1 — “Venha cá, minha Vivila!…”
Dizia Neca Sobral,
Chamando a esposa à leitura
Da notícia de um jornal…
2 E acrescentava, contente,
“Eis, enfim!… Veja você
Eu creio que a nossa casa
Fugirá do miserê…
3 Morreu meu avô Paulino,
Nosso grande fazendeiro,
E já sei, desde menino,
Que sou o único herdeiro!…”
4 A esposa leu a notícia
E, embora muito espantada,
Sorria, sem dizer nada.
5 Neca, porém, prosseguiu:
— “Vivila, entre em ação,
Ligue o rádio e encontraremos
A justa confirmação.”
6 De fato, o jornal falado
Disse, entre os flashes da hora:
— “A, nossa cidade chora…
Faleceu Paulino Serra,
O homem bom de nossa terra!…”
7 E Neca explicou, veemente:
— “O meu avô certamente
Morreu, segundo previa.
Enfarte aparece e arrasa
Com muita gente, hoje em dia!…
8 Vivila, você se apresse.
Escute: vista-se bem,
Não temos tempo a perder,
Nossa dor é muito grande,
Vendo um parente a morrer…
9 Choremos o avô querido,
Por fora, é a nossa tristeza,
Por dentro, compreendamos
Que felizmente atingimos
A nossa própria riqueza.
10 Já estou formando planos…
Será nossa, apenas nossa,
A grande e bela fazenda,
A Fazenda do Monjolo!…
Eu por ela sou gamado,
Desde os meus tempos de colo!…
Mas não será posta à venda,
Precisamos conservá-la,
Para termos boa renda…
11 Nos Bancos, nós dois teremos
Não mais tostões com tostões,
Receberemos de herança,
Uns vinte e sete milhões!…”
12 Nisso, alguém bateu à porta.
Neca abriu-a, mas se aterra;
Quem chegara, de repente,
Era o avô rico e robusto,
O grande Paulino Serra!…
13 O avô disse logo a Neca:
— “Muito às pressas, vim buscá-los
Pois sabem quanto os estimo!…
Faleceu Paulino Serra,
O nosso querido primo!…
14 Ah! Tudo a morte consome!
Foi ele, entre os meus parentes,
O único deles todos
A conservar o meu nome!…”
15 Neca ouviu, tudo entendendo,
Com cara da cor de cobre…
O avô rico estava firme.
Falecera o primo pobre.
Jair Presente
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