O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Em palestra afetuosa

(Sumário)

1. Voltávamo-nos em conversação amiga para as belezas de “Nosso Lar”, quando Aldonina interveio acrescentando:

— Alguns membros de nossa família visitam a cidade de vocês, de tempos a tempos.  2 Nossa irmã Isaura, que se casou em “Campo da Paz”, há três anos, lá reside em companhia do esposo, que é funcionário dos Serviços de Investigação do Ministério do Esclarecimento.

3 Percebendo-nos a curiosidade, prosseguiu:

— Morava ele conosco, mas, desde muito tempo, foi convocado a serviços por lá, vindo, mais tarde, buscar a noiva.

4 Vicente, que se mantinha em atitude expectante, exclamou:

— Tocamos num assunto que muita admiração me tem despertado, desde que regressei dos Círculos terrenos. Não tinha, no mundo, a menor ideia de que pudéssemos cogitar de uniões matrimoniais, depois da morte do corpo. Quando assisti a festividades dessa natureza, em “Nosso Lar”, confesso que minha surpresa raiou pela estupefação.

5 Cecília, vivaz, acentuou, sorrindo:

— Isto se deu também conosco. Entretanto, é forçoso reconhecer que tal estado d’alma resulta do exclusivismo pernicioso a que nos entregamos no Plano carnal, porque, se o casamento humano é um dos mais belos atos da existência na Terra, porque deixaria de existir aqui, onde a beleza é sempre mais quintessencial e mais pura? E, além do mais, é imprescindível ponderar que não vivemos à revelia de leis sábias e justas.

6 — E como são felizes os que se casam em nossos Planos! — Acentuou o companheiro, denotando aspirações secretas do coração.

7 Aldonina esboçou um gesto expressivo e considerou:

— Sim, para possuirmos aqui essa ventura, é preciso ter amado na Terra, movimentando os mais nobres impulsos do espírito. Para colher os júbilos dessa natureza, é necessário ter amado com alma. Os que se consagram exclusivamente aos desejos do corpo, não sabem amar além da forma, são incapazes de sentir as profundas vibrações espirituais do amor sem morte.


2. Desejando, porém, retomar o assunto referente a Isaura, interroguei, curioso:

— Continuem falando-nos da irmã que se mudou para “Nosso Lar”. Estimaria saber como se realizou o consórcio. Se você, Cecília, está aguardando um prêmio de visita à nossa cidade, como se casou ela, transferindo-se para lá definitivamente?

2 Cecília sorriu e retrucou:

— Isto é outro caso. Isaura não poderia correr atrás do noivo, porque estava em situação inferior à dele, mas Antônio, como superior, poderia descer a buscá-la. 3 Não creiam, porém, que o matrimônio se tenha verificado sem qualquer preparação ou exigência. O noivo poderia conduzi-la sem qualquer formalidade, desde que recebesse o devido consentimento, porquanto obtivera permissão das autoridades de “Nosso Lar”, 4 mas um dos chefes de serviço aconselhou a Isaura, nesse sentido, explicando-lhe que, como administrador de uma colônia em condições de inferioridade, não podia opor qualquer embargo, mas pedia à noiva preparar-se, por seis anos sucessivos, em “Campo da Paz”, antes da partida definitiva, acrescentando sensatamente que, num casamento de almas, é indispensável apurar o enxoval dos sentimentos. 5 Nossa irmã, que foi sempre muito prudente, aceitou a solicitação e trabalhou durante todo esse tempo em nossa colônia, adquirindo valores culturais e aprimorando o campo do pensamento.

6 Recebia essas delicadas informações, sem disfarçar a enorme surpresa.

— Já fui visitar o casal, uma vez, — disse Aldonina, honrada, — quando ganhei o prêmio de assiduidade e bom ânimo. 7 Estive em “Nosso Lar”, durante uma quinzena inesquecível para mim; no entanto, embora visitasse sublimes instituições como o Bosque das Águas, o Salão da Arte Divina, o Campo da Prece Augusta, reconheço ter voltado muito longe de um conhecimento integral da enorme cidade. 8 Lá irei, contudo, mais tarde, pois continuo em meu trabalho e nossos instrutores afirmam sempre que tudo de bom deve aguardar do destino quem saiba servir ao bem e trabalhar com esperança.


3. Admirando a beleza de sentimentos daquelas jovens generosas, indaguei emocionado:

— Mas não têm vocês, em “Campo da Paz”, instituições semelhantes? Não existirão, por lá, templos de alegria abertos à juventude?

2 — Ah! Sim, — murmurou Cecília como quem não desejava ser ingrata às Bênçãos do Eterno, — muito nos dá o Senhor, em nossa colônia; entretanto, permanecemos na vizinhança dos irmãos encarnados. 3 As tempestades que nos atingem, obrigam-nos a serviços constantes. Os quadros inferiores que nos cercam são profundamente dolorosos. Nossa cidade não possui Ministérios da União Divina, nem da Elevação. Não podemos receber a influência superior com muita facilidade. 4 Nossos trabalhos de comunicação e auxílio necessitam ainda de muita gente educada no Evangelho, para funcionar com eficiência. 5 Além disso, temos os problemas de finalidade. Nossa colônia foi instituída para socorro urgente. A nosso ver, “Campo da Paz” é, mais que tudo, um avançado centro de enfermagem, rodeado de perigos, porque os irmãos ignorantes e infelizes nos cercam o esforço por todos os lados. 6 De dez em dez quilômetros, nas zonas de nossa vizinhança, há Postos de Socorro como este, que funcionam como instituições de assistência fraternal e sentinelas ativas, ao mesmo tempo.

7 A jovem fez uma pausa mais longa, observando o efeito de suas palavras, e rematou:

— Nosso governador, quando se agravam os serviços, costuma asseverar que estamos num Campo de batalha, com a Paz de Jesus. 8 Imagem alguma define tão bem o nosso núcleo, como esta. No exterior, o trabalho é rigoroso e incessante, mas, dentro de nós, existe uma tranquilidade que nós mesmos dificilmente podemos compreender.

9 — O serviço circunscreve-se à cidade? — Perguntei.

— Não, o trabalho é multiforme. Eu e Aldonina, por exemplo, temos grandes tarefas de assistência junto dos recém-encarnados. 10 Nossa cidade prepara, em média, quinze a vinte reencarnações diárias e torna-se imprescindível assistir os companheiros ou tutelados, pelo menos no período infantil mais tenro, que compreende os primeiros sete anos de existência carnal.

11 E talvez porque lesse em nossos olhos a mais viva admiração, a jovem adiantou-se, explicando:

— Felizmente, porém, temos as faculdades de volitação bastante adestradas.  12 Raramente encontramos empecilhos vibratórios e podemos, por isso mesmo, agir com grande economia de tempo. 13 Além disso, somente nossos instrutores vão ao serviço sozinhos. Quanto a nós, não saímos, a não ser em grupo. Necessitamos auxílio recíproco, não só no que diz com a eficiência, senão também no que se refere ao amparo magnético.

14 E, sorrindo de modo singular, concluiu:

— No trabalho de assistência aos outros e defesa de nós mesmos, não podemos dispensar a prática avançada e justa da cooperação sincera.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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