Meses depois do acidente do Rio Turvo, familiares de jovens desencarnados no infausto acontecimento procuraram Chico Xavier, em busca de palavras de consolo e, quem sabe? dessa ou daquela comunicação pessoal. Particularmente o Dr. Waldemiro Naffah e sua esposa, D. Mafalda Mussi Naffah, ansiavam por alguma notícia do filho, Waldemiro Naffah Júnior.
Na ocasião Chico lembrou aos pais da transitória impossibilidade do filho comunicar-se e disse de uma senhora que estava presente, em Espírito, naquele papo informal, e que trabalhara muito no socorro dos jovens afogados sob as águas. Ela se denominava Maura Araújo Javarini e dizia ter-se suicidado em São José do Rio Preto, em 11 de maio de 1932.
Presentes também estavam naquela visita a Chico Xavier: os advogados Paulo Nímer e Paulo Roque e o Dr. Argymiro Acayaba de Toledo, Juiz de Direito da Comarca de São José do Rio Preto e signatário do importante depoimento que transcrevemos abaixo:
DEPOIMENTO
No segundo semestre de 1.960, inconsoláveis pela morte, num desastre do Rio Turvo, ocorrido poucos meses antes, de um filho, o Dr. Waldemiro Naffah, advogado em S. José do Rio Preto, e sua esposa, D. Mafalda Mussi Naffah, em companhia do Juiz de Direito, então titular da 3ª Vara, Dr. Argymiro Acayaba de Toledo, do advogado Dr. Paulo Nímer e do economista Paulo Roque, hoje advogado, dirigiram-se a Uberaba, onde residia o médium Francisco Cândido Xavier, dele pretendendo uma palavra de conforto, bem como, embora o casal fosse católico, como ainda o é, uma comunicação mediúnica com o Espírito do filho.
À noite, num centro espírita, onde o Chico prestava assistência espiritual aos necessitados, o casal e seus acompanhantes aproximaram-se, numa fila, do médium, ao qual foi exposta a pretensão. Chico Xavier disse que o rapaz ainda não tinha condição de comunicar-se, mas que, ali ao lado, estava o Espírito de uma mulher, a qual dizia que, no instante do acidente, amparara alguns dos desencarnados, vitimados na queda do ônibus no Rio Turvo, um dos quais o filho do casal e dava o nome de Maura de Araújo Javarini, dizendo que se suicidara em S. José do Rio Preto em 11.05.1932.
No dia seguinte, de retorno a S. José do Rio Preto, dirigiram-se ao Ofício de Registro Civil, onde sem declinar o motivo, o Dr. Waldemiro Naffah pediu ao oficial Gomide uma certidão de óbito de Maura, dando a data do seu falecimento. O oficial Gomide trouxe o livro de óbitos, abriu-o e disse que, na data mencionada, não constava o óbito da falecida. Mas, virando a página do livro, informou que, realmente, havia o assento do óbito da referida Maura, no dia 12, e que ali constava que falecera no dia anterior, o que conferia com a data fornecida pelo Chico.
São José do Rio Preto, 11 de novembro de 1977.
Argymiro Acayaba de Toledo
COMENTÁRIOS
Pela certidão de óbito, [cujo fac-símile poderá ser visto no livro impresso,] o leitor pode compreender melhor o depoimento do Dr. Argymiro Acayaba de Toledo.
Curioso, como Chico, senão por via mediúnica, poderia falar de uma senhora desencarnada quase trinta anos atrás, informar a data correta da desencarnação, embora no próprio Livro de Registro de Óbitos da Comarca de São José do Rio Preto, nada constasse no referido dia e sim no dia seguinte? Em 1932, vale lembrar, o médium residia na cidade de Pedro Leopoldo — MG, tinha apenas 22 anos e nada poderia saber das coisas que ocorria, há milhares de quilômetros de distância, numa época em que os meios de comunicação eram ainda bastante precários. Não há dúvida alguma de que D. Maura, em Espírito, deu as informações a Chico, quando da visita acima comentada. Aliás, alguns meses depois, no dia 24 de abril de 1961, quando da visita de senhoras riopretenses a Chico Xavier, D. Maura volta, desta vez pela psicografia, com as seguintes informações particulares:
1 Meus queridos irmãos e irmãs de Rio Preto, especialmente minhas amigas Zilda, Hilda, Elba n e todos os corações abençoados de nosso núcleo espiritual.
2 Em nome de Jesus, peço a bênção de Deus para nós.
3 Venho rogar-lhes para que façamos, em torno dos nossos queridos irmãos que partiram, através das águas do Rio Turvo, uma oficina de trabalho, de prece, de compreensão e de amor. Todos se acham protegidos, resguardados. 4 Alguns têm podido ver os entes queridos de que se separaram violentamente, entretanto, muitos jazem ainda em tratamento de recuperação, como não podia deixar de ser. 5 Peço-lhes para que as mãezinhas saudosas e os parentes que ainda choram, ajudem a eles pelo serviço do bem, auxiliando aos outros em seus nomes. 6 Essas vibrações de fraternidade e agradecimento serão para eles remédio balsamizante. Quando puderem, volverão a falar, a escrever, a confortar os amigos queridos que ficaram no mundo.
7 De mim própria, também voltei ao mundo espiritual em situação dolorosa. Não me creiam Espírito feliz, e sim coração de boa vontade que procura servir, a fim de servir na própria restauração. 8 Foram as preces de meu pobre João, n unido aos nossos irmãos Antônio Marino e Farid Mussi, n através de vibrações de fortalecimento, que me levantaram. 9 Para restabelecer minhas forças, comecei cooperando em favor de nossos irmãos no Abrigo de Tuberculosos n que se inclinavam ao suicídio; tanto quanto na Santa Casa, buscando com todas as minhas pobres forças, amparar alguém que estivesse nas sombras do desespero. 10 Nada fiz, meus amigos, no entanto, a migalha que tentava fazer, deu-me energias novas. Hoje sou outra. Em nossa terra abençoada de Rio Preto, ainda estou vinculada a deveres que me falam alto ao coração. Ajudem-me pois, também, com o amparo espiritual de vocês. 11 Digo à nossa Zilda, que o Celinho n está convenientemente amparado e que o seu trabalho na Creche n tem sido para ele esperança e consolação.
12 Meus amigos, é preciso ajudar, fazer, merecer e realizar. Aproveitem a existência e o sofrimento que eu não soube valorizar. 13 Voltarei, porém, mais tarde, e desejo, qual acontece com vocês, colaborar no bem, para que o bem me favoreça aqui, na Vida Espiritual, onde cada um vale pelo que fez, habilitando-se com a Divina Bondade de Deus, para fazer o melhor.
14 Não posso continuar, motivo pelo qual, deixo a cada um dos presentes o reconhecimento da serva, pequenina e ainda inútil.
Maura Araújo Javarini
COMENTÁRIOS
À nota de Maura Araújo Javarini
A mensagem de MAURA ARAÚJO JAVARINI foi psicografada alguns meses após sua primeira aparição em Espírito ao médium, justamente numa reunião de que participavam companheiros riopretenses.
Colocamos a palavra de D. Maura no contexto do episódio, em vista da comunicante haver participado dos socorros aos jovens e por haver estreita ligação de seus informes com o acidente. É oportuno destacar a riqueza de revelações na mensagem de D. Maura, tendo sido muito difícil conseguir-se o esclarecimento de dados e nomes nela citados, pois que raras pessoas em Rio Preto têm ciência dos fatos ligados ao remoto falecimento de Maura Araújo Javarini. Devemos muito dos fatos que abordaremos a seguir, à perseverança e dedicação dos amigos ROMEU GRISI e GÉRSON SESTINI, a quem mais uma vez anotamos nosso profundo agradecimento.
NOTAS E INFORMAÇÕES
1 — Zilda, Hilda e Elba — Zilda Nora Souza Santos, Hilda Sestini Grisi e Elba Renzo Campos, senhoras riopretenses presentes à reunião de 24 de abril de 1961, em que Chico Xavier recebeu as anotações de D. Maura.
2 — Meu pobre João — refere-se ao marido João Javarini.
3 — Antônio Marino e Farid Mussi — Membros nos idos de 1932 do Círculo Esotérico de Rio Preto, presenciaram os funerais de D. Maura e condoídos colocaram seu nome para as mentalizações (preces) do Círculo Esotérico. O Sr. Farid Mussi disse ao Romeu Grisi que quando passou o enterro de D. Maura, comentou com o seu colega Antônio Marino: “aí vai a mulher do padeiro, sem a bênção da Igreja, pois é suicida. Vamos orar por ela”.
É importante lembrar, como vemos no relato de Maura Javarini, corroborando, aliás, as palavras de WILLIAM JOSÉ GUAGLIARDI, que as preces apresentam significado muito importante para os Espíritos que sempre se recordam das orações feitas em favor deles. D. Maura, 30 anos depois, ainda se recorda das preces que lhe foram endereçadas pelas almas piedosas de Farid Mussi e Antônio Marino.
4 — Abrigo de Tuberculosos — Refere-se D. Maura à Liga Riopretense de Combate à Tuberculose que na época da desencarnação dela funcionava nos fundos da Santa Casa de Misericórdia. Observem os leitores que a mensagem se refere às duas entidades, que funcionavam próximas, numa só chácara.
5 — Celinho — Célio Álvaro de Souza Santos Júnior, filho de D. Zilda Nora de Souza Santos, presente à reunião. Celinho faleceu no acidente do Rio Turvo, com apenas 15 anos.
6 — Creche — É a Creche da Sociedade de Proteção aos Necessitados Irmã Estelita, de que participa D. Zilda, mãe do Celinho.
Caio Ramacciotti