02/10/1946
1 Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, concedendo-lhes muita energia e paz, alegria e bom-ânimo, no círculo de lutas purificadoras de cada dia.
2 Abençoadas sejam, não somente as horas em que vocês se entregam ao Senhor, através da oração, cultivando a fé, e sim também as que consagram ao esforço das mãos, em que vão realizando a estrutura da organização espiritual a caminho do grande porvir.
3 Rômulo referiu-se ainda há pouco a conversações antigas em que, muitas vezes, cogitamos desse espírito educativo – mãos e coração, sentimento e atividade.
4 É-me grato recordar, igualmente, que não laborávamos em erro. Velhos e dedicados amigos nossos têm vindo para cá em condições difíceis, outros se encontram às vésperas da partida, com passagens adquiridas para o regresso, vivendo, porém, desde aí, a tremenda luta que os espera “deste lado”, onde a colheita é sempre a resposta da semeadura.
5 Infelizmente, comentavam conosco a necessidade do esforço pessoal no mecanismo da esfera humana, entretanto, se eram diplomados na teoria, escapavam sutis à ação construtiva em seguida ao verbo. E a verdade é que começam acordando aí e terminam aqui o despertar, angustiados e oprimidos, geralmente, no santuário do que possuem de mais caro, isto é, a família, o jardim doméstico, a paisagem do coração.
6 O homem distraído do trabalho individual desvia-se inevitavelmente para o terreno baldio das ilusões, ilusões que se estendem aos entes que lhe são mais queridos, cegando a assembleia familiar de mil modos, eclipsando-lhe a visão justa das situações e das coisas.
7 Seriam muito descabidos nossos colóquios habituais se não visassem à reestruturação de nossa personalidade eterna para uma vida eterna. Fé para nós, por isso mesmo, significa serviço, realização, esforço incessante. Temos um grande dever na Terra – o da preparação. Fazemos e desfazemos as coisas, recapitulamos com a natureza diversas obrigações no curso dos meses para organizar o campo maior e definitivo em que nos movimentaremos depois do corpo perecível.
8 Graças à Divina Inspiração, não fui cego na esfera da educação dos filhinhos que a Providência me confiou e, mesmo assim, recordando o pretérito, voltaria se me fosse possível aos dias idos para aproveitar a substância do tempo e edificar ainda mais no terreno imperecível do espírito. Assim me refiro porque sei a compreensão que vocês dedicam às minhas pobres palavras e repito semelhantes raciocínios para fortificá-los perante as lutas renovadoras que ressurgem todos os dias, ensinando em nome do eterno Pai, dentro da escola do coração.
9 Quando os atritos do mundo se fizerem mais fortes, quando os trabalhos se agravarem, lembremo-nos disso e sentiremos a doce alegria de quem não foi inútil e nem gastou as horas de Deus em vão. O louco para nós é aquele que deixa o dia correr sem penetrar-lhe a bênção, sem gozar-lhe os bens legítimos, sem receber-lhe as dádivas imortais. Cada dia é um tesouro de luz para que o homem domine as sombras, entretanto, a maioria dos homens estima as sombras em favor do sono inútil dos sentidos, fugindo à luz. Para todos eles, contudo, o tempo é um juiz implacável, cobrando todas as perdas a dobrados preços de lei.
10 Bem-aventurados os que acordam na carne e põem-se a caminho da Vida Superior. Quase toda gente espera a morte fascinada pelo repouso, mas que repouso pode alcançar aquele que fugiu a todas as possibilidades de criação da verdadeira paz?
11 A vinda de alguns amigos nossos para cá é sintomática, dolorosa. Deixam na esfera dos homens vastos círculos de considerações sociais, recursos financeiros, programas de garantia estável na zona dos interesses do corpo, entretanto, eles mesmos permanecem desamparados, como se estivessem perseguidos em si próprios por terríveis demônios, criados dentro deles mesmos pelos falsos princípios que estabeleceram, alimentaram e consolidaram em suas mentes. Imaginemos um homem inoculando espinhos de todos os matizes na própria cabeça durante determinado tempo de olvido necessário e figuremos a morte como sendo a técnica operatória de extração desses corpos estranhos, no verdadeiro tempo que é o da realidade. Esses espinhos, porém, são feitos de longos anos e não saem com uma hora de orações, ou de angústias lastimáveis e respeitáveis.
12 Essa é a lei – lei que vigora para todos, universal e divina. Conservem, pois, a única liberdade digna de ser vivida, que é a de obedecer a Deus. Dela decorre toda a independência legítima, todo o bem. Enquanto nos conservamos à distância de seus artigos e parágrafos vivos, estamos com “a nossa liberdade” dentro da qual nos escravizamos vezes inúmeras, perdendo séculos na vanguarda espiritual que devemos ambicionar.
13 Passemos, porém, às nossas considerações de ordem imediata. Você, Maria, conforme o nosso clínico amigo, poderá prosseguir na aquisição de vitamina C através do Cantana e dos recursos naturais, pelas frutas. Essa providência melhorará o seu patrimônio de defesa orgânica.
14 Repouse ainda uns dois ou três dias, fisicamente, quanto seja possível. Fará muito bem à recomposição de suas forças nervosas. Durante os quatro dias próximos, use Ipecacuanha alternado com o Lachesis. É conselho do nosso amigo, portador de muitos benefícios para o seu organismo nestes dias.
15 Peço a Deus conceda a vocês todos muita saúde, equilíbrio e paz. E esperando que essa trilogia nos siga de perto, a fim de que possamos valorizar as concessões divinas na hora presente de nossa evolução e redenção, abraça-os muito afetuosamente o papai muito amigo de sempre,
A. Joviano