21|10|1942
1 Meus filhos, Deus abençoe a vocês, na luta redentora de cada dia, proporcionando-lhes aos corações os divinos eflúvios da paz.
2 Aqui nos encontramos, no doce reencontro de sempre, em nossa permanente casa espiritual. Em verdade, meus filhos, uso semelhante expressão com justa propriedade, porque todos nós, em nos entendendo mutuamente, formamos um edifício sublime, cheio de vida e luz na Espiritualidade, quando o fundamento desse edifício é o amor. É a casa da simpatia, das afinidades, das atrações. Dentro dessa nossa organização, que resiste aos séculos, nos reunimos frequentemente, não só no que se refere às bases essenciais para as vitórias do porvir, mas também para comentar as pequeninas ocorrências comuns que são como flores da estrada, perfumando o coração. Podem crer que todas as vezes em que pensam no papai amigo estamos a conversar. A matéria mental ainda é uma incógnita para o habitante comum da Terra, mas para nós outros tem a feição de mecanismo maravilhoso!
3 Quase sempre estamos juntos. Nem poderia ser de outro modo. Aliás, o mesmo acontecia, antes de 1934. Meu pensamento andava com vocês em toda parte. Fosse no Paraná, fosse em Minas, embora estivesse eu no Rio, continuávamos unidos. É a cadeia magnética do amor milenário, prendendo corações, em santo enlevo do espírito. E sinto-me feliz destacando o repouso que sempre encontrei em nossa “casa diferente” da do mundo. Parece-me agora que tão logo alcancemos certas expressões mais nobres e altas de conhecimento passamos, enquanto no Planeta, a possuir duas residências: uma a da atividade corporal propriamente dita, onde nos movimentamos muitas vezes em companhia das convenções e dos compromissos; a outra, a do espírito, casa eterna, onde vivemos com a confiança e o amor. Na primeira, podemos receber a visita de todos os fluidos, mas na segunda o coração é mais exigente. É que aí somente penetram afeições que o tempo torna mais belas, músicas que condigam com a delicadeza dos nossos melhores sentimentos, conversações que tenham o gosto sublime de eternidade.
4 Às vezes, criaturas convivem conosco anos e anos a fio na primeira, sem penetrarem a segunda. É preciso adquirir a chave da confiança perfeita e darmo-la não pode constituir resolução superficial. Compreenderam agora a minha singela definição de nossa “casa diferente?” É essa a segunda habitação, onde não há morte, nem separações para sempre, é o santuário excelso, onde o amor rege todas as providências e relações. Quando nos sentimos senhores nesse lar eterno, encontramos bases de paz que na primeira habitação somos incapazes de idealizar.
5 É por isto que, embora atarefado e mesmo assoberbado de trabalhos, a favor dos nossos queridos familiares e de minha própria evolução espiritual, experimento com vocês suave aconchego da tranquilidade, indispensável ao reabastecimento de nossas energias.
6 Relativamente à sua saúde, meu caro Rômulo, deve usar o Cantharis, de fato. É útil e oportuno.
7 Fiquei satisfeito com a incumbência conferida ao Fausto. A ida ao Rio ser-lhe-á útil de modo geral e, ao mesmo tempo, constituirá razão de prazer para todos. Não nos desanimemos. O trabalho é nosso júbilo de cada dia, material ou espiritualmente falando. Às vezes, penso, como será venturoso o dia de alcançarmos a compreensão e união perfeitas de todos. Não será então contentamento, só o alimentar a esperança?
8 O lavrador sente especial satisfação junto de seu campo de esforço. Para outrem, as leiras de terra estarão ásperas, mal adubadas, escorregadias, entre espinhos e pedras. O lavrador, porém, não vê isso. Conversa ele com a semente, com o broto. Isso lhe dá forças novas. Sabe extrair tesouros da chuva, como sabe aproveitar o estio forte. É preciso ajudar a semente, protegê-la, amá-la, ampará-la. Que serão espinhos e pedras no dia dos frutos? Ninguém dá por eles à chegada da colheita farta.
9 Tenho procurado auxiliar a você, minha bondosa Maria, no capítulo dos passes. O receitista é de opinião que deva você prosseguir com os elementos indicados, abstendo-se do Iodo. A sua indisposição obedeceu mais a fermentações havidas que se agravaram pelos calores fortes, quando qualquer resfriado determina tantas modificações. Vejo-a, entretanto, mais forte e isto me alegra muito. Aliás, noto mesmo que as suas melhoras orgânicas gerais são consideráveis, porque você emagreceu um pouco. Mantenhamos no pensamento a certeza da assistência divina. A canalização dessas ideias leva a todas as regiões orgânicas as melhores notas de energia, porque, um dia, vocês verão conosco que pensamento também circula como sangue.
10 Pelos netos, tenho feito o possível por assisti-los convenientemente, nos serviços de fim do ano. Esperemos em Deus que venham sadios e tranquilos.
11 E agora, meus filhos, despeço-me. Rogo a Deus conceda a vocês tudo o que existe de bom e útil. Reunindo a ambos num abraço muito grande e afetuoso, sou o papai muito amigo de sempre,
A. Joviano