Na noite de Natal
1 Noite de paz e amor! Repicam sinos,
Doces, harmoniosos, cristalinos,
Cantando a excelsitude do Natal!…
A estrela de Belém volta, de novo,
A brilhar, ante os júbilos do povo,
Sob a crença imortal.
2 De cada lar ditoso se irradia
A glória da amizade e da harmonia,
Em festiva oração;
Une-se o noivo à noiva bem-amada,
Beija o filho a mãezinha idolatrada,
O irmão abraça o irmão.
3 Dentro da noite, há corações ao lume
E há sempre um bolo, em vagas de perfume,
Sob claro dossel…
Nascem canções e flores de mansinho,
Em édenes fechados de carinho,
De esperança e de mel.
4 Mas, lá fora a tristeza continua…
Há quem chora sozinho! Em plena rua,
Ao pé da multidão;
Há quem clama piedade e passa ao vento,
Ralado de tortura e sofrimento,
Sem a graça de um pão.
5 Há quem contempla o céu maravilhoso,
Rogando à morte a bênção do repouso
Em terrível pesar!
Ah! como é triste a imensa caravana,
Que segue aflita, sob a treva humana
Sem consolo e sem lar…
6 Tu que aceitaste a luz renovadora
Do Rei que se humilhou na manjedoura
Para amar e servir,
Volve o olhar compassivo à senda escura,
Vem amparar os filhos da amargura,
Que não podem sorrir.
7 Desce do pedestal que te levanta
E estende a mão miraculosa e santa
Ao desalento atroz;
Para unir-nos no Amor, fraternalmente,
Desceu Jesus do Céu Resplandecente
E imolou-se por nós.
8 Vem medicar quem geme na calçada!…
Oferece à criança abandonada
Um velho cobertor;
Traze a quem sofre a lúcida fatia
Do teu prato de sonho e de alegria,
Temperado de amor.
9 Visita as chagas negras da mansarda
Onde a miséria súplice te aguarda
Em nome de Jesus.
Há muita criança enferma, quase morta,
Que só pede um sorriso brando à porta,
Para tornar à luz.
10 Natal!.. Prossegue o Mestre, de viagem,
Em vão buscando um quarto de estalagem,
Um ninho pobre em vão!…
E encontra sempre a cruz, ao fim da estrada,
Por não achar socorro, nem pousada
Em nosso coração.
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