Maria Helena Rezende, filha adotiva do casal Lauro Moraes Mello e Olga Boaretto de Mello, residente em Sorocaba, SP, sempre foi uma criança doentia, apresentando grande dificuldade para falar e retardo na escolaridade.
Com o passar dos anos, já atingindo a maioridade, apenas conseguia escrever seu nome e mais algumas palavras, embora frequentando escolas especializadas.
Porém, seus pais nunca desanimaram, sempre esperançosos de verem a filha querida apresentar progressos no campo intelectual.
Quando essa esperança era maior, em face da aprovação da jovem em testes profissionalizantes, numa escola especializada da APAE de São Paulo, com início das aulas marcado para fevereiro de 1978, ela caiu gravemente enferma, acometida de leucemia aguda, vindo a falecer dentro de um mês, aos 6 de novembro de 1977.
Muito saudosos com a partida de Maria Helena, seus pais, espíritas, passaram a frequentar, com intervalos de poucos meses, as reuniões públicas do GEP, em Uberaba, na expectativa de receberem suas notícias. Estas sempre vieram, do punho de Benfeitores do Mundo Maior, em forma de pequenas informações de seu estado espiritual e da assistência que lhe era dispensada. Notícias curtas, mas suficientes para se transformarem em abençoado bálsamo para os seus corações.
Cinco anos se passaram. Somente após este período é que Maria Helena teve condições de se comunicar pessoalmente, pela escrita mediúnica, totalmente refeita de suas deficiências.
Em mensagem afetuosa, contou aos pais amados que a morte representou o despertar de novo dia para sua alma, liberada de um instrumento físico imperfeito… Mas, profundamente grata pelo imenso amor recebido no lar acolhedor, recordando sua posição de filha adotiva, nunca poderia esquece-los, e entrega-lhes seu coração de filha, chorando com jubiloso enternecimento por pertencer-lhes…
Eis a sua comovente carta:
CARTA DE MARIA HELENA n
1 Querido papai Lauro e querida mãezinha Olga o tempo não apaga as marcas luminosas do amor gravadas no coração.
2 Sou eu mesma. A filha da ternura com que me criaram para o bem e para a transformação de que necessitava.
3 Sou eu mesma a lhes pedir para que me abençoem. Depois de tanto tempo, retorno ao convívio dos pais que a infinita bondade de Deus me colocou nos caminhos.
4 Filha adotiva! Quem diria isso, se nos amamos tanto?
5 Quem se referiria a semelhante condição entre nós, se fui a flor doente que recolheram no lar, nutrindo-me a vida com o orvalho das lágrimas de carinho com que me acompanharam a provação bendita, n que me colocou novamente de pé na jornada do mundo?
6 Não sei dizer o que me vai no peito, agora que consigo escrever-lhes, passando no papel tudo de melhor que eu possa trazer na própria alma…
7 Sei, porém, que posso afirmar-me feliz por ter tido o aconchego dos braços amorosos com que ampararam a menina sempre doente, e organicamente prejudicada, que sempre fui na travessia última das aspirações e dificuldades no Plano físico.
8 A liberação do instrumento imperfeito e bendito que me resguardava, foi o despertar de novo dia…
Encontrei a continuidade de nossa união familiar no devotamento com que a benfeitora Maria de Jesus n me recebeu nos braços de avó e mãe pelo coração. A saudade do lar terreno me senhoreava ainda todas as emoções…
9 Era o anseio de retornar ao papai Lauro e à mãezinha Olga, aos queridos irmãos Roberto e Lauro, n e a tudo o que me constituía o mundo pequenino de filha doente que passou por nossa casa querida, ignorando, para a felicidade minha, o que pudesse ser saúde ou equilíbrio orgânico.
10 Poderia qualquer pessoa pesquisar-me os sentimentos e falar-me de minha condição real em nossa família e nunca entenderia o que fosse a palavra adoção!… Mas sabia que possuía um pai que me adorava, embora as imperfeições de meu corpo, e que poderia contar com o regaço de mãe que me habituou a buscar em sua compreensão o meu mais alto refúgio. 11 É por isso que venho agradecer as noites de sacrifício que me deram, e os dias de proteção incessante com que me estimulavam a viver e sonhar sempre com a luz da esperança, no amanhecer do dia que raiou finalmente para mim.
12 Não, nunca me adotaram. Sou a filha que a mamãe Olga esperava, a criança feliz que desejou tanto faze-los felizes!
13 Sou a companheira do lar a quem os irmãos inesquecíveis mimoseavam com as mais lindas lembranças, a menina encantada, não porque apresentasse algo de belo no mundo oculto dos meus íntimos pensamentos, mas encantada por haver encontrado os pais melhores do mundo, os pais que se esqueceram para que eu fosse constantemente lembrada no carinhoso cuidado da família inteira.
14 A querida mãezinha Maria de Jesus e o querido avô José Silveira Mello n me fizeram ver toda a realidade, aqui na vida espiritual, e chorei de júbilo ao saber que fui tão amada quanto os filhos mais ditosos da Terra.
15 Almas belas, devotados benfeitores. A criança excepcional que lhes foi motivo de tanto trabalho agora lhes surge refeita a fim de atestar-lhes o reconhecimento que lhe vai no âmago do Espírito.
16 A querida mãezinha Izaura n aqui se encontra finalmente comigo, a me partilhar as orações com que me dirijo a Deus, rogando ao seu amor infinito os acobertem na luz da felicidade perfeita.
17 Obrigado ou muito obrigado seriam palavras sem qualquer símbolo que me expressassem a emoção. Por isso, falo-lhes de joelhos, pedindo aos mensageiros da vida superior os enriqueça de bênçãos constantes.
18 Querido papai Lauro e querida mãezinha Olga, estou bem e todos estamos bem porque nos amamos em Jesus na união para sempre.
19 Minhas notícias são pobres de expressão, porque faltam cores para materializar o que sinto; no entanto, entrego-lhes o meu coração de filha, chorando com jubiloso enternecimento por pertencer-lhes.
20 Pais queridos, aqui nestas frases simples fica palpitando o amor imenso que lhes traz a filha do carinho e das entranhas da alma com que me acalentaram no mundo, a sempre filha do coração,
Maria Helena Rezende
NOTAS E IDENTIFICAÇÕES
1 - Psicografia de Francisco C. Xavier, em reunião pública do GEP, Uberaba, Minas, na noite de 31/7/1982.
2 - A provação bendita que me colocou novamente de pé na jornada do mundo. (…) na travessia última das aspirações e dificuldades no Plano físico. (…) a liberação do instrumento imperfeito e bendito que me resguardava. (…) me fizeram ver toda a realidade, aqui na vida espiritual. — Agora refeita, considerando bendita a sua provação, Maria Helena demonstra conhecimento da Lei de Causa e Efeito, plenamente consciente de suas últimas existências terrenas. Necessitava de um corpo doentio (instrumento imperfeito) em sua última encarnação (travessia última) para alcançar plena saúde espiritual.
O seu caso esclarece a situação real dos deficientes mentais no Mundo, carentes do amor de todos que os cercam, para alcançarem a almejada cura espiritual.
Na literatura espírita, várias obras analisam e esclarecem esse importante tema, dentre elas: O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questões 371 a 374; Religião dos Espíritos, Francisco C. Xavier, Emmanuel, FEB, Rio, Cap. 6; Nos Domínios da Mediunidade, F. C. Xavier, André Luiz, FEB, Cap. 25; Chico Xavier, Dos Hippies aos Problemas do Mundo, F. C. Xavier/Emmanuel, LAKE, São Paulo, Cap. 14.
3 - Benfeitora Maria de Jesus — Benfeitora Espiritual.
4 - Roberto e Lauro — Irmãos.
5 - Avô José Silveira Mello — “Avô adotivo”, falecido em 1920, pai de Lauro Moraes Mello. Maria Helena não o conheceu em vida material, pois nasceu em 24/12/1958.
6 - Mãezinha Izaura — Izaura Moraes Mello, mãe de Lauro, falecida em 19/4/1969.
Hércio Arantes