83ª reunião | 12 de junho de 1958.
Presentes: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Francisco Gonçalves, Geni Pena Xavier, Laura Nogueira Lima, Lucília Xavier Silva, Francisco Teixeira de Carvalho, Francisco Cândido Xavier, Gil de Lima, Edmundo Fontenele, Antônio Inácio de Melo, Edite Malaquias Xavier, Neuza Rocha, Aderbal Nogueira Lima, Zínia Orsine Pereira, Geraldo Benício Rocha, Hélio Coscarelli, Áurea Gonçalves, Antônio Cordeiro de Albuquerque e Waldemar Silva.
Meus caros irmãos, venho usar a palavra hoje numa nova modalidade de experimentação. E aqui têm passado aqueles com a sua experiência, sua sabedoria, e suas luzes têm esparzido, por todos os modos e para toda a parte os elevados conceitos de paz, de concepção de uma vida maior e melhor, de aperfeiçoamento, de elucidação e de instrução, enfim.
Outros também têm passado trazendo o relato das suas experiências, das suas dores, das suas amarguras. Creio, no entanto, ser eu o único que venho valer-me da palavra como um novo aprendizado para a execução de responsabilidades e deveres, e novas possibilidades em outras vidas.
Tivemos a alegria de conviver com mestres que aqui se encontram. Ajudamos a dirigir o movimento do espiritualismo na nossa capital e em muitos lugares. Mas, diariamente, o Senhor, na aferição dos valores eternos das almas, procede, de tal modo, que os nossos atos, pensamentos, palavras, enfim, o nosso proceder, são ajuntados como se fossem minérios, levados à forja de alta potência calorífica e selecionados naquilo de real valor industrial e real aproveitamento, e as sucatas são afastadas na espera de que, ao menos, se prestem para aumento da caloria dos fornos depuradores.
Assim acontece com os Espíritos, com os espíritas, com os evangélicos, com os discípulos da Terceira Revelação, que não puderam alcançar aquele teor ideal para a seleção máxima e precípua da vida.
Encontram-se na travessia dos umbrais da vida eterna, manietados no cérebro, na palavra, nos atos, em todos os sentidos. Arrastam-se semelhantes ao ferro que se esfria lentamente, vagarosamente, à espera de novo calor para que seja purificado. A Grande Inteligência, que nada desperdiça, que é também a Grande Bondade, a Infinita Misericórdia, determina que se ajunte, que se aproveite, e sei eu, deste modo, no aprendizado do mundo.
Faltava a palavra, a palavra fraterna, caridosa, leal, consoladora. Faltava o gesto amigo, também fraterno. Faltava o pensamento de elevação, o pensamento de verdade e de amor.
Perdi-me, como todas as criaturas que vivem pelo sentido material e não pelo sentido psíquico imortal, na galhardia dos meus próprios pensamentos, no labirinto dos meus próprios atos, palavras e procedimentos.
Daí ter perdido o contato com a facilidade da expressão, a possibilidade da locomoção, a grandeza de materializar, na pena, a palavra escrita, os dons magníficos, preciosos, admiráveis da comunicação com os homens, a possibilidade do entendimento, da fraternidade, do amor e da compreensão.
Os anos rolaram. Como ferro no cadinho incandescente, fui me burilando. Fui me burilando através das lágrimas, das dores, bem haveis de me compreender, no transcurso de muito tempo, buscando e ouvindo, em toda parte, aquela mensagem consoladora do Senhor. E fui, novamente, no seu Evangelho e na sua palavra de consolação, e pude encontrar-me entre vós.
Há muitos anos manifestei-me, comuniquei-me, utilizei-me dos dons mediúnicos e o fiz para que a justiça se fizesse em mim, para que me despertasse a consciência, para julgar os meus atos, determinar novos caminhos e as possibilidades que deveria pedir ao Senhor para uma maior compreensão da destinação do homem em face da vida e do Evangelho.
Sobre as angústias e reprimendas da própria consciência, aprendi, no contato com os deserdados da esperança e da fé, o que pode a palavra do Evangelho, a confiança nas nossas possibilidades medianímicas e a grandeza do divino amor.
Nestas cidades da eternidade, que conheceis através de narrativas brilhantes, e que se sucedem no tempo e no espaço, pude, como viajor em busca da felicidade e do esclarecimento, descer, moldar, fundir, construir os dons de pensar, de coordenar, de falar, de agir, de executar e de movimentar.
O que sucedeu no transcurso de tal peregrinação seria abuso da hospitalidade caridosa se desejasse explicar, narrar. Sei apenas que nisso sofri muito, chorei…
E o que valeria contar para os meus irmãos da sequência dessas dores se eu destruí as possibilidades que tinha?
Repito: fundi, moldei, coordenei, construí todas as possibilidades que a alma possui quando encarnada — e que se se dedicasse, como eu dizia me dedicar, ao serviço do Evangelho, poderia praticar o bem que poderia ter praticado.
Destruindo, fui forçado a reconstruir. Perdendo, tive que procurá-lo onde a palavra de consolação era falada, porque a mensagem do Senhor permanece nas abóbadas do mundo, como se ele as tivesse materializado, e por processos extraordinariamente grandiosos a sua voz se repercute diariamente, constantemente, através dos milênios: “Vinde a mim vós que sofreis e se achais sobrecarregados, e eu vos aliviarei!” ( † )
Lá nas cidades onde me referi ninguém as ouvia, como não ouvis as ondas hertezianas que cruzam os espaços, se não tiverdes fonógrafos, rádios ou aparelho que as captem.
Então fui eu um dos elementos a materializar a sua palavra, já que não tinha tido a lealdade, a coragem de usá-la aqui mesmo, nas luzes da civilização e do entendimento. Foi lá, onde expressões como fraternidade, esperança, consolação soavam como palavras em línguas mortas.
Irmãos, estou me perdendo nas divagações. É a alegria de ouvir-me, de sentir o calor da vossa fé, sentir-me numa organização evangélica, ver, em toda parte, papiros luminosos pirogravando, materializando as consoladoras e soerguidoras expressões do magnânimo e sábio Senhor!
É muita alegria! É como se tivesse ressurgido das profundezas dos abismos, não digo infernais, mas onde as luzes solares, o oxigênio rarefeito não penetra… Sentisse como sinto a brisa suave, o calor do sol vivificando com alegria, calor, consolação, esperança!…
Só a esperança, só a confiança adquirida lá nas profundezas onde permaneci por anos me alentavam, na certeza de que eu viria a sentir o pulsar das almas que se irmanam através do Evangelho do Senhor.
Bendita consolação a fraternidade! Bendita grandeza a da prece em conjunto! Louvado seja o Senhor, que nos congrega em toda parte e que permite a nós, que nos perdemos nos labirintos da inteligência, da presunção e do orgulho, sentir a nossa alma aquecida, rejuvenescida, reformada no calor das reuniões de evangelização!
Irmãos, que o Senhor me aceite novamente na sua seara. Que a vossa esperança seja sempre crescente!
Sejam duradouras, em vossas almas, as lições de humildade, simplicidade, de acatamento às lições do maior de todos os códigos, porque muita vez nos acostumamos a pronunciar essas exortações e o fazemos como que rotina, como que dogmas, como que apenas para satisfação aos companheiros que conosco se reúnem, e o nosso coração, a nossa alma se ausentam, se esvaem, se perdem nas preocupações passageiras e então a situação será bem análoga à minha.
Não vos desejo isso. Suplico ao Senhor que vos ilumine, que vos ampare e abençoe.
Saúda-vos o companheiro,
A. Amaro