O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Registros imortais — F. C. Xavier e outros médiuns do Grupo Meimei — Autores diversos


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Reajuste

25ª reunião | 11 de abril de 1957.


Presentes: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Francisco Gonçalves, Antônio Inácio de Melo, Geni Pena Xavier, Francisco Teixeira de Carvalho, Francisco Cândido Xavier, Edmundo Fontenele, Edite Malaquias Xavier, Olga Peduto, Aderbal Nogueira Lima, Zínia Orsine Pereira, Geraldo Benício Rocha, Waldemar Silva, Esmeralda Bittencourt e Luiz Peduto.

Comunicação recebida pelo médium Geraldo Benício Rocha.


Falo-vos não porque deseje exibir-me ou fazer-me notado, mas como soldado que fui de nossa causa, como subordinado diante daqueles que são, realmente, superiores.

Louvemos ao Senhor nas comemorações que se aproximam! n

Infelizmente, para mim, outrora em épocas semelhantes, no congraçamento de confrades ilustres, a minha palavra se destacava com ênfase, rebuscando nos arquivos dos meus conhecimentos a expressão burilada dentro da gramática, perfumada de retórica e enobrecida de elegante ornamentação, fazendo com que todos me supusessem um homem de coração evangelizado.

No transcurso das palestras, inflamava-se-me a dialética. Movimentava os sinônimos com galhardia. Buscava figurações de estilo na serenidade das águas, na beleza das flores, na comparação da música e da arte, associando a natureza ao Evangelho, ao Espiritismo e à mediunidade.

No fundo, porém, não passava de um falsário. Iludia a mim mesmo. Eu era apenas soldado desertor da conduta reta, sacerdote que não sentia no coração a verdade que eu apregoava, cego que tropeçava nas próprias imagens criadas pela minha inteligência, criminoso que destruía com o meu proceder a concepção de uma vida nova que formava com a minha palavra ilustrada e cheia de retórica!…

Mas a espada de Dâmocles  †  pendia sobre a minha cabeça. E a morte veio e ceifou-me. Desde então venho sofrendo os resultados do meu perjúrio, da minha traição ao Evangelho, da pusilanimidade do meu Espírito, entre os fantasmas de quantos me pedem conta do que eu lhes havia prometido, cobrando-me as grandezas que eu lhes havia mostrado, suplicando que eu lhes dê a água cristalina das minhas promessas ou exigindo-me a bênção das páginas evangelizadoras, a me descerrarem a alma repleta de frio pelas desilusões de minha palavra. E tenho pago minha culpa qual desesperado à procura de consolação.

Ouço agora as trombetas que anunciam no espaço uma festa auspiciosa! Por onde passo, vejo crianças felizes, preparando cânticos de glória ao codificador. Então a minha alma, como a lesma em pesadelo nas trevas, despertou. A peçonha que me enrodilhava, babacenta, nauseabunda, caiu. Acordei e ouvi que em toda parte se fala de Allan Kardec. Allan Kardec, o codificador!…

Transportei-me àqueles dias de fausto e de entusiasmo em que as assembleias me recebiam com honras que eu acreditava devidas ao meu título e ao meu cargo, já que os corações sofredores aguardavam reconforto pela minha palavra farta de sinônimos e bela de expressão, mas vazia de sentimentos. E foi tão grande a misericórdia do Senhor, que eu aqui me encontro! A vossa prece e o vosso carinho como que esfolou as escamas da sombra que ainda trago, ressuscitando o homem mentiroso que fui e que comparece diante de vós à feição de um mendigo-fantasma, a implorar uma esmola de amor, que me destes, enchendo-me a alma e o coração.

Bebi da água pura de vossas orações e reencontrei-me. Quanto tempo vaguei na obscuridade de minha dor não sei dizer… Perdera a noção de mim próprio como quem desce a tremendo pesadelo de aflições para somente acordar ao brilho da comemoração kardequiana! Despertei e sofri mais intensamente até que a vossa prece me balsamizasse. Eu, que era um falsário das minhas próprias ideias, eu, que traía o próprio nome — pois que assinava “da Paz”, — sendo portador da guerra da sombra, hoje aqui me encontro rendendo graças a Deus! A verdade reaparece para minha alma! A esperança e o arrependimento retornam ao meu Espírito! Encontrei a paz e venho, nesta noite, à guisa de colaborar na comemoração kardequiana, não agradecer, mas suplicar-vos a continuação desta ajuda com que me transferistes da posição de réprobo à de colaborador? Não… De servidor? Também não… Graças a Deus, porém, destes-me a posição de socorrido e nessa posição lembro-vos a extensão de nossa responsabilidade empunhando o Evangelho para falar em nome do Senhor.

Fala-se aquilo de que o coração está cheio, se não me foge a citação. Mas se o coração está cheio de pureza e de amor, de pureza e de amor inundamos o nosso caminho. Se o coração está cheio de lealdade, plantamos a lealdade e a lealdade encontramos. Mas se possuímos apenas retórica e mentira, nosso verbo, com o tempo, é semelhante ao cabo elétrico de alta tensão partindo sobre nós mesmos, impondo-nos perturbação e morte.

Hoje posso falar-vos da paz, porque estou aprendendo a buscá-la. Posso falar-vos da humildade e do amor, porque estou buscando construí-los em mim. Não estou ferindo a lei. Estou transmitindo aquilo que o meu coração agora sente. Que o exemplo e que a experiência que me fustigam nos sirvam de advertência, é a súplica que, neste instante, endereço a Deus.

Que o Senhor nos abençoe.


Manoel da Paz



[1] [Referência ao centenário da Doutrina Espírita]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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