1 Ante o negrume do jazigo aberto,
Interroguei, chorando, ansioso, um dia:
— Onde guardas o monstro que me espia,
Gemendo à espreita do meu passo incerto?
2 Maldito sejas, leito recoberto
De miséria de angústia e de agonia!
Onde acabas, garganta escura e fria,
Sob o pavor da morte que vem perto?
3 Mas, divina e triunfal, no mesmo instante
Uma voz respondeu do abismo hiante:
— Foge ao tremendo engano que te invade!
4 No paço estreito destas sombras mortas,
Escondo o brilho das divinas portas
Que abrem a glória da imortalidade!
Antero de Quental
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