1 Em todos os tempos, o homem sonha com a pátria celestial.
2 As ideias de céu e inferno jazem no pensamento de todos os povos.
3 Os indígenas da América admitem o paraíso de caça abundante e danças permanentes, com reservas inesgotáveis de fumo.
4 Os esquimós localizavam o éden nas cavernas adornadas.
5 As tribos maori, que cultivam a guerra, por estado natural de felicidade, esperam que o céu lhes seja uma rinha eterna, em que se digladiem, indefinidamente.
6 Entre os hindus, as noções de responsabilidade e justiça estão fortemente associadas à ideia da sobrevivência. De conformidade com a crença por eles esposada, nas eras mais remotas, os desencarnados eram submetidos às apreciações do Juiz dos Mortos. Os bons seriam destinados ao paraíso, a fim de se deliciarem, ante os coros celestes, e os maus desceriam para os despenhadeiros do império de Varuna, o deus das águas, onde se instalariam em câmaras infernais, algemados uns aos outros, por laços vivos de serpentes. Situados, porém, na sementeira da verdade, sempre admitiram que, do palácio celeste ou do abismo tormentoso, as almas regressariam à esfera carnal, de modo a se adiantarem na ciência da perfeição.
7 Os assírio-caldeus supunham que os mortos viviam sonolentos em regiões subterrâneas, sob amplo domínio das sombras.
8 Na Grécia, a partir dos mistérios de Orfeu, as concepções de justiça póstuma alcançam grau mais alto. No Hades terrificante de Homero, os Espíritos são julgados por Minos, filho de Zeus.
9 Os gauleses aceitavam a doutrina da transmigração das almas e eram depositários de avançadas revelações da Espiritualidade Superior.
10 Os hebreus localizavam os desencarnados no “scheol”, que Job classifica como sendo “terra de miséria e trevas, onde habitam o pavor e a morte”.
11 Com Vergílio, encontramos princípios mais seguros no que se refere às leis de retribuição. Na entrada do Orco, há divindades infernais para os trabalhos punitivos, quais a Guerra, o Luto, as Doenças, a Velhice, o Medo, a Fome, os Monstros, os Centauros e as Harpias, as Fúrias e a Hidra de Lerna, simbolizando os terríveis suplícios mentais das almas que se fazem presas da ilusão, durante a vida física. Entre esses deuses do abismo, ergue-se o velho ulmeiro, em cujos galhos se dependuram os sonhos, aí principiando a senda que desemboca no Aqueronte, enlameado e lodoso, com largos redemoinhos de água fervente.
12 Os egípcios atravessavam a existência, consagrando-se aos estudos da morte, inspirados pelo ideal da justiça e da felicidade, além-túmulo.
13 Mais recentemente, Maomet estabelece novas linhas à vida espiritual, situando o Céu em sete andares e o inferno em sete subdivisões. Os eleitos respiram em deliciosos jardins, com regatos de água cristalina, leite e mel, e os condenados vivem no território do suplício, onde corre ventania cruel, alimentando estranho fogo que tudo consome, e Dante, o vidente florentino, apresenta quadros expressivos do Inferno, do Purgatório e do Céu.
14 As realidades da sobrevivência acompanham a alma humana desde o berço. Intuitivamente, sabe o homem que a vida não se encontra circunscrita às estreitas atividades da Terra.
15 O corpo é uma casa temporária a que se recolhe nossa alma em aprendizado. Por isso mesmo, quando atingido pelas farpas da desilusão e do cansaço, o Espírito humano recorda instintivamente algo intangível que se lhe afigura ao pensamento angustiado como sendo o paraíso perdido. Desajustado na Terra, pede ao Além a mensagem de reconforto e harmonia. Semelhante momento, porém, é profundamente expressivo no destino de cada alma, porque, se o coração que pede é portador da boa vontade, a resposta da vida superior não se faz esperar e um novo caminho se desdobra à frente da alma opressa e fatigada que se volta para o Além, cheia de amor, sofrimento e esperança.
Emmanuel
[1] [O Evangelho, 19.6.7]