Filho de Germano Sestini, igualmente co-autor espiritual neste livro e de D. Maria Perini Sestini, HILÁRIO SESTINI nasceu em Rio Preto, a 18 de dezembro de 1921, desencarnando na mesma cidade, por infarto do miocárdio, aos 55 anos de idade, na noite de 30 de março de 1976.
Homem de Empresa, Presidente do Rotary Clube de São José do Rio Preto, católico de formação, não era afeito à prática religiosa, conquanto o caráter reto e o devotamento ao trabalho que lhe enobreciam a vida.
Deixou ao falecer, a esposa Clery Barbour Sestini e 4 filhos: Célia Regina Sestini de Barros Cruz, casada com Augusto Penna de Barros Cruz, Neuza Sestini Assaf, casada com Antônio Carlos Assaf, Mara Sestini e Hilário Sestini Júnior.
Da mensagem que nos trás, pela pena mediúnica de Chico Xavier, e que o leitor verá mais adiante, destacamos, de início, a surpreendente citação da Pharmacia Nossa Senhora do Carmo e da Casa de Saúde Santa Terezinha.
O irmão do comunicante, Gérson Sestini, ao ouvir a leitura da missiva psicografada, já que se encontrava em Uberaba, quando do seu recebimento, chegou a questionar o médium sobre um possível engano de sua parte, pois, não existia em Rio Preto a referida Casa de Saúde. Chegou mesmo a sugerir outros nomes de hospitais riopretenses ao Chico, para que um eventual engano fosse esclarecido. Chico insistiu no nome e o Gérson que não conhecia nem a referida Casa de Saúde nem a Pharmacia (com Ph) N. S. do Carmo, nem nunca ouvira falar no nome de seu proprietário, voltou a Rio Preto e pôs-se a investigar.
Detendo-nos nas alegações do próprio Gérson, não foi fácil localizar a Pharmacia; recorreu a moradores desde muito arraigados à residência em Rio Preto e um antigo barbeiro mostrou-lhe um bar, indicando o prédio que tomava o local dantes ocupado pela Pharmacia do França. O próprio proprietário do bar de nada sabia…
A Casa de Saúde Santa Terezinha, então, nem os mais antigos moradores de Rio Preto a conheceram. Compulsando o álbum da comarca de Rio Preto, Gérson encontrou notícias da Pharmacia Nossa Senhora do Carmo e da Casa de Saúde Santa Therezinha, cujo prédio já foi demolido, desde longo tempo e substituído por nova edificação. De posse desses informes, Gérson Sestini conseguiu comprová-los facilmente.
Também o França da Pharmacia, o Sr. João Baptista França, e os Drs. Marat Descartes Freire e Aguinaldo Pondé, médicos diretores da antiga Casa de Saúde Santa Therezinha foram identificados, entretanto, com as dificuldades compreensíveis.
Analisando o comunicado, prendemo-nos a dois fatos, de certa forma interligados, a Pharmacia Nossa Senhora do Carmo, do Sr: João Baptista França e a Casa de Saúde Santa Therezinha, dirigida pelos Drs. Marat Descartes Freire e Aguinaldo Pondé.
Que o Hilário desses fatos se recordasse é compreensível, pois o
França e sua Pharmacia, os Drs. Marat e Aguinaldo Pondé e a Casa de
Saúde muito lhe falavam ao coração, porquanto com eles convivera em
sua infância. Somente a limpidez da transmissão mediúnica nos poderia
oferecer uma prova de tão clara evidência, pois nenhum dos presentes,
quando da recepção das páginas mediúnicas em Uberaba, sequer conhecia
os nomes aludidos e, na verdade, poucas pessoas em Rio Preto deles se
lembravam.
O que nos causou estranheza foi a circunstância de Hilário ter voltado no Plano Espiritual para a Casa de Saúde Santa Therezinha que não mais existia em Rio Preto, por ocasião de seu decesso.
Existiria no Além uma reprodução desse estabelecimento? Seria apenas uma impressão de Hilário, ao reconhecer, depois de desencarnado, no médico que o socorria, justamente um amigo do Dr. Marat, nome intimamente ligado à Casa de Saúde Santa Therezinha, de suas recordações da meninice? Com essas dúvidas, procuramos Chico Xavier que se manifestou sobre o assunto, informando que os Amigos Espirituais costumam se referir a construções antigas que permanecem na retaguarda de construções atualizadas, até que as entidades ligadas a esses conjuntos habitacionais, os abandonem por não mais necessitarem deles nos vínculos mentais que, de certo modo, os retém a determinadas paisagens do seu próprio pretérito.
Apresentamos a seguir, [no livro impresso,] fotos da Casa de Saúde Santa Therezinha e da Pharmacia Nossa Senhora do Carmo, retiradas ao álbum da Comarca de Rio Preto antigo, para que o leitor possa sentir com mais propriedade, a significativa informação a que nos reportamos.
Enviada à sua mãe D. Maria P. Sestini, 109 dias após sua desencarnação. Psicografada por Francisco Cândido Xavier na noite de 17.07.1976, em Uberaba — MG.
1 Querida mãe, meus queridos Gérson, Hilda, Romeu, Carmelo n e tantos amigos bons que me enviam pensamentos de paz.
2 Estou escrevendo esta carta ainda sob o impacto de 30 de março último. n Não pensava que a ausência do corpo físico surgisse em meu caminho com aquela violência.
3 Um mal súbito, sensação de asfixia. E, depois, o corre-corre de tanta gente procurando, debalde, uma solução para o problema que deixara de ser um enigma, a fim de que a resposta da vida aparecesse a mim, acima de qualquer dúvida sobre a morte.
4 Posso dizer-lhes que não vou assim tão bem como desejaria, mas não me sinto, de qualquer modo, tão mal como no acontecimento imprevisto poderia parecer. 5 Fui arrancado da experiência física, ao modo de árvore sacudida até às raízes pelo vento forte. A tempestade havia de terminar como se desdobrou, ante os meus olhos assombrados. 6 Estava morto e vivo. Ignoro se vocês entenderão isso na realidade fulminativa com que o assunto ainda me surpreende.
7 Sempre ouvia as referências dos amigos espíritas, escutava avisos e anotações da mamãe e, efetivamente, não categorizava os temas e informações que vocês me apresentavam qual se fossem pura alucinação. Faltava-me o pendor para ser um companheiro militante. Acreditava e não acreditava. 8 E porque o tempo surgisse cada vez mais escasso, ia colocando de quarentena as verdades que me descobriram, quando poderia eu haver tido suficiente ponderação para descortiná-las antes do “clique” em que me vi apagado e reaceso.
9 Penso que vocês possuem experiência bastante para imaginar com acerto o itinerário novo a que me vi atirado pelas circunstâncias. 10 Creio-me, porém, na obrigação de afirmar-lhes que um sono pesado me selou as pálpebras, que não mais consegui reabrir.
11 Ouvia as palavras da mamãe e dos familiares outros, mas em vão procurava discernir as vozes da querida Clery e dos nossos filhos. 12 Foi um torpor invencível, como se estivesse repentinamente dopado por agentes de sedação, que me anulavam qualquer impulso para respostas positivas.
13 Compreendi que uma força se me extinguia no corpo e tive a ideia de que os meus órgãos seriam pilhas elétricas que se vissem desligadas, uma por uma, à frente de um poder que não me cabia controlar. 14 Vocês todos, com mamãe, Clery e os meninos, diante de mim, não me opus ao desmaio que me subjugava com certa doce violência que não sei definir. 15 Mas, no fundo, mamãe, seu filho continua sendo seu filho, e tudo que aprendi em religião me voltou de súbito à memória.
16 Ah! homem algum, criatura alguma na Terra, que não haja obtido experiências enormes pela meditação ou pela dor, conseguirá calcular o que seja essa energia prodigiosa da fé viva, atuando no coração, em momentos assim, quando nos vimos em trânsito de uma vida para outra!
17 Senti-me novamente menino e lembrei minha mãe colocando-me as mãos postas em prece. 18 Foi, assim, na condição de homem devolvido à condição de criança, que entrei na Vida Espiritual.
19 A esposa e os filhos queridos, inclusive os netos, flores de nosso grupo, os nossos queridos Andréa e Leandro, n estavam comigo no pensamento, não perdera as dimensões do esposo, do pai e do avô em que sempre me honrei de viver para a família, mas o desconhecido era o mistério que só você, mamãe, havia conseguido colocar em meu coração por matéria de fé. Por isso, orei outra vez, como nunca. As lágrimas me lavavam a face quando despertei na vida nova. 20 O homem teria ficado na Terra? Não, porque nossa Clery e os filhos me comandavam as preocupações; entretanto, a infância em São José voltava à minh’alma.
21 Era o alvorecer de um novo dia. Rio Preto dos meus primeiros dias, da década de 20, formava uma paisagem que reencontrava, rediviva e palpitante, no sentimento.
22 Um amigo, que conhecia do tempo de garoto, o França da Pharmacia Nossa Senhora do Carmo, em tempos transcorridos, me abraçou, enquanto meu avô Sestini n me amparava.
23 Acusava-me perplexo, doente. Receava fazer perguntas. Guardava o medo de readquirir a dor que me abatera, qual se fosse um calhau pontiagudo, no peito, e os amigos me conduziram para a Casa de Saúde Santa Therezinha que reassumia a forma pela qual a conhecera na infância.
24 Um leito alvo e um médico, que me disse ser companheiro de nosso estimado Dr. Marat Descartes Freire Gameiro, me cirurgiou o tórax. Estive alguns dias acamado.
25 Descrever as visitas e as pessoas que reencontrei é tarefa impraticável para mim, por enquanto. Dois médicos me declararam estar na posição de auxiliares dos nossos amigos Dr. Fritz Jacobs n e Dr. Aguinaldo Pondé, e ainda me pergunto quem são.
26 O tempo, aqui, é repleto de trabalho para todos os que procuram o bem e a conversa desnecessária é automaticamente banida de qualquer entendimento.
27 Devo explicar que nossa irmã D. Elvira Grisi n e o nosso prezado Lidaí n são pessoas a quem fico devendo inolvidáveis atenções. 28 O padre Joaquim Manoel Gonçalves, o nosso amigo Spinola Castro n muito me ampararam. Companheiros da vida rotária me fazem ver a fraternidade em novos campos e dimensões e vou aprendendo e reaprendendo.
28 Romeu e Hilda, quando possível, peçam à nossa Clery para continuar valorosa. Nossos filhos são nossos tesouros; o Júnior, a Célia Regina, a Neusa e a nossa Mara. Com os corações devotados, que nos constituem a família, são bênçãos de Deus em nossos caminhos. Confiemos na Providência Divina e marchemos para diante. 30 O que não pude fazer nas realidades do Espírito, a que vocês carinhosamente, sempre me chamavam, se erguerá para mim, agora, por serviço de urgência. A Bondade de Deus é fonte inesgotável e estou acumulando novas reservas de fé viva em nosso futuro.
31 Mamãe, atenda à saúde e fique serena, naquela calma que sua dedicação sempre nos transmitiu. Compreende o seu carinho que presentemente estaremos mais juntos. Muito teria a dizer, mas resumo os pensamentos em meu pai Germano e em você.
32 Mãe querida, para que o padecimento se me faça alicerce das novas construções a que me entregarei de ânimo firme, espero que as minhas notícias não despertem lágrimas.
33 Comunico-me na forma de viajor que está vivendo o inesperado. Não entendo o meu novo clima com muita segurança, mas sei, com raciocínios lógicos, que estou vivo, e isso, agora, é tudo para mim. 34 A morte é uma sombra, espécie de barreira que a verdade com Jesus nos ensinará a derribar, pouco a pouco.
35 Gérson, muito obrigado pelo auxílio das preces. Irmão, você escolheu a “boa parte”. Aproveite, trabalhe tanto quanto puder em seu nobre ideal.
36 Romeu e Hilda, façam o mesmo. Carmelo, não descanse a pretexto de cansaço físico. Prossiga servindo à grande causa que vocês esposaram antes que minha cabeça conseguisse escutá-la.
37 Mamãe, seu filho agradece. Suas orações, nestas horas de minha existência renovada, foram luzes, tanto quanto foram luzes aquelas outras quando você me ensinava o “Pai Nosso”, palavra por palavra. n
38 Boa noite. É o que lhes desejo, ao mesmo tempo que lhes rogo a todos aceitarem meus votos de saúde e paz, com muitas felicidades, todos os dias.
39 Mãe querida, abençoe-me e continue pedindo auxílio de Deus para o seu filho, sempre reconhecido,
Hilário
NOTAS E INFORMAÇÕES
À mensagem de Hilário Sestini, três meses e meio após sua morte.
Sobre o França, sua Pharmacia, da Casa de Saúde Santa Therezinha e referência aos Drs. Marat e Aguinaldo Pondé, já falamos anteriormente.
Vejamos outros itens dignos de análise na bela manifestação de Hilário.
1 — Gérson, Hilda, Romeu, Carmelo — Gérson Sestini, irmão de Hilário; Hilda Sestini Grisi, irmã do comunicante e esposa de Romeu Grisi; Carmelo Grisi, pai de Romeu Grisi.
2 — 30 de março último — data do falecimento de Hilário.
3 — Andréa e Leandro — netos, filhos respectivamente de Neuza Sestini Assaf e de Célia Regina Sestini de Barros Cruz.
4 — Avô Sestini — Avô paterno.
5 — Dr. Fritz Jacobs — Médico alemão, clinicou durante muitos anos em Rio Preto.
6 — Elvira Grisi — Abnegada batalhadora do Espiritismo na região de Rio Preto. Mãe de Romeu Grisi, desencarnada em 1952.
7 — Lidaí é co-autor espiritual neste livro.
8 — “P. Joaquim Manoel Gonçalves e o amigo Spinola Castro” — O Padre era amigo da família, tendo desencarnado em 1944 na cidade de Rio Preto. Dá seu nome ao Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves daquela cidade. José Spinola Castro era figura proeminente nos meios sociais riopretenses.
9 — D. Maria, mãe de Hilário, confirma que sempre ensinou os filhos a orar, dentro da fé católica, daí a observação de Hilário merecer destaque, pois apesar de católico, Hilário não era muito afeito às orações. No Além, contudo, lembrou-se das preces que fazia quando criança, junto ao coração materno.
Há ainda alguma coisa mais a dizer-se. Os leitores, que conhecem a sistemática das tarefas de Chico Xavier em Uberaba, sabem que após a psicografia, com o encerramento da reunião, Chico lê a mensagem recebida em voz alta e depois a entrega ao destinatário.
Ao entregar, porém, a mensagem a D. Maria, genitora de Hilário, disse-lhe o médium que estavam presentes, também em Espírito, três personalidades de Rio Preto, o Dr. Álvaro Rea, o Sr. Nagib Gabriel e o Sr. Inácio Diniz.
Os familiares de Hilário, e em particular, Gérson Sestini, conseguiram identificar o Dr. Álvaro Rea, médico e cônsul da Itália em Rio Preto, o Sr. Nagib Gabriel, comerciante na cidade, mas ainda carece de identificação o Sr. Inácio Diniz.
Caio Ramacciotti