Roteiro 5
Retorno à vida corporal: a infância
Objetivo Geral: Possibilitar entendimento da reencarnação sob a ótica da Doutrina Espírita.
Objetivo Específico: Justificar a passagem do Espírito pelo estado de infância.
CONTEÚDO BÁSICO
-
Qual, para este [o Espírito], a utilidade de passar pelo estado de infância?
Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante este período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 383.
-
A partir do nascimento, suas ideias [do Espírito] tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem, pelo que se pode dizer que, no curso dos primeiros anos, o Espírito é verdadeiramente criança, por se acharem ainda adormecidas as ideias que lhe formam o fundo do caráter. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo 8, item 4.
SUGESTÕES DIDÁTICAS
Introdução:
-
Introduzir o tema por meio de uma pergunta: — Por que temos que passar pelo estado de infância?
-
Projetar, simultaneamente, uma imagem de crianças brincando com alegria e descontração.
Desenvolvimento:
-
Anotar no quadro as colocações feitas pelos participantes com referência à pergunta.
-
Propor, em seguida, a leitura individual dos Subsídios, para posterior discussão em plenária. Para melhor condução do debate, ter como referência as questões 183, 199, 383 e 385 de O Livro dos Espíritos, e o item 4 do capítulo 8 de O Evangelho segundo o Espiritismo.
-
Conduzir o debate de forma a possibilitar a participação de todos, levando a uma ampla compreensão do assunto.
Conclusão:
Avaliação:
Técnica(s):
Recurso(s):
SUBSÍDIOS
Ao […] aproximar-se-lhe a encarnação, o Espírito entra em perturbação e perde pouco a pouco a consciência de si mesmo, ficando, por certo tempo, numa espécie de sono, durante o qual todas as suas faculdades permanecem em estado latente. É necessário esse estado de transição para que o Espírito tenha um novo ponto de partida e para que esqueça, em sua nova existência, tudo aquilo que a possa entravar. Sobre ele, no entanto, reage o passado. Renasce para a vida maior, mais forte, moral e intelectualmente, sustentado e secundado pela intuição que conserva da experiência adquirida. A partir do nascimento, suas ideias tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem, pelo que se pode dizer que, no curso dos primeiros anos, o Espírito é verdadeiramente criança, por se acharem ainda adormecidas as ideias que lhe formam o fundo do caráter. Durante o tempo em que seus instintos se conservam amodorrados, ele é mais maleável e, por isso mesmo, mais acessível às impressões capazes de lhe modificarem a natureza e de fazê-lo progredir, o que torna mais fácil a tarefa que incumbe aos pais. (2)
A infância começa com o nascimento. Compreende o período de desenvolvimento da personalidade, iniciado no parto e completado com a chegada das primeiras manifestações da puberdade, marco inicial da adolescência. Durante o período de infância a criança não só muda com a idade como revela características individuais, cujo ritmo varia de indivíduo para indivíduo. Para o Espiritismo, infância é um estado que […] corresponde a uma necessidade, está na ordem da natureza e de acordo com as vistas da Providência. É um período de repouso do Espírito. (7) Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo. (8)
As diferenças individuais observadas nas crianças resultam da carga genética herdada dos pais, da educação recebida, das tendências instintivas e das ideias inatas que o Espírito traz ao renascer. As transformações neurofisiológicas e bioquímicas do corpo físico seguem as leis da genética, tendo em vista a moldagem da personalidade infantil prevista no planejamento reencarnatório. A educação, ou fator cultural, propicia condições ao desenvolvimento intelecto-moral e à explicitação de conquistas evolutivas anteriormente adquiridas pelo Espírito. As tendências instintivas e as ideias inatas surgem sob a forma de lembranças fragmentárias das conquistas e dos fracassos que o Espírito traz consigo à luta reencarnatória.
É importante destacar que a memória integral das experiências reencarnatórias encontra-se bloqueada, a fim de que o Espírito possa melhor aproveitar os benefícios objetivados pela reencarnação. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais. Frequentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas as a quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no íntimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse ofendido. Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial. Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se se vê punido, é que praticou o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que se haja corrigido completamente, nenhum traço mais conservará. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forças para resistir às tentações. (1)
As crianças são os seres que Deus manda a novas existências. Para que não lhe possam imputar excessiva severidade, dá-lhes ele todos os aspectos da inocência. Ainda quando se trata de uma criança de maus pendores, cobrem-se-lhe as más ações com a capa da inconsciência. Essa inocência não constitui superioridade real com relação ao que eram antes, não. É a imagem do que deveriam ser e, se não o são, o consequente castigo exclusivamente sobre elas recai. Não foi, todavia, por elas somente que Deus lhes deu esse aspecto de inocência; foi também e sobretudo por seus pais, de cujo amor necessita a fraqueza que as caracteriza. Ora, esse amor se enfraqueceria grandemente à vista de um caráter áspero e intratável, ao passo que, julgando seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e os cercam dos mais minuciosos cuidados. Desde que, porém, os filhos não mais precisam da proteção e assistência que lhes foram dispensadas durante quinze ou vinte anos, surge-lhes o caráter real e individual em toda a nudez. Conservam-se bons, se eram fundamentalmente bons; mas, sempre irisados de matizes que a primeira infância manteve ocultos. (9)
Aliás, não é racional considerar se a infância como um estado normal de inocência. Não se veem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Algumas não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia, a perfídia, até pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhes dão? A lei civil as absolve de seus crimes, porque, diz ela, obraram sem discernimento. Tem razão a lei, porque, de fato, elas obram mais por instinto do que intencionalmente. Donde, porém, provirão instintos tão diversos em crianças da mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências? Donde a precoce perversidade, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso? As que se revelam viciosas, é porque seus Espíritos muito pouco hão progredido. Sofrem então, por efeito dessa falta de progresso, as consequências, não dos atos que praticam na infância, mas dos de suas existências anteriores. Assim é que a lei é uma só para todos e que todos são atingidos pela justiça de Deus. (5)
A infância ainda tem outra utilidade. Os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir.
Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas. Assim, portanto, a infância é não só útil, necessária, indispensável, mas também consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo. (10) Nesse sentido, tanto a paternidade quanto a maternidade são consideradas uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. Muitos há, no entanto, que mais cuidam de aprumar as árvores do seu jardim e de fazê-las dar bons frutos em abundância, do que de formar o caráter de seu filho. Se este vier a sucumbir por culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada do bem. (11) Por outro lado, os pais que dispensaram todos os cuidados na educação do filho, não devem sentir-se responsáveis pelo transviamento deste, […] porém, quanto piores forem as propensões do filho, tanto mais pesada é a tarefa e tanto maior o mérito dos pais, se conseguirem desviá-lo do mau caminho. (12)
Durante a infância não há possibilidade da livre manifestação do Espírito, porque, desde […] que se trate de uma criança, é claro que, não estando ainda nela desenvolvidos, não podem os órgãos da inteligência dar toda a intuição própria de um adulto ao Espírito que a anima. Este, pois, tem, efetivamente, limitada a inteligência, enquanto a idade lhe não amadurece a razão. A perturbação que o ato da encarnação produz no Espírito não cessa de súbito, por ocasião do nascimento. Só gradualmente se dissipa, com o desenvolvimento dos órgãos. (6)
O estado de infância parece ser uma lei de ocorrência universal nos diferentes mundos habitados, porque, quando Allan Kardec perguntou aos Espíritos Superiores: Indo de um mundo para outro, o Espírito passa por nova infância? (3) Como resposta recebeu o seguinte esclarecimento: Em toda parte a infância é uma transição necessária, mas não é, em toda parte, tão obtusa como no vosso mundo. (3)
Finalmente, é importante saber que justificativa o Espiritismo apresenta para a elevada mortalidade infantil existente no nosso planeta, em especial nos países de condições sócio-econômicas precárias. Para os Espíritos Orientadores, a […] curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do momento em que devera terminar, e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais. (4)
Se uma única existência tivesse o homem e se, extinguindo-se-lhe ela, sua sorte ficasse decidida para a eternidade, qual seria o mérito de metade do gênero humano, da que morre na infância, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna e com que direito se acharia isenta das condições, às vezes tão duras, a que se vê submetida a outra metade? Semelhante ordem de coisas não corresponderia à justiça de Deus. Com a reencarnação, a igualdade é real para todos. O futuro a todos toca sem exceção e sem favor para quem quer que seja. Os retardatários só de si mesmos se podem queixar. Forçoso é que o homem tenha o merecimento de seus atos, como tem deles a responsabilidade. (5)
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 5, item 11, p. 104-105.
2. Idem - Capítulo 8, item 4, p. 148-149.
3. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, questão 183, p. 126.
4. Idem - Questão 199, p. 133.
5. Idem, ibidem - p. 134.
6. Id. - Questão 380, p. 210.
7. Id. - Questão 382, p. 211.
8. Id. - Questão 383, p. 211.
9. Id. - Questão 385, p. 211-212.
10. Idem, ibidem - p. 213.
11. Id. - Questão 582, p. 288.
12. Id. - Questão 583, p. 289.