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ESDE — Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita — Programa Complementar

Módulo VII — Fenômenos de Emancipação da Alma

Roteiro 2


Letargia e catalepsia


Objetivo Geral: Apresentar esclarecimentos a respeito dos fenômenos de emancipação da alma.

Objetivo Específico: Explicar os fenômenos de letargia e catalepsia, do ponto de vista espírita, estabelecendo a diferença entre ambos.



CONTEÚDO BÁSICO


  • A matéria inerte é insensível; o fluido perispirítico igualmente o é, mas transmite a sensação ao centro sensitivo, que é o Espírito. As lesões dolorosas do corpo repercutem, pois, no Espírito, qual choque elétrico, por intermédio do fluido perispiritual, que parece ternos nervos os seus fios condutores. […] A interrupção pode dar se pela separação de um membro, ou pela secção de um nervo, mas, também, parcialmente ou de maneira geral e sem nenhuma lesão, nos momentos de emancipação, de grande sobreexcitação ou preocupação do Espírito. Nesse estado, o Espírito não pensa no corpo e, em sua febril atividade, atrai a si, por assim dizer, o fluido perispiritual que, retirando-se da superfície, produz aí uma insensibilidade momentânea. Poder-se-ia também admitir que, em certas circunstâncias, no próprio fluido perispiritual uma modificação molecular se opera, que lhe tira temporariamente a propriedade de transmissão. É por isso que, muitas vezes, no ardor do combate, um militar não percebe que está ferido e que uma pessoa, cuja atenção se acha concentrada num trabalho, não ouve o ruído que se lhe faz em torno. Efeito análogo, porém mais pronunciado, se verifica […] na letargia e na catalepsia. Allan Kardec: A Gênese. Capítulo XIV, item 29.

  • A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento […]. Diferem uma da outra em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo a permitir que a inteligência se manifeste livremente, o que a torna inconfundível com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é por vezes magnética. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 424 - comentário.




SUGESTÕES DIDÁTICAS


Introdução:

  • Iniciar o estudo afixando, em local visível, duas tiras de cartolina contendo, uma delas, a palavra LETARGIA e, a outra, a palavra CATALEPSIA.

  • Em seguida, verificar o entendimento dos participantes a respeito desses dois termos.

  • Ouvir as respostas.


Desenvolvimento:

  • Fazer uma exposição sobre o assunto, com base no item 1 dos Subsídios do roteiro, usando cartazes ou transparências. Solicitar aos participantes que façam anotações dos pontos que julgarem significativos. Explicar-lhes que essas anotações lhes serão úteis na tarefa que deverão executar mais adiante.

  • A seguir, dividir os participantes em quatro grupos, para realização das seguintes tarefas:

    Grupo I:

    a) Ler o caso de letargia transcrito no item 2.1 dos Subsídios;

    b) Designar um representante para relatá-lo aos demais grupos;

    c) Com base no conteúdo apresentado pelo monitor, elaborar uma exposição explicando o caso lido, sob o ponto de vista espírita. Se necessário, fazer consultas ao item 1 dos Subsídios. Ilustrar a exposição com cartazes. Usar, se necessário, esquemas descritivos, ou desenhos nos quais que facilitem a compreensão do assunto.

    Grupo II: Leitura do item 2.2 e realização das demais tarefas dadas ao grupo I.

    Grupo III: Leitura do item 2.3 e realização das demais tarefas dadas ao grupo I.

    Grupo IV: Leitura do item 2.4 e realização das demais tarefas dadas ao grupo I.

  • Ouvir a apresentação dos grupos, prestando os esclarecimentos cabíveis.


Conclusão:

  • Encerrar o estudo voltando ao conteúdo das tiras de cartolina apresentadas no seu início, verificando, por meio de breves perguntas, se os participantes aprenderam a diferença entre letargia e catalepsia.


Avaliação:

  • O estudo será considerado satisfatório se: a) os participantes realizarem corretamente as tarefas propostas para os grupos; b) ouvirem, atentamente, a exposição do monitor; c) souberem estabelecer a diferença entre letargia e catalepsia.


Técnica(s):

  • Exposição; trabalho em pequenos grupos; perguntas.


Recurso(s):

  • Subsídios do roteiro; tiras de cartolina; cartazes/transparências/retroprojetor; folhas de papel pardo/cartolina; fita adesiva; canetas hidrográficas; lápis; papel.



 

SUBSÍDIOS


 1. Letargia e catalepsia: conceito; diferença entre ambas

Sabe-se, pelas informações constantes na Codificação Espírita, que a […] matéria inerte é insensível; o fluido perispirítico igualmente o é, mas transmite a sensação ao centro sensitivo, que é o Espírito. As lesões dolorosas do corpo repercutem, pois, no Espírito, qual choque elétrico, por intermédio do fluido perispiritual, que parece ter nos nervos os seus fios condutores. […] A interrupção pode dar se pela separação de um membro, ou pela secção de um nervo, mas, também, parcialmente ou de maneira geral e sem nenhuma lesão, nos momentos de emancipação, de grande sobreexcitação ou preocupação do Espírito. Nesse estado, o Espírito não pensa no corpo e, em sua febril atividade, atrai a si, por assim dizer, o fluido perispiritual que, retirando-se da superfície, produz aí uma insensibilidade momentânea. Poder-se-ia também admitir que, em certas circunstâncias, no próprio fluido perispiritual uma modificação molecular se opera, que lhe tira temporariamente a propriedade de transmissão. É por isso que, muitas vezes, no ardor do combate, um militar não percebe que está ferido e que uma pessoa, cuja atenção se acha concentrada num trabalho, não ouve o ruído que se lhe faz em torno. Efeito análogo, porém mais pronunciado, se verifica […] na letargia e na catalepsia. (1)

A letargia e a catalepsia, assim, […] derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento […]. Diferem uma da outra em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo a permitir que a inteligência se manifeste livremente, o que a torna inconfundível com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é por vezes magnética [isto é, provocada por um agente externo]. (9)

Desse modo, na […] letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a executar se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida, porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado. (7) Por isso é que os […] letárgicos e os catalépticos, em geral, veem e ouvem o que em derredor se diz e faz, sem que possam exprimir que estão vendo e ouvindo. (5) Essa visão e audiência eles não as têm pelos sentidos físicos e sim pelos espirituais. O Espírito tem consciência de si, mas não pode comunicar-se. (5) Tal fato se dá porque […] a isso se opõe o estado do corpo. E esse estado especial dos órgãos […] prova que no homem há alguma coisa mais do que o corpo, pois que, então, o corpo já não funciona e, no entanto, o Espírito se mostra ativo. (6)

Em se rompendo, porém, […] por efeito da morte “real” e pela desagregação dos órgãos, os laços que prendem um ao outro, integral se torna a separação e o Espírito não volta mais ao seu envoltório. Desde que um homem, aparentemente morto, volve à vida, é que não era completa a morte. (7) Isso se dá, principalmente, quando, por meio de cuidados dispensados no devido tempo, logra-se reatar os laços prestes a se desfazerem e, dessa forma, restituir à vida um ser que, de certo, desencarnaria, se não fosse socorrido. (8) Nessas circunstâncias, o magnetismo pode constituir […] poderoso meio de ação, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta para manter o funcionamento dos órgãos. (9)

Em suma, pode-se dizer que, em […] certos estados patológicos, quando o Espírito há deixado o corpo e o perispírito só por alguns pontos se lhe acha aderido, apresenta ele, o corpo, todas as aparências da morte e enuncia-se uma verdade absoluta, dizendo que a vida aí está por um fio. Semelhante estado pode durar mais ou menos tempo; podem mesmo algumas partes do corpo entrar em decomposição, sem que, no entanto, a vida se ache definitivamente extinta. Enquanto não se haja rompido o último fio, pode o Espírito, quer por uma ação enérgica, da sua própria vontade, quer por um influxo fluídico estranho, igualmente forte, ser chamado a volver ao corpo. É como se explicam certos fatos de prolongamento da vida contra todas as probabilidades e algumas supostas ressurreições. É a planta a renascer, como às vezes se dá, de uma só fibrila da raiz. Quando, porém, as últimas moléculas do corpo fluídico se têm destacado do corpo carnal, ou quando este último há chegado a um estado irreparável de degradação, impossível se torna todo regresso à vida. (2)


 2. Alguns casos de letargia

Os mais famosos fenômenos desse gênero são, sem dúvida, os narrados no Evangelho. Rememoremos os três, que poderíamos considerar clássicos: os de Lázaro, da filha de Jairo e do filho da viúva de Naim.


2.1 Lázaro

Estava enfermo Lázaro, de Betânia, da aldeia de Maria e Marta, sua irmã. Esta Maria, cujo irmão Lázaro estava enfermo, era a mesma que ungiu com bálsamo o Senhor e lhe enxugou os pés com os seus cabelos. Mandaram, pois, as irmãs de Lázaro, dizer a Jesus: Senhor, está enfermo aquele a quem amas. Ao perceber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte, e, sim, para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado. Ora, amava Jesus a Marta, e a sua irmã e a Lázaro. Quando, pois, soube que Lázaro estava doente, ainda se demorou dois dias no lugar onde estava. Depois, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judeia. Disseram-lhe os discípulos: Mestre, ainda agora os judeus procuravam apedrejar te, e voltas para lá? Respondeu-lhe Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; mas se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz. Isto lhe dizia, e depois lhes acrescentou: Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou para despertá-lo. Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. Jesus, porém, falara com respeito à morte de Lázaro; mas eles supunham que tivesse falado do repouso do sono. Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu; e por vossa causa me alegro de que lá não estivesse, para que possais crer; mas vamos ter com ele. Então Tomé, chamado Dídimo, disse aos condiscípulos: Vamos também nós para morrermos com ele. Chegando Jesus, encontrou Lázaro já sepultado, havia quatro dias. Ora, Betânia estava cerca de quinze estádios [1 estádio = 206,25m] perto de Jerusalém. Muitos dentre os judeus tinham vindo ter com Marta e Maria, para as consolar, a respeito de seu irmão. Marta, quando soube que vinha Jesus, saiu ao seu encontro; Maria, porém, ficou sentada em casa. Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se estiveras aqui não teria morrido meu irmão. Mas também sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá. Declarou-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir. Eu sei, replicou Marta, que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente. Crês isto? Sim, Senhor, respondeu ela, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo. Tendo dito isto, retirou-se e chamou Maria, sua irmã, e lhe disse em particular: o Mestre chegou e te chama. Ela, ouvindo isto, levantou-se depressa e foi ter com ele, pois Jesus ainda não tinha entrado na aldeia, mas permanecia onde Marta se avistara com ele. Os judeus que estavam com Maria em casa e a consolavam, vendo-a levantar se depressa e sair, seguiram-na, supondo que ele ia ao túmulo para chorar. Quando Maria chegou ao lugar onde estava Jesus, ao vê-lo, lançou-se-lhe aos pés, dizendo: Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido. Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se. E perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem, e vê. Jesus chorou. Então disseram os judeus: Vede quanto o amava! Mas alguns objetaram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer que este não morresse? Jesus, agitando-se novamente em si mesmo, encaminhou-se para o túmulo; era este uma gruta, a cuja entrada tinham posto uma pedra. Então ordenou Jesus: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmão do morto: Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias. Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu que se creres verá a glória de Deus? Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste. E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora. Saiu aquele que estivera morto, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras, e o rosto envolto num lenço. Então lhes ordenou Jesus: Desatai-o, e deixai-o ir. Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo visitar Maria, vendo o que fizera Jesus, creram nele. Outros, porém, foram ter com os fariseus e lhes contaram dos feitos que Jesus realizara. (João, 11.1-46)


2.2 A filha de Jairo

Tendo Jesus passado novamente, de barca, para a outra margem, logo que desembarcou, grande multidão se lhe apinhou ao derredor. Então, o chefe de sinagoga, chamado Jairo, veio ao seu encontro e, aproximando-se dele, se lhe lançou aos pés, a suplicar com grande instância, dizendo: Tenho uma filha que está no momento extremo; vem impor-lhe as mãos para a curar e lhe salvar a vida. Jesus foi com ele, acompanhado de grande multidão, que o comprimia. Quando Jairo ainda falava, vieram pessoas que lhe eram subordinadas e lhe disseram: Tua filha está morta; por que hás de dar ao Mestre o incômodo de ir mais longe? — Jesus, porém, ouvindo isso, disse ao chefe da sinagoga: Não te aflijas, crê apenas. — E a ninguém permitiu que o acompanhasse, senão a Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. Chegando a casa do chefe da sinagoga, viu ele uma aglomeração confusa de pessoas que choravam e soltavam grandes gritos. — Entrando, disse-lhes ele: Por que fazeis tanto alarido e por que chorais? Esta menina não está morta, está apenas adormecida. — Zombavam dele. Tendo feito que toda a gente saísse, chamou o pai e mãe da menina e os que tinham vindo em sua companhia e entrou no lugar onde a menina se achava deitada. — Tomou-lhe a mão e disse: Talitha cumi, isto é: Minha filha, levanta-te, eu to ordeno. — No mesmo instante a menina se levantou e se pôs a andar, pois contava doze anos, e ficaram todos maravilhados e espantados. (Marcos, 5.21-43) (3)


2.3 O filho da viúva de Naim

No dia seguinte, dirigiu-se Jesus para uma cidade chamada Naim; acompanhavam-no seus discípulos e grande multidão de povo. — Quando estava perto da porta da cidade, aconteceu que levavam a sepultar um morto, que era filho único de sua mãe e essa mulher era viúva; estava com ela grande número de pessoas da cidade. — Tendo-a visto, o Senhor se tomou de compaixão para com ela e lhe disse: Não chores. — Depois, aproximando-se, tocou o esquife e os que o, conduziam pararam. Então, disse ele: Mancebo, levanta-te, eu o ordeno. Imediatamente, o moço se sentou e começou a falar. E Jesus o restituiu à sua mãe.

Todos os que estavam presentes ficaram tomados de espanto e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo. O rumor desse milagre que ele fizera se espalhou por toda a Judeia e por todas as regiões circunvizinhas. (Lucas, 7.11-17) (4)


2.4 Morte aparente

 São vários os episódios envolvendo os fenômenos estudados. Trazemos, ainda, para reflexão, o ocorrido com a médium Yvonne A. Pereira e por ela relatado no seu livro Recordações da Mediunidade.


Tendo vindo ao mundo na noite de Natal, 24 de dezembro, a 23 de janeiro, durante um súbito acesso de tosse, em que sobreveio sufocação, fiquei como morta. Tudo indica que, em existência pretérita, eu morrera afogada por suicídio, e aquela sufocação, no primeiro mês do meu nascimento, nada mais seria que um dos muitos complexos que acompanham o Espírito do suicida, mesmo quando reencarnado, reminiscências mentais e vibratórias que o traumatizam por períodos longos, comumente. Durante seis horas consecutivas permaneci com rigidez cadavérica, o corpo arroxeado, a fisionomia abatida e macilenta do cadáver, os olhos aprofundados, o nariz afilado, a boca cerrada e o queixo endurecido, enregelada, sem respiração e sem pulso. O único médico da localidade — , pequena cidade do Sul do Estado do Rio de Janeiro, hoje denominada Rio das Flores, mas então chamada Santa Teresa de Valença — , o único médico e farmacêutico, examinando-me, constataram a morte súbita por sufocação, à falta de outra “causa mortis” mais lógica. A certidão de óbito foi, portanto, legalmente passada. […] Eu era recém-chegada na família e, por isso, ao que parece, “minha morte” não abalava o sentimento de ninguém, pois, havendo ao todo vinte e oito pessoas na residência rural de minha avó materna, onde nasci, porquanto a família se havia reunido para as comemorações do Natal e do Ano-Novo, ninguém demonstrava pesar pelo acontecimento, muito ao contrário do que se passara na residência do fariseu Jairo, há quase dois mil anos… Vestiram-me então de branco e azul, como o “Menino Jesus”, com rendinhas prateadas na túnica de cetim, faixas e estrelinhas, e me engrinaldaram a fronte com uma coroa de rosinhas brancas. […] A eça mortuária, uma mesinha com toalhas rendadas, com as velas e o crucifixo tradicional, encontrava-se à minha espera, solenemente preparada na sala de visitas. Nem minha mãe chorava. Mas esta não chorava porque não acreditava na minha morte. Opunha terminantemente que me expusessem na sala e encomendassem o caixão mortuário. A fim de não excitá-la, deixaram-me no berço mesmo, […] mas encomendaram o caixãozinho, todo branco, bordado de estrelinhas e franjas douradas… Minha mãe, então, quando havia já seis horas que eu me encontrava naquele estado insólito, conservando-se ainda católica romana, por aquele tempo, e vendo que se aproximava a hora do enterro, retirou-se para um aposento solitário da casa, fechou-se nele, acompanhou-se de um quadro com estampa representando Maria, Mãe de Jesus, e, com uma vela acesa, prostrou-se de joelhos ali, sozinha, e fez a invocação seguinte, concentrando-se em preces durante uma hora: — “Maria Santíssima, Santa Mãe de Jesus e nossa Mãe, vós, que também fostes mãe e passastes pelas aflições de ver padecer e morrer o vosso Filho sob os pecados dos homens, ouvi o apelo da minha angústia e atendei-o, Senhora, pelo amor do vosso Filho: Se minha filha estiver realmente morta, podereis levá-la de retorno a Deus, porque eu me resignarei à inevitável lei da morte. Mas se, como creio, ela estiver viva, apenas sofrendo um distúrbio cuja causa ignoramos, rogo a vossa intervenção junto a Deus Pai para que ela torne a si, a fim de que não seja sepultada viva. E como prova do meu reconhecimento por essa caridade que me fareis eu vo-la entregarei para sempre. Renunciarei aos meus direitos sobre ela a partir deste momento! Ela é vossa! Eu vo-la entrego! E seja qual for o destino que a esperar, uma vez retorne à vida, estarei serena e confiante, porque será previsto pela vossa proteção.” […] Entrementes, ao se retirar do aposento, onde se dera a comunhão com o Alto, minha mãe abeirou-se do meu insignificante fardo carnal […] e tocou-o carinhosamente com as mãos, repetidas vezes, como se transmitisse energias novas através de um passe. Então, um grito estridente, como de susto, de angústia, acompanhado de choro inconsolável de criança, surpreendeu as pessoas presentes. Minha mãe, provável veículo dos favores caritativos de Maria de Nazaré, levantou-me do berço e despiu-me a mortalha, verificando que a grinalda de rosinhas me ferira a cabeça. (10)


Os casos acima relatados são perfeitamente explicáveis à luz dos ensinamentos sintetizados no item 1 destes Subsídios, o que nos leva a identificar, nos fenômenos de letargia e catalepsia, por mais estranhos que pareçam, apenas fatos naturais resultantes do processo de emancipação da alma.



 

ANEXO


Prece do Espírito André Luiz



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 47. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo XIV, item 29, p. 293.

2. Idem - Item 30, p. 294.

3. Id. - Capítulo XV, item 37, p. 331-332.

4. Id. - Item 38, p. 332-333.

5. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 85. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, questão 422, p. 230.

6. Id. - Questão 422-a, p. 230.

7. Id. - Questão 423, p. 230.

8. Id. - Questão 424, p. 230-231.

9. Id. - Questão 424 - comentário, p. 231 .

10. Pereira, Yvonne A. Recordações da Mediunidade. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Capítulo 2 (Faculdade Nativa), p. 24-26.


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