1.
No dia seguinte, após ouvir longas ponderações de Narcisa, demandei
o Centro de Mensageiros, no Ministério da Comunicação. Acompanhava-me
o prestimoso Tobias, não obstante os imensos trabalhos que lhe ocupavam
o círculo pessoal.
2 Deslumbrado, atingi a série
de majestosos edifícios de que se compõe a sede da instituição. Julguei
encontrar algumas universidades reunidas, tal a enorme extensão deles.
Pátios amplos, povoados de arvoredo e jardins, convidavam a sublimes
meditações.
3 Tobias arrancou-me do encantamento,
exclamando:
— O Centro é muito vasto. Atividades complexas são desempenhadas neste departamento de nossa colônia espiritual. Não creia esteja resumida a instituição nos edifícios sob nossos olhos. Temos, nesta parte, tão somente a administração central e alguns pavilhões destinados ao ensino e à preparação em geral.
2.
— Mas esta organização imensa restringe-se ao movimento de transmissão
de mensagens? Perguntei, curioso.
2 O companheiro sorriu significativamente
e esclareceu:
— Não suponha se encontre aqui localizado o serviço de correio, simplesmente.
O Centro prepara entidades a fim de que se transformem em cartas vivas
de socorro e auxílio aos que sofrem no Umbral, na Crosta e nas Trevas.
3 Acreditaria, porventura,
que tanto trabalho se destinasse apenas a mera movimentação de noticiário?
Amplie suas vistas. Este serviço é a cópia de quantos se vêm fazendo
nas mais diversas cidades espirituais dos Planos superiores. 4
Preparam-se aqui numerosos companheiros para a difusão de esperanças
e consolos, instruções e avisos, nos diversos setores da evolução planetária.
5 Não me refiro tão
só a emissários invisíveis. Organizamos turmas compactas de aprendizes
para a reencarnação. Médiuns e doutrinadores saem daqui às centenas,
anualmente. Tarefeiros do conforto espiritual encaminham-se para os
círculos carnais, em quantidade considerável, habilitados pelo nosso
Centro de Mensageiros.
3.
— Que me diz? — Interroguei, surpreso. — Segundo seus informes, os trabalhos
de esclarecimento espiritual devem estar muitíssimo adiantados no mundo!…
2 Fixou Tobias expressão singular,
sorriu tranquilamente e explicou:
— Você não ponderou, todavia, meu caro André, que essa preparação não
constitui, ainda, a realização propriamente dita. 3
Saem milhares de mensageiros aptos para o serviço, mas são muito raros
os que triunfam. Alguns conseguem execução parcial da tarefa, outros
muitos fracassam de todo. 4
O serviço legítimo não é fantasia. É esforço sem o qual a obra não pode
aparecer nem prevalecer. 5
Longas fileiras de médiuns e doutrinadores para o mundo carnal partem
daqui, com as necessárias instruções, porque os benfeitores da Espiritualidade
Superior, para intensificarem a redenção humana, precisam de renúncia
e de altruísmo. 6 Quando
os mensageiros se esquecem do espírito missionário e da dedicação aos
semelhantes, costumam transformar-se em instrumentos inúteis. 7
Há médiuns e mediunidade, doutrinadores e doutrina, como existem a enxada
e os trabalhadores. Pode a enxada ser excelente, mas, se falta espírito
de serviço no cultivador, o ganho da enxada será inevitavelmente a ferrugem.
Assim acontece com as faculdades psíquicas e com os grandes conhecimentos.
8 A expressão mediúnica
pode ser riquíssima; entretanto, se o dono não consegue olhar além dos
interesses próprios, fracassará fatalmente na tarefa que lhe foi conferida.
9 Acredite, meu caro,
que todo trabalho construtivo tem as batalhas que lhe dizem respeito.
10 São muito escassos
os servidores que toleram as dificuldades e reveses das linhas de frente.
Esmagadora percentagem permanece a distância do fogo forte. Trabalhadores
sem conta recuam quando a tarefa abre oportunidades mais valiosas.
4.
Algo impressionado, considerei.
— Isto me surpreende sobremaneira. Não supunha fossem preparados, aqui, determinados mensageiros para a vida carnal.
2 — Ah! Meu amigo,
— falou Tobias sorridente, — poderia você admitir que as obras do bem
estivessem circunscritas a simples operações automáticas? Nossa visão,
na Terra, costuma viciar-se no círculo dos cultos externos, na atividade
religiosa. 3 Cremos,
por lá, resolver todos os problemas pela atitude suplicante. Entretanto,
a genuflexão não soluciona questões fundamentais do Espírito, nem a
mera adoração à Divindade constitui a máxima edificação. 4
Em verdade, todo ato de humildade e amor é respeitável e santo, e, incontestavelmente,
o Senhor nos concederá suas bênçãos; no entanto, é imprescindível considerar
que a manutenção e limpeza do vaso, para recolhe-las, é dever que nos
assiste. 5 Não preparamos,
pois, neste Centro, simples postalistas, mas Espíritos que se transformem
em cartas vivas de Jesus para a Humanidade encarnada. Pelo menos, este
é o programa de nossa administração espiritual…
6 Calei, emocionado, ponderando
a grandeza dos ensinamentos. Meu companheiro, após longa pausa, prosseguiu
observando:
— Raros triunfam, porque quase todos estamos ainda ligados a extenso
pretérito de erros criminosos, que nos deformaram a personalidade. 7
Em cada novo ciclo de empreendimentos carnais, acreditamos muito mais
em nossas tendências inferiores do passado, que nas possibilidades divinas
do presente, complicando sempre o futuro. 8
É desse modo que prosseguimos, por lá, agarrados ao mal e esquecidos
do bem, chegando, por vezes, ao disparate de interpretar dificuldades
como punições, quando todo obstáculo traduz oportunidade verdadeiramente
preciosa aos que já tenham “olhos de ver”. ( † )
5.
A essa altura, alcançamos enorme recinto.
Centenas de entidades penetravam no vasto edifício, cujas escadarias galgamos em animada conversação.
2 Os aspectos do maravilhoso
átrio impressionavam pela imponente beleza. Espécies de flores, até
então desconhecidas para mim, adornavam colunatas, espalhando cores
vivas e delicioso perfume.
3 Quebrando-me o enlevo, Tobias
explicou:
— As diversas turmas de aprendizes encaminham-se às aulas. Procuremos Aniceto no departamento de instrutores.
4 Atravessamos galerias vastíssimas,
sempre defrontados por verdadeiras multidões de entidades que buscavam
as aulas, em palestras vibrantes.
5 Em pequeno grupo que parecia
manter conversação muito discreta, encontramos o generoso amigo da véspera,
que nos abraçou sorridente e calmo.
— Muito bem! — Disse, alegre e bondoso, — esperava o novo aluno, desde a manhãzinha.
6 E em virtude de Tobias alegar
muita pressa, o nobre instrutor explicou:
— Doravante, André ficará aos meus cuidados. Volte tranquilo.
Despedi-me do companheiro, comovidamente.
7 Notando-me o natural acanhamento,
Aniceto determinou a um auxiliar de serviço:
— Chame o Vicente em meu nome.
E, voltando-se para mim, esclareceu:
— Até agora, Vicente é o meu único aprendiz médico. Vocês ficarão juntos, em vista da afinidade profissional.
8 Não haviam decorrido três
minutos e tínhamos Vicente diante de nós.
— Vicente, — falou Aniceto sem afetação, — André Luiz é nosso novo colaborador.
Foi também médico nas Esferas carnais. Creio, pois, que ambos se encontrarão
à vontade, partilhando a mesma experiência.
9 O interpelado abraçou-me,
demonstrando extrema generosidade, e, após encorajar-me com belas palavras
de estímulo, perguntou ao nosso orientador:
— Quando deveremos procurá-lo para os estudos de hoje?
10 Aniceto pensou um instante
e respondeu:
— Esclareça ao novo candidato os nossos regulamentos e venham juntos para as instruções, após o meio-dia.
André Luiz