O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Cartas de uma morta — Maria João de Deus


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O planeta Marte

24-6-1936.

(Sumário)

Tema principal

1. Meus amigos, é com a permissão dos nossos Guias dos Planos superiores que desejo prosseguir, nesta noite, com as minhas narrativas de Além-túmulo. Não está em nós a presunção de resolver incógnitas científicas e nem derrogar os decretos do Altíssimo, que, do lado de cá, nos merece a mais sublime de todas as venerações. 2 Escrevo essas impressões tão somente, objetivando a consolação dos que sofrem, visando a amplitude das esperanças dos que nos compreendem, a fim de que aguardem confiantes da bondade de Deus o prêmio compensador da vida em outras paragens mais felizes, onde a alegria não se extingue, como na Terra, e onde a paz é uma vibração permanente do pensamento de todas as criaturas.

3 Aqui, tenho aprendido que há mundos de todas as espécies, diversificados em sua natureza como a essência dos sentimentos das almas. Mundos de dor, de ventura, de aprendizado, de luta, de regeneração.

4 Todas essas pátrias distantes que os vossos telescópios focalizam, dentro da noite da imensidade, não poderiam estar vazias e abandonadas. Não se compreende uma cidade edificada, cheia de monumentos e edifícios, sem habitantes e sem vida. Os planetas que rolam no infinito constituem a família universal, por excelência. Cada um deles tem consigo uma humanidade, irmã de todas as outras que vibram na imensidade. 5 É muita vaidade do homem terreno afirmar-se a única criatura pensante do universo, até porque, a Terra é um dos Planos mais obscuros e mais repletos de amargura para quantos já experimentaram algo das felicidades imorredouras que a evolução do sentimento e do raciocínio pode facultar. Para as almas acendradas no amor, a Terra é bem o recanto do exílio e das sombras. 6 Todavia, vós outros, os que estudais, tomados da disposição benéfica de conhecer a vida espiritual em suas mais remotas e múltiplas modalidades, deveis arquivar no coração o tesouro divino da esperança. Se as dores na atualidade vos assediam, sabeis que a vida não se circunscreve ao âmbito mesquinho do orbe terráqueo. Patrimônio da criação e divindade de todas as coisas, é ela a vibração luminosa que se estende pelo infinito, dentro de sua grandeza e do seu sublime mistério.


A viagem vertiginosa


2. Mas eu vos prometera falar de minha excursão ao planeta que vos é vizinho e vou me desviando em considerações doutrinárias e filosóficas, esquecendo o escopo de minha visita.

2 É para a vossa ciência uma afirmativa audaciosa, dizer-vos que pude ver o planeta Marte, identificando-me com os seus elementos para poder conhecer de mais perto as suas belezas ignoradas e desconhecidas. 3 A verdade, porém, tem igualmente as suas revelações pelos caminhos da fé. Nem tudo se mostra somente nas análises frias dos laboratórios e das suas retortas. As grandes realidades falam primeiramente ao coração. Na atualidade, à míngua de elementos mais positivos de ordem material nós vos falamos como se fossemos vítimas de nossos surtos imaginativos, mas dia virá que os homens hão de verificar, com as positividades requeridas, a veracidade de nossas afirmações.

4 Como das outras vezes, meus amigos, não pude fazer sozinha uma excursão dessa natureza. O guia de sempre conduzia os meus passos. E foi assim que bastou um pensamento forte de nossa vontade concentrada nesse objetivo, para que efetuássemos essa viagem vertiginosa, cuja duração foi de poucos segundos, de acordo com a vossa contagem do tempo aí na Terra.


Paisagem de Marte


3. Vi-me à frente de um lago maravilhoso, junto de uma cidade, formada de edificações profundamente análogas às da Terra. Apenas a vegetação era ligeiramente avermelhada, mas as flores e os frutos particularisavam-se pela variedade de cores e de perfumes. 2 Percebi perfeitamente a existência de uma atmosfera parecida com a da Terra, mas o ar, na sua composição, afigurava-se-me muitíssimo mais leve. Assegurou-me então o mestre, que me acompanhava, que a densidade em Marte é sobremaneira mais leve, tornando-se a atmosfera muito rarefeita. 3 Vi homens mais ou menos semelhantes aos nossos irmãos terrícolas, mas os seus organismos possuíam diferenças apreciáveis. Além dos braços tinham ao longo das espáduas umas ligeiras protuberâncias à guisa de asas que lhes prodigalizavam interessantes faculdades volitivas. Percebi que a vida da humanidade marciana n é mais aérea. 4 Poderosas máquinas, muitíssimo curiosas na sua estrutura, cruzavam os ares, em todas as direções. Vi oceanos, apesar da água se me afigurar menos densa e esses mares muito pouco profundos. 5 Há ali um sistema de canalizações, mas não por obras de engenharia dos seus habitantes, e sim por uma determinação natural da topografia do planeta, que põe em comunicação contínua todos os mares uns com os outros.

6 Não vi montanhas, sendo notáveis as planícies imensas, onde os felizes habitantes desse orbe desempenham as suas atividades consuetudinárias. 7 As águas são aí muito mais raras. As chuvas quase que se não verificam, mostrando-se o céu geralmente sem nuvens. Afirmou-me o protetor que grande parte das águas desse planeta desapareceram nas infiltrações do solo combinando-se com elementos químicos das rochas, excluindo-se da circulação ordinária do orbe.


A evolução marciana n


4. Afirmou-me ainda o desvelado mentor espiritual que a humanidade de Marte evoluiu muito mais rapidamente que a da Terra e que desde os pródromos da formação dos seus núcleos sociais, nunca precisou de destruir para viver, longe das concepções dos homens terrenos cuja vida não prossegue sem a morte e cujos estômagos estão sempre cheios de vísceras e de vitualhas de outros seres vivos da criação. 2 O dia ali é quase igual ao da Terra, pois conta 24 horas e quase 40 minutos, mas os anos constam de 668 dias, tornando as estações mais demoradas, sem transformações bruscas de ordem climática que tanto prejudicam a saúde dos homens. 3 Disse-me ainda o mestre desvelado que os marcianos n já descobriram grande parte dos segredos das forças ocultas da natureza. Conhecem os enigmas profundos da eletricidade sabendo utilizá-la com maestria. Nas questões astronômicas são eminentemente mais adiantados que os seus companheiros da Terra, conhecendo todos os fenômenos e a maior parte dos enigmas da natureza do vosso planeta. 4 Vi lá formidáveis aparelhos fotoelétricos que registram com precisão matemática a quase totalidade das expressões fenomênicas dos mundos que são mais próximos desse orbe maravilhoso. Em vez do satélite que ilumina as vossas noites, observei que Marte é servido por dois. Duas luas que parecem gravitar uma em torno da outra, porém menores, muito menores que a vossa.


Grande espiritualidade


5. Todavia, o que mais me admirou, ali, não foram as expressões físicas desse planeta, tão adiantado em comparação com o vosso. Nele a sociedade está constituída, de uma forma tal, que as guerras ou os flagelos seriam ali fenômenos jamais previstos ou suspeitados. A vibração de paz e de harmonia que ali se experimenta enche os corações de felicidades nunca sonhadas aí na Terra. A mais profunda espiritualidade caracteriza essa humanidade, cheia de amor fraterno e de respeito ao Criador. 2 Não me é possível de momento falar-vos sobre a organização de suas coletividades, regidas à base do melhor dos fraternismos. Espero, porém, fazê-lo ainda com a permissão de nosso Pai. 3 E como o nosso amigo Emmanuel necessita ainda escrever, vou colocar aqui o ponto final, suplicando a Jesus que envolva a todos nós na vibração luminosa e divina da bênção do seu amor.


Maria João de Deus



[1] No original: “humanidade martiana”.


[2] No original: “A evolução martiana”.


[3] No original: “martianos”.


Obs: Para melhor compreensão do que foi dito pela autora espiritual, atentemos para as considerações de Emmanuel na lição: Pluralidade dos mundos habitados, especialmente nos indicadores 7 e 8, onde diz: “Até agora, neste breve lembrete, nos reportamos simplesmente ao campo físico observável pelos homens encarnados, atreitos, como é natural, ao raio reduzido da percepção que lhes é própria, sem nos referirmos às Esferas espirituais mais complexas que rodeiam cada planeta, quanto cada sistema. Nesse critério, vamos facilmente encontrar, em todos os círculos cósmicos, os seres vivos da asserção de Kardec, embora a instrumentação do homem não os divise a todos. Eles se desenvolvem através de inimagináveis graus evolutivos, cabendo-nos reconhecer que, em aludindo à pluralidade dos mundos habitados, não se deverá olvidar a gama infinita das vibrações e os estados múltiplos da matéria.” ( † )

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Texto extraído da 2ª edição desse livro - 1937. Revista e aumentada pelo autor.

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