O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Pontos e contos — Irmão X


3

Às portas celestes

1 O grupo de desencarnados errava nas Esferas inferiores. Integravam-no alguns cristãos de escolas diversas, estranhando a indiferença do Céu… Onde os Anjos e Tronos, os Arcanjos e Gênios do paraíso, que não se aprestavam para recebê-los?

2 Em torno, sempre a neblina espessa, a penumbra indefinível. Onde o refúgio da paz, o asilo de recompensa?

3 Longos dias de aflição, em jornadas angustiosas…

4 Depois da surpresa, a revolta; após a revolta, a queixa. Finda a queixa, veio o sofrimento construtivo e com esse surgiu a prece.

5 Em seguida à oração, eis que aparece a resposta. Iluminado mensageiro, em vestidura resplandecente, desafia a sombra da planície, fazendo-se visível em alto cume.

6 Prosternam-se os peregrinos à pressa. Seria o próprio Jesus? Não seria?

7 Ante a perturbação que os acometera, o emissário tomou a palavra e esclareceu, fraterno:

— Paz em nome do Senhor, a quem endereçastes vosso apelo. Vossas súplicas foram ouvidas. Que desejais?

8 — Anjo celeste, — falou um deles, — pois não vês?!… Estamos rotos, exaustos, vencidos, nós, que fomos crentes fervorosos no mundo. Onde se encontra o Redentor que não nos salva, o Príncipe da Luz, que nos deixa em plena treva? Que desejamos? Nada mais que o prêmio da luta…

9 Não pôde prosseguir. Ondas de lágrimas invadiram-lhe os olhos, sufocando-lhe a garganta e contagiando os companheiros que se desfizeram em pranto dorido.

10 O preposto do Cristo, contudo, manteve-se imperturbável e considerou:

— A Justiça Divina nunca falhou no Universo.

— Ah! Mas nós sofremos, — replicou o interlocutor aliviado, — e certamente somos vítimas de algum esquecimento que esperamos seja reparado.

11 O ministro de Jesus não se deixou impressionar e voltou a dizer:

— Vejamos. Respondei-me em sã consciência: Quando encarnados, amastes a Deus, sobre todas as coisas, com toda a alma e entendimento? ( † )

Se estivessem à frente de autoridade comum, provavelmente os interpelados buscariam tergiversar, fugindo à verdade. A luz divina do emissário, porém, penetrava-lhes o âmago do ser. Decorrido um instante de pesada expectação, informaram todos a um só tempo:

— Não.

12 O anjo continuou:

— Considerastes os interesses do próximo como se vos pertencessem? ( † )

Novo momento de luta íntima e nova resposta sincera:

— Não.

13 — Negastes a personalidade egoística, suportastes vossa cruz e seguistes o Mestre?

— Não.

14 — Colocastes a Vontade Divina acima de vossos desejos?

— Não.

15 — Fizestes brilhar em vós, na Terra, a luz que o Céu vos conferiu?

— Não.

16 — Auxiliastes vossos inimigos, orastes pelos que vos perseguiram, ministrastes o bem aos que vos caluniaram e dilaceraram? ( † )

— Não.

17 — Perdoastes setenta vezes sete vezes? ( † )

— Não.

18 — Fostes fiéis ao Pai até ao fim?

— Não.

19 — Vencestes os dragões da discórdia e da vaidade?

— Não.

20 — Carregastes as cargas uns dos outros?

— Não.

21 O mensageiro fixou benevolente gesto com as mãos e, mostrando olhar mais doce, observou, depois de comprida pausa:

— Se em dez das lições do Divino Mestre não aprendestes nenhuma, com que direito invocais o seu nome? Acreditais, porventura, que Ele nos tenha ensinado algo em vão?

22 Os infortunados puseram-se a chorar, com mais força, e um deles objetou:

— Que será de nós? Quem nos socorrerá, se tínhamos crença verdadeira?!…

23 — Sim, — tornou o representante do Cristo, — não contesto. Entretanto, como interpretar o possuidor do bom livro que nunca lhe examinou as páginas? Como definir o aluno que gastou possibilidades e tempo da escola, sem jamais aplicar as lições no terreno prático?

— Oh! anjo bom, contudo, nós já morremos na Terra!… — Acrescentou a voz triste do irmão desencantado, entre a aflição e a amargura.

24 O mensageiro, porém, rematou com serenidade:

— Diariamente, milhões de almas humanas abandonam a carne e tornam a ela, no aprendizado da verdadeira vida. Quem morre no mundo grosseiro perde apenas a forma efêmera. O que importa no Plano espiritual não é o “interromper” ou o “recomeçar” da experiência e, sim, a iluminação duradoura para a vida imortal. Não percais tempo, buscando novos programas, quando nem mesmo iniciastes a execução dos velhos ensinamentos. Aprendiz algum tem o direito de invocar a presença do Mestre, de novo, antes de atender as lições anteriormente indicadas. Voltai e aprendei! Não existe outro caminho para a distração voluntária.

25 Nesse mesmo instante, o enviado tornou ao Plano de onde viera, enquanto os peregrinos, ao invés de prosseguirem viagem para mais alto, obedeciam ao impulso irresistível que os conduzia para mais baixo.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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