1 Meu caro amigo, você acabou de falar dos trabalhos de Conan Doyle nas organizações da Esfera próxima… n
Você fez bem. Agrada-nos ouvir alguém, mormente quando esse alguém se liga aos nossos corações pelos laços afetivos, tratando de problemas espirituais que despertam as consciências. Nós trabalhamos juntos, Ismael, e a possibilidade de enviar-lhe notícias é muito agradável para mim. n
2 O Espiritismo vai evoluindo muito, o Plano superior tem trazido muitas realizações novas para o homem e à medida que o homem se prepare, frente à renovação moral para a vida mais alta, é de esperar-se que a revelação lance nova luz no entendimento terrestre.
3 Antigamente, tínhamos nossas pequenas discussões e longe estava de pensar que viria a confirmar-lhe a sobrevivência. Aí no mundo de sombra, tudo é tão breve! A morte, porém, transformou a paisagem completamente, embora não tenha alterado o meu modo de ser. 4 Ainda estou lutando com as vaidades pequeninas do coração e com os defeitos grandes de minh’alma. Você me compreenderá sem esforço. Alimentava certas preocupações de esposa e mãe que me ocupavam o pensamento. Não cheguei aqui, de modo algum, com aquele heroísmo do meu pai ou com a serenidade da Estevina. n Eles estavam mais livres, mais fortes. 5 Os elos sentimentais com a Terra nos enfraquecem muito aqui, onde nos encontramos. É preciso grande equilíbrio para ser feliz à distância dos que nos prendem, de certo modo, o coração. Faço, porém, o meu curso de libertação interior e estou esperançosa de alcançar resultados compensadores.
6 Você está comentando a nossa Esfera… Não haveria de acreditar, em outro tempo, que viria prosseguir aqui nos meus humildes trabalhos mediúnicos. Em nossa região, temos grande necessidade de desenvolver o intercâmbio com os Planos superiores. 7 Temos o nosso lar, as nossas atividades e as nossas reuniões íntimas, intensificando o aprendizado na recepção do pensamento superior. Não estamos circunscritos à felicidade doméstica propriamente dita. Temos muito e variado serviço. Por falta de termos analógicos, deixo de referir-me a detalhes. 8 Creia, entretanto, Ismael, que a morte do corpo é simples diferenciação vibratória. A vida continua sempre! Mais bela, mais rica, todavia, sem saltos milagrosos de um degrau para outro. As estações externas do progresso são sempre mais lindas, no entanto, meu amigo, é muito lamentável para nós a permanência em quadros inferiores do plano interno. 9 O reino de Deus, como no-lo ensina o Cristo e como você reafirma, é construção imprescindível dentro de nós. 10 De nada vale a riqueza intelectual quando nos faltam os tesouros do sentimento. É mais sublime a existência reta no plano mais obscuro entre os homens que a experiência ricamente entrajada de valores verbalísticos nos pináculos da convenção humana.
11 Ismael, meu amigo, são tantos os benefícios nascidos do coração dedicado a Jesus que me permito fazer aqui esses apontamentos. O Espiritismo é uma fonte simples, de onde jorram aquelas “águas-vivas” que saciam toda a sede. E quando voltamos para cá entendemos isso muito melhor! 12 Aí na Terra a vaidade humana criou muitas teorias à margem da verdade. Basta, porém, trilhar o caminho substancial da Revelação para atingirmos, de fato, o mundo maior. 13 Estamos satisfeitíssimos com o trabalho que você está desenvolvendo no campo doutrinário. Como pode observar, nós ambos temos melhorado muito — você como o estudioso da verdade e eu como médium dela mesmo. Prossigamos unidos!
14 Vivina lembra-se de você constantemente e a sua tarefa tem sido acompanhá-lo de mais perto, no campo da assistência indireta e fraternal. Não pôde escrever-lhe, mas me pediu para dizer-lhe que está inventando um sistema de taquigrafia luminosa para fazer os mais lindos sinais ao seu coração. Esperemos!
15 Meu pai abraça-o. Somos aqui tantos os Magalhães, que voltamos em poucos anos, que a nossa casa espiritual tomou vulto significativo! É uma felicidade compreender e zombar sinceramente da morte!
16 A todos consigno as minhas lembranças afetuosas. Aqui falou o coração da amiga. Na qualidade de esposa e mãe, não me é permitido algo dizer. Dirá você, talvez, que o controle é rigoroso, mas não pode ser de outro modo. A ordem divina não deve ser alterada pelos nossos desejos humanos.
17 Adeus, meu amigo! Que o Senhor o guarde no verdadeiro caminho da redenção, n
Quininha
Reformador — Maio de 1945.
[1] Arthur Ignatius Conan Doyle, nascido em Edimburgo, Escócia, a 22 de maio de 1855, e falecido em Crowborough, a 7 de julho de 1930, foi um médico e escritor reconhecido mundialmente no campo da literatura criminal com o seu personagem Sherlock Holmes. Seus trabalhos literários incluíram novelas de época, peças teatrais, romances, poesias e obras de ficção e não-ficção. Tornou-se espirita a partir do ano de 1887, com a desencarnação de familiares próximos, como a segunda esposa, filho, irmão, cunhados e netos, encontrando consolação na Doutrina Espírita, a qual passou a estudar e a discorrer em livros e palestras.
[2] O Espírito comunicante, Joaquina Magalhães, que assina “Quininha”, foi médium do Grupo Ismael, do qual Ismael Gomes Braga fazia parte.
[3] Em referindo-se ao pai, Estevão Ferreira de Magalhães, e à irmã, Estevina Magalhães, também conhecida como Vivina, que igualmente fora colaboradora e aluna de Ismael Gomes Braga em Espiritismo e Esperanto. Era taquígrafa, à época atividade rara no Brasil, e para exercitarem-se ela e Ismael só se comunicavam por meio da taquigrafia.
[4] Mensagem psicografada em reunião pública do Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, no dia 2 de abril de 1945, data em que Chico Xavier completava 35 anos de idade. Foi a primeira comunicação de Quininha, após 15 anos de seu desenlace. Segundo o artigo que integra a psicografia, esta foi a última de uma série de mensagens recebidas pelo médium durante a sessão.