Cap. IX — Item 7.
1 Era homem de meia-idade.
Chamava-se Frederico Manuel de Ávila.
2 Comerciante progressista. Espírita há dois lustros, buscava pautar a existência pelo Evangelho Renovador.
Contudo, era sempre afobado.
3 Raro se detinha para examinar um problema maior.
Impaciente. Precipitado. Febricitante.
4 Várias vezes fora admoestado para reduzir a marcha da própria vida.
Amigos aconselharam. Espíritos advertiram.
Tudo inútil.
5 Certo dia, demorando-se mais no escritório, voltou ao lar, quase noitinha, acelerado como de hábito.
De posse da chave, abriu a porta e entrou.
6 Percorria o corredor para chegar a uma das salas, quando nota um vulto caminhando para ele, a toda pressa, na penumbra…
7 Surpreendido e amedrontado, ante a figura estranha, julgou-se à frente de algum amigo do alheio e volveu sobre os próprios passos, em corrida aberta.
8 Na fuga, porém, tropeça num canteiro do jardim e cai, gritando, estentórico.
Os gritos atraem vizinhos, pressurosos, que o encontram desmaiado.
9 É conduzido ao hospital próximo.
Frederico fraturara uma perna…
10 Mais tarde, volta a casa com a perna engessada.
Na intimidade da família, foi compelido a lembrar-se de que aniversariava naquele dia…
E tudo ficou esclarecido.
11 Como se demorasse em serviço, os parentes quiseram surpreendê-lo no trabalho, verificando-se o desencontro.
12 A esposa e os filhos, para recepcioná-lo alegremente, em festa íntima, alteraram as disposições dos móveis do interior da casa.
13 E só então pôde compreender que o vulto, que o assustara, era ele mesmo refletido no grande espelho da parede da sala de jantar que fora mudado de posição…
Hilário Silva