18|12|1940
1 Meus filhos, Deus os abençoe, proporcionando-lhes muita tranquilidade.
2 Venho agradecer os pensamentos de amor que tenho recebido de vocês nestes dias. A nossa alma, principalmente quando nos sentimos libertos dos laços da carne, não deixa de ser uma estação receptora do mais elevado poder. Por essa razão, não precisarei formular meu reconhecimento em palavras humanas. Vocês sabem tudo, porque os que se amam dispensam as expressões articuladas do mundo. Entendemo-nos pelo coração.
3 Muito me alegrou passar espiritualmente, ao lado de todos, algumas horas do dia 14, quando a lembrança afetuosa dos familiares queridos assinalou o aniversário de nossa separação no plano visível. Foi melhor que houvéssemos passado aqueles momentos assim como aconteceu, em brando silêncio do coração. O silêncio com o amor tem uma voz mais poderosa que todas as possibilidades de som da natureza terrestre.
4 Nossas comemorações foram, portanto, mais íntimas, porque organizadas no santuário interior, com tudo o que possuímos de mais santo para comungar no coração.
5 Na data, alguns amigos espirituais lembraram-se igualmente de minha amizade pobre e singela. Isso me fez rejubilar de agradecimentos ao Todo-Poderoso. Na esfera em que me encontro, um grupo de entidades amorosas, no sorriso infantil que lhes caracterizava a ternura, me trouxe uma rosa divina. Era a flor que Célia me enviava. Flor de luz e de amor, cujas pétalas traziam o doce perfume de sua dedicação e de sua pureza sem mácula. Será inútil dizer-lhes que meu primeiro impulso foi o de “voar” para perto de vocês e dos demais entes amados, ainda no mundo, a fim de distribuir com todos a riqueza do aroma celestial. Deus concedeu-me essa grande ventura e quase durante todo o dia estive ao lado de uns e outros, deliciando-me com as nossas recordações, hoje iluminadas pela luz imortal do Evangelho, graças a Deus! Pelas minhas expressões, meu caro Rômulo, poderá você avaliar minha doce alegria! Nem sei como testemunhar a Jesus o meu agradecimento!
6 Felicito aos netos pelo repouso anual, depois das lutas escolares.
7 Você, Roberto, vai bem mais forte da saúde. Entretanto, será bom não abusar nos dias de descanso, mormente no que se refere à alimentação. É necessário que cuide igualmente do alimento do espírito. Aproveite o tempo e renove, de vez em quando, seus conhecimentos, recordando as lições do ano findo e preparando-se para o que se aproxima. Vejo que seu espírito recebe minhas recomendações com certa estranheza, mas com o amor de todos os tempos. A estranheza é justa. Como você não me percebe com os olhos e como se encontra sempre em luta com as opiniões dos companheiros, que não concordam com as verdades espiritistas, dou razão aos sentimentos de dúvida que, por vezes, invadem seu raciocínio. Mas sabemos que isso tem pouca importância. O que vale é o amor e esse é a luz de nossas almas. Desejava muito que você e Wanda lessem, meditadamente, a história de Célia, relendo-lhe os capítulos. Isso será bom para ambos. Façam como o papai e sublinhem os pensamentos que mais os impressionaram. Comentem os fatos relativos aos personagens dessa história tão profunda e tão real. Célia é o centro de grandiosa exemplificação.
8 Figuremos o mundo como uma grande cidade que sofresse calamidades e incêndios. Seus habitantes queriam sair em busca de outros horizontes, mas não encontravam a porta, no torvelinho de seus desesperos. Mas Deus apiedou-se do povo aflito e enviou-lhe Jesus como salvador do espírito coletivo. Jesus é a porta. Os que tiveram boa vontade encontraram esse caminho e saíram da cidade em chamas. É verdade que é uma cidade feita por Deus, mas cujos habitantes atearam fogo às coisas mais sagradas, criando semelhante situação. Célia é um exemplo para to- dos quantos desejem achar o caminho. Seu coração soube renunciar a si mesmo, tomar a cruz e seguir o Nazareno até à porta salvadora. Muitos homens se queixam, meus filhos, dos obstáculos e das circunstâncias adversas. Isso, porém, é porque não querem sair. A porta de salvação está aberta para todos. Entretanto, são raros os que se dispõem a partir pela prática do bem, pelo abandono de todo egoísmo, pela dedicação perene à boa luta, aquela que enobrece o espírito e lhe fornece nova luz.
9 Como falei em particular ao Roberto, não devo omitir meu desejo de dar-lhe o meu abraço, minha querida Wanda! Minhas felicitações ao seu esforço. Você aproveitará sempre seguindo o roteiro traçado pela mamãe, no caso das companhias, das relações, etc. No colégio, sinto muita satisfação em cooperar com você, indiretamente, no estudo das lições. Seja assim sempre, tolerante e cheia de compreensão, em face das companheiras. Nem todas terão pensamentos iguais aos seus. Como sabe, cada qual é filha de lares diferentes, de onde herdam sentimentos e qualidades em contraposição com aqueles que guardamos no coração. Mas uma atitude de fraternidade digna eleva sempre quem a revela no caminho de esforços de cada dia. Seus estudos de Evangelho vão muito bem. O chamado “cultinho” é uma boa escola. Quando você for convidada para fazer as preces, lembre-se de mim, pois irei orar com você a Jesus, o nosso amigo fiel de todos os tempos.
10 Agora, Rômulo, já que falamos de datas, cumprimento a você, meu filho, pela de amanhã. Também o 19 de dezembro me traz recordações jubilosas! Marca nosso reencontro espiritual sob o mesmo teto amigo. Pai e filho como bons irmãos! Com esse programa sincero, não pode haver felicidade maior! Entre os pensamentos que seu coração receberá, enviarei o meu pedindo a Deus que transforme os seus dias numa coroa de triunfo. Triunfo pelo trabalho útil e pelo esforço digno e constante.
11 Você, Maria, continue com os remédios, sendo justo aconselhar-lhe o Gelseminum durante dois dias.
12 E agora, meus filhos, devo partir, ficando aqui com vocês pelos laços da alma reconhecida e feliz.
Deus os abençoe a todos.
Envolvendo-lhes os corações num só abraço, deixo-lhes toda saudade e todo afeto,
A. Joviano