1.
— Irmãos nossos, — prosseguiu Telésforo, sob o calor de sagrada inspiração,
— fazem-se ouvir na Terra gritos comovedores de sofrimento. Necessitamos
de servidores que desejem integrar-se na escola evangélica da renúncia.
2 Desde as primeiras tarefas
do Espiritismo renovador, “Nosso Lar” tem enviado diversas turmas ao
trabalho de disseminação de valores educativos. Centenas de companheiros
partem daqui anualmente, aliando necessidades de resgate ao serviço
redentor; mas ainda não conseguimos os resultados desejáveis. 3
Alguns alcançaram resultados parciais nas tarefas a desenvolver, mas
a maioria tem fracassado ruidosamente. Nossos institutos de socorro
debalde movimentam medidas de assistência indispensável. Raríssimos
conquistam algum êxito nos delicados misteres da mediunidade e da doutrinação.
4 Outras colônias
de nossa Esfera providenciam tarefas da mesma natureza, mas pouquíssimos
são os que se lembram das realidades eternas, no “outro lado do véu”…
5 A ignorância domina
a maioria das consciências encarnadas. E a ignorância é mãe das misérias,
das fraquezas, dos crimes. 6
Grandes instrutores, nos fluidos da carne, amedrontam-se por sua vez,
diante dos atritos humanos, e se recolhem, indevidamente, na concepção
que lhes é própria. 7
Esquecem-se de que Jesus não esperou que os homens lhe atingissem as
glórias magnificentes e que, ao invés, desceu até ao Plano dos homens
para amar, ensinar e servir. Não exigiu que as criaturas se fizessem
imediatamente iguais a Ele, mas fez-se como os homens, para ajudá-los
na subida áspera.
8 E, com profundo brilho no
olhar, Telésforo acentuou, depois de pequeno intervalo:
— Se o Mestre Divino adotou essa norma, que dizer das nossas obrigações de criaturas falidas? Abstraindo-nos das necessidades imensas de outros grupos, procuremos identificar as falhas existentes naqueles que nos são afins.
9 Em derredor de nós mesmos,
os laços pessoais constituem extenso campo de atividade para o testemunho.
10 Cesse, para nós
outros, a concepção de que a Terra é o vale tenebroso, destinado a quedas
lamentáveis, e agasalhemos a certeza de que a Esfera carnal é uma grande
oficina de trabalho redentor. Preparemo-nos para a cooperação eficiente
e indispensável. Esqueçamos os erros do passado e lembremo-nos de nossas
obrigações fundamentais.
11 A causa geral dos desastres
mediúnicos é a ausência da noção de responsabilidade e da recordação
do dever a cumprir.
12 Quantos de vós
fostes abonados, aqui, por generosos benfeitores que buscaram auxiliar-vos,
condoídos de vosso pretérito cruel? Quantos de vós partistes, entusiastas,
formulando enormes promessas? Entretanto, não soubestes recapitular
dignamente, para aprender a servir, conforme os desígnios superiores
do Eterno. 13 Quando
o Senhor vos enviava possibilidades materiais para o necessário, regressáveis
à ambição desmedida; ante o acréscimo de misericórdia do labor intensificado,
agarrastes a ideia da existência cômoda; junto às experiências afetivas,
preferistes os desvios sexuais; ao lado da família, voltastes à tirania
doméstica, e aos interesses da vida eterna sobrepusestes as sugestões
inferiores da preguiça e da vaidade. 14
Destes-vos, na maioria, à palavra sem responsabilidade e à indagação
sem discernimento, amontoando atividades inúteis. Como médiuns, muitos
de vós preferíeis a inconsciência de vós mesmos; como doutrinadores,
formuláveis conceitos para exportação, jamais para uso próprio.
15 Que resultado
atingimos? Grandes massas batem às fontes do Espiritismo sagrado, tão
só no propósito de lhe mancharem as águas. Não são procuradores do Reino
de Deus os que lhe forçam, desse modo, as portas, e sim caçadores dos
interesses pessoais. 16
São os sequiosos da facilidade, os amigos do menor esforço, os preguiçosos
e delinquentes de todas as situações, que desejam ouvir os Espíritos
desencarnados, receosos da acusação que lhes dirige a própria consciência.
17 O fel da dúvida invade
o bálsamo da fé, nos corações bem intencionados. A sede de proteção
indevida azorraga os seguidores da ociosidade. A ignorância e a maldade
entregam-se às manifestações inferiores da magia negra.
18 Tudo porque, meus irmãos?
Porque não temos sabido defender o sagrado depósito, por termos esquecido,
em nossos labores carnais, que Espiritismo é revelação divina para a
renovação fundamental dos homens. Não atendemos, ainda, como se faz
indispensável, à construção do “Reino de Deus” em nós.
2.
Contudo, não abandonemos nossos deveres a meio da tarefa. Voltemos ao
campo, retificando as semeaduras. 2
O Ministério da Comunicação vem incentivando esse movimento renovador.
Necessitamos de servidores de boa vontade, leais ao espírito da fé.
Não serão admitidos os que não desejarem conhecer a glória oculta da
cruz do testemunho, nem atendem aqui os que se aproximem com objetivos
diferentes…
3 Aqui estamos todos,
companheiros da Comunicação, endividados com o mundo, mas esperançosos
de êxito em nossa tarefa permanente. Levantemos o olhar. O Senhor renova
diariamente nossas benditas oportunidades de trabalho, mas, para atingirmos
os resultados precisos, é imprescindível sejamos seguidores da renunciação
ao inferior. 4 Nenhum
de nós, dos que aqui nos encontramos, está livre do ciclo de reencarnações
na Crosta. Todos, portanto, somos sequiosos de Vida Eterna. Não olvidemos,
desse modo, o Calvário de Nosso Senhor, convictos de que toda saída
dos Planos mais baixos deve ser uma subida para a Esfera superior. E
ninguém espere subir, espiritualmente, sem esforço, sem suor e sem lágrimas!…
3.
Nesse momento, cessou a preleção de Telésforo, que abençoou a assembleia,
mostrando o olhar infinitamente brilhante e aceitando, em seguida, o
braço de Aniceto, para afastar-se.
2 Debaixo de profunda impressão,
em face das incisivas declarações do instrutor, observei que numerosos
circunstantes choravam em silêncio.
3 Ao meu olhar interrogativo,
Vicente explicou:
— São servidores fracassados.
Nesse instante, Telésforo e o nosso orientador postaram-se junto de nós.
4.
Duas senhoras, de grave fisionomia, aproximaram-se respeitosamente e
uma delas dirigiu-se a Aniceto, nestes termos:
— Desejávamos o obséquio de uma informação concernente à próxima oportunidade de serviço que será concedida a Otávio.
2 — O Ministério prestará
esclarecimentos respondeu o interpelado, atencioso.
— Todavia, — tornou a interlocutora, — ousaria reiterar-lhe o pedido. É que Marina, grande amiga nossa, casada na Terra há alguns meses, prometeu-me cooperação para auxiliá-lo, e seria muito de meu agrado localizar, agora, o meu pobre filho em novos braços maternais.
3 Aniceto esboçou um gesto
de compreensão, sorriu e esclareceu, sem afetação:
— Convém não estabelecer o plano por enquanto, porque, antes de tudo, precisamos conhecer a solução do processo de médiuns fracassados, em que está ele envolvido. Somente depois, minha irmã.
4 Volvi os olhos para o Vicente,
sem ocultar a surpresa, mas, enquanto as senhoras se retiravam conformadas,
Aniceto dirigia-nos a palavra:
— Tenho serviços imediatos, em companhia de Telésforo. Deixo-os, a todos, em estudos e observações aqui no Centro de Mensageiros.
5.
Retirou-se Aniceto com os maiores, e um companheiro declarou alegremente:
— Podemos conversar.
— Nosso orientador, — explicou-me Vicente, solícito, — considera trabalho útil toda conversação sadia, que nos enriquece os conhecimentos e aptidões para o serviço. Pelas nossas palestras construtivas, portanto, receberemos também a remuneração devida à cooperação normal.
6.
Curioso e surpreendido, indaguei:
— E se eu tentasse voltar aos assuntos inferiores da Terra, esquecendo a conversação edificante?
Vicente sorriu e retrucou:
— O prejuízo seria seu, porque aqui a palavra define o Espírito, e, se você fugisse à luz da palestra instrutiva, nossos orientadores conheceriam sua atitude imediatamente, porquanto sua presença se tornaria desagradável e seu rosto se cobriria de sombra indefinível.
André Luiz
Os capítulos do n.º 5 ao 12, dizem respeito às observações e estudos efetuados por André Luiz em uma reunião no Centro de Mensageiros.