1 Querida mãezinha Elena, este é o momento no qual me sinto como quem lhe escreve através de grades que nos impossibilitam um reencontro perfeito, como inutilmente desejo. Não é rebeldia a força que me dita estas palavras. É o anseio de reforçar em seu espírito a certeza da inexistência da morte.
2 Compreendo, porém, que se assim deve ser, é que as Leis de Deus nos criaram as situações diferentes, na vida terrestre e na vida espiritual, em nosso próprio benefício.
3 Venho pedir-lhe que me represente com o papai no enlace de nossa Arlete com o nosso estimado Tony. n Agora que estimo na prece um refúgio espiritual dos mais importantes, peço a Deus para que a nossa Lete seja muito feliz, realizando-se plenamente no lar, tanto quanto a vimos sempre íntegra e maravilhosa na condição de filha e irmã.
4 Peço explicar à querida Babunha n que não preciso dizer de meu reconforto ao vê-la feliz, na excursão de amor e saudade que ela realizou em sua companhia. n O vovô Simeão me convidou para vê-las e abraçá-las, o que fiz várias vezes. 5 E de lá, do antigo recanto de nossa querida família, o tio Nicolai n veio até nós, permutando conosco a felicidade de estarmos de quando em quando, lá e aqui, forjando novos laços de carinho para as nossas vidas na imortalidade que a todos nos espera um dia, em paragens mais ditosas, nas quais a palavra “adeus” esteja riscada para sempre de nossa memória.
6 Mãezinha Elena, quando nos seja possível, façamos a nossa projetada visita ao Instituto em que os nossos irmãos doentes esperam por nós. n
7 Estimaria alongar-me o suficiente para repetir-lhe e repetir a meu pai o quanto os amo, no entanto é preciso encerrar esta carta. Muito carinho e votos de felicidade à nossa querida Lete e ao nosso prezado Tony.
8 Com o seu coração querido e com o querido coração do papai dentro do meu, desejo ainda dizer que estamos cooperando em auxílio de nossa doentinha Else, que precisa prosseguir sob os cuidados atenciosos que está recebendo e, com muito carinho e alegria na felicidade de nosso abraço, de alma para alma, sou sempre o seu filho e companheiro do coração.
Elcinho
(15/2/1980)
NOTAS E COMENTÁRIOS
1. Venho pedir-lhe que me represente com o papai no enlace de nossa Arlete com o nosso estimado Tony - o médium Chico Xavier desconhecia o casamento próximo da irmã de Elcio, Arlete, com Antonio Cittadino.
2. Peço explicar à querida Babunha que não preciso dizer de meu reconforto ao vê-la feliz, na excursão de amor e saudade que ela realizou em sua companhia - Elcio refere-se à viagem da mãe e da avó à Rússia, terra natal de ambas, uma viagem sonhada há muito tempo, mas suspensa provisoriamente devido à partida de Elcinho. No dia do desencarne do neto, Babunha havia conversado animadamente com ele sobre a viagem.
3. Tio Nicolai - Nicolai Korkisko, irmão de Babunha, desencarnado em Kiev, quando de sua estada nessa cidade, em 1979. Chico Xavier ignorava totalmente esse desencarne.
4. Mãezinha Elena, quando nos seja possível, façamos a nossa projetada visita ao Instituto em que os nossos irmãos doentes esperam por nós - mais uma vez, Elcio convoca a mãe para participar com ele das visitas fraternas aos irmãos hansenianos de Pirapitingui.
5. (…) Desejo ainda dizer que estamos cooperando em auxílio de nossa doentinha Else, que precisa prosseguir sob os cuidados atenciosos que está recebendo - Elcio fala, aqui, da jovem Else de Oliveira Braga, sua prima, na época acometida por câncer nos pulmões, doença esta que a levaria ao desencarne em 25 de abril do mesmo ano, em São Paulo.
Pessoas já citadas por Elcio em outras mensagens: vovô Simeão, Babunha.
Sessenta e dois dias depois de seu desencarne, a jovem Else viria, pelo mesmo lápis mediúnico de Chico Xavier, a se comunicar com a família, assim iniciando a mensagem: “Querida mãezinha Eunice, estou ainda indecisa quanto ao meu restabelecimento de todo, mas venho cumprir a promessa da carta.”
Revelador início para uma comunicação autêntica e que faz parte de sua promessa em vida de que, caso desencarnasse, viria trazer notícias por via mediúnica, assim como o fizeram Elcio, seu primo, e Laurinho Basile, seu ex-namorado, que estão contidas no volume Gaveta de Esperança (co-autoria: Priscilla Basile).
Mais adiante, Else confirma sua crença na continuação da vida e na veracidade das mensagens dos dois jovens: “No íntimo, guardava a certeza de que não havia morte. As mensagens do Elcinho e do Laurinho de que me chegavam notícias me impunha clareza aos pensamentos.”
Mostrando como haviam sido gravadas forte e consoladamente as comunicações dos jovens em sua mente, escreve: “As conversas em torno da tia Helena e do Elcinho e a lembrança de palavras que o Laurinho Basile teria escrito depois da morte me vieram à cabeça e serenei-me.”
E prossegue, à frente, relatando as imagens vistas do Plano Espiritual, nas quais fala de sua gratidão pelo momento: “O Elcinho está comigo, iniciando-me no processo de escrever por mão alheia, e o Laurinho igualmente me auxilia. Agradeço à tia Helena por ter vindo. Estamos resguardados de idêntico modo: o Elcinho me escora, e a tia Helena acompanha os seus passos. Quero dizer-lhe que estou agradecida. Não encontro as palavras certas para demonstrar a jubilosa gratidão que sinto; entretanto, creio que a prece guarda o poder de revelar-nos em qualquer situação, e através de minhas rogativas ao Mais Alto desejo a ambas, e a todos os nossos corações queridos, saúde, paz, alegria e encorajamento.”
Depois de agradecer à tia Helena e aos amigos espirituais que a auxiliaram, a jovem assim termina sua carta:
“Receba, querida mãezinha, todo o agradecimento marcado de muitas saudades e iluminado pelas orações que formulo aos céus por sua felicidade, da filha sempre devedora e cada vez mais reconhecida,
Else
Else de Oliveira Braga.”
O leitor mais atento achará, a esta altura, que cometemos um erro de revisão, pois o nome de D. Elena, mãe de Elcio, aparece na mensagem de Else com “H”. Nenhum erro. Apenas deixamos com a grafia original para mais uma confirmação da veracidade da comunicação, pois, ao verificarmos o diário deixado por Else, fomos constatar que ela em vida escrevia o nome da tia com “H”. Liberta do carro físico, Else conserva os mesmos maneirismos, como nos ensina a Doutrina Espírita.
Eduardo Carvalho Monteiro