1.
Nosso orientador sediara-nos a tarefa na Casa Transitória de Fabiano,
deliberando, porém, que as nossas atividades na Crosta tomassem como
ponto de referência o lar coletivo de Adelaide, onde, realmente, os
fatores espirituais eram mais valiosos.
2 — Aqui, — esclarecera-nos
de início, — nos sentiremos à vontade. A organização é campo propício
às melhores semeaduras do espírito e oferece-nos tranquilidade e segurança.
Permaneceremos em comunicação contínua com o abrigo de Fabiano, para
onde conduziremos os recém-desencarnados e condensaremos todas as atividades
possíveis, concernentes aos outros amigos, nesta amorosa fundação.
3 De fato, aquele refúgio
de fraternidade legítima era, sem dúvida, vasto celeiro de bênçãos.
Diversas entidades amigas operavam na instituição, prestando assistência e cuidados. Encontrava ali um dos raros edifícios da Crosta, de tão largas proporções, sem criaturas perversas da Esfera invisível.
4 Semelhando-se à Casa Transitória,
de onde vínhamos, a vigilância funcionava severa.
Fôramos defrontados por vários sofredores, criaturas de bons sentimentos, que penetravam o asilo com prévia autorização.
5 Enquanto o Assistente se
demorava em palestra com o dedicado Bezerra, tivemos permissão para
visitar as dependências.
O padre Hipólito, Luciana e eu, em companhia de Irene, jovem colaboradora espiritual da casa, pusemo-nos em ação.
Em todos os compartimentos havia luz de nosso Plano, indicando a abundância dos pensamentos salutares e construtivos de todas as mentes que ali se entrelaçavam na mesma comunhão de ideal.
6 Chegados à sala das reuniões
populares, nossa nova amiguinha explicou:
— Esta é a região do abrigo que nos força a serviço mais árduo. Receptáculo
das emanações mentais e dos pedidos silenciosos de toda gente que nos
visita, em assembleias públicas, depois de
cada sessão, somos obrigados a minuciosas atividades de limpeza. 7
Como sabem, os pensamentos exercem vigoroso contágio e faz-se imprescindível
isolar os prestimosos colaboradores de nossa tarefa, livrando-os de
certos princípios destruidores ou dissolventes.
8 Tentando intensificar a
conversação esclarecedora, aduzi:
— Calculo a extensão dos afazeres… Há suficiente pessoal na cooperação?
— Sim, — respondeu, — a legião dos colaboradores não é pequena. Somos levados
a servir, dia e noite, em turmas alternadas. Temos seções de assistência
aos adultos e às criancinhas.
9 Vislumbrava ali,
porém, tão grande número de trabalhadores de nosso Plano que, por momentos,
graves reflexões me afloraram ao cérebro. Tanta gente a contribuir,
apenas no sentido de amparar algumas dezenas de crianças desfavorecidas
no campo material? 10
Estabelecia paralelo entre a fundação de Adelaide e a Casa Transitória
de Fabiano, notando singular diferença. Lá, os rigorosos serviços de
sentinela, o gesto de energia, a atenção do pessoal, verificavam-se
em virtude das necessidades inadiáveis de certa quantidade de infelizes
desencarnados, para os quais a caridade constituía lâmpada acesa, indispensável
à transformação interior. Aqui, porém, via somente criaturinhas tenras
que reclamavam de imediato, acima de qualquer outra medida, leite e
pão, primeiras letras e bons conselhos. Valeria, assim, o dispêndio
de tanta energia de nossa Esfera?
11 Mesmo assim, a delicada
colaboradora, apreendendo-me as indagações íntimas, ponderou:
— Cumpre-nos reconhecer, todavia, que esta obra não se dedica exclusivamente
às necessidades do estômago e do intelecto da infância desamparada.
Os imperativos da evangelização preponderam aqui sobre os demais. 12
Para infundir espiritualidade superior à mente humana urge aproveitar
realizações como esta, já que é muito difícil obter espontâneo arejamento
da esfera sentimental. Valemo-nos da casa, venerável em seus fundamentos
de solidariedade cristã, como núcleo difusor de ideias salutares. 13
A fundação é muito mais de almas que de corpos, muito mais de pensamentos
eternos que de coisas transitórias. O diretor, o cooperador e o abrigado,
recebendo as responsabilidades inerentes ao programa de Jesus, instintivamente
se convertem nos instrumentos vivos da Luz de Mais Alto. Satisfazendo
necessidades corporais, solucionamos problemas espirituais. Entrelaçando
deveres e dividindo-os com os nossos irmãos encarnados, no setor de
assistência, conseguimos criar bases mais sólidas à semeadura das verdades
imorredouras. 14
Realmente, as outras escolas religiosas não se esqueceram de materializar
a bondade em obras de alvenaria. A Igreja Católica Romana dispõe de
institutos avançados, sob o ponto de vista material, abrigando a infância
desfavorecida; entretanto, aí, as concepções espirituais não se desenvolvem,
acanhadas que ficam nos moldes tirânicos dos dogmas obsoletos. O trabalho,
pois, na maioria dos casos, circunscreve-se ao simples armazenamento
de pão efêmero. 15 As
Igrejas Protestantes possuem, por sua vez, grandes colégios e congregações,
distribuindo valores educativos com a juventude; todavia, suas organizações
se baseiam, quase sempre, mais na letra dos conceitos evangélicos que
nos conceitos evangélicos da letra…
16 Irene sorriu, fez ligeiro
intervalo e continuou:
— Não desejamos menosprezar os serviços admiráveis dos aprendizes do
Evangelho nos variados campos religiosos. Todos são respeitáveis, se
levados a efeito pelo devotamento do coração. Desejamos apenas destacar
os valores iluminativos. 17
Nos primórdios da obra cristã, não faltavam prestigiosas providências
da política imperial de Roma, a fim de que os famintos e esfarrapados
recebessem trigo e agasalho e até mesmo preceptores seletos, filiados
a famosos centros culturais de gregos e egípcios. 18
Porém, no intuito de incentivar a obra de legítima iluminação do espírito,
Simão Pedro e os companheiros de apostolado obrigaram-se a longo programa
de socorro aos infortunados de toda sorte. 19
Nem todos os seguidores do Evangelho procediam das altas camadas sociais
do Judaísmo, como Gamaliel, o venerando rabino que
encontrou o Mestre pelo intelecto desenvolvido. A maioria dos necessitados entraria em contato com
Jesus através da sopa humilde ou do teto acolhedor. 20
Lavando leprosos, tratando loucos, assistindo órfãos e velhinhos desamparados,
os continuadores do Cristo davam trabalho a si próprios, dedicavam-se
aos infelizes, esclarecendo-lhes a mente, e ofereciam lições de substancial
interesse aos leigos da fé viva. Como não ignoram, estamos fazendo no
Espiritismo evangélico a recapitulação do Cristianismo.
21 O padre Hipólito aprovou,
benévolo:
— Sim, inegavelmente; precisamos estimular a formação de serviços que libertem o raciocínio para voos mais altos.
22 — Dentro de nosso
esforço, — prosseguiu Irene, com lhaneza, — o imperativo primordial
consiste na iluminação do espírito humano com vistas à eternidade. 23
Urge, no entanto, compreender que, para a obtenção do desiderato, é
imprescindível “fazer alguma coisa”. Onde todos analisam, admiram ou
discutem não se levantam obras úteis para atestar a superioridade das
ideias. 24 Por isso,
nossos Mentores da Vida Divina apreciam o servo pela dedicação que manifeste
à responsabilidade. O necessitado, o beneficiário, o crente e o investigador
virão sempre aos nossos centros de organização da doutrina. 25
E toda vez que exercitem o serviço cristão pela mediunidade ativa, pela
assistência fraterna, pelos trabalhos de solidariedade comum, quaisquer
que sejam, apresentam caracteres mais positivos de renovação, porque
a responsabilidade na realização do bem, voluntariamente aceita, transforma-os
em traços animados entre dois mundos — o que dá e o que recebe. 26
Como veem, a luz divina prevalece sobre a benemerência humana, porque
esta, sem aquela, pode muitas vezes degenerar em personalismo devastador,
compreendendo-se, todavia, em qualquer tempo, que a fé sem obras é irmã
das obras sem fé.
27 Continuou Irene, em sua
brilhante argumentação, ensinando-nos, vivaz, a ciência da fraternidade
e do entendimento construtivo. Ouvindo-a, percebi, acima de toda preocupação
individualista, que a difusão da luz espiritual na Crosta Terrestre
não é ação milagrosa, mas edificação paciente e progressiva.
28 As casas de benemerência
social, sobre as águas pesadas do pensamento humano, funcionam como
grandes navios de abastecimento à coletividade faminta de luz e necessitada
de princípios renovadores. Passei a ver o estômago dos pequeninos em
plano secundário, porque era a claridade positiva do Evangelho que inundava
agora minhalma, convidando-me à contemplação feliz do futuro maior.
29 Caíra a noite e continuávamos
em companhia da estimada irmã que nos apresentava a instituição, comentando-lhe,
com oportunidade e sabedoria, o salutar programa.
Observamos os serviços espirituais que se preparavam, ante a noite próxima.
Aqui, eram cuidadosas preceptoras desencarnadas que reuniriam as crianças nos momentos de sono físico, em ensinos benéficos; acolá, eram benfeitores diversos a buscarem irmãos para experiências e dádivas preciosas, nos Círculos de nossa movimentação.
30 Refundi minha apreciação
inicial, enxergando mais uma vez, naquele instituto, abençoada escola
de espiritualidade superior, pelo ensejo de semeadura divina que proporcionava
aos missionários da luz.
Decorrido longo tempo, já noite fechada, o Assistente Jerônimo convocou-nos ao serviço.
2.
Irene acompanhou-nos à câmara de Adelaide, onde o nosso dirigente se
encontrava em conversação com outros amigos.
Foi breve nas determinações.
2 Após ouvir a nova amiguinha,
que se colocava à nossa disposição para qualquer concurso fraterno,
recomendou a Luciana e a Irene trouxessem a irmã Albina, ao passo que
o padre Hipólito e eu deveríamos conduzir Dimas, Fábio e Cavalcante
àquele compartimento, de onde seguiríamos para a Casa Transitória de
Fabiano, em excursão de aprendizado e adestramento.
3 Ambos os grupos partimos
em direção diversa.
Utilizando a volitação, com maestria, Hipólito interrogou-me, bem humorado:
— Já participara você de serviço igual ao de hoje?
4 Confessei que não, rogando-lhe
esclarecimento.
— É fácil, — tornou. Os que se aproximam da desencarnação, nas moléstias prolongadas,
comumente se ausentam do corpo, em ação quase mecânica. Os familiares
terrestres, por sua vez, cansados de vigílias, tudo fazem por rodear
os enfermos de silêncio e cuidado. 5
Desse modo, não é difícil afastá-los para a tarefa de preparação. Geralmente,
estão hesitantes, enfraquecidos, semi-inconscientes, mas nosso auxílio
magnético resolverá o problema. Conservar-nos-emos nas extremidades,
segurando-lhes as mãos e, impulsionados por nossa energia, volitarão
conosco, sem maiores impedimentos.
6 Recebi a explicação com
interesse e, em breve, penetrávamos a modesta residência de Dimas. Aliviado
por injeção repousante, não encontramos dificuldade para subtraí-lo
à atenção dos parentes.
7 Notando-nos a presença,
sondou-nos a disposição fraterna e perguntou:
— Ó meus amigos! Será hoje o fim? Como tenho suspirado pela libertação!…
— Não, meu caro, — acentuou Hipólito, sorrindo, — é preciso tolerar
mais um pouco… O descanso, porém, não tardará muito. Venha conosco.
Não temos tempo a perder.
8 O ex-sacerdote recomendou-me
tomar a dianteira e, de mãos dadas os três, rumamos para o Rio, em busca
da moradia de Fábio.
Não se registraram obstáculos e, em reduzidos instantes, tomamo-lo à nossa conta.
O companheiro ligou-se, prazeroso, à pequenina caravana.
9 Ia tomar o caminho do hospital,
de modo a procurar o terceiro, quando Hipólito ponderou:
— Não convém conduzir todos de uma vez. Cavalcante permanece em grave desequilíbrio, exigindo cooperação mais substancial. Em vista disso, buscá-lo-emos na segunda viagem.
Lembrando-lhe os desvarios, não tive recurso senão concordar.
10 De regresso à câmara de
Adelaide, encontramos os demais à nossa espera. Irene e Luciana haviam
trazido Albina para os trabalhos preparatórios.
Sem perda de tempo, demandamos a grande casa de saúde, em busca de Cavalcante.
11 Hipólito adivinhara.
O doente mostrava-se muito aflito. Bonifácio, ao lado dele, cooperava devotadamente conosco, para desprendê-lo temporariamente do corpo oprimido. O enfermo, no entanto, se deixara tomar por horríveis impressões de medo, dificultando os nossos melhores esforços.
12 Após trabalho ingente de
magnetização do vago e em seguida à ministração de certos agentes anestesiantes,
destinados a propiciar-lhe brando sono, retiramo-lo do corpo, que permaneceu
sob os cuidados de Bonifácio.
Em minutos rápidos, púnhamo-nos de regresso.
13 Com aquiescência de Jerônimo,
alguns amigos dos enfermos acompanhar-nos-iam à Casa Transitória. Dos
cinco doentes, Adelaide e Fábio eram os únicos que revelavam consciência
mais nítida da situação. Os demais titubeavam, enfraquecidos, baldos
de noção clara do que ocorria.
3.
O Assistente organizou a corrente magnética, tomando posição guiadora.
2 Cada irmão encarnado
localizava-se entre dois de nós outros, almas libertas do Plano físico,
mais experimentadas no campo espiritual. 3
De mãos entrelaçadas, para permutar energias em assistência mútua, utilizamos
intensivamente a volitação, ganhando alturas. Adelaide e Fábio, algo
habituados ao desdobramento, assumiram discreta atitude de observação
e silêncio. 4 Os outros,
porém, comentavam o acontecimento em altos brados.
— Ó grande Deus! — Exclamava Albina, rememorando passagens bíblicas, — estaremos
nós no glorioso carro de Elias? ( † )
— Dai-me forças, ó Pai de Misericórdia! — Expressava-se Cavalcante, de alma
opressa, — falta-me a confissão geral! Ainda não recebi o Viático! Oh!
Não me deixeis enfrentar os vossos juízos com a consciência mergulhada
no mal!…
Suas rogativas sensibilizavam-nos os corações.
Dimas, por sua vez, balbuciava exclamações ininteligíveis, entre o assombro e a inquietude.
5 Atravessada a região
estratosférica, ( † )
a ionosfera ( † )
surgia-nos à vista, apresentando enorme diferença, por causa do afluxo
intenso dos raios cósmicos em combinação com as emanações lunares.
Espantado, Dimas perguntou em voz alta:
— Que rio é este? Ah! Tenho medo! Não posso atravessá-lo, não posso, não posso!…
6 O impulso magnético inicial
fornecido por Jerônimo era, no entanto, excessivamente forte para sofrer
solução de continuidade, ante tão débil resistência; e o grupo avançou,
avançou sem recuos, até que, muito além, alcançamos o asilo de Fabiano,
onde a Irmã Zenóbia nos acolheu de braços carinhosos.
7 Congregávamo-nos
todos nós: os componentes da missão socorrista — os enfermos e mais
seis amigos desses últimos, detentores de elevados conhecimentos.
Em pequena sala posta à nossa disposição, Gotuzo, por gentileza, aplicou vigorosos recursos fluídicos em nossos tutelados, que os receberam como crianças incapacitadas de imediato julgamento, exceção de Adelaide e Fábio, que se mantinham cônscios do fenômeno.
8 Em seguida, o prestimoso
Jerônimo tomou a palavra e dirigiu-se a eles, comentando:
— Amigos, o concurso desta noite não se destina à cura do corpo grosseiro,
posto agora a distância pelas necessidades do momento. Tentamos revigorar-vos
o organismo espiritual, preparando-vos o desligamento definitivo, sem
alarmes de dor alucinatória. 9
Devo confessar-vos que, retomando o vaso físico, experimentareis natural
piora de vossas sensações, agravando-se-vos a tortura, porque os remédios
para a alma, na presente situação, intensificam os males da carne. Certificai-vos,
portanto, de que as providências desta hora constituem ajuda efetiva
à libertação. 10 De
retorno ao antigo ninho doméstico, encerrada esta primeira excursão
de adestramento, encontrareis mais tristeza no terreno da Crosta, mais
angústia nas células físicas, mais inquietude no coração, porque a vossa
mente, no processo das recordações instintivas, terá fixado, com maior
ou menor intensidade, o contentamento sublime deste instante. Preparai-vos,
pois, para vir até nós; solucionai os derradeiros problemas terrestres
e confiai na Proteção Divina!
11 Logo após, verificou-se
breve intervalo, durante o qual permaneceríamos à vontade.
O Assistente fora rápido nas explicações, esclarecendo-nos que condensava os assuntos em curtas sentenças, atendendo à incapacidade mental dos beneficiários, impotentes ainda para penetrar o sentido das longas dissertações. Com efeito, os companheiros recebiam parcialmente o alentador aviso. Eram atingidos pelo socorro magnético positivo, mas as ideias que faziam do acontecimento eram muito diversas entre si.
12 Cavalcante, com a expressão
ingênua dum menino, chamou-me, em particular, indagando se estávamos
no paraíso. Sentia-se aliviado, feliz. Alegria enorme banhava-lhe o
coração. E, contente, reconfortado, acentuava:
— Não será aqui o Céu?
Não consegui fazer-lhe sentir o contrário.
13 Albina lembrava cenas bíblicas,
em suas interpretações literais do texto sagrado. Depois de fixar
o nevoeiro exterior, circunspecta, perguntou a Luciana se aquela era
a casa do Senhor, mencionada no capítulo oitavo do primeiro livro dos Reis, em vista da nuvem de matéria
densa que cercava a paisagem.
14 Dentre os espiritistas,
Adelaide e Fábio entregavam-se à reserva feliz da oração, mas Dimas,
embriagado de felicidade pelo provisório alívio, abeirou-se, curioso,
do padre Hipólito e inquiriu se a zona representava alguma dependência
venturosa de Marte. O ex-sacerdote esboçou largo sorriso e respondeu,
complacente:
— Não, meu amigo, isto aqui ainda é a Terra mesma. Estamos muito longe dos outros planetas…
15 Trocamos inteligente olhar,
que traduzia bom humor. Antes de nossas considerações, talvez desnecessárias,
Jerônimo interveio, acrescentando:
— O plano impressivo da mente grava as imagens dos preconceitos e dogmas religiosos com singular consistência. A transformação compulsória, pelo decesso, reintegrará a criatura no patrimônio de suas faculdades superiores. O trabalho, porém, não pode ser brusco, sob pena de ocasionar desastres emocionais de graves consequências. Urge considerar a necessidade da medida, da gradação.
16 E, fitando-nos mais agudamente,
prosseguiu:
— Há, contudo, observação valiosa a destacar. Como vemos, não é a rotulagem
externa que socorre o crente nas supremas horas evolutivas. É justamente
a sementeira do esforço próprio, nos serviços da sabedoria e do amor,
que frutifica, no instante oportuno, através de providências intercessórias
ou de compensações espontâneas da lei que manda entregar as respostas
do Céu “a cada um por suas obras”. ( † )
Todo lugar do Universo, portanto, pode ser convertido em santuário
de luz eterna, desde que a execução dos Divinos Desígnios seja a alegria
de nossa própria vontade.
17 Finda a colheita de preciosos
ensinamentos, começamos a regressar, terminando, assim, a nossa feliz
excursão.
Devolvendo os enfermos aos leitos de origem, verificamos as impressões diferentes
de cada um. Fábio demonstrava infinito conforto no campo íntimo. 18
Cavalcante acordou, no organismo de carne, pensando em recorrer à eucaristia
pela manhã, e Dimas, ao despertar, junto de nós, chamou a esposa e afirmou
em voz fraca:
— Oh! Como foi maravilhoso meu sonho de agora! Vi-me à beira de rio caudaloso e brilhante, que atravessei com o auxílio de benfeitores invisíveis, chegando, em seguida, a grande casa, cheia de luz!
19 Pousou a descarnada mão
na testa úmida, e exclamou:
— Ah! Como desejaria lembrar-me de tudo! Tenho a impressão de que visitei um mundo feliz, recebendo ensinamentos de grande significação, mas… a cabeça falha!…
A companheira tranquilizou-o, exortando-o a dormir.
20 Realizara-se a primeira
excursão de adestramento com os amigos, que, dentro em breve, viriam
ter conosco.
Congregados, de novo, na abençoada instituição de Adelaide, deliberou Jerônimo nosso retorno à Casa Transitória de Fabiano, para descansar e servir em outros setores, toda vez que a oportunidade de trabalho útil nos bafejasse com a sua bênção.
André Luiz