1 Dizem que o sábio Confúcio,
Notável mestre chinês,
Foi, um dia, procurado
Por manhoso camponês.
2 De começo, disse o homem:
— “Mestre, perdoe!… Sou ladrão!…
Auxilie-me a encontrar
Minha própria salvação…”
3 — O que há? — falou Confúcio.
E o amigo respondeu:
— “Perdão para as faltas minhas!…
Sem intenção, cada noite,
Furto quarenta galinhas…
4 Mestre, o que devo fazer
Contra esse enorme delito?
Ando agora acabrunhado,
De espírito amargo e aflito.”
5 O sábio aclarou sereno,
Em voz amiga e pausada:
— “Meu amigo, você sabe,
Na justiça que nos rege,
Cada galinha roubada
Exige uma chicotada.
6 Volte a casa e faça preces,
Corrija-se e viva, em suma,
E, de agora para a frente,
Esteja são ou doente,
Não furte galinha alguma!…”
7 Despediu-se o consulente
E falou a sós consigo:
— “Seguirei o mestre amigo,
Mas não sou precipitado.
Atenderei a Confúcio,
Nas linhas do meu desejo,
Não furtarei no atacado,
Mas furtarei no varejo…”
8 Na noite que se seguiu,
Ele roubou trinta e nove,
Depois rezou: “Deus me valha!…
Que a minha fé se renove!…”
9 Na outra noite, ele furtou
Até somar trinta e oito
E clamou: “Que o Céu me ampare!
Não devo ser muito afoito!…”
10 Nova noite e ele empalmou
As coitadas trinta e sete.
Logo após, rezou: “Pai Santo
Só busco o que me compete!…”
11 Outra noite: Trinta e seis.
E mais outra: Trinta e cinco.
Ele orou: “Pai de Bondade
Preciso de mais afinco!…”
12 Chegando o fim da tarefa,
Que consistia no furto,
Ei-lo nas mãos da polícia,
Que o prendeu no passo curto.
13 Ante as faltas confessadas,
O pobre morreu gemendo,
Nas quarenta chicotadas.
Jair Presente
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