1 Do túmulo para a frente, não encontramos senão nós mesmos, naquilo que realizamos do berço para o sepulcro.
2 A desencarnação, por isso mesmo, assemelha-se, tal qual o renascimento físico, à porta de mil faces.
3 Cada um de nós se retira do campo da luta humana, transportando consigo aquilo que ajuntou.
4 Se guardaste a mente nos prazeres perniciosos, encontrarás no jazigo de pó o torturado anseio de retorno ao corpo terrestre, tentando inutilmente satisfazer inadequada fome de sensações que apenas te arrastariam a mais amplo sorvedouro de miséria e de angústia.
5 Se algemaste o pensamento aos desvarios da posse, além das fronteiras de cinza, buscarás, atormentado, a contemplação do ouro que não mais te atende às solicitações e desejos.
6 Se conservaste o coração no oásis do egoísmo, entre as flores venenosas da indiferença, para lá da grande transformação, pervagarás irritado e sozinho nos desertos da sombra…
7 Mas se te consagraste ao bem por amor ao próprio bem, espalhando amor e paz, depois da transição inevitável, surpreenderás braços consoladores e amigos arrebatando-te a caminhos de redenção e de luz.
8 Não acredites que palavras articuladas a esmo te garantam no dia da liberdade espiritual a felicidade que não construíste.
9 Muitos são exonerados do corpo denso, mas permanecem enjaulados nas paixões que lhes incendeiam a vida…
10 Muitos se fazem invisíveis aos olhos mortais, entretanto, agarram-se ao chão escuro, devorando o fruto amargo dos vícios que plantaram ou dos enganos em que voluntariamente se perderam.
11 Em verdade, todos se preparam para a evidência no mundo, ciosos da máscara que lhes assegurará respeito e dignidade no jogo das aparências, mas raras criaturas se habilitam para o Reino da Luz, onde somos conhecidos pelos tesouros ou pelas calamidades que trazemos por dentro do coração.
12 A morte é o retrato da vida.
Depende, assim, de nós o Céu que podemos iniciar ao sol de hoje ou o inferno que nos acolherá, inflexível, na treva de amanhã.
Emmanuel