de 1859. — Médium, Sr. Did…)

Um homem rico e generoso, o que é raro, encontrou em seu caminho três infelizes cegos, exaustos de fome e de fadiga. Ofereceu a cada um uma moeda de ouro. O primeiro, cego de nascença, amargurado pela miséria, nem sequer abriu a mão; dizia jamais ter visto oferecer-se ouro a um mendigo: o fato era impossível. O segundo estendeu maquinalmente a mão, mas logo desprezou a oferta que lhe faziam. Como seu amigo, considerava aquilo uma ilusão ou uma brincadeira de mau gosto; numa palavra, para ele, a moeda era falsa. O terceiro, ao contrário, cheio de fé em Deus e de inteligência, em que a fineza do tato havia parcialmente substituído o sentido que lhe faltava, tomou a moeda, apalpou-a, levantou-se, abençoou seu benfeitor e partiu para a cidade vizinha, a fim de com ela obter o que faltava à sua existência.

Os homens são os cegos; o Espiritismo é o ouro. Julgai a árvore pelos seus frutos.


Lucas. n


VI.


(30 de setembro de 1859. — Médium, Srta. H…)

Pedi a Deus que me deixasse vir por um instante entre vós, a fim de vos aconselhar a jamais tomar parte em querelas religiosas. Não me refiro a guerras religiosas, porquanto hoje o século está muito avançado para isso. Mas no tempo em que vivi era uma desgraça geral e não pude evitá-la. A fatalidade arrastou-me e empurrei os outros, logo eu que deveria tê-los retido. Assim, tive a minha punição, inicialmente na Terra, e há três séculos expio cruelmente o meu crime. Sede mansos e pacientes com aqueles a quem ensinais. Se a princípio não vos derem ouvidos, haverão de o fazer mais tarde, quando virem a vossa abnegação e o vosso devotamento.

Meus amigos, meus irmãos! Nunca seria demais vos recomendar o meu exemplo, pois nada existe de mais pavoroso do que a matança em nome de um Deus clemente, de uma religião santa, que não prega senão a misericórdia, a bondade e a caridade! Em vez disso, matamos e massacramos para, como se diz, forçar as criaturas que queremos converter a um Deus bondoso. Em lugar de acreditar em vossa palavra, os que sobrevivem se apressam em vos deixar e de vós se afastam como se fôsseis bestas ferozes. Sejais, pois, bons, eu vo-lo repito e, sobretudo, tolerantes para com aqueles que não creem como vós.


Carlos IX. n


VII (Perguntas diversas dirigidas a Carlos IX.)


1. Poderíeis ter a complacência de responder a algumas perguntas que desejaríamos dirigir-vos?

Resposta. — Fá-lo-ei de bom grado.


2. Como expiastes as vossas faltas?

Resposta. — Pelo remorso.


3. Tivestes outras existências corpóreas depois daquela que conhecemos?

Resposta. — Tive uma; reencarnei-me como um escravo das duas Américas. Sofri bastante e isso apressou a minha purificação.


4. Que aconteceu à vossa mãe, Catarina de Médicis?

Resposta. — Ela também sofreu. Encontra-se em outro planeta, onde leva uma vida de devotamento.


5. Poderíeis escrever a história do vosso reino, como o fizeram Luís XI e outros?

Resposta. — Também o poderia…


6. Quereis fazê-lo através do médium que vos serve de intérprete neste momento?

Resposta. — Sim, este médium pode servir-me, mas não começarei esta noite; não vim para isso.


7. Também não vos pedimos para começar hoje: rogamos que o façais nos momentos de folga, vossos e do médium. Será um trabalho de grande fôlego, que exigirá um certo lapso de tempo. Podemos contar com a vossa promessa?

Resposta. — Eu o farei. Até logo.



[1] [v. São Vicente de Paulo.]


[2]  [v. Caio Júlio César.]


[3] [v. São Basílio , vide notícia dessa comunicação no Boletim da Sessão de 11 de novembro de 1859.]


[4] [v. Lucas.]


[5] [v. Carlos IX.]


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