O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Registros imortais — F. C. Xavier e outros médiuns do Grupo Meimei — Autores diversos


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Amizade e lição

82ª reunião | 5 de junho de 1958.


Presentes: Ênio Santos, Francisco Teixeira de Carvalho, Elza Vieira, Laura Nogueira Lima, Geni Pena Xavier, Lucília Xavier Silva, Nélio Cerqueira, Francisco Cândido Xavier, Edmundo Fontenele, Antônio Cordeiro Albuquerque, Gil de Lima, Hélio Coscarelli, Zínia Orsine Pereira, Aderbal Nogueira Lima, Geraldo Benício Rocha e Waldemar Silva.

Comunicação recebida pelo médium Geraldo Benício Rocha.


Meus irmãos, paz nos nossos corações.

Lutamos para senhorearmo-nos da palavra materializada e fazer o nosso pensamento claro e elucidativo, desejosos que nos encontramos de que a nossa experiência no passado e no presente, sem nenhuma pretensão, possa iluminar a senda de júbilos que abraçais e que abraçamos.

Em outras épocas, não muito remotas, dedicamo-nos também no trato do Evangelho. Gostávamos da direção dos trabalhos práticos, do contato com os desencarnados, mas deixamo-nos, muitas vezes, levar pela argumentação fácil, pela palavra fluente, pela repetição de sinônimos, pela demonstração de facilidade da palavra, esquecendo-nos de que Evangelho é sentimento, amor, fraternidade e compreensão.

A nossa palavra era fácil. Vencíamos, senão a entidade, ou os esforços do médium, com a exuberância de argumentações, muitas vezes felizes citações evangélicas, quando, do íntimo da alma, apenas sentíamos alegria de vaidade das expressões buriladas.

Ao invés de ir, com a alma, buscar a medicação orientadora, a palavra de consolação e o gesto fraterno e amigo, suplicarmos ao Senhor que aquelas almas iluminadas que se congregavam conosco por misericórdia de acréscimo e não por merecimento nosso, por bondade do Senhor, para que norteasse quantos ali se encontrasse, pudesse auxiliar, nós nos arrogávamos em juízes.

Muita vez, naquilo que era conseguido por misericórdia de acréscimo, entrávamos como juízes, a trazer ao auditório os pontos de falência, os erros cometidos. Finalmente, julgávamos, ao invés de consolar, feríamos, ao invés de enxugar lágrimas.

Malbaratávamos o tempo e aquele pobre irmão, que vinha buscar o lenitivo da palavra, saía chagado no coração pela nossa palavra bonita, mas descaridosa.

Não nos apercebíamos dessa situação. Não tínhamos o Evangelho na alma. Tínhamos a Doutrina na cabeça. O Evangelho não tinha encontrado agasalho, abrigo no nosso sentimento, mas a filosofia dos Espíritos havia empolgado a nossa inteligência. E a nossa palavra continuava bonita, harmoniosa, empolgante, o Espírito cheio de pretensão, de sabedoria, mas a alma era como um alforje vazio.

Os anos se passaram. Na nossa respeitável posição de orientador, nos achamos dignos de uma recepção, cá neste mundo onde nos encontramos, de entidades que houvessem sido guiadas pela nossa palavra. Efetivamente, fomos recebidos por um grande número de amigos, mas a desilusão foi grande. Reclamavam os conhecimentos evangélicos que não lhes ministramos. Reclamavam a consolação que não lhes soubemos dar. Mostravam a sequência de desesperação que lhes movia em outras épocas, a que ponto havia chegado, porque a nossa palavra não lhes havia incutido o amor, porque a nossa palavra não havia levado às suas almas a humildade, ao respeito à divina lei, ao amor ao próximo.

Nós sentíamos que era desespero, desilusão, descontentamento, dores e aflições em toda parte.

Todos nos rodeavam como que a lembrar a passagem bíblica: “Caim, Caim, que fizeste de teu irmão?” ( † )

Um torvelinho de dor, de arrependimento, de inconsequência da nossa própria personalidade se apoderou de nós e não sabemos há quanto tempo, e em que espaço, e em que época, e onde nos encontrávamos!…

Fomos arremessados como pena insignificante num tremendo vendaval! As vozes se multiplicavam. Ouvíamos a nossa voz cristalina, pura, bonita, fraseologia bem formada, sentenças que tangiam como se fossem bronze harmonioso, mas não eram acompanhadas da sequência do amor e da caridade.

Perdemo-nos nesse torvelinho de dor e de sofrimento por muito tempo. A desesperação feria-nos a alma. A impiedade aplicada para os outros chicotava-nos até não termos expressão própria para caracterizar.

Foi quando ouvindo uma voz, uma prece que evolava desta casa, subir tênue como luz no meio de floresta imensa. O calor da vossa oração atingiu-me. O silêncio harmonioso da vossa meditação consolou-me. O calor da fraternidade e o esquecimento da personalidade que distingue e caracteriza a vossa reunião envolveu-me no seu manto. E aqui estive. Aprendi, por muito tempo a interpretar o Evangelho na própria alma, a senti-lo nos atos e a exemplificá-lo no trato.

Venho agora numa preparação para uma nova jornada, na derradeira solicitação, enquanto o Espírito pode vislumbrar um pouco do passado e algo do presente, porque o futuro só Deus sabe o que está reservado.

Bem sei que, no entanto, a misericórdia de acréscimo do Senhor será como manto ao peregrino na jornada eterna. Será quente e a sua voz me norteará em todos os setores da vida. A sua palavra se fará profundamente no meu coração para que eu, novamente, volte a novos caminhos e a novas jornadas. Não com a mesma facilidade de expressão, mas possa exemplificar o seu amor, o seu Evangelho e sentir o seu apostolado no coração.

Não deixem de vibrar em meu favor. Não se esqueçam de projetar a beleza dessa humildade e a grandeza dessa pequenez, exemplificando a cada momento.

Não quero repetir, não pretendo trazer aos meus irmãos a minha palavra como exemplo ou como lição. Mas o Senhor disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. ( † ) Ele caminhou entre os humildes. A sua palavra foi de consolação, a sua presença foi de vida, de alegria e de paz. O seu Evangelho é a sua própria personificação e a sua própria palavra é sua mensagem eterna, diária e constante.

Sigamos dignos dela.


Afonso de Azevedo


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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